Zosia, Allison, Lena e Jemima: rompendo paradigmas nas séries femininas.
No ano passado obtive uma nova opção de trabalho, mais estável e bem distante de onde eu vivi pelos últimos onze anos. No entanto, essa mudança me possibilitou morar em uma cidade onde sempre desejei me estabelecer. Não foi fácil... diante da nova realidade, uma nova colega de trabalho perguntou o que eu pretendia fazer pelo resto da vida. Eu disse que para o resto da vida era tempo demais. Ela ponderou e reformulou a pergunta : "tudo bem, o que você pretende fazer nos próximos cinco anos?". Assim fica bem mais fácil de responder. A atriz, diretora, roteirista e produtora americana Lena Dunhan deve pensar do mesmo jeito, ao ponto de terminar com a série (a qual se dedicou nos últimos seis anos) quando ela ainda tinha pernas para pelo menos mais umas quatro temporadas. Enfim, nada é para sempre. Lena optou por fazer um dos últimos capítulos que devem entrar para lista dos mais odiados de todos os tempos, principalmente por subverter todas as expectativas que os fãs tinham sobre o capítulo que foi ao ar ontem pela HBO. Nele, Hannah (a protagonista vivida por Dunhan) havia mudado de Nova York para uma cidade menor, onde considera mais apropriado para cuidar de seu filho, o pequeno Grover. Das três amigas fieis de toda a série apenas Marnie (Allison Williams) apareceu para dar uma ajuda, assim como a mãe (Becky Ann Baker) que apareceu diante do desespero da filha diante da maternidade. Hannah discute com Marnie, discute com a mãe, aparece completamente nua, é chamada de Caça-Fantasma (no momento mais hilário do episódio), discute com uma vizinha que fugiu de casa e parece encontrar algum alento somente no final, onde dá a entender que deixou de ser uma garota preocupada com os rumos de sua vida para pensar agora no bem estar do filho também. Ainda que tenha sido muito criticado, o episódio é bastante coerente com um programa que sempre andou na contramão. Afinal, Hannah não estava nem aí que estava acima do peso (definitivamente não era uma variável de Bridget Jones que vivia paranoica com as calorias ingeridas e dietas mirabolantes). Hannah também nunca soube se vestir direito. Seu grande amor era um rapaz que está fora dos padrões de beleza (o ótimo Adam Driver) e o sonho de ser escritora parecia se realizar em doses homeopáticas. Se no início o programa foi criticado por não ter diversidade entre as personagens - brancas, de classe média e recém saídas da faculdade como inúmeras patotas de garotas americanas - logo o foco mudou de direção. Dunhan não estava nem aí em aparecer sem roupa ao longo das temporadas, as cenas de sexo estavam longe de ser glamourosas e os relacionamentos eram tão crus quanto as ambientações da série. Ao longo da sexta e última temporada, a série preferiu apenas apontar o que poderia acontecer com seus personagens - incluindo o amigo gay da protagonista, Elijah (Andrew Rannells) que recebeu um capítulo solo saboroso - talvez isso tenha acontecido pela consciência de que nada é eterno, seja amizade, namoros, ambições, o que acaba ficando é o amadurecimento que se adquire ao longo do tempo. Assim, não havia motivo para Jessa (Jemima Kirk) ser a fiel escudeira de Hannah (até porque ficou com o ex-namorado da amiga), ao mesmo tempo Shoshanna (Zosia Mamet) já estava de saco cheio delas, conforme deixou bem claro no penúltimo episódio. Devo admitir que retomei a série somente na terceira temporada, somente após ver o filme Mobília Mínima (2010) e entender o jogo que Lena estabelecia nas ideias por trás de Girls. A jovem atriz que foi considerada a voz de uma geração pode não estar com essa bola toda, mas sabia exatamente como romper com paradigmas de uma série para jovens mulheres na TV. Fugiu das fórmulas batidas, das piadas fáceis, não teve medo de fazer chorar, gargalhar, chocar e virou do avesso as comparações com Sex & the City (também sobre um quarteto de amigas em Nova York, mas de outra geração). Nunca vou esquecer de Joan Rivers classificando as personagens como "a gorda, a feia, a bonita e a inglesa" e o melhor é que elas não estavam nem aí para os rótulos - eram apenas quatro garotas procurando a si mesmas entre erros e acertos, humanas como todas as outras.
Girls (2012-2017) de Lena Dunham com Lena Dunham, Allison Williams, Adam Driver, Jemima Kirke, Zosia Mamet e Alex Karpovsky. ☻☻☻☻
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