Jean (Rosy McEwen) é uma professora de Educação Física de uma escola inglesa para adolescentes. Sua vida profissional é aparentemente sem problemas, mas a vida pessoal passou por atribulações com um divórcio recente e um relacionamento cada vez mais distante com a família. O único lugar em que Jean pode ser ela mesma é no bar que costuma frequentar com a namorada, Viv (Kerrie Hayes) e algumas amigas. Jean é lésbica e ainda precisa lidar com o desconforto que as pessoas demonstram ao descobrir sua homossexualidade. Vale lembrar que o filme é ambientado no cenário bastante conservador de 1988, em que direitos dos homossexuais estava em pauta na mídia britânica e rendia discussões acaloradas que se refletiam em toda sociedade, incluindo nas escolas. Diante da postura de alguns colegas de trabalho, Jean fica ainda mais preocupada com a ideia de um dia descobrirem que se relaciona com outras mulheres, ao ponto de temer nunca mais conseguir trabalhar na região. A forma discreta com que Jean consegue lidar com sua sexualidade e separá-la da vida profissional irá passar por um teste árduo com a chegada de uma nova aluna, Lois (Luccy Halliday), que passa a integrar o time que ela treina para a escola. Lois é sempre perseguida pelas outras colegas, por vezes gerando atos de violência. No dia em que Lois passa a frequentar o mesmo bar que Jean e suas amigas, a professora entra em crise ao imaginar o que pode acontecer depois, logo em seguida se vê diante um dilema que acarretará consequências para ambas. Blue Jean é o filme de estreia da britânica Georgia Oakley que foi indicada ao BAFTA de revelação britânica pelo trabalho e, de fato, realiza algo notável na forma como seu filme se torna cada vez mais complexo perante a postura da professora e do mundo perante sua sexualidade. O roteiro junto ao bom trabalho da atriz Rosy McEwen tem como maior objetivo tornar difícil julgar a postura da personagem, uma vez que suas atitudes são sempre pautadas pelas implicações que podem ser geradas, mas por outro lado, geram ações bastante questionáveis. Desde que Lois atravessa a divisória da realidade traçada por Jean, o filme só cresce em tensão e passa a pontuar questões que talvez a professora negasse pensar durante muito tempo. Um dos pontos mais importantes é ressaltado por Viv em uma das conversas mais tristes que já vi em um filme, mas que é realizado com bastante sutileza pela diretora. O mesmo pode se dizer sobre as cenas de Jean na casa da irmã, local que parece um mundo tão orquestrado que beira o incômodo, mas que também serve de cenário para o momento mais libertador da personagem. Blue Jean é um filme que faz pensar sobre as implicações do preconceito introjetadas na personalidade dos sujeitos que precisam fingir ser outras pessoas como um verdadeiro mecanismo de defesa e sobrevivência. Ao término do filme eu apenas imaginei como a protagonista estaria vivendo hoje.
Blue Jean (Reino Unido - 2022) de Georgia Oakley, com Rosy McEwen, Kerrie Hayes, Lucy Halliday, Lydia Page, Becky Lindsay, Laynei Shaw e Amy Booth-Steel. ☻☻☻☻
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