segunda-feira, 30 de setembro de 2019

N@ Capa: Marvel em Miniatura

Marvel: do tamanho do Homem-Formiga. 

Quem esteve na capa do blog durante o mês de setembro foi a brincadeira com os filmes da Marvel Studios feita pelo site Miniature Calendar. O site é especializado em fotografias utilizando miniaturas de mais variados tipos. Existem muitos outros inspirados nos filmes da editora e vale a pena conferir enquant os fãs aguardam ansiosamente a nova fase do estúdio. O mais curioso é que enquanto as miniaturas ornamentavam o blog, houve uma enorme pendenga envolvendo o Homem-Aranha, já que a Marvel e a Sony (ainda detentora dos direitos do herói aracnídeo) não chegaram a um consenso no acordo que rende a participação do personagem nos filmes do MCU. Os fãs se revoltaram! O ator Tom Holland falou que estava muito chateado e que queria continuar o que estava fazendo - depois desdisse e afirmou que as novas aventuras do herói seriam ainda maiores e melhores fora da Marvel... bem... passado algum tempo a paz reinou novamente entre os estúdios e Peter Parker está garantido nos filmes da Marvel mais uma vez (e nem precisaram voltar no tempo para resolver isso). 

NªTV: Olhos que Condenam

Nó na garganta: cinco meninos injustiçados. 

Tirando o confuso Uma Dobra no Tempo (2018), a americana Ava DuVernay tem se mostrado uma cineasta contundente. Depois do aclamado Selma (2014) e do documentário A 13ª Emenda (2016), a diretora reconstitui um dos casos mais vergonhosos de racismo durante uma investigação nos Estados Unidos. Em 1989 cinco adolescentes negros do bairro do Harlem foram acusados de estuprar uma mulher que se exercitava no parque durante a noite. Ainda que não houvessem provas contra os cinco garotos, a forma como a investigação foi conduzida fez com que muita gente acreditasse que os cinco eram realmente culpados. Coube às famílias a árdua tarefa de provar que tudo era um grande engano. Passando por interrogatórios forjados, manipulação de provas e construção de evidências que nunca existiram, os cinco meninos comem o pão que o sistema judiciário amassou. Se de um lado está a promotora que se alimenta do sensacionalismo para sustentar o caso (e ganhar publicidade), do outro estão jovens que seriam capazes de dizer qualquer coisa para voltar para casa depois de todo aquele mal entendido. É tanta angústia que DuVernay divide sua história em duas partes distintas, nos dois primeiros episódios, conhecemos a forma como o caso é conduzido com contornos de pesadelo kafkiano - e a produção ganha ainda mais importância em tempos em que as convicções falam mais alto do que a própria justiça. Nos dois episódios finais vemos o que acontece com os cinco meninos após suas vidas terem sido interrompidas por conta de toda a repercussão que o caso recebeu - sem esquecer que as consequências afetam também os seus familiares. Perpassa a história uma mistura de histeria coletiva, injustiças, preconceitos e estigmas que ganham forma contundente no trabalho seguro da diretora. Ava arranca atuações marcantes de todo o elenco e embora a minissérie conte com rostos conhecidos como Vera Famiga, Felicity Huffman, Joshua Jackson, John Leguizamo e Famke Janssen, o destaque fica mesmo por conta dos  desconhecidos que aparecem na telinha. Caleel Harris (Antron), Ethan Herris (Yuseff), Marquis Rodriguez (Raymond) e Kevin (Asante Blackk) nem se conheciam antes quando são descobertos aleatoriamente pela polícia. Em comum eles moravam no mesmo bairro e estavam no tal parque no dia e na hora errada. No meio do caminho, Korey (Jharrel Jerome) resolve acompanhar o amigo Yuseff até a delegacia e sua história tem um desdobramento ainda pior do que os demais. Por ser o mais velho do grupo, o andamento de seu processo segue rumos ainda mais sombrios. Jharrel (que atuou em Moonlight/2016 e virou meme quando descobriu que o longa era o verdadeiro ganhador do Oscar de melhor filme) levou para casa o Emmy de Melhor Ator em Filme ou Minissérie. Ajudou muito para este reconhecimento ter o último episódio totalmente dedicado ao seu personagem. Vivendo Korey Wise da adolescência até a idade adulta, Jharrel (21 ano) tem momentos realmente marcantes. A minissérie foi indicada a dezesseis prêmios Emmy, oito deles para seu elenco, não por acaso ganhou também a estatueta de melhor diretor de elenco pelas ótima escalação. Olhos que Condenam é um grande acerto (no estômago).

Olhos que Condenam (When They See Us - EUA / 2019) de Ava DuVernay com Jharrel Jerome, Caleel Harris, Marquis Rodriguez, Ethan Herris, Asante Blackk, Felicity Huffman, Joshua Jackson, Vera Farmiga, Michael Kenneth Williams, Niecy Nash, Aunjanue Ellis, Marsha Stephanie Blake, Chris Chalk, Freddie Miyares, Jovan Adepo e Famke Janssen. ☻☻☻☻☻

domingo, 29 de setembro de 2019

Combo: Era tudo Verdade

De vez em quando uma história inacreditável acontece e vira um documentário de sucesso. Diante de uma ideia que parece até ficção, um diretor resolver pegar aquela mesma trama e filmar com atores ...

5 O Programa (2015) Lance Armstrong era mais do que um esportista! O ciclista era um exemplo para muita gente e migrou do mundo dos esportes para o mundo dos famosos, namorando artistas famosas (Kate Hudson, Sheryl Crow...) e aparecendo em capas de revistas sobre manter a boa forma ou de fofocas sobre celebridades. No entanto toda a fama foi para o ralo quando descobriram que ele estava envolvido com o submundo do esporte regado a várias substâncias proibidas. Esta história foi vista no documentário A Mentira de Armstrong (2013) e depois rendeu este filme pouco visto assinado por Stephen Frears (e que quase rendeu uma indicação ao Oscar para Ben Foster). 

4 Última Parada 174 (2008) A tragédia de 2000 com um ônibus carioca rendeu um documentário que tornou José Padilha famoso até hoje. Ônibus 174 costurava o caos urbano com mazelas sociais em um retrato incômodo da cidade maravilhosa. O cineasta Bruno Barreto estava atento àquela situação e resolveu dramatizar a história neste filme brasileiro que foi escolhido para ser indicado ao Oscar de Filme Estrangeiro - mas ficou só na vontade! A trajetória de Sandro Silva ganha destaque aqui e rende um filme que despertou várias comparações com o premiado documentário. O pior é que recentemente um episódio parecido aconteceu em meio à ponte Rio-Niterói (e que poderá render outros filmes no futuro).

3 Snowden (2016) O americano Edward Snowden poderia ter uma carreira brilhante na CIA até que se aposentasse, mas resolveu contar para todo o mundo segredos do governo americano que envolviam a privacidade do mundo inteiro. Pouco antes de partir para o exílio ele rendeu uma entrevista que rendeu o documentário oscarizado Citizen Four (2014). De olho na história inacreditável, Oliver Stone resolveu recontar um pouco mais da trajetória do moço neste longa-metragem que o tornou ainda mais conhecido do grande público. No papel principal está Joseph Gordon Lewitt que também aparece em...

 2 A Travessia (2015) Olha Joseph Gordon Lewitt aí de novo! Não lembro de outro ator fazendo dois filmes baseados em documentários ganhadores do Oscar em toda a história do cinema! Baseado no filme O Equilibrista (2008), Robert Zemeckis recria a aventura do francês Philippe Petit que se equilibrou num cabo de aço esticado entre as torres do World Trade Center em 7 de agosto de 1974. O documentário é eletrizante com suas cenas de arquivo! Já o trabalho de Zemeckis consegue ter uma linguagem ainda mais pop, não apenas contando como a ideia maluca surgiu, mas também um pouco mais da vida pessoal de Petit. Fique atento aos vertiginosos efeitos especiais!

1 O Rei da Polca (2018) Jan Lewan (Jack Black) é um imigrante polonês que se tornou famoso dançando e cantando Polca na Pensilvânia e o cara foi até indicado ao Grammy! Mas para render uma vida confortável junto à esposa (Jenny Slate) ele também mantem uma lojinha de lembrancinhas polonesas que vende bem menos do que ele queria... Quando a ambição bate mais forte, Lewan acaba desenvolvendo um sistema de pirâmide que o coloca em graves problemas com a polícia! Parece absurdo? Pois é tudo real e já rendeu o documentário The Man Who Would Be Polka King (2009). Ambas as produções estão em cartaz na Netflix. 

PL►Y: Snowden

Joseph: figura controversa. 

No marasmo de poucas ideias que assolam Hollywood uma tendência ganhou força nos últimos anos: fazer versões dramatizadas de documentários premiados. Como o grande público tem alergia à palavra documentário (que muita gente escuta "filme chato" quando escuta falar de um), contar a mesma história com um ator famoso se tornou um recurso recorrente no cinema americano. Se em 2014 o longa Citizen Four de Laura Poitras ganhou fama e o Oscar de melhor documentário por mergulhar nas polêmicas envolvendo Edward Snowden, o diretor Oliver Stone considerou que poderia fazer uma versão com atores daquela história. Se o documentário é praticamente uma entrevista sobre as descobertas de Snowden ambientado em um quarto de hotel, mas cheio de tensão sobre o momento em que aquele material foi registrado - pouco antes da fuga e exílio do analista de sistemas, por outro lado o novo filme é bem menos envolvente. No filme de Oliver Stone, o que vemos é um filme bastante tradicional, que tenta reproduzir os dilemas morais do protagonista ao mesmo tempo que investe em alguns dramas poucos trabalhados de sua vida pessoal (sobretudo no relacionamento com a namorada vivida por Shailene Woodley), esta falta de profundidade também afeta todos os outros personagens que cruza sem caminho (basta ver o "chefe" encarnado por Rhys Ifans que está sempre pelo meio do caminho). Na pele do protagonista, o bom Joseph Gordon Lewitt convence como o rapaz tímido, reservado e brilhante (é curioso lembrar que o ator também fez um outro filme adaptado de um documentário antes deste aqui: A Travessia/2015 em que encarnava o equilibrista francês Philippe Petit). Para se diferenciar do documentário, o filme conta um pouco como foi a vida militar de Snowden, sua passagem pela CIA e seu trabalho junto com polêmicas operações que violavam a privacidade de pessoas comuns em nome de medidas de segurança do governo americano. Não resta dúvidas de que a história é interessante, que um bando de gente desinformada vai ficar chocado com o que aparece em cena e que o filme deve ter rendido discussões acaloradas depois das sessões, no entanto, a produção está longe de ser empolgante. Oliver Stone faz um filme longo e um tanto sem energia que dá voltas em torno de si mesmo por boa parte do tempo. Talvez se eu não houvesse assistido ao documentário, Snowden houvesse me empolgado mais, por outro lado, tenho saudades do que o antigo Oliver (diretor do clássico Platoon/1986 e do insano Assassinos por Natureza/1994) faria com um material desses nas mãos.  No Brasil a situação ficou ainda mais interessante com o subtítulo Herói ou Traidor, o que instiga ainda mais a controversa trajetória do rapaz, afinal ele pode ser os dois, dependendo do ponto de vista de quem observa a história. 

Snowden - Herói ou Traidor (Snowden - EUA / 2016) de Oliver Stone com Joseph Gordon Lewitt,  Shailene Woodley, Melissa Leo, Zachary Quinto e Rhys Ifans. ☻☻☻

terça-feira, 24 de setembro de 2019

PL►Y: Operação Overlord


Jovan e Wyatt: salvando a pele e o filme. 

Operação Overlord é um daqueles filmes em que não tenho um mínimo interesse para assistir, literalmente passa em branco quando estreia no cinema... aí... com o tempo... começo a ouvir tantos comentários entusiasmados sobre ele que  fico muito curioso. Foi assim que acabei assistindo a esta produção de JJ Abrams (que até o lançamento cumpriu, mais uma vez, a tarefa louvável em tempos de internet, de manter tudo em segredo), a ideia mescla filme de guerra com terror o que pode até parecer original. Apesar do filme ter produção caprichada com bons efeitos especiais, a pretensão séria acaba junto com sua primeira parte, quando a parte de terror começa os desavisados podem ficar surpresos, mas alguns podem se decepcionar - já que a transição entre estilos tão distintos pode ficar um tanto desengonçada. Na história um grupo de soldados americanos se preparam para entrar em combate na Segunda Guerra Mundial e são surpreendidos por um ataque, assim, precisam se virar para se manterem vivos. Quando se veem perdidos em território inimigo temos algumas pistas de que estamos diante de um filme de guerra incomum. Eles acabam encontrando abrigo e o filme capricha no clima de tensão até que eles se deparam com algumas situações muito estranhas. Acho que não é interessante eu citar aqui as situações em que o grupo se mete, até porque esta parte constitui praticamente metade da sessão e torna o filme mais interessante - pelo menos até ele ficar um bocado repetitivo em sua parte final. Existe doses cavalares de sangue e absurdo por aqui, no entanto, a inspiração vem claramente das estranhas experiências realizadas por nazistas durante a guerra. Resta ao elenco injetar alguma credibilidade para tudo o que se vê na tela. O diretor Julius Avery, que até então dirigiu vários curtas e o longa Sangue Jovem/2014 (que em nada tem a ver com este aqui), tem a sorte gigantesca de contar com Wyatt Russell e Jovan Adepo para serem os heróis de sua história. Embora seus personagens tenham suas divergências durante a proposta do filme, os dois atores fazem milagres com as presepadas que a trama joga em cima deles. Embora seja escrito Mark L. Smith de (O Regresso/2015) e Billy Ray  (Capitão Phillips/2013), o filme parece criado por um adolescente com alguns milhões de dólares para criar uma sandice. O resultado serve para passar o tempo, mas não está longe de ser memorável. 

Operação Overlors (Overlord / EUA-2018) de Julius Avery com Wyatt Russell, Jovan Adepo, Mathilde Ollivier, Pilou Asbaek, John Magaro e Jacob Anderson. 

segunda-feira, 23 de setembro de 2019

Premiados Emmy 2019

Billy Porter: um Emmy para chamar de seu. 

Ontem foram entregues os prêmios EMMY que é considerado o Oscar da televisão americana. A cerimonia teve algumas grandes surpresas em várias categorias e confesso que os principais motivos para assistir à entrega (acho que a última vez que assisti faz uns dez anos) foi ver o momento em que Chernobyl e Michelle Williams subiriam para receber seus merecidos prêmios. De quebra foi bom ver Bill Hader ser premiado pela segunda vez consecutiva como melhor ator de série de comédia e Billy Porter desbancar favoritos como ator em série dramática. As minhas maiores surpresas foram a criticada última temporada de Game of Thrones levar o prêmio de melhor série dramática para a casa e ver o novato Jharrell Jerome sair premiado no lugar dos meus favoritos Jared Harris e Sam Rockwell. A seguir os principais premiados da noite. 

Melhor série de drama
"Game of Thrones"

Melhor série de comédia
"Fleabag"

Melhor minissérie

Melhor atriz em série dramática
Jodie Comer -  "Killing Eve"

Melhor ator em série dramática
Billy Porter - "Pose"

Melhor atriz em série de comédia
Phoebe Waller-Bridge - "Fleabag"

Melhor ator em série de comédia

Melhor atriz em série limitada ou filme para TV

Melhor ator em série limitada ou filme para TV
Jharrel Jerome - "Olhos que Condenam"

Melhor atriz coadjuvante em série limitada ou filme para TV
Patricia Arquette - "The Act" 

Melhor ator coadjuvante em série limitada ou filme para TV
Ben Wishaw - "A Very English Scandal"

Melhor Ator Coadjuvante em Série de Drama
Peter Dinklage - "Game of Thrones"

Melhor Atriz Coadjuvante em Série de Drama
Julia Garner - "Ozark"

Melhor Ator Coadjuvante em Série de Comédia
Tony Shalhoub - "The Marvelous Mrs. Maisel"

Melhor Atriz Coadjuvante em Série de Comédia
Alex Borstein - "The Marvelous Mrs. Maisel"

Melhor Atriz Convidada em Série Dramática
Phylicia Rashad - "This is Us"

Melhor Ator Convidado em Série Dramática
Kumail Nanjiani - "The Twilight Zone" 

Melhor Ator Convidado em Série de Comédia 
Luke Kirby - "The Marvelous Mrs. Maisel"

Melhor Atriz Convidada em Série de Comédia 
Jane Lynch - "The Marvelous Mrs. Maisel"

Melhor roteiro de comédia
"Fleabag" (Episode 1) - Phoebe Waller-Bridge

Melhor reality show de competição
"RuPaul's Drag Race"

Melhor programa de variedades
"Last Week Tonight with John Oliver"

Melhor filme para a TV

domingo, 22 de setembro de 2019

NªTV: Inacreditável

Merrit e Toni: no rastro de um criminoso serial. 

Recém lançada pela Netflix a minissérie Inacreditável se destaca entre os programas baseados em crimes reais por não se render ao sensacionalismo enquanto suas detetives investigam casos de estupro. O foco aos poucos recais sobre os vários erros com que elas se deparam neste tipo de trabalho. Na verdade, esta forma como "não se deve proceder" aparece desde o primeiro episódio, quando a jovem Marie Adler (Kaitlyn Dever) sofre um estupro dentro de seu apartamento e precisa repetir várias vezes o que aconteceu naquela noite para as autoridades locais. Pelo atendimento totalmente equivocado os policiais chegam à conclusão que tudo foi fruto da mente de uma jovem que gosta de chamar atenção. Depois de sobreviver ao abuso, Marie enfrentará uma série de perdas e problemas em sua vida pessoal por ser vista como uma mentirosa problemática. Desacreditada pelos amigos, a vida de Marie se torna cada vez pior graças a forma como o Estado tratou o seu caso. Enquanto as coisas só pioram para a garota, o criminoso continua agindo colecionando vítimas em outras cidades, até que a detetive Karen Duvall (a inacreditável Merritt Weaver) começa a perceber semelhanças entre eles. Ela acredita que trata-se do mesmo homem agindo perante a ineficácia do sistema, logo ela irá estabelecer parceria com a detetive Grace Rasmussen (a ótima Toni Collette), que já está calejada de ver este tipo de crime não ter o cuidado que merece. Ao longo de seus oito episódios, Inacreditável cria uma narrativa paralela entre a trajetória de Marie e a jornada das duas detetives para descobrir a identidade do criminoso. Aos poucos, Inacreditável centra sua narrativa em como o atendimento às vítimas de estupro e as investigações destes casos ainda precisam melhorar muito. Com episódios tensos, o programa merece atenção especialmente por abordar uma investigação real sob um ponto de vista incomum. Além do bom trabalho de roteiro e direção, as atuações também merecem destaque. Toni Collette tira de letra mais um tipo diferente em seu carreira, misturando dureza e sensibilidade a atriz está excelente mais uma vez, por outro lado, eu não conhecia a sua parceira Merrit Weaver que está excepcional sempre que a cena depende somente de seu olhar para se comunicar com o espectador. Quem completa o trio protagonista é Kaitlyn Dever que tem seu segundo acerto no ano (o primeiro foi a comédia Fora de Série) numa personagem que atravessa situações complicadas. Inacreditável é uma minissérie que merece ser vista e escutada. 

Kaitlin (ao centro): vítima de estupro e do sistema. 

Inacreditável (Unbelievable / EUA - 2019) de Susannah Grant, Michael Chabon e Ayelet Waldman com Kaitlyn Dever, Merritt Weaver, Toni Collette, Blake Ellis, Austin Hébert, Danielle MacDonald e Elizabeth Marvel.  

sábado, 21 de setembro de 2019

FILMED+: A Fraternidade é Vermelha

Irene e Jean-Louis: o brilhante arremate da trilogia das cores.

Fechando a trilogia das cores com chave de ouro, A Fraternidade é Vermelha se tornou um dos filmes mais queridos dos anos 1990.  Krzysztof Kieslowski fez uma verdadeira cereja para o bolo com uma história de amizade improvável que consegue costurar as várias emoções apresentadas nos filmes anteriores (incluindo um brilhante arremate envolvendo todos os seus protagonistas de forma tão emocionante quanto inesperada). Se em A Liberdade é Azul (1992) a tristeza dava o tom e em A Igualdade é Branca (1993) a ironia tomava conta, com A Fraternidade é Vermelha o diretor apresenta uma história mais otimista e, ao mesmo tempo, com um verniz um tanto metafísico na figura do juiz solitário vivido por Jean-Louis Trintignant. O filme gira em torno de Valentine (Irene Jacob), uma modelo cheia de compromissos e presa à história de amor que nunca avança mediante as constantes ligações telefônicas. Em uma noite ela se distrai e acaba atropelando um cachorro. Sem saber o que fazer, ela procura o dono do animal, um homem de idade que vive isolado e que não demonstra o mínimo interesse em ter seu animal de estimação de volta. Valentine acaba levando o bicho para a veterinária e o adotando, ainda mais quando descobre que em breve nascerão alguns filhotes. Ela acaba reencontrando aquele senhor mais uma vez e descobre que ele guarda um segredo bastante desconfortável ligado aos seus vizinhos e... se eu contar mais estragarei todas as surpresas que o filme reserva. O relacionamento entre os dois protagonistas inicia com um conflitos moral e ético, mas que logo segue por caminhos inesperados, que revelam o quanto uma amizade pode alterar a visão de mundo entre as pessoas. Na pele do ex-juiz Joseph, Trintignant tem uma atuação excepcional, especialmente na forma como seu personagem caminha do distanciamento que mantinha para o renascimento de uma fé na humanidade que ele julgava não ter mais fundamento. O momento mais sombrio de seu personagem funciona em ótimo contraste com a interpretação de Irene Jacob na pele da doce Valentine. Desde a primeira cena percebemos que a moça tem um bom coração, embora não encontre quem o valorize. É uma bela observação do cineasta inserir sua protagonista espirituosa no mundo fashion que é geralmente visto como frívolo e fútil por seu vínculo com as aparências. O papel cai como uma luva pra a a atriz suíça que havia trabalhado com Krzysztof Kieslowski em A Dupla Vida de Veronique (1990) e aqui confere alma quase angelical para a personagem - o que torna fácil entender a empatia que desperta no endurecido juiz. Para além de tudo isso a trama trabalha com várias coincidências que aos poucos deixam a impressão que não aconteceram por obra do acaso (o que pode promover diversas leituras sobre o próprio personagem de Trintignant, sua influência na vida das pessoas e suas verdadeiras intenções em casa situação que surge na história). Confesso que faço uma leitura bastante particular do filme e que não escreverei aqui para não soar muito viajante ou estragar o que o filme pode ter de mais surpreendente. A Fraternidade é Vermelha foi o filme mais bem sucedido da trilogia das cores e foi indicado a três prêmios: direção, roteiro original e fotografia (graças ao magnífico tom de vermelho que Piotr Sobocinski insere em cada cena). Adoro. 

A Fraternidade é Vermelha (Trois Couleurs: Rouge / Suíça - França - Polônia) de Krzysztof Kieslowski com Irene Jacob, Jean-Louis Trintignant, Jean-Pierre Lorit, Teco Celio, Samuel Le Bihan e Frédérique Feder. ☻☻

sexta-feira, 20 de setembro de 2019

KLÁSSIQO: A Igualdade é Branca

Delpy e Zbigniew: problemas para consumar o casamento.

Depois do aclamado capítulo de estreia da trilogia das cores (A Liberdade é Azul/1993), a segunda parte da obra de Krzysztof Kieslowski foi vista com desconfiança pela crítica. Talvez porque consideraram A Igualdade é Branca bem menos sutil do que o anterior, além de ser bem mais irônica  ao contar, digamos, uma estranha história de amor. O fato é que depois de todo o tom contemplativo do anterior, o cineasta criou uma história completamente diferente, desta vez investindo em um tom mais cômico e até farsesco para sua alegoria sobre a igualdade. Assim que vemos a pendenga do casal Karol (Zbigniew Zamachowski) e Dominique (Julie Delpy) no tribunal, percebemos que a igualdade a que o filme se refere será trabalhada fora da "justiça". Afinal, o polaco Karol não domina o francês, o que se mostra um grande problema quando vão viver na França após o casamento. Nervoso, ele tenta se defender, mas sempre depende de um intérprete para ser ouvido. De nada adianta, afinal, Dominique está enfurecida com os problemas que o marido enfrenta para consumar o casamento. Para o apaixonado Karol o problema é provisório, mas para Dominique já se passou tempo demais até que a situação se resolvesse. Ali mesmo no tribunal, começa a tragédia do marido,. Com o divórcio declarado ele não tem para onde ir, tem problemas para utilizar o dinheiro que tem no banco e Dominique não perde uma chance de humilha-lo - chegando até a forjar um incêndio para acusa-lo. Nesta primeira parte é curioso pensar onde a igualdade irá aparecer na história, já que a relação de poder entre os dois é completamente desproporcional. Com a ajuda de um amigo, Karol acaba voltando para Polônia afim de dar a volta por cima, nem que para isso precise colocar sua vida em risco em vários momentos. A Igualdade é Branca tem um humor obscuro, tipicamente do leste europeu e reserva um final surpreendente para o espectador, que finalmente entenderá onde reside a igualdade do filme - ainda que este conceito seja apresentado de forma bastante provocadora. Para fazer funcionar a história, o diretor conta com o ótimo Zbigniew Zamachowski, que está perfeito como Karol. Ele é um ator tão carismático em um personagem tão ultrajado que se torna impossível não simpatizar com ele desde as primeiras cenas. Do outro lado está Julie Delpy com sua enganadora carinha de anjo, que persiste até o desfecho. As ironias da história não impede que o filme tenha momentos pontuais de lirismo ao longo da sessão (as cenas de Dominique na igreja com um branco quase cegante são um achado), mas ainda assim causou estranhamento em quem considerou A Liberdade é Azul uma obra-prima. Ao surpreender por investir em uma atmosfera diferente,  Krzysztof levou o prêmio de melhor diretor no Festival de Veneza pelo seu trabalho fascinante. 

A Igualdade é Branca (Trois Couleurs: Blanc / França - 1994) de Krzysztof Kieslowski com Zbigniew Zamachowski, Julie Delpy, Janusz Gajos, Jerzy Stuhr, Jerzy Nowak e Juliette Binoche. ☻☻

quinta-feira, 19 de setembro de 2019

KLÁSSIQO: A Liberdade é Azul

Juliette Binoche: a beleza triste da liberdade. 

O cineasta polonês Krysztof Kieslowski filmava desde os anos 1960 e ao longo das décadas de trabalho se tornou uma referência mundial. Krysztof se tornou mais conhecido ao final dos anos 1980, quando lançou a série chamada O Decálogo (1988) composta por dez filmes de uma hora de duração inspirados nos dez mandamentos. A ideia deu tão certo que alguns episódios foram convertidos para longa metragens com grande sucesso, foi assim que Não Amarás (1988) e Não Matarás (1988) entraram em cartaz nas salas de cinema aqui do Brasil e tornou o cineasta ainda mais conhecido por seu estilo repleto de simbologias. O número de fãs por aqui aumentou ainda mais com o cult A Dupla Vida de Veronique (1990) e a posterior trilogia das cores, que ganhou prêmios em vários festivais ao redor do mundo e foi lembrada até no Oscar de direção. A trilogia inspirada nas cores da bandeira francesa ressalta ainda mais a habilidade do diretor contar histórias onde costura som e imagem com maestria. A primeira parte da trilogia, A Liberdade é Azul já demonstra que se inspirar nos ideais da Revolução Francesa (Liberdade, Igualdade e Fraternidade) não quer dizer que o cineasta opte pelos caminhos mais simples de suas temáticas. O filme já se inicia com um acidente  de carro que logo depois percebemos ter vitimado o esposo e a filha de cinco anos de Julie (Juliette Binoche), única sobrevivente do desastre. Devastada, Julie terá que viver sua dor sob os holofotes, uma vez que seu marido era um renomado maestro e compositor francês, chamando atenção da mídia francesa. O fato é que sem o esposo e a filha, Julie mergulha numa espécie de vazio, com o qual precisa lidar. Krysztof parte deste ponto para abordar a liberdade em sua forma mais radical. Sem o casamento, o compromisso com a filha, a responsabilidade do trabalho, a personagem começa a se desfazer de tudo o que lhe lembra a antiga vida, seja a casa que morava ou um cordão que simboliza uma religiosidade que parece já ter abandonado. Esta liberdade  por não ter amarras que aparece até certo ponto do filme é um tanto deprimente, mas se transforma quando a personagem aprende a lidar com sua nova situação. É curioso que um filme sobre um tema tão ligado à alegria (a liberdade) seja apresentado de forma tão triste pelo diretor. Talvez a ideia tenha nascido da ideia de que a fotografia em tons de azul no cinema está geralmente ligada à tristeza dos personagens - e aqui o diretor utiliza esta cor de forma belíssima. Os detalhes em azul aparecem todo tempo para emoldurar a atuação intimista de Binoche. Com poucos diálogos, a atriz foi elogiadíssima por sua interpretação, sendo indicada ao Globo de Ouro de melhor atriz dramática após ter levado para casa o César e o Prêmio em Veneza de melhor atriz. Kryzstof explora ao máximo o olhar melancólico da atriz , mas não perde a chance de pontuar momentos de esperança ao longo da história (repare os momentos em que a tela escurece e a cena poderia terminar, mas ela continua conforme a personagem digere sua dor). Outro grande momento do filme é a forma como a melodia composta pelo esposo falecido ganha sonoridade conforme as partituras aparecem na história, somente um gênio filmaria a música deste jeito. A Liberdade é Azul abre a trilogia das cores de forma um tanto hermética, mas talvez este seja um dos motivos para ser um filme bastante contundente. Ah,  fique atento na cena em que Julie entra no tribunal, aquela cena é do próximo episódio...

A Liberdade é Azul (Trois Couleurs: Bleu / França - 1993) de Krysztof Kieslowski com Juliette Binoche, Benoît Régent, Emanuelle Riva, Florence Pernel e Guillaume de Tonquédec. ☻☻

quarta-feira, 18 de setembro de 2019

NªTV: Sex Education

Emma, Asa e Gatwa: sexo com naturalidade. 

Confesso que demorei muito para ver a série Sex Education da Netflix, na verdade eu assisti ao primeiro episódio, mas não fiquei impressionado para seguir em frente. Neste último final de semana resolvi retomar o programa e assisti os oito episódios tão rapidamente que ao final bateu aquela sensação de que vai demorar um bocado para ter a nova temporada (já confirmada pela Netflix). A esta altura todo mundo já deve saber que a história é ambientada numa escola e que a série explora as dúvidas e descobertas sexuais daquele grupo de adolescentes - e dilemas de alguns adultos. Até aí nenhuma novidade, mas ela aparece quando o protagonista, Otis (Asa Buterfield) revela-se filho de uma terapeuta sexual (Gillian Anderson) e resolve dar uma ajudinha ao pessoal da escola na hora de lidar com o assunto e seus tabus. O grande achado do programa é não descambar para a baixaria, sempre mantendo o bom humor e investindo numa carga emocional que mantem um interesse crescente nas tramas que começam a se desenvolver pelo caminho. A cada programa, a série amplia sua gama de personagens e os aprofunda de forma bastante pertinente, especialmente perto dos capítulos finais. Se os primeiros  tem o maior jeito de "o caso da semana", os seguintes já encontram outro ritmo e se desenvolvem de forma muito mais interessante. Assim, o próprio Otis mostra-se muito confortável na hora de ajudar seus colegas, mas ainda não consegue lidar com suas próprias dúvidas, afinal, ele é apaixonado por Maeve (Emma Mackey, praticamente uma Margot Robbie adolescente) mas sempre mete os pés pelas mãos - seja quando quer atrapalhar o namoro da garota ou se declarar para ela. Ele tem problemas até para manter-se próximo do melhor amigo, Eric (Ncuti Gawa), um jovem negro, gay, filho de imigrantes que consolida sua identidade ao longo de toda a primeira temporada. Não falta assuntos para a série, de ansiedade para perder a virgindade, passando por vazamento de nudes ou como ter um (digamos), membro avantajado pode ser um problema, a série passeia por todos eles com uma desenvoltura invejável. Outro acerto da série é escalar Gillian Anderson, para o papel da mãe de Otis, a eterna agente de Arquivo X aparece completamente diferente e investe em tantas nuances que consegue roubar a cena da garotada em alguns episódios, seja quando resolve escrever um novo livro ou quando se percebe sexualmente atraída por um encanador nada sofisticado. Ainda que tenha um verniz de explorar as inúmeras dúvidas adolescentes sobre sexualidade, Sex Education faz o enorme favor de não ser apelativo ou didático, abordando temas complicados de forma bastante natural e despojada. Não bastasse seus acertos, ela ainda é um caso raro em que a série torna-se melhor a cada episódio.

Sex Education (Reino Unido - EUA / 2019) de Laurie Nunn com Asa Butterfield, Emma Mackey,  Gillian Anderson, Ncuti Gawa, Connor Swindells, Alistair Petrie, Tanya Reynolds, Kedar Williams Stirling  e Aimee Lou Wood. ☻☻ 

segunda-feira, 16 de setembro de 2019

PL►Y: Guy

Lutz e Marina: um astro está de volta. 

No prêmio César (mais conhecido como Oscar Francês) desse ano, Alex Lutz concorreu em três categorias por esta comédia que imita o formato de um documentário. Guy rendeu para Alex indicações a melhor diretor, ator e roteiro original. Lutz vive o famoso cantor Guy Jamet que encantava multidões dos anos 1960 aos 1990, mas que por problemas de saúde acabou deixando a carreira de lado na virada do século. Agora ele retorna e com aura de ícone, o que desperta o interesse de um jovem jornalista, Gauthier (Tom Dingler), interessado em acompanhar sua nova turnê e desvendar um pouco mais do homem que se esconde por trás do mito. Isso pelo menos é o que contam para Guy, na verdade, o jovem jornalista é um filho desconhecido do astro que apenas quer se aproximar do pai enquanto toma coragem para lhe dizer a verdade. A ideia do filme é bem simples, mas alcança um resultado envolvente, principalmente pelo subtexto emocional que alimenta o decorrer da história, que por vezes parece um tanto engessada pelo formato pseudo-documental. A sorte é que Alex Lutz está excepcional na pele de Guy, criando olhares e trejeitos para um sujeito calejado e que por vezes se aborrece ao se ver reduzido a uma caricatura. O mais legal do filme é a forma como se constrói toda uma história para o personagem com fotos e cenas de arquivo (as cenas de shows e vídeos de sucesso de Guy com fotografia granulada por vezes até me faziam esquecer que tudo é uma ficção) e cria um retrato bastante semelhante a trajetória de vários artistas que ficaram esquecidos e ganharam um revival ao longo da história, além de dar uma alfinetada no mundo das celebridades atual. Além da boa direção de atores e do bom trabalho de edição, o filme conta com uma trilha sonora caprichada que evoca diretamente clássicos da música pop francesa (imagino que qualquer um pode ficar em dúvida se já não ouviu alguma daquelas músicas antes), não por acaso o filme levou para casa o César de trilha sonora original, assim como o prêmio de melhor ator pelo excelente desempenho de Lutz. Despretensioso e divertido, Guy é uma delícia de assistir e deve comover os mais sensíveis (e nostalgicos). 

Guy (França / 2018) de Alex Lutz com Alex Lutz, Tom Dingler, Pascale Arbillot, Nicole Calfan, Dani e Marina Hands. ☻☻

Na Tela: IT - Capítulo 2

Mustafa, Hader, McAvoy, Jessica e Ryan: vinte e sete anos depois. 

Quando IT - A Coisa  (2017) estreou o público parecia desconfiado se o filme daria bom caldo nas telonas. A obra já havia sido adaptada em formato de minissérie em 1990 e fez a glória das locadoras com seus dois episódios em formato de longa-metragem de hora e meia. Andy Muschietti resolveu fazer diferente e dividiu o livro em duas partes, deixou a parte das crianças para o primeiro filme e a segunda, com os personagens já adultos, para a segunda. Se no primeiro a ideia funcionou bem, na continuação coisa já é um pouco diferente. Embora tenha um elenco bem selecionado (alguns por sugestão dos atores mirins, outros escalados por semelhança física mesmo), o roteiro tem uma dificuldade danada de explorar o que a vida fez com os integrantes daquele grupo de amigos após vinte e sete anos. Ele até arrisca, mas sempre recorre à fase infantil dos personagens para garantir nossa empatia. Deste jeito, muitos aspectos que poderiam tornar o filme mais rico perante os medos dos personagens ficam de lado na criação de sustos para a plateia. Eu adoraria ver o filme explorando mais como Beverly (vivida por Jessica Chastain na fase adulta) consegue dar um basta em seu histórico de relacionamentos abusivos, ou como o crescido Eddie (Andy Ransone) se viu casado com uma figura feminina muito parecida com a própria mãe. Mesmo James MacAvoy (que vive o Bill adulto e escritor de livros de terror) e Jay Ryan (o gordinho Ben que emagreceu e ficou com pinta de galã) não ganham muitas camadas na disputa pelo coração de Beverly. Até a participação de Stanley adulto (Andy Bean) é apressada e até confusa. Quem acaba ganhando um pouco mais de destaque é Mike (Isaiah Mustafa) que se atribui a missão de reunir os amigos para derrotar o palhaço assassino (vivido novamente com dedicação por Bill Skarsgard) e Richie (com Bill Hader fazendo o possível e o impossível na ampliação de um dos aspectos mais sutis do livro sobre a personalidade do personagem). Embora tenha problemas em sua execução é visível como Andy Muschietti aprecia o livro e a história que tem em mãos, no entanto, ele se sai infinitamente melhor quando explora o lado mais psicológico da história, explorando mais a angústia dos personagens perante suas feridas do que em monstros de computação gráfica. O próprio início do filme consegue ser assustador com uma cena de violência que reflete bem os tempos de intolerância que vivemos, não por acaso protagonizada por dois atores assumidamente gays (Taylor Frey e Xavier Dolan), o início revela que o filme está antenado com os horrores do mundo atual, mas este elemento se dilui ao longo de todo o filme. O Capítulo Dois tem menos fôlego e um roteiro menos redondo que o anterior, mas funciona ainda que dependente do primeiro filme. Embora tenha mais cenas grandiloquentes (e outras que me provocaram risadas), a minha cena favorita é aquela com Bill Hader encarando Pennywise visto por um grupo de pessoas hipnotizadas com o que está acontecendo (e você não sabe se é real ou ilusório, sempre que o filme borra estas fronteiras ele fica mais interessante, pena que acontecem poucas vezes). Existem outros momentos legais como captar as referências às outras obras de Stephen King (que faz até uma participação especial no filme), mas manter o tom por mais de duas horas quarenta minutos é uma tarefa realmente complicada. 

IT: Capítulo 2 (IT: Chapter Two /EUA - Canadá / 2019) de Andy Muschietti com Jessica Chastain, James McAvoy, Bill Hader, Bill Skarsgaard, Isaiah Mustafa, Andy Ransone, Jay Ryan, Jaeden Martell, Wyatt Oleff, Sophia Lillis, Jeremy Ray Taylor, Taylor Frey e Xavier Dolan. 

domingo, 8 de setembro de 2019

PL►Y: Clímax

Clímax: da perfeição ao caos social. 

Talvez seja estúpido considerar que Gaspar Noé mais um provocador do que um cineasta. Longe de mim querer diminuir o talento do moço, mas faz algum tempo que seus filmes parecem mais preocupados em gerar polêmica do que fazer qualquer outra coisa. Sua obra-prima talvez seja mesmo Irreversível (2002) - que acaba de voltar aos cinemas europeus em versão convencional (e não mais de frente para trás como o original). De lá para cá, o cinema de Noé apresentou cada vez mais forma do que substância (basta ver Love/2015 com cenas de sexo explícito em 3D estragados por um roteiro preguiçoso). Sorte que Noé sabe filmar de forma elaborada, adora planos sequência, ângulos estranhos, uso de cores berrantes e motivar improvisos de seus atores, o problema é quando nada disso funciona para disfarçar uma história capenga. Depois de tantos tropeços, quando Clímax foi exibido em Cannes no ano passado ninguém esperava muita coisa. A sinopse era bastante vaga e nem o diretor falava muito sobre qual era sua ideia para o filme. Quando o filme terminou de ser exibido, não foram poucos que o classificaram como uma das produções mais interessantes o Festival (levou para casa o prêmio da Quinzena dos Realizadores) e se firmou como um dos filmes mais coerentes do cineasta. A ideia é: um grupo de alunos de dança se abrigam dentro da escola durante uma forte nevasca e aos poucos começa a se desentender. Parece simples, mas não é.  Noé  (sem trocadilho por favor) utiliza este ponto de partida para criar mais um pesadelo visual. Uma bad trip caótica regada a um ponche misturado com drogas que ninguém sabe quem colocou por lá. Embora o filme traga pontos recorrentes na obra do cineasta (a juventude hedonista, a violência, o fracasso das relações sociais... sim, ele é pessimista mesmo), ele capricha na narrativa. Começa com o que parecem fitas de entrevistas dos bailarinos (deixando que eles se definam numa apresentação bastante espontânea), as cenas são emolduradas por livros e filmes que parecem ter servido de inspiração para o diretor (destaque para o clássico Suspiria, que mistura dança e terror como este aqui). Depois, uma enorme e brilhosa bandeira francesa  aparece ao fundo da pista de dança enquanto o filme afirma ter orgulho de ser francês. Começa então os dez minutos de dança mais empolgantes que assisti nos últimos anos. O entrosamento, a sincronia, a desenvoltura, faz o número ser perfeito e dá a entender que aqueles alunos estão totalmente preparados para o espetáculo para o qual ensaiaram tanto. Depois, Noé destrói este entrosamento vagarosamente com as conversas paralelas que começam a existir. Apresenta outro número de dança, filmado de cima, como se aqueles personagens fossem observados por um microscópio, só que agora os passos são agressivos, as marcações parecem lutas e uma suspeita faz com que aquelas relações desabem com violência, preconceitos, incesto, mortes, mutilações como se aquele entrosamento fascinante na pista nunca houvesse existido. Noé acompanha esta desconstrução com o distanciamento de sempre, brinca com a câmera que gira em torno de seus dançarinos enjaulados com frases que parecem saídas do Facebook. Tenso. Desagradável. Irritante. Insuportável em alguns momentos, Clímax é uma alegoria social que o fez ser foi considerado o filme mais político do diretor (não foi por acaso).

Clímax (França / Bélgica - 2018) de Gaspar Noé com Sofia Boutella, Romain Guillermic, Souheila Yacoub, Kiddy Smile, Alaia Alsafir, Giselle Palmer e Lea Vlamos. ☻☻☻

sábado, 7 de setembro de 2019

FESTIVAL DE VENEZA 2019

Joaquin: quem ri por último...

O Festival de Veneza continua forte no propósito de se tornar o evento cinematográfico mais antenado do mundo. Mesmo sendo parte da santíssima trindade da sétima arte (Berlim, Cannes e Veneza), o evento sempre perde o posto de mais influente do cinema para Cannes, mas... a coisa parece estar mudando. Já faz alguns anos que os organizadores olharam para o futuro e resolveram premiar experiências de realidade virtual. A ideia gerou certo burburinho mas segue firme na programação. Ano passado, os jurados premiaram Roma de Alfonso Cuarón, que ganhou força rumo ao Oscar, mesmo diante dos olhares tortos por ser uma produção da Netflix. Se Cannes não aguentou o tranco e criou regras que excluem os filmes feitos para streaming da concorrência, o filme de Cuarón foi abraçado com força levando Leão de Ouro para a casa. Neste ano, Veneza aprontou mais uma vez e, após ver o filme de origem do maior inimigo do Batman ser aplaudido por oito minutos em sua primeira exibição, concede a ele o prêmio máximo do festival! O que Veneza quer nos dizer com isso? Que cinema é cinema, não importa sua fonte de inspiração! Por isso, filme inspirado em quadrinhos pode ser bom de verdade - além de apontar que a DC Comics parece ter encontrado seu caminho finalmente. A seguir todos os premiados do Festival:


Leão de Ouro - Melhor Filme
Coringa (Todd Phillips)

Leão de Prata - Grande Prêmio do Júri
J'Accuse (Roman Polanski)

Leão de Prata - Melhor Diretor
Roy Andersson (About Endlessness)

Melhor Atriz
Ariane Ascaride (Gloria Mundi)

Melhor Ator
Luca Marinelli (Martin Eden)

Melhor Roteiro
Yonfan (No.7 Cherry Lane)

Prêmio Especial do Júri
La Mafia non è Piú Quella Di Una Volta (Franco Maresco)

Prêmio Marcello Mastroianni de Revelação
Toby Wallace (Babyteeth)

MOSTRA ORIZZONTI
Melhor Filme
Atlantis (Valentyn Vasyanovych)

Melhor Diretor
Théo Court (Blanco en Blanco)

Melhor Ator
Sami Bouajila (A Son)

Melhor Atriz
Marta Nieto (Madre)

Melhor Roteiro
Jessica Palud, Philippe Lioret e Diastème (Revenir)

Melhor Curta-Metragem
Darling (Saim Sadiq)

Prêmio Especial do Júri
Verdict (Raymund Ribay Gutierrez)

REALIDADE VIRTUAL
Melhor História em Realidade Virtual
Daughters of Chibok (Joel Kachi Benson)

Melhor Experiência em Realidade Virtual
A Linha (Ricardo Laganaro)

Melhor Realidade Virtual
The Key (Céline Tricart)

OPERA PRIMA
Melhor Primeiro Filme
You Will Die at 20 (Amjad Abu Alala)

CLÁSSICOS
Melhor Documentário
Babenco, Alguém tem que Ouvir o Coração e Dizer: Parou (Bárbara Paz)

Melhor Filme Restaurado
Extase (Gustav Machatý)

terça-feira, 3 de setembro de 2019

PL►Y: Podres de Ricos

Yeoh, Golding e Wu: Globo de Ouro inusitado. 

Não entenderam nada quando Podres de Ricos levou para casa o Globo de Ouro de Melhor Comédia de 2018. Quando o filme de Jon M. Chu ficou entre os cinco indicados, era uma unanimidade que a indicação (assim como a de Constance Wu ao prêmio de Melhor Atriz em Comédia) era o reconhecimento pelo sucesso mundial do filme. Quando o filme derrotou  A Favorita, Vice e Green Book (que acabou levando o também controverso prêmio de Melhor Filme no último Oscar), a surpresa foi geral. Não que o filme seja ruim, mas está bem longe de ser a melhor comédia do ano, já que seu formato é bastante tradicional dentro do gênero, com a diferença de ter como protagonistas somente atores com traços asiáticos. Ao que parece, a representatividade desta comunidade falou mais alto e o filme surpreendeu. O filme conta a história de amor entre Rachel  Chu (Constance Wu) e o filho de milionário, Nick Young (Henry Golding). Ela não faz a mínima ideia de que a família do rapaz é cheia da grana e que não verá com bons olhos este relacionamento - sobretudo a mãe do moço, Eleanor (Michelle Yeoh) que será a mais desagradável possível para Rachel desistir deste namoro (mas sem perder a elegância). Quando um casamento na família de aproxima, Rachel terá que provar seu valor enquanto enfrenta preconceitos, fofocas em redes sociais e intrigas na família que a recebe. Existem dramas paralelos (que nunca se aprofundam), personagens excêntricos que servem de alívio cômico para o filme (sobretudo Awkwafina como a amiga maluquete de Rachel) e alguns segredos que dão um tom bastante novelesco para a história, mas nada muito empolgante.  Constance vive uma mocinha que merece o céu e seu namorado é o típico galã sem muito o que fazer, nem mesmo perceber que sua amorosa mãe é uma megera. Inspirado no livro de Kevin Kwan, Podres de Ricos é uma produção simpática a que se assiste sem esforço, mas não acrescenta nada de novo à fórmula do gênero. Ok, o elenco é competente e faz o filme parecer melhor do que realmente é - o que para alguns já é satisfatório. 

Podres de Ricos (Crazy Rich Asians / EUA - 2018) de John M. Chu com Constance Wu, Henry Golding, Michelle Yeoh, Awkwafina, Gemma Chan, Lisa Lu e Chris Pang. ☻☻