Alex e Elle: amor alienígena e punk rock.
O cineasta e ator americano John Cameron Mitchell ganhou o mundo quando viu seu filme de estreia, o excelente Hedwig (2001) ser premiado em Berlim com a história de uma roqueira trans e suas músicas marcadas por uma história cheia de percalços. Pelo trabalho, Mitchell foi indicado ao Globo de Ouro de melhor ator em comédia/musical (e merecia ter levado). Depois, ele quis provar que não estava interessado em prêmios, mas contar as histórias como bem entendesse, nem que para isso chocasse a maioria do público com as cenas bastante explícitas de Shortbus (2005). O rapaz levou um susto quando pouco depois recebeu o convite de Nicole Kidman para dirigir um filme profundamente dramático como Reencontrando a Felicidade (2010), que valeu uma indicação ao Oscar para a atriz. Desde então, Mitchell deve ter recebido vários convites para filmes "sérios", mas preferiu atuar nas séries Girls e Vinyl, optando por lançar seu novo longa somente em 2017: uma adaptação sobre um conto maluco de Neil Gaiman. A história já foi até adaptada para os quadrinhos pelas mãos de Fábio Bá e Gabriel Moon, mas aqui ela recebe uma cara ainda mais psicodélica pelas mãos de Mitchell. Como Falar com Garotas em Festas causou rebuliço no Festival de Cannes e chamou atenção da mídia por conta da participação de Nicole Kidman e a darling Elle Fanning (que me parece cada vez mais repetitiva). A trama é ambientada no auge do punk rock na Inglaterra e conta a história de três jovens tímidos que frequentam inferninhos punk, leem fanzines e testam suas chances com as meninas - que não ligam muito para eles. Eis que eles acabam indo parar numa casa cheia de jovens esquisitos, com roupas coloridas, danças bizarras, diálogos surreais e não fazem ideias que todos ali são alienígenas. Eis que um dos garotos, Enn (Alex Sharp) cai de amores por Zan (Elle Fanning) e resolvem viver seu romance regado a punk e desafiar a ordem estabelecida desta comunidade extraterrestre. Sim, é uma história com muitas metáforas sobre ser adolescente, se sentir um ET, não ser compreendido por outras pessoas, ser engolido pelos adultos, poder transformar a realidade e... um monte de outras coisas, mas John Cameron Mitchell não está muito interessado em aprofundar nada disso. O diretor gosta mesmo é do delírio, criando uma essência completamente doida para o filme que não faz questão alguma de fazer sentido. Nesta brincadeira tem algumas cenas legais (a melhor delas foi o show de Alex e Elle cantando que me fez pensar que o filme poderia ter se tornado um musical interessantíssimo, mas acho que Cameron achou que estaria se repetindo), há figurinos interessantes e um sabor de pastel de vento a maior parte do tempo. Existe até uma tentativa de brincar com signos de invasões alienígenas (incluindo as piadinhas sexuais), mas alguns atores parecem não ter entendido e se levaram muito a sério. Quem se sai bem nesta galhofa é Ruth Wilson (por que não seguiram o tom dela?) e Nicole num papel pequeno, mas que parece tê-la divertido bastante. No fim das contas, em sua tentativa de ser descolado, Cameron Mitchell retorna cheio de ideias, mas não sabe muito o que fazer com elas.
Como Falar com Garotas em Festas (How to talk to Girls at Parties / Reino Unido - EUA / 2017) de John Cameron Mitchell, com Alex Sharp, Elle Fanning, Abraham Lewis, Ethan Lawrence, Nicole Kidman, Ruth Wilson, Matt Lucas e Tom Brooke. ☻☻
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