Gojira: monstrão de respeito. |
Pode parecer coincidência ou ironia, ou talvez seja proposital que em tempos em que se reclama muito sobre os efeitos especiais dos filmes americanos, o ganhador do Oscar de melhores efeitos especiais seja uma produção japonesa. Na concorrência estava o aguardado Napoleão de Ridley Scott, o último filme da franquia Missão Impossível, o sucesso Guardiões da Galáxia3 e a surpresa Resistência. Quem levou foi Godzilla Minus One, o primeiro filme do monstrão com mais de setenta anos a levar um Oscar para casa e, também, o primeiro de língua não inglesa a levar a estatueta para casa. Foram necessários mais de quarenta filmes para que esta aclamação acontecesse e muito se deve ao diretor Takashi Hiamazaki, um verdadeiro craque dos efeitos. O trabalho da equipe é realmente notável devido ao realismo impresso nas cenas, não apenas em que o monstrengo aparece, mas também na completa devastação promovida por ele. No entanto, o que chama bastante atenção no filme é a forma como leva a a sério a história que tem para contar em torno do seu protagonista. O filme começa ao final da Segunda Guerra Mundial, quando somos apresentados ao piloto kamikaze Kōichi Shikishima (Ryunosuke Kamiki), que estava ao lado de engenheiros da aviação japonesa na Ilha Odo quando o gigantesco monstro aparece para dizimar quem estiver pela frente. Kōichi acaba sobrevivendo ao ataque e voltando para uma Tóquio devastada pela guerra. Lá encontra alguns sobreviventes, com quem acaba formando uma família com integrantes que perderam seus parentes durante a guerra. Quando a vida parece entrar nos eixos por lá, o Godzilla aparece maior e mais forte e disposto a eliminar quem perturbou seu sono nas profundezas do oceano. Assim, Kōichi precisa enfrentar os medos que sempre o fizeram permanecer em guerra consigo mesmo e impossibilitado de seguir em frente. Com este ponto de partida, o filme retoma a origem do monstro, sem perder de vista o terror e o fascínio que provoca com base na história do próprio Japão, que precisou se reerguer das cinzas após ser destroçado pela Guerra. Mais do que a devastação provocada pelo monstro (em cenas impressionantes) o filme se mantém de pé por conta da jornada do seu protagonista para se tornar um verdadeiro herói. Godzilla Minus One é um filme com maior jeito de matinê, não cai na armadilha de se complicar e acerta ao fazer o que os fãs de um dos maiores monstros do cinema querem assistir no cinema. A vantagem aqui é que o monstro aparece dentro de seu contexto de forma avassaladora (bem diferente do que vemos nas produções de Hollywood em torno dele), reflete temores históricos e promove uma catarse de forma contundente. Embora o filme tenha surpreendido nas bilheterias mundiais (só nos Estados Unidos foi o filme estrangeiro mais visto na história), basta assisti-lo para entender o que motivou tanto sucesso. Enquanto Hollywood torra o que este fez de bilheteria em filmes que flopam perante o público, Godzilla Minus One custou dez milhões de dólares e rendeu mais de dez vezes isso só nos EUA. O Oscar de melhores efeitos especiais soa como um sinal para rever conceitos. O filme entrou recentemente no catálogo da Netflix.
Godzilla Minus One (Gojira -1 / Japão - 2023) de Takashi Hiamazaki com Ryunosuke Kamiki, Minami Hamabe, Sakura Andô, Kuranosuke Sasaki e Munetaka Aoki. ☻☻☻
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