Elgerd e Andersson: cenas de uma separação.
Eis que um dia Hampus (Jonathan Andersson) percebe que seu relacionamento com Adrian (Björn Elgerd) não está funcionando. Resta apenas anunciar o término. O anúncio é feito como se algo houvesse morrido, passa a impressão que qualquer questionamento perante o fim soe mais como uma negação do que a tentativa de buscar argumentos para que prossiga. Resta aceitar. Existe uma apatia, certa indiferença e um senso de comodidade no diálogo que se segue entre o jovem casal. Resta cada um seguir sua vida. Dividirem o que é de quem na casa (incluindo metade da cama, já que a ideia de dividirem o valor não funcionou, mas a metade serve para compensar a TV que ganharam de presente e que não pode ser dividida). Nas conversas entre os dois personagens percebemos que já se separaram anteriormente, mas agora parece diferente, parece definitivo. Embora os dois se encontrem de vez em quando, afinal gostam de ir ao mesmo pub, tem amigos em comum e um sabe onde ver o outro em momentos de recaída, a ideia de voltar atrás sempre soa como um retrocesso, confirmado quando as conversas deixam o afeto de lado e se tornam ásperas pela realidade já conhecida dos momentos de crise. Entre a vontade de reatar e seguir em frente, novas oportunidades de romance aparecem na vida de ambos enquanto tentam manter contato um com o outro. Talvez seja pela cena inicial (presente nesta postagem) somada ao fato do filme ser sueco, mas a todo instante em que eu assistia A Vida Sem Você, o filme me parecia uma variante do clássico Cenas de Um Casamento (1974) de Ingmar Bergman. Seria óbvio ressaltar que David Färdman (que aqui marca sua estreia em longa metragem de ficção) está longe de ter a genialidade bergmaniana (assim como todos os outros diretores que tentaram fazer algo parecido ao filme estrelado por Liv Ullman), mas assim como alguns admiradores da obra, consegue erros e acertos na empreitada. Durante boa parte de sua duração, A Vida sem Você se apresenta como se não houvesse diferença no rompimento de um casal gay ou hétero, o que por vezes força uma dinâmica um tanto simulada entre os personagens. O elenco se esforça para injetar complexidade nos dilemas dos seus personagens introspectivos, o que ajuda bastante já que a trama segue sem grandes sobressaltos enquanto descobrimos segredos, mágoas e expectativas daquele relacionamento naufragado. Nota-se uma preocupação especial com Adrian ao longo da narrativa, já que ele é quem menos aceita o rompimento (provavelmente por ter sido anunciado pelo parceiro), mas ao longo do filme passa por uma autoavaliação que se mostra bastante reveladora a si mesmo, o arco do personagem funciona como fio condutor da história. Achei um tanto exagerada a cena em que ele dorme abraçado com um bicho de pelúcia (seria um sinal de carência ou de imaturidade?) e também não gostei da última cena, em que ele anda de bicicleta pelo campo ao por do sol, praticamente um clichê em forma de desfecho. O filme deveria ter terminado na cena anterior demonstrando que o rapaz enfim encontrou seu ponto na conformidade com o inevitável. Dizem que o filme tem um final alternativo, mas acabando na penúltima cena já estaria de bom tamanho para concluir um filme sem novidades mas que cumpre seu papel ao abordar as dores de um término de relacionamento e o sempre desconfortável recomeço.
A Vida sem Você (Are We Lost Forever/ Suécia - EUA / 2020) de David Färdmar com Jonathan Andersson, Björn Elgerd, Shirin Golchin, Victor Iván, Micki Stoltt e Nemanja Stojanovic. ☻☻☻
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