Christina e Vincent: amor ou síndrome de Estocolmo? |
Conhecido nos dias de hoje como um sujeito difícil de lidar, Vincent Gallo foi um dos nomes mais celebrados do cinema independente quando lançou seu primeiro filme na direção, o nervoso Buffalo 66. Até então, o ator havia sido visto em filmes em um papel pequeno em Os Bons Companheiros (1990) de Martin Scorsese, recebeu algum destaque como o filho bastardo de A Casa dos Espíritos (1993) de Billie August e chamou atenção em Os Chefões (1998) de Abel Ferrara. Gallo demonstrou que queria mais quando escreveu e dirigiu seu primeiro filme contando com artistas conhecidos no elenco, pena que sua carreira na direção degringolou no lançamento seguinte, o polêmico Brown Bunny/2003 (que foi nomeado pelo renomado crítico Roger Ebert como o pior filme já feito). Vendo como Vincent se tornou uma pessoa complicada nos últimos tempos é impossível não ver seu personagem em Buffalo 66 sob uma perspectiva diferente da época de seu lançamento. Aqui ele vive Billy Brown, um rapaz que acaba de sair da prisão. Durante o tempo em que esteve preso, ele inventou para os pais que estava morando longe, mas que a vida seguia bem com seu emprego e com uma esposa apaixonada por ele. Ao sair da prisão ele se vê forçado a sustentar suas mentiras, para isso ele sequestra Layla (Christina Ricci em seu primeiro papel como adulta) para fingir que é sua esposa. Layla demonstra bastante dedicação para sustentar toda a farsa de Billy perante os pais dele (vividos por Ben Gazarra e Anjelica Huston), mas mesmo depois da visita aos pais, os dois continuam ao lado um do outro. Se Billy não fosse um dos sujeitos mais insuportáveis da história do cinema, você poderia até torcer para que os dois ficassem juntos, mas aqui o efeito é o contrário - e torci o tempo inteiro para os dois se separarem de vez. Só que perante o comportamento agressivo de Billy, Layla parece desenvolver a síndrome de Estocolmo e chega a dizer que ele é o homem mais doce que ela já conheceu (e o mais bonito também). Fico imaginando o que a coitada já passou na vida (e Ricci imprime à personagem uma doçura impressionante, embora digam que ela e Gallo tenham se estranhado durante a após as gravações. Ela não fala com ele até hoje). Cabe ao espectador perceber que Billy Brown é um sujeito emocionalmente atrofiado e tão inseguro de si que resta apenas agredir quem considera mais fraco do que ele. As cenas dele com os pais e com velhos conhecidos deixam claro o quanto ele é inseguro e não sabe para onde ir, embora tenha em mente uma vingança que servirá de ponto de mudança para o personagem no desfecho. Como diretor, Gallo deixa seus atores a vontade enquanto reproduz uma estética de final dos anos 1970 e uma atmosfera da ressaca dos sonhos que ficaram para trás. Gosto da forma como ele insere as lembranças ou pensamentos dos personagens no meio da narrativa e também a forma como ilumina seus personagens em cenas que fogem do que esperamos deles (o pai grosseirão cantando no quarto ou Layla sapateando na pista de boliche), também é interessante saber que o diretor usou como locação para casa de Billy a mesma casa em que cresceu com seus pais. Embora flerte com filmes criminais e dramas familiares, Buffalo 66 revela em seu final que é uma comédia romântica com alma hardcore. Quem diria. O filme está disponível na MUBI.
Buffalo 66 (EUA / Canadá - 1998) de Vincent Gallo com Vincent Gallo, Christina Ricci, Anjelica Huston, Ben Gazarra, Mickey Rourke, Jan Michael Vincent e Rosanna Arquette. ☻☻☻
Nenhum comentário:
Postar um comentário