Meryl e Grant: "se você disser que eu desafino amor..."
De vez em quando um ano cinematográfico nos reserva filmes gêmeos, foi assim com Vida de Inseto e Formiguinhaz (1998), Inferno de Dante e Volcano (em 1997), Capote e Confidencial (em 2005), em 2016 a sina ganhou cores de musical. O filme francês Marguerite teve a sorte de estear no Brasil um mês antes de que Florence: Quem É Essa Mulher estrelado por Meryl Streep chegasse às nossas salas. E o duelo entre os dois filmes perante a crítica foi acirrado, já que ambos contam a história de uma senhora excêntrica que resolve soltar a voz, mas com resultado... desastroso! Se o filme francês criava uma personagem fictícia para contar a mesma trama, Florence, tenta ser uma biografia bastante convencional da ricaça Florence Foster Jenkins. Filha de um banqueiro e herdeira de sua fortuna, Florence era bastante conhecida na Nova York na década de 1940, principalmente pelos seus recitais anuais onde oferecia aos seus fãs um repertório de primeira: Mozart, Verdi, Strauss... mas que era destruído pela sua garganta (que encontrava uma dificuldade enorme de emitir uma nota dentro do tom exigido). Florence ficou conhecida como "a diva do grito" e sua inabilidade vocal lhe rendeu fama e até uma peça teatral estrelada por Marília Pêra aqui no Brasil (Gloriosa, no de 2009). O filme de Stephen Frears não conta a história literal, mas mantém a sua essência: a voz desafinada de Florence. Para isso conta com Meryl Streep - atacando de cantora mais uma vez, mas aqui sob o desafio de torturar cada nota musical que atravessar sua garganta. Streep ainda se mostra uma escolha acertada por ter que dar conta dos dramas que a personagem enfrenta - entre eles os efeitos de uma doença contraída em seu primeiro casamento e o relacionamento complexo com o segundo esposo, St. Clair Bayfield (Hugh Grant em seu melhor papel em muuuuuito tempo). O relacionamento entre Florence e St. Claire é um dos pontos altos do filme, principalmente pelo misto de companheirismo, zelo e... melhor você ter a surpresa ao descobrir. O filme conta ainda com a presença de Simon Helberg (o Howard de Big Bang Theory) como o pianista Cosmé McMoon que tem lá os seus dilemas em acompanhar Florence em sua, digamos, carreira. Frears faz o filme com toda a pompa que se espera de um tradicional filme de época, mas deixa toda a seriedade de lado sempre que a personagem solta a voz. Meryl Streep disse em uma entrevista que Florence não era apenas ruim, ela era "ruim de coração", o que demonstra bem o espírito do filme - já que ela era apaixonada por música e amava cantar (ou pelo menos, ela pensava que conseguia). Frears, que demonstra mais uma vez seu interesse por personagens femininas marcantes, confia tanto no interesse em torno da personagem que cria uma narrativa bastante tradicional e pouco inventiva. No entanto o Streep, Grant (que tem uma cena de dança surpreendente no filme) e Helberg garantem o interesse num filme que mistura drama e comédia (ainda que de uma piada só) sobre a história de uma mulher que gostava tanto do que fazia que nem percebia o quanto era ruim no que estava fazendo.
Florence - Quem é Essa Mulher (Florence Foster Jenkins / Reino Unido - 2016) de Stephen Frears com Meryl Streep, Hugh Grant, Simon Helberg, Rebecca Ferguson e Nina Arianda. ☻☻☻
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