quarta-feira, 8 de março de 2023

Na Tela: A Baleia

 
Brendan: duzentos quilos de maquiagem. 

Charlie (Brendan Fraser) é um professor de redação que após a morte de seu parceiro encontrou na comida uma forma lidar com a solidão. Antes do relacionamento homoafetivo, ele era casado com Mary (Samantha Morton) e tinha uma filha de oito anos que, agora, tornou-se uma adolescente revoltada, a Ellie (Sadie Sink), com quem ele tenta uma reaproximação. Acontece que Charlie tem problemas com a sua auto imagem após ganhar mais de duzentos quilos, sem sair de casa há tempos, ele opta por dar aulas online sempre com a câmera desligada. Com cada vez mais problemas de saúde, ele conta com a ajuda da amiga enfermeira, Liz (Hong Chau) para lidar com algumas de suas dificuldades. Vez por outra ele também recebe a visita de um jovem missionário da Igreja Nova Vida, Thomas (Ty Simpkins), que tenta não apenas convertê-lo como também salvar aquela alma desesperada. Esta é a sinopse de A Baleia, novo filme do diretor Darren Aronofsky que divide opiniões desde que estreou no Festival de Veneza (e ainda assim rendeu seis minutos de aplauso pela atuação de Brendan Fraser). Baseado na peça de Samuel D. Hunter (que também assina o roteiro) o filme nem tenta escapar de sua origem teatral, se apropriando sem pudores a ideia de um único cenário em que personagens entram e saem após interagir com o protagonista. Este ponto é bastante curioso se levarmos em consideração a carreira de Aronofsky, que costuma escrever suas próprias histórias e lidar com muitas invencionices visuais. Talvez depois de toda a elaboração de Mãe! (2017), Darren quis simplificar as coisas (e o efeito é muito parecido com a dicotomia do incompreendido Fonte da Vida/2006 com o aclamado O Lutador/2008, incluindo as referências religiosas de um com a redenção do relacionamento de pai e filha do outro), mas, como de hábito, seu novo projeto está longe de agradar a todos. Nem vou dizer o que acho da ideia de tirar Brendan Fraser do papel principal e colocar um ator com mais de duzentos quilos diante da câmera (quantos assim você conhece que geraria interesse nas bilheterias?), o maior problema do filme não é nada disso, mas a forma como o roteiro parece tocar uma nota só por quase duas horas. Não existe aqui movimento nos personagens, a filha é sempre desagradável com o pai, o missionário sempre cego em sua fé (ainda que o filme se embole mais do que deveria quando revela o segredo dele), Liz sempre puxando a orelha do amigo e o próprio Charlie faz pouco mais do que aguentar as pancadas da vida enquanto pede desculpas. Ajuda a ter a ideia de inércia a ambientação monocromática dos cenários e da fotografia. O que faz o filme parecer um tantinho melhor com o material que oferece são as atuações de Hong Chau, indicada ao Oscar de coadjuvante (como uma atriz consegue demonstrar afeto e aspereza de forma tão contundente?) e especialmente de Brendan Fraser com seus enormes olhos azuis emoldurados por uma maquiagem impressionante (também indicada ao Oscar). Fraser foi um grande astro nos anos 1990, passando de filmes adolescentes para projetos sérios, mas teve problemas físicos (por conta de um acidente nas filmagens de A Múmia que o condenou a tomar remédios fortíssimos) e emocionais (pelo caso de assédio sexual de um produtor de Hollywood) que fez sua carreira perder fôlego de forma repentina. Agora, ele retorna com um comeback factor irresistível perante a Academia que lhe indicou ao prêmio de melhor ator por sua performance (e com fortes chances de ser premiado), ele só merecia um filme mais robusto para fazer jus ao seu desempenho. A Baleia (título provocativo em "alusão" ao livro Moby Dick que é quase uma obsessão para Charlie) não é ruim, mas também não é tão bom quanto poderia ser. 

A Baleia (The Whale/ EUA -2022) de Darren Aronofksy com Brendan Fraser, Hong Chau, Sadie Sink, Ty Simpkins, Samantha Morton e Jacey Sink. ☻☻

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