domingo, 31 de agosto de 2025

HIGH FI✌E: Agosto

 Cinco produções assistidas durante o mês que merecem destaque: 

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PL►Y: A Noite Sempre Chega

Kirby: longa jornada noite adentro. 
 
Vanessa Kirby é umas das minhas atrizes favoritas em atividade no cinema atual. Embora ainda não receba toda atenção e reconhecimento que merece, ainda considero que ela está no caminho certo ao misturar em seu currículo franquias de sucesso e trabalhos que podem ser considerados como "sérios" aos olhos da crítica. Este é o caso de A Noite Sempre Chega, que está em cartaz na Netflix e chegou a ficar entre as produções mais vistas do streaming (talvez impulsionado por ter no alto dos créditos a estrela do sucesso Quarteto Fantástico que ainda está em cartaz nos cinemas). O filme é uma mistura de drama e suspense dirigido por Benjamin Caron, cineasta que já demonstrou sua eficiência em episódios de séries como Andor, The Crown e Sherlock, em termos de longa-metragem conseguiu alguma ressonância com Sharper (2023), que assim como este aqui, tem a intenção de construir uma trama de tensão crescente, só que desta vez sem embaralhar os tempos da narrativa. O filme acompanha Lynette (Vanessa Kirby) que se vira em vários empregos para ajudar no sustento da casa em que vive com a mãe (Jennifer Jason Leigh) e o irmão (Zack Gotsagen). Lynette acredita que quando conseguirem dar entrada na compra da casa em que vivem a situação da família irá melhorar, mas uma atitude inesperada da mãe coloca tudo a perder. Com isso, ela terá que se virar para conseguir a quantia de dinheiro necessária para que os três não passem a viver sem um teto. Para conseguir o dinheiro, a protagonista irá se meter em várias situações perigosas, que só pioram ao longo da noite. Ela tenta fazer com que uma amiga (Julia Fox) pague o que lhe deve, apela para um colega de trabalho (Smack Louis) com passado nebuloso e se depara com o mundo do crime diante dos seus olhos A forma como a narrativa avança pelos riscos assumidos pela personagem ao longo da noite aparece de forma um tanto desconjuntada, mas o trabalho de Vanessa Kirby faz com que você acompanhe tudo aquilo com a tensão carregada na medida certa, até quando as coisas mais absurdas começam a acontecer.  O diretor consegue até ser engenhoso para fazer o texto de Willy Vlautin e Sarah Conradt funcionar na tela, mas nem sempre consegue disfarçar como o roteiro é um tanto empolado em suas desventuras. A fotografia soturna ressalta as cores mais infernais daquela noite e ajuda a manter o clima mesmo quando o filme escorrega em suas ideias. Ao final da sessão, eu só pensava que Vanessa Kirby é sempre digna de elogios. 
 
A Noite Sempre Chega (Night Always Comes / EUA - Reino Unido / 2025) de Benjamin Caron com Vanessa Kirby, Jennifer Jason Leigh, Zack Gotsagen, Julia Fox, Samck Louis, Jennifer Lanier, Christian Blair e Randall Park. 

sábado, 30 de agosto de 2025

4EVER: Luis Fernando Veríssimo

26 de setembro de fevereiro de 1936  30 de agosto de 2025
 
Luís Fernando Veríssimo nasceu em Porto Alegre no Rio Grande do Sul, filho do escritor Érico Veríssimo, durante a infância e a adolescência viveu muitos anos nos Estados Unidos ao lado do pai, que lecionava na Universidade de Berkeley. Enquanto morou em Washington, Luís se apaixonou pelo jazz e aprendeu a tocar saxofone. Ao retornar para o Brasil, trabalhou como diretor de arte, redator, tradutor e colunista e tocou em algumas bandas com amigos. Em 1981 lançou O Analista de Bagé, que consagrou de vez seu tom bem humorado ao se tornar um best seller nacional. Luís também passou a ter uma coluna semanal na revista Veja de 1982 até 1989. Em 1983 criou outro personagem icônico, a Velhinha de Taubaté e se tornou um dos escritores mais populares do Brasil. Ao final dos anos 1990, começou a escrever romances como Gula - O Clube dos Anjos (1998) e  O Opositor (2004). A adaptação dos seus textos na série da TV Globo, A Comédia da Vida Privada (1995-1997) chamou ainda mais atenção para sua obra. Há cerca de dez anos, o escritor sofria com mal de Parkinson e problemas cardíacos. Em 2021 sofreu um AVC e faleceu em decorrência de uma pneumonia. 

domingo, 24 de agosto de 2025

4EVER: Jaguar

29 de fevereiro de 1932   24 de agosto de 2025
 
Sérgio de Magalhães Gomes Jaguaribe tornou-se conhecido como Jaguar, o cartunista brasileiro que ficou famoso por ser um dos fundadores do antológico jornal O Pasquim, lançado em 1969 que se tornou símbolo de oposição ao regime de ditadura militar que o Brasil atravessava naquele momento. Seu personagem, o ratinho Sig, driblava a censura com seu humor irônico e inspirou centenas de outros artistas. Ele começou a carreira na revista Manchete em 1952, onde começou a adotar o nome artístico que o tornaria reconhecido. Em 1970 foi preso por ter uma charge considerada ofensiva pelo regime. Aos 93 anos, o artista continuava em atividade, tendo desenhado sua última charge um mês antes de seu falecimento.

PL►Y: Síndrome da Apatia

A família exilada: a derrota mental perante a burocracia. 

Sergei (Grigory Dobrigyn) e Natalia (Chulpan Khamatova) são refugiados políticos russos que migraram para a Suécia em busca de segurança e uma vida melhor após as perseguições sofridas por Sergei. O casal tem duas filhas, Katja (Miroslava Pashutina) e Alina (Naomi Lamp) e dependem da aceitação do pedido de asilo político para conseguir seguir suas vidas. No entanto, quando a o pedido é negado pela burocracia sueca, a pequena Katja tem uma reação inesperada que é identificada com o nome do título. Este é só o início dos problemas que a família irá enfrentar ao longo do filme, já que terão que realizar procedimentos protocolares para lidar com a filha e, aos poucos, Alina também enfrentará problemas. Talvez por ser assinado por Alexandros Avranas, cineasta vindo da Estranha Onda Grega, eu imaginei que a síndrome do título fosse algo fictício, mas ela existe realmente e acomete pessoas que diante de uma realidade insuportável, criam uma defesa psíquica que anestesia qualquer reação diante dos fatos (e o final do filme faz questão de oferecer mais informações sobre a incidência deste mal). Chega a ser surpreendente ver o que Avranas faz por aqui depois de conhecer seu trabalho com os chocantes Miss Violência (2013) e Não me Ame (2017), Síndrome da Apatia traz aquelas interpretações sutis perante situações absurdas que se tornaram marcas do recente cinema grego, mas a constrói de uma forma ainda mais sufocante para seus personagens, até que encontrem uma saída viável e, quando ela surge, parece ainda mais surreal (que lembra um pouco as crianças que  vemos em O Sacrifício do Cervo Sagrado/2017 do diretor mor da onda grega, o Yorgos Lanthimos). No entanto, Síndrome da Apatia soa emperrado, talvez por ser calcado em uma dolorosa realidade, o filme opte por ser respeitoso demais e carece de uma guinada que provoque mais impacto em seu desfecho (afinal, o impacto ocorre no início e segue nos desdobramentos da família para reaver a companhia da filhas). Embora seja bastante doloroso de assistir, senti falta de uma catarse mais explosiva, o filme mantém algum mistério sobre a ambiguidade do casal e sua ida para a Suécia, mas nada muito impactante. Aqui, toda a economia do diretor e o medo de cair no melodrama acabou drenando a emoção. 

Síndrome da Apatia (Quiet Life / França - Suécia - Alemanha - Estônia - Grécia - Finlândia / 2025) de Alexandros Avranas com Chulpan Khamatova, Grigory Dobrygin, Naomi Lamp, Miroslava Pashutina, Elei Roussinou, Lena Endre e Alicia Eriksson. 

Na tela: A Hora do Mal

Julia e Josh: quebra-cabeça misterioso. 

Em uma pacata cidade, dezessete crianças que estudam em uma mesma sala saem de suas casas às duas e dezessete da manhã em direção ao desconhecido como se estivessem em transe. Ninguém sabe para onde foram. Ninguém sabe o que aconteceu. Diante de todo o mistério, dois pontos chamam atenção: um é que todos são estudantes da turma de uma mesma professora, a Justine (Julia Garner) - que já tem uma cota considerável de dramas no passado para administrar em sua fama -, o outro ponto é que apenas um menino da turma, o Alex (Cary Christopher) permanece ao lado de sua família. A partir deste mistério o diretor Zach Cregger tece uma rede de histórias cruzadas sob o olhar de alguns personagens que tem em mãos. Para além dos citados, também recebem suas partes na narrativa um policial (Alden Ehrenreich), o diretor da escola (Benedict Wong), um rapaz sem-teto (Austin Abrams) e um pai indignado com tudo o que aconteceu (Josh Brolin) e que tem certeza que a professora tem responsabilidade no desaparecimento das crianças. Este é o segundo filme de Cregger, antes ele já chamara atenção em seu filme de estreia, Noites Brutais/2022, que nas suas entrelinhas também lidava com desaparecimentos. No entanto, A Hora do Mal é bem mais ambicioso em sua estrutura, principalmente pelo roteiro minuciosamente construído em seus capítulos que correm em paralelo, mas convergem para uma mesma direção. Cuidadoso na evolução de sua trama, Cregger repete momentos sobre outros ângulos e altera o rumo de perspectivas afim de instigar o espectador a entender o que está acontecendo. O clima fantasmagórico é ressaltado pela fotografia sombria, detalhes estranhos e pesadelos que parecem trazer revelações escondidas. Ah claro, não podemos esquecer da Tia Gladys, personagem que rouba a cena desde seu primeiro momento e graças ao talento da atriz Amy Madigan sai do disfarce caricatural para revelar-se uma vilã inesquecível. Embora todo o elenco esteja ótimo em cena, torna-se algo realmente gratificante ver Amy em um papel de destaque novamente em sua carreira. A atriz foi indicada ao Oscar por seu trabalho em Duas Vezes na Vida (1986) e engatou alguns projetos de sucesso como Ruas de Fogo (1984), Campo dos Sonhos (1989) e Quem Vê Cara Não vê Coração (1989), mas fazia tempo que não tinha chance de explorar sua versatilidade em cena. A esposa de Ed Harris caiu tanto na graça do público que já pedem até em indicação ao Oscar de coadjuvante para ela (será que consegue?). De qualquer forma, A Hora do Mal (com suas referências que vão de Monster/2023 ao conto clássico do Flautista Mágico) tenta garantir o título de melhor terror do ano. Em tempo, vale dizer que eu dei boas gargalhadas na perseguição antes da carnificina do final. O melhor de tudo é imaginar o que Zach Cregger fará em seguida. 

A Hora do Mal (Weapons / EUA - 2025) de Zach Cregger com Julia Garner, Josh Brolin, Amy Madigan, Alden Ehrenreich, Cary Christopher, Benedict Wong e Austin Abrams. ☻☻

PL►Y: Todo Tempo que Temos

Florence e Andrew: dois os melhores que temos.  

Andrew Garfield e Florence Pugh são dois dos melhores atores que Hollywood tem disponíveis para seus filmes. Infelizmente nem todo filme protagonizado por ambos está à altura do talento destes artistas, mas, mesmo quando o material que lhes chega não é lá grande coisas, eles conseguem fazer milagres com o que tem em mãos. Ao menos conseguem manter a integridade, deles e dos personagens que defendem. Todo o Tempo que Temos está longe de ser memorável e em alguns momentos ressalta o desgaste do subgênero em ter que lidar com um tema pesado de forma leve para o grande público sedento por comédias românticas com algum conteúdo. De certa forma o que o diretor John Crowley (do ótimo Brooklyn/2015 e o fiasco O Pintassilgo/2019) faz aqui é buscar sempre o equilíbrio entre um filme água com açúcar com uma gotinha de fel. Ele conta a história de Almut (Florence) e Tobias (Garfield), um casal mais do que apaixonado que parece viver num comercial de margarina saudável.  Eles se amam, são felizes, tem um bebê lindo e... aparece uma doença para acabar com todos os planos que os dois tinham de envelhecer juntos, afinal, o "até que a morte os separe" resolve antecipar. O clima pesa e a relação começa a vivenciar conflitos sobre o legado que Almut pretende deixar em vida. Isso já daria conta de construir um filme, mas lá pelos primeiros vinte minutos o espectador é pego de surpresa (pelo menos eu fui) e começa a perceber que a narrativa embaralha os tempos de vida do casal. Indo para o dia em que se conheceram e como aos poucos superaram as diferenças e desconfianças um pelo outro - e o fato de Tobias ter sobrevivido a um divórcio também colabora muito para que tenha alguma resistência a se envolver com uma mulher tão descolada como Almut. Pode se dizer que o maior mérito do filme se deve à dupla protagonista que defende seus personagens mais uma vez como se fossem pessoas reais, de carne e osso que poderiam ter estudado com você ou morar na casa em frente. Esta característica que cria o envolvimento com a narrativa que por vezes transforma as idas e vindas temporais como uma verdadeira armadilha para a fluência e a compreensão do que se vê na tela (neste caso fica legal na primeira ou segunda vez, mas depois cansa, já que todo mundo já imagina como tudo irá terminar). O final também é bonitinho, mas ressalta como é difícil chegar ao inevitável sem ser pesado demais para a plateia que quer ver o casal apaixonado triunfar no final. 

Todo Tempo que Temos (We Live in Time / Reino Unido - França / 2024) de John Crowley com Florence Pugh, Andrew Garfield, Grace Delaney, Lee Braithwaite, Adam James e Douglas Hodge. 

domingo, 17 de agosto de 2025

4EVER: Terence Stamp

22 de julho de 1938 ✰ 17 de agosto de 2025

Terence Henry Stamp nasceu em Londres sendo o primogênito de uma família de cinco irmãos. Antes de tornar-se ator, Terence trabalhou em várias agências de publicidade assistente de um golfista profissional. A decisão de tornar-se ator veio após sua rejeição no serviço nacional devido a um problema nos pés. Stamp estreou no cinema ao lado de Lawrence Olivier em Term of Trial (1962) e no mesmo ano por seu trabalho em Billy Budd lhe rendeu uma indicação ao Oscar de melhor ator. Três anos depois foi eleito o melhor ator do Festival de Cannes por seu trabalho no clássico O Colecionador (1995). Ele também participou de sucessos como Longe Deste Insensato Mundo (1965), Teorema (1968) de viveu o vilão Zod em Superman II (1980). Famoso por seu estilo de atuação de expressões quase congeladas, o ator surpreendeu ao aparecer como uma das drag queens de Priscilla, A Rainha do Deserto (1994), em que demonstrou que era capaz de fazer humor mantendo seu estilo inconfundível. O filme australiano fez tanto sucesso que uma sequência se encontrava em pré-produção. Ao longo da carreira o ator apareceu em quase noventa produções, tendo como último trabalho o suspense Noite Passada em Soho (2021). A causa da morte não foi divulgada. 

domingo, 10 de agosto de 2025

PL►Y: O Crítico

Ian e Gemma: funcionando até a metade.  

Atrevo dizer que Sir Ian McKellen é um dos melhores atores vivos. Aos oitenta e seis anos ele coleciona vários prêmios por seus trabalhos no teatro, no cinema e na televisão. O Oscar perdeu a chance de premia-lo duas vezes, a primeira foi quando preferiu puxar o saco do Roberto Benini (A Vida é Bela/1997) ao invés de reconhecer que a melhor atuação na categoria de melhor ator era de um artista assumidamente homossexual vivendo um diretor de cinema homossexual em Deuses e Monstros (1997). Depois, a Academia perdeu a chance novamente quando McKellen viveu Gandalf por O Senhor dos Anéis: A Sociedade do Anel (2001) e concorreu como ator coadjuvante (perdeu para Chris Cooper em Adaptação/2001, mas está perdoado). Ian realiza poucos longas-metragens ultimamente e, por isso mesmo, sempre que encontro um filme estrelado por ele, costumo assistir para aproveitar a honra de assistir uma verdadeira lenda. Pena que ao ver este O Crítico a impressão de que o material não era bom o suficiente para o seu talento só crescia. O elenco é repleto de artistas renomados, mas o texto de Patrick Marber (dos afiados Closer/2004 e Notas de um Escândalo/2006, quem diria...) e Anthony Quinn se perde totalmente da metade em diante. Ambientado na Londres dos anos 1930, o filme acompanha um crítico de teatro chamado Jimmy Erskine (McKellen) que é famoso por conta de suas resenhas maldosas sobre as estreias da cena cultural local. O jornal para qual ele trabalha está passando por algumas mudanças e seus colegas estão preocupados com os novos rumos. À frente das mudanças estão David Brooke (Jeremy Strong) e o genro, Stephen Wyley (Ben Barnes), que é casado com a gélida Cora (Romola Garai). Ambos são admiradores da atriz Nina Land (Gemma Aterton), o atual alvo favorito da caneta cortante de Jimmy.  Nina sempre sonhou em ser uma grande atriz do teatro e ser reconhecida por Jimmy, mas este plano fica cada vez mais longe da realidade que ela vivencia estreia após estreia. Eis que um dia, ela recebe resenhas positivas e nem imagina que o renomado jornalista irá lhe pedir algo em troca. Daí em diante o filme começa a se enrolar cada vez mais e se torna desgovernado nas consequências que começam a aparecer. O que era promissor vira uma maçaroca novelesca que beira o absurdo, nem mesmo a boa reconstituição de época e os bons atores são capazes de dar jeito. A direção de Anand Tucker começa a desalinhar e o resultado se torna mais aborrecido do que interessante. Um verdadeiro desperdício de um ótimo elenco, que ainda conta com Leslie Manville como a mãe de Nina e o meio-brasileiro Alfred Enoch no papel de secretário amante de Jimmy. Existe um comentário ali e aqui sobre homofobia e racismo ao longo da narrativa, mas nada que disfarce o quanto o filme não sabe para onde ir em sua segunda metade. Em cartaz no Prime Video, valeria pelo elenco e só. 

O Crítico (The Critic / Reino Unido - 2023) de Anand Tucker com Ian McKellen, Gemma Aterton, Mark Strong, Ben Barnes, Romola Garai, Alfred Enoch e Leslie Manville.    

NªTv: Dept Q.

Salim, Goode e Leah: investigações em meio a traumas do passado. 
Embora não considere o britânico Matthew Goode um mau ator, sempre tenho a impressão que ele interpreta o mesmo personagem. Com corpo esguio e maior pinta de modelo de ternos masculinos, confesso que percebi uma certa implicância minha com ele. Uma dessas coisas que nem você sabe explicar direito. É estranho porque gosto bastante dele interpretando o Ozymandias do Watchmen (2009) de Zack  Snyder, mas dali em diante, só implicâncias... eis que ouvi muita gente falando bem da série estrelada por ele,  Dept Q da Netflix (que alguns exagerados disseram que seria a nova Slow Horses em referência à excelente série da AppleTV, mas não é para tanto). Eis que um dos maiores acertos da série é justamente ter Goode no alto dos créditos, especialmente em um papel diferente do que costumamos vê-lo. De barba crescida, descabelado e com roupas amarrotadas, ele em nada lembra os outros personagens que já interpretou na vida e, mais do que isso, a profundidade emocional que ele proporciona ao amargo Carl Morck é um verdadeiro deleite. Criada por Scott Frank e Chandni Lakhani, a série britânica é baseada no livro de Jussi Adler-Olsen e conta a história de um grupo de personagens que se envolve em resolver casos sem solução. Por conta de um arranjo governamental, a responsabilidade do tal departamento do título recai sobre  Carl que tem seus fantasmas a exorcizar quando o assunto é crimes não resolvidos. Afinal, logo nos primeiros minutos da série, ele é baleado no cenário de um crime junto ao parceiro (Jamie Sives) que fica comprometido fisicamente e um jovem policial (que morre no local). A situação sempre gerou especulações, mas nada foi resolvido. Carl também tem problemas de fazer a terapia como deve ser e parece mais interessado na terapeuta (Kelly MacDonald) do que em melhorar sua saúde mental. A relação com o filho adolescente (Aaron McVeigh ) também não é das melhores e a situação só complica quando seu nome fica em evidência novamente por conta de seu temperamento instável. Bom que indicam Akran Salim (Alexey Manvelov) para ajudá-lo no e depois a secretária Rose (Leah Byrne) também torna-se parte do departamento. Misturando personagens cheios de fantasmas para solucionar o mistério da temporada (o sumiço de uma advogada pouco querida), confesso que o mistério em torno do caso foi o que menos me motivou a ver a série, mas tenho que admitir que a forma como a narrativa se estrutura mudando o foco das suspeitas é bem realizado. A construção dos personagens e a forma como eles interagem é feito de forma tão redondinha que ao terminar a série, tive vontade de ver logo mais episódios (e olha que sou daqueles que gosta de ver aos poucos, uns dois episódios por dia). Ao que parece a segunda temporada já está confirmada e desejo ver muitas outras. E desculpa, Matthew, você é mesmo um bom ator, só precisava estar menos lindo diante da câmera. 
 
 Dept Q (Reino Unido / 2025) de Scott Frank e Chandni Lakhani com Matthew Goode, Alexey Manvelov, Leah Byrne, Kelly MacDonald, Chloe Pirrie, Kate Dickie, Steven Miller, Shirley Henderson e Aaron McVeigh ☻☻  

Pódio: Vanessa Kirby

Bronze: A Mulher Invisível

 3º Quarteto Fantástico: Primeiros Passos (2025) Acho muito legal quando uma grande atriz, pouco conhecida pelo público, consegue aparecer em uma super-produção (sem trocadilhos) e chama a atenção da audiência. A britânica Vanessa Kirby atua no cinema, no teatro e na televisão desde 2010 e no papel de Sue Storm ouvi até gente dizendo que se ela fosse indicada ao Oscar pelo papel, seria algo justo. Dificilmente o reconhecimento da Academia chegará, mas comprova que a atriz de 37 anos domina seu ofício com maestria e merece todos os elogios por dar corpo e alma à esta nova versão da heroína da Marvel. 

Prata: a Princesa Eterna

2º The Crown (2016-2017) Embora tenha feito vários trabalhos antes de interpretar a Princesa Margareth na cultuada série da Netflix, nada se compara ao destaque que a personagem lhe deu até então. Vanessa vive com uma elegância ímpar uma das personalidades mais curiosas da realeza britânica e não seria exagero dizer que os dramas da personagem em alguns momentos soaram maiores do que a da própria Rainha Elizabeth vivida apor Claire Foy. Afinal, pensa bem: no contexto da série, Margareth sempre desejou ser rainha, embora soubesse que isso nunca aconteceria. Sem o título e sempre na sombra a irmã ela teve que pagar um preço alto por fazer parte da realeza (deixar o grande amor de sua vida). O talento de Kirby foi fundamental para que ela desse conta de alguns dos melhores episódios - o que lhe valeu indicações ao Emmy e ao Gold Derby, carimbando seu passaporte de vez para filmes importantes em Hollywood.  

Ouro: a mãe enlutada
1º Pieces of a Woman (2020) A atriz foi premiada no Festival de Veneza por seu incrível trabalho neste filme que está em cartaz na Netflix. Ela interpreta Martha, uma mulher grávida que opta por um parto humanizado em casa e após uma tragédia sente-se culpada por tudo que aconteceu. Em um luto devastador, ela precisa perdoar o mundo e a si mesma para continuar a viver. Um trabalho difícil em um filme bastante sensível do húngaro Kornél Mundruczó que merecia bem mais atenção do público. A atriz foi indicada em todos os prêmios da temporada, incluindo o Oscar. Além disso, foi eleita a melhor interpretação feminina do ano aqui no blog. Ela arrasa!

Na Tela: Quarteto Fantástico - Primeiros Passos

O Quarteto: heróis tamanho família. 

Quarteto Fantástico: Primeiros Passos demonstra que a Marvel realmente parou para pensar na vida e tentar ajustar a grande confusão que seu universo se tornou. Se Thunderbolts (2014) já demonstrava que a coisa ainda tinha jeito, este reboot no grupo de heróis mais clássico da editora demonstra, mais uma vez, a boa vontade de colocar tudo nos trilhos. A impressão geral é que depois de complicar demais o que deveria ser apenas produções para divertir, o estúdio resolveu criar uma história mais simples e redondinha, capaz de se resolver por conta própria  - o que já está de bom tamanho. Os heróis do filme vivem na Terra 828 e já são conhecidos e consagrados por serem os defensores daquele planeta. Assim como o recente Superman (2025), o filme não gasta tempo mostrando a origem dos personagens (para isso usa uma reportagem que já dá conta de explicar aos iniciantes, desta forma já sabemos de cara quem são o Reed Richards/Sr. Fantástico (Pedro Pascal), Sue Storm/Mulher Invisível (Vanessa Kirby), Tocha-Humana (Joseph Quinn) e Coisa (Ebon Moss-Bacharach), assim como fica fácil notar que eles foram uma família após o incidente que lhes deram super-poderes. Falando em família, ela está prestes a crescer, já que Sue está grávida. Por um bom tempo, ela e Reed ficaram temerosos da forma como o herdeiro poderia ser concebido devido aos efeitos que a radiação provocaram em seus corpos, mas ao que parece está tudo na mais perfeita ordem com o bebê. Pelo menos até surgir a Surfista Prateada (Julia Garner) com o anúncio da chegada do devorador de mundos Galactus (Ralph Ineson) e que a Terra será poupada somente se o casal de heróis entregar o bebê para o vilão. Como disse anteriormente, a história é mais simples, mas os dilemas dos personagens não deixa de ser complexos. Afinal, você entregaria seu filho para salvar o planeta? Esta ideia insere um grande peso à história já que, pelo fato de serem heróis, eles devem sacrificar tudo para salvar vidas? Por serem pessoas públicas, a opinião pública se torna responsável por decidir o que eles devem fazer? Some isso à dinâmica da relação entre Reed e Sue e o filme consegue construir um drama que sustenta o filme. Muito disso se deve ao trabalho de Pedro Pascal que, ao encarnar o homem mais inteligente do mundo, torna sua personalidade cerebral em algo que o torna sempre pensativo e reflexivo. Por outro lado, a interpretação de Vanessa Kirby, impregnada pela maternidade se torna um contraponto para seu parceiro de cena. Kirby está colhendo muitos elogios por sua performance (e acho que o seu trabalho premiado em Pieces of a Woman/2020 tem muita relação com sua escolha para o papel). Bela, elegante e talentosa, a atriz se torna a alma do filme. Com menos tempo em cena, Quinn e Ebon ficam como alívio cômico para a sessão. Vale destacar ainda a direção eficiente de Matt Shakman (responsável por Wanda Vision) e a excelente ambientação retro-futurista. Embora muita gente dirá que o filme tem pouca ação, considero que o filme consegue se organizar de forma bastante eficiente até chegar ao desfecho emocional. Com uma cena pós-crédito bastante instigante (e outra até nostálgica), Quarteto Fantástico soa como um passo importante para o aguardado Vingadores: Doomsday previsto para dezembro de 2026. Se antes disso o Homem-Aranha: Um Novo Dia (2026) seguir a mesma linha, parece que a Marvel tem jeito. 

Quarteto Fantástico: Primeiros Passos (Fantastic Four: First Steps / EUA - 2025) de Matt Shakman com Vanessa Kirby, Pedro Pascal, Ebon Moss-Bacharach, Julia Garner, Ralph Ineson, Natasha Lyonne, Paul Walter-Hauser e Sarah Niles. ☻☻ 

Combo: Ao meu Pai

Meu pai faleceu no ano de 2023 e desde então o Dia dos Pais não fazsentido. Se antes, todos os dias ele estava presente, agora, todos os dias eu lembro dele ainda mais. Durante muito tempo nosso relacionamento foi um tanto complicado, mas depois que me formei e passei a morar longe, passamos a aproveitar com um pouco mais de afeto a presença um do outro. Acho que nunca escrevi por aqui que devo muito ao meu pai o meu interesse por cinema. Foi ele que me levou diante de uma telona pela primeira vez e várias outras vezes até minha adolescência - e ele perceber que meu gosto estava ficando um tanto quanto (nas palavras dele mesmo) estranho. Este combo é para lembrar cinco filmes que vi ao lado do meu pai e que fizeram parte da minha gênese como cinéfilo:

5 Império do Sol (1987) talvez por conta da assinatura do diretor de ET e Indiana Jones, meu pai achou que era uma boa ideia me levar para ver este filme em sua semana de estreia. Confesso que por muito tempo se tornou o filme mais assustador que eu já tinha visto na vida. Afinal, na minha cabeça, era sobre um moleque rico (vivido por Christian Bale em sua estreia aos 13 anos) que se perde dos pais na China quando ela é invadida pelo Japão. Ele acaba testemunhando os horrores da guerra e termina enviado para um campo de prisioneiros. Com duas horas e meia de duração, o filme me pareceu interminável e fiquei chocado pensando que aquilo tudo era a maior tragédia pela qual um garoto poderia passar. Eu tinha oito anos e vi um filme no capricho que se tornou um dos maiores fracassos comerciais do Spielberg. 
 
4 Ghost (1990) buscando pela memória para lembrar dos filmes que assisti com o meu pai, foi uma grata surpresa me dar conta de que vi este aqui pela primeira vez ao lado dele no cinema. Talvez seja o filme mais fora da curva do gosto cinematográfico do meu pai, cem cenas de ação e explosões, a história de amor entre Molly (Demi Moore) e seu amado Sam (Patrick Swayze), que, falecido, tenta se comunicar com ela (ajuda de Whoopi Goldberg) sobre um perigo iminente prendeu a atenção dele por conta da mistura de romance, humor e um certo suspense. Fico pensando a torcida do meu pai ao ver a Demi ser finalmente indicada ao Oscar por A Substância (2024) e a decepção que seria vê-la perder naquela noite que seria sua reparação histórica. 
 
3 Robocop (1987) Clássico dos anos 1980, cheio de violência e cenas escabrosas em um futuro distópico. A história do policial que se torna uma experiência robótica da polícia, virou um verdadeiro marco do cinema pela forma crua com que o diretor Paul Verhoeven contou a história com uma visão pessimista do futuro. Lembrando que assisti ao filme com menos de dez anos de idade, penso a forma como fiquei impressionado com a narrativa e comprei história em quadrinhos e vi o desenho que a produção gerou depois. Hoje eu só lembro de como o meu pai ficou decepcionado com aquele remake feito pelo José Padilha em 2014. 
 
2 Indiana Jones e a Última Cruzada (1989) Acho que este é o filme que vi ao lado do meu pai que lembro com mais carinho. Provavelmente pela dinâmica e a química irresistível que existia entre pai e filho no próprio filme. Harrison Ford como Indiana e Sean Connery como o pai Henry Jones são um espetáculo a parte neste filme em que o filho tem que salvar o pai que foi sequestrado pelos nazistas. No meio da aventura, nossos heróis ainda precisam proteger o Santo Graal em uma Europa assolada pela guerra. Por muito tempo, eu achei que o título era uma referência ao fim da trilogia com chave de ouro, mas com o tempo outros filmes foram feitos e continuei achando que deveria ter parado por aqui (e meu pai também). 
 
Peter Pan (1953) Não sei dizer ao certo o ano em que assisti este clássico da Disney no cinema, mas levei um susto ao saber que ele foi feito em 1953, mas eu assisti com o meu pai ainda pequeno no cinema. Li em algum lugar que houve uma cópia restaurada que entrou em cartaz nos anos 1980 e a coisa fez sentido. Lembro até hoje de sair em um domingo com meu pai e irmos assistir ao filme na Cinelândia no centro do Rio de Janeiro. Era um cinema gigante, com tela enorme. Na cidade em que eu cresci não tinha cinema e demoramos quase uma hora para chegar lá. Foi a primeira vez que fui ao cinema e ainda lembro da sensação de deslumbramento quando as luzes apagaram e o filme começou. Nascia um cinéfilo ali. Obrigado pai. Te amo. 

domingo, 3 de agosto de 2025

PL►Y: O Ano de 1985

Cory: fantasmas dos anos 1980. 

Ao final de 1985, Adrian Lester (Cory Michael Smith) resolve passar as festas de fim de ano ao lado da família que não visita há algum tempo. Obviamente que o retorno ao lugar que o viu crescer o fará reencontrar questões que fizeram parte de sua história e construção como indivíduo. Estão no mesmo lugar a religiosidade da família, a rigidez do pai (Michael Chiklis), a submissão da mãe (Virginia Madsen), a versão adulta do garoto que o perseguia na escola (Ryan Piers Williams), a amiga de infância (Jamie Chung) que não conversa com ele faz tempo... se tem alguma coisa que mudou naquele cenário é o irmão caçula, Andrew (Aidan Langford), que está prestes a entrar na adolescência e desenvolver seu próprio gosto pessoal - ainda que isso inclua gostar de ouvir Madonna para o horror de seu pai conservador. Apesar de toda educação e desenvoltura, Adrian está visivelmente desconfortável e nos momentos em que que está afastado da família, demonstra que tem algumas questões que ainda não consegue conversar com eles. Não é por acaso que o filme é ambientado em 1985, também não é ao acaso que toda hora alguém menciona um amigo chamado Leo que vive em Nova York, o fato é que O ano de 1985 é mais um filme que aborda as dificuldades em lidar com o surgimento da AIDS. Só que do macrouniverso que vimos em outras produções, este aqui parte para o microuniverso e a dificuldade de ser você, mesmo diante das pessoas que mais deveriam te amar num mundo cheio de preconceitos. Dirigido pelo malaio Yen Tan, O ano de 1985 é uma espécie de versão mais contida de É Apenas o Fim do Mundo, peça de Jean-Luc Lagarce que se tornou filme pelas mãos de Xavier Dolan em 2016, dois anos antes do lançamento desta produção independente pouco conhecida, mas que figurou em várias listas de melhores filmes daquele ano. Muito se deve  ao tom discreto da narrativa bastante sugestiva impressa pelo diretor, que ficou ainda mais mais valorizada com a fotografia em preto e branco que ao remete mais ainda à ideia de luto em um mundo em que as cores foram banidas. No entanto, o maior mérito da produção é Cory Michael Smith, um excelente ator que ficou conhecido pelo seu trabalho como o Charada da série Gotham, mas que já entregou performances memoráveis em sua carreira (sempre lembro dele como o aluno depressivo de Olive Kitteridge/2014 e recentemente ele encarnou Chevy Chase em Saturday Night/2024). O moço é um destes atores que impressionam sem precisar fazer muito e que mereciam mais atenção do público e da crítica. Sem a sensibilidade impressa por ele no personagem, o filme perderia vários degraus da intensidade que evoca. Vale destacar também o trabalho de Virginia Madsen no papel da mãe que é mais esperta do que pensam (aquela cena de despedida no carro é uma das coisas mais lindas e singelas que já vi). Disponível no Filmicca, o filme merece ser descoberto. 

O Ano de 1985 (1985 / EUA - 2018) de Yen Tan com Cory Michael Smith, Virginia Madsen, Michael Chiklis, Jamie Chung, Aidan Langford e Michael Darby. ☻☻

NªTV: Morrendo por Sexo

Rob e Michelle: morrendo de desejo. 

Quem acompanha o blog deve ter percebido que estou um pouco afastado de séries de TV. Confesso que comecei a ver várias novas temporadas e não consegui avançar muito para comentar por aqui. No entanto, recentemente finalmente consegui ver algumas que me prenderam atenção (e devo comenta-las ao longo do mês de agosto). Uma delas foi Morrendo por Sexo do FX, que por aqui fica no streaming da Disney+ (o que não deixa de ser interessante perante o título em português). Não sei se já comentei por aqui, mas faz poucos anos que meu pai faleceu por conta de um tumor no cérebro e desde então - e após ficar dois meses com ele no hospital, tenho dificuldades de acompanhar narrativas sobre doenças, quimioterapia, radioterapia, estágio quatro... mas depois de assistir um trailer com Michelle Williams fazendo algumas coisas que não lembro de tê-la visto fazer antes, fiquei bastante curioso. A atriz que já conta com cinco indicações ao Oscar e nenhuma vitória tem encontrado na televisão um espaço mais do que promissor para o seu talento. Em Fosse/Verdon (2019) ela foi premiadíssima ao viver a Senhora Bob Fosse com todo o rigor que merecia e, ao que tudo indica, sua performance por Morrendo por Sexo deve ir pelo mesmo caminho, afinal, o papel de Molly Kochan a permite transitar entre o cômico e o trágico com uma desenvoltura que poucas vezes tive a oportunidade de ver uma atriz realizar. Bom que logo no primeiro episódio o programa espanta qualquer semelhança com The Big C (2010-2013) com Laura Linney e, melhor ainda, a produção se encerra no oitavo episódio sem deixar chances para que novas temporadas coloquem em risco tudo o que foi construído ao longo da temporada. No primeiro episódio, Molly está um tanto cansada de ver seu marido (Jay Duplass) ter se tornado seu cuidador. A mulher está com a libido lá em cima e o marido só consegue olhar para ela como se fosse alguém doente prestes a morrer. A postura dele faz com que Molly já estivesse prestes a ser enterrada viva. Não demora muito para que ela perceba que se quiser aproveitar o tempo de vida que lhe resta, precisa se distanciar dele. Ela então mergulha em uma jornada bastante pessoal em busca de desejos que nunca foram explorados. No entanto, desbravar o mundo de sua sexualidade também esbarra em lidar com assuntos delicados de sua infância que nunca foram devidamente cicatrizados. Coloque aí um pouco da relação complicada com a mãe (Sissy Spacek), a parceria de longa data com a melhor amiga Nikki (Jenny Slate) e o uso de um aplicativo cheio de machos doidos por fetiches e Morrendo por Sexo consegue conciliar um tema tão delicado quanto o câncer com sensualidade, profundidade e muito bom humor. Destaque a parte são os parceiros sexuais que Molly encontra pelo caminho, especialmente o vizinho vivido por Rob Delaney que está perfeito como o objeto de desejo mais inesperado que ela poderia encontrar. Morrendo por Sexo se equilibra sobre o fio da navalha e muito se deve ao trabalho profundamente comprometido de Michelle em dar vida à uma mulher que se recusa a morrer antes da hora. Entre risos e lágrimas (além de imagens penianas) a minissérie caiu nas graças do Emmy que a indicou em nove categorias no páreo das minisséries, entre elas: melhor minissérie, atriz (Michelle), atriz coadjuvante (Slate), ator coadjuvante (Delaney), direção, roteiro e casting. 

Morrendo por sexo (Dying for Sex / EUA - 2025) de Elizabeth Meriwether e Kim Rosenstock com Michelle Williams, Jenny Slate, Rob Delaney, Jay Duplass, Sissy Spacek, Kelvin Yu, David Rasche, Esco Jouley, Margaret Cho e Zack Robidas, ☻☻