Aubrey: performance memorável. |
Quem já assistiu ao documentário Torre de Marfim (2014) sabe que a situação dos créditos estudantis nos Estados Unidos é complicada para quem está começando a carreira após a graduação. Afinal, após formado, você recebe junto ao diploma uma dívida a ser quitada. A situação complica ainda mais se, por alguma armadilha do destino, você não consegue concluir o seu curso e a dívida permanece com seus juros ao longo do tempo. Hoje a dívida acumulada nos EUA está em mais de um trilhão e seiscentos milhões de dólares. No meio dos devedores estaria Emily (Aubrey Plaza), que devido a problemas pessoais e familiares precisou interromper os estudos e nunca mais conseguiu voltar para a universidade. Sem conseguir um diploma, ela trabalha como contratada em um serviço de entrega de quentinhas e que não consegue nem calcular o quanto ela precisa trabalhar para quitar sua dívida de setenta mil dólares. Com a conta sempre no vermelho, ela divide um apartamento com um casal que não chega a ser de amigos e tem uma amiga que funciona mais como um contraponto de tudo que sua vida poderia ter sido. Enquanto procura por um emprego melhor, ela tem problemas com uma passagem pela polícia que faz com que as pessoas olhem para ela como uma criminosa. Eis que um dia, Emily se depara com uma oportunidade inusitada: ganhar dinheiro com uma organização clandestina através de cartões clonados. É ilegal. É arriscado... mas rentável. Aos poucos a protagonista nota que leva o maior jeito para a coisa e a aproximação do carismático Youcef (Theo Rossi) só azeita ainda mais seu envolvimento com o submundo. No entanto, obviamente, as coisas se complicam e chama atenção de outros espertalhões das redondezas, trazendo ainda mais complicações para Emily. Dirigido com garra pelo estreante John Patton Ford, Emily, A Criminosa tem uma montagem invejável que sabe como sustentar uma tensão crescente. Isso o torna um desses filmes indies cheios de energia e que se beneficia muito da escalação perfeita do elenco. Aubrey Plaza está maravilhosa como Emily, uma garota em que logo se vê estampado no rosto as dificuldades que atravessa e, não por acaso, verá a situação e que se mete como uma perigosa forma de autoafirmação. Ela tem uma química irresistível com Theo Rossi, o que se torna fundamental para os rumos dos acontecimentos no último ato da produção. Embora as atitudes de ambos estejam longe de ser recomendáveis, o filme consegue desenvolver um roteiro em que conseguimos entender as motivações de ambos para se meterem naquela presepada e, surpreendentemente, torcer pelos dois. Celebrado em premiações indies, o filme foi lembrado em três categorias do Independent Spirit (melhor produção, atriz e filme de estreia), cravou uma lembrança no National Board of Review e o diretor foi indicado a melhor diretor estreante pelo Sindicado de Diretores. Uma pequena joia que merece ser descoberta presente no catálogo do TelecinePlay.
Emily, a Criminosa (Emily The Criminal - EUA/2022) de John Patton Ford com Aubrey Plaza, Theo Rossi, Bernardo Badillo, Megalyn Echikunwoke e Gina Gershon. ☻☻☻☻
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