Guizé: filme estranho com história esquisita.
Com vinte anos de carreira como ator e dezessete como vocalista da banda Tio Tchê, o paulista Sérgio Guizé ficou mesmo conhecido nos últimos seis anos pelos seus trabalhos na televisão. Versátil ao personificar seus personagens, ele nem parece aquele sujeito tímido que de vez em quando aparece em entrevistas. Era de se esperar que com seu apelo perante o público ele aparecesse rapidamente no cinema, mas infelizmente este Além do Homem está aquém do talento do rapaz. Ainda que tenha belo tratamento visual e alguns momentos instigantes, o longa metragem de Willy Biondani é uma das coisas mais esquisitas que o cinema nacional recente já realizou. Ao investir em diversas atmosferas, o filme não se decide qual estilo quer seguir, resultando numa colagem sem sentido. Parece uma mistura do americano David Lynch com o pernambucano Cláudio Assis diluídos com pitadas de pornochanchada. Talvez o maior problema seja o roteiro capenga que mistura um monte de clichês com frases feitas com vulgaridades enquanto ambiciona ser uma obra elevada com as viagens visuais que proporciona. O protagonista é Alberto Luppo (Guizé), um escritor brasileiro que vive em Paris há tempos e não tem a mínima vontade de voltar à sua terra natal. Sem conseguir empolgar com a ideia de seu novo livro, ele acaba sendo mandado pelo editor para as terras brasileiras atrás do antrópologo Marcel Lefavre que foi supostamente devorado por canibais no interior do país. Alberto tem a missão de descobrir o que aconteceu com Lefavre e transformar a história em livro. Sendo guiado por um estranho taxista (Fabrício Boliveira), o viajante se depara com um Brasil bastante peculiar. Não sei se é de propósito ou se o diretor errou a mão mesmo, mas o Brasil do filme é pouco realista e alegórico demais - o problema é que as alegorias não levam a lugar algum, sendo pouco interessante ou original. Os personagens que poderiam ser excêntricos são uma tediosa coletânea de personagens que já vimos dezenas de vezes em um monte de filmes e novelas. A busca por Lefavre se torna apenas um pretexto para que o filme crie imagens que servem mais para fetichizar a imagem de seu ator do que aprofundar um personagem. Existe realmente um trato curioso com o corpo de Guizé (que aparece em cenas tórridas, enrolado em toalha, tomando banho de rio, pintado de vermelho, em nu frontal e outras cenas que nunca deixam claras se são reais ou imaginárias. O ator se esforça, mas não tem muito o que fazer em uma obra que se confunde na própria pretensão.
Além do Homem (Brasil/2018) de Willy Biondani com Sérgio Guizé, Débora Nascimento, Fabrício Boliveira, Flávia Garrafa e Otávio Augusto. ☻
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