Aurélien e Louise: romance de seres comuns.
O jovem Labidi (Aurélien Gabrielli) escreveu um conto tão elogiado que ganhou aclamação da crítica e um prêmio literário. Anos depois, tantos elogios não lhe renderam o sucesso e o dinheiro que imaginava. Ele agora trabalha fazendo entregas através de aplicativo, divide um apartamento minúsculo com o melhor amigo Aleksei (Léon Cunha Da Costa) e tenta dar prosseguimento ao seu romance sobre a Guerra da Argélia. Os dois ambiciosos primeiros capítulos de seu romance chamam a atenção de uma editora que pretende publicar o livro, mas o escritor precisa terminar a obra em seis meses. Ele considera que é capaz de cumprir o prazo. Eis que um dia ele visita seus pais em Lyon e conhece, Elisa (Louise Chevillotte), jovem estudante por quem se apaixona e passa a nutrir sonhos de uma vida a dois. Embora o amor preencha os dias do jovem com aquela sensação inebriante que lhe faltava na rotina cansativa de antes, o maior problema de Labidi permanece: as contas no vermelho e a dificuldade de escrever na correria do dia a dia. O filme de estreia de Louda Ben Salah-Cazana não reinventa o gênero, mas traz um certo frescor que falta a muitos filmes que pretendem construir o recorte da vida real de personagens de carne e osso. Os problemas vividos por Labidi e Elisa são universais e podem acontecer em qualquer lugar do mundo e recebem aqui um tratamento sincero e afetuoso. Mesmo nos momentos de crise encontrados pelos personagens, seja por conta da grana sempre curta, da vergonha por não alcançar as expectativas que os outros tinham sobre ele ou a insegurança de sair da casa do pai para viver um novo relacionamento, tudo soa bastante verossímil. Labidi constrói um personagem tão crível e com uma doçura que somos capazes de entender o desespero que o faz realizar seus golpes em determinado momento da história, assim como também confere à Elisa as camadas necessárias para compreender suas inseguranças à vida que avista para os dois. Há de se ressaltar ainda o trabalho encantador de Saadia Bentaïeb e Jacques Nolot como os pais muçulmanos do protagonista, que ganham a vida administrando um pequeno café em Lyon. Com uma fotografia que procura não embelezar o cotidiano dos personagens e uma edição sem pressa, Louda Ben Salah-Cazana contrói um filme sem sobressaltos, mas envolvente sobre um casal entre seus sonhos e a realidade. Resta dizer que o título faz alusão à guinada do livro de Labidi, que toma o rumo de uma reflexão sobre a sua própria identidade de filho de imigrantes na França e seus problemas socioeconômicos. Uma pequena pérola do cinema independente francês.
O Mundo Atrás de Nós (Le monde après nous / França - 2021) de Louda Ben Salah-Cazana com Aurélien Gabrielli, Louise Chevillotte, Saadia Bentaïeb, Jacques Nolot e León Cunha da Costa. ☻☻☻
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