Cinco produções assistidas durante o mês que merecem destaque:
domingo, 31 de agosto de 2025
PL►Y: A Noite Sempre Chega
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| Kirby: longa jornada noite adentro. |
sábado, 30 de agosto de 2025
4EVER: Luis Fernando Veríssimo
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| 26 de setembro de fevereiro de 1936 ✰ 30 de agosto de 2025 |
domingo, 24 de agosto de 2025
4EVER: Jaguar
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| 29 de fevereiro de 1932 ✰ 24 de agosto de 2025 |
PL►Y: Síndrome da Apatia
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| A família exilada: a derrota mental perante a burocracia. |
Sergei (Grigory Dobrigyn) e Natalia (Chulpan Khamatova) são refugiados políticos russos que migraram para a Suécia em busca de segurança e uma vida melhor após as perseguições sofridas por Sergei. O casal tem duas filhas, Katja (Miroslava Pashutina) e Alina (Naomi Lamp) e dependem da aceitação do pedido de asilo político para conseguir seguir suas vidas. No entanto, quando a o pedido é negado pela burocracia sueca, a pequena Katja tem uma reação inesperada que é identificada com o nome do título. Este é só o início dos problemas que a família irá enfrentar ao longo do filme, já que terão que realizar procedimentos protocolares para lidar com a filha e, aos poucos, Alina também enfrentará problemas. Talvez por ser assinado por Alexandros Avranas, cineasta vindo da Estranha Onda Grega, eu imaginei que a síndrome do título fosse algo fictício, mas ela existe realmente e acomete pessoas que diante de uma realidade insuportável, criam uma defesa psíquica que anestesia qualquer reação diante dos fatos (e o final do filme faz questão de oferecer mais informações sobre a incidência deste mal). Chega a ser surpreendente ver o que Avranas faz por aqui depois de conhecer seu trabalho com os chocantes Miss Violência (2013) e Não me Ame (2017), Síndrome da Apatia traz aquelas interpretações sutis perante situações absurdas que se tornaram marcas do recente cinema grego, mas a constrói de uma forma ainda mais sufocante para seus personagens, até que encontrem uma saída viável e, quando ela surge, parece ainda mais surreal (que lembra um pouco as crianças que vemos em O Sacrifício do Cervo Sagrado/2017 do diretor mor da onda grega, o Yorgos Lanthimos). No entanto, Síndrome da Apatia soa emperrado, talvez por ser calcado em uma dolorosa realidade, o filme opte por ser respeitoso demais e carece de uma guinada que provoque mais impacto em seu desfecho (afinal, o impacto ocorre no início e segue nos desdobramentos da família para reaver a companhia da filhas). Embora seja bastante doloroso de assistir, senti falta de uma catarse mais explosiva, o filme mantém algum mistério sobre a ambiguidade do casal e sua ida para a Suécia, mas nada muito impactante. Aqui, toda a economia do diretor e o medo de cair no melodrama acabou drenando a emoção.
Síndrome da Apatia (Quiet Life / França - Suécia - Alemanha - Estônia - Grécia - Finlândia / 2025) de Alexandros Avranas com Chulpan Khamatova, Grigory Dobrygin, Naomi Lamp, Miroslava Pashutina, Elei Roussinou, Lena Endre e Alicia Eriksson. ☻☻☻
Na tela: A Hora do Mal
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| Julia e Josh: quebra-cabeça misterioso. |
Em uma pacata cidade, dezessete crianças que estudam em uma mesma sala saem de suas casas às duas e dezessete da manhã em direção ao desconhecido como se estivessem em transe. Ninguém sabe para onde foram. Ninguém sabe o que aconteceu. Diante de todo o mistério, dois pontos chamam atenção: um é que todos são estudantes da turma de uma mesma professora, a Justine (Julia Garner) - que já tem uma cota considerável de dramas no passado para administrar em sua fama -, o outro ponto é que apenas um menino da turma, o Alex (Cary Christopher) permanece ao lado de sua família. A partir deste mistério o diretor Zach Cregger tece uma rede de histórias cruzadas sob o olhar de alguns personagens que tem em mãos. Para além dos citados, também recebem suas partes na narrativa um policial (Alden Ehrenreich), o diretor da escola (Benedict Wong), um rapaz sem-teto (Austin Abrams) e um pai indignado com tudo o que aconteceu (Josh Brolin) e que tem certeza que a professora tem responsabilidade no desaparecimento das crianças. Este é o segundo filme de Cregger, antes ele já chamara atenção em seu filme de estreia, Noites Brutais/2022, que nas suas entrelinhas também lidava com desaparecimentos. No entanto, A Hora do Mal é bem mais ambicioso em sua estrutura, principalmente pelo roteiro minuciosamente construído em seus capítulos que correm em paralelo, mas convergem para uma mesma direção. Cuidadoso na evolução de sua trama, Cregger repete momentos sobre outros ângulos e altera o rumo de perspectivas afim de instigar o espectador a entender o que está acontecendo. O clima fantasmagórico é ressaltado pela fotografia sombria, detalhes estranhos e pesadelos que parecem trazer revelações escondidas. Ah claro, não podemos esquecer da Tia Gladys, personagem que rouba a cena desde seu primeiro momento e graças ao talento da atriz Amy Madigan sai do disfarce caricatural para revelar-se uma vilã inesquecível. Embora todo o elenco esteja ótimo em cena, torna-se algo realmente gratificante ver Amy em um papel de destaque novamente em sua carreira. A atriz foi indicada ao Oscar por seu trabalho em Duas Vezes na Vida (1986) e engatou alguns projetos de sucesso como Ruas de Fogo (1984), Campo dos Sonhos (1989) e Quem Vê Cara Não vê Coração (1989), mas fazia tempo que não tinha chance de explorar sua versatilidade em cena. A esposa de Ed Harris caiu tanto na graça do público que já pedem até em indicação ao Oscar de coadjuvante para ela (será que consegue?). De qualquer forma, A Hora do Mal (com suas referências que vão de Monster/2023 ao conto clássico do Flautista Mágico) tenta garantir o título de melhor terror do ano. Em tempo, vale dizer que eu dei boas gargalhadas na perseguição antes da carnificina do final. O melhor de tudo é imaginar o que Zach Cregger fará em seguida.
A Hora do Mal (Weapons / EUA - 2025) de Zach Cregger com Julia Garner, Josh Brolin, Amy Madigan, Alden Ehrenreich, Cary Christopher, Benedict Wong e Austin Abrams. ☻☻☻☻
PL►Y: Todo Tempo que Temos
Andrew Garfield e Florence Pugh são dois dos melhores atores que Hollywood tem disponíveis para seus filmes. Infelizmente nem todo filme protagonizado por ambos está à altura do talento destes artistas, mas, mesmo quando o material que lhes chega não é lá grande coisas, eles conseguem fazer milagres com o que tem em mãos. Ao menos conseguem manter a integridade, deles e dos personagens que defendem. Todo o Tempo que Temos está longe de ser memorável e em alguns momentos ressalta o desgaste do subgênero em ter que lidar com um tema pesado de forma leve para o grande público sedento por comédias românticas com algum conteúdo. De certa forma o que o diretor John Crowley (do ótimo Brooklyn/2015 e o fiasco O Pintassilgo/2019) faz aqui é buscar sempre o equilíbrio entre um filme água com açúcar com uma gotinha de fel. Ele conta a história de Almut (Florence) e Tobias (Garfield), um casal mais do que apaixonado que parece viver num comercial de margarina saudável. Eles se amam, são felizes, tem um bebê lindo e... aparece uma doença para acabar com todos os planos que os dois tinham de envelhecer juntos, afinal, o "até que a morte os separe" resolve antecipar. O clima pesa e a relação começa a vivenciar conflitos sobre o legado que Almut pretende deixar em vida. Isso já daria conta de construir um filme, mas lá pelos primeiros vinte minutos o espectador é pego de surpresa (pelo menos eu fui) e começa a perceber que a narrativa embaralha os tempos de vida do casal. Indo para o dia em que se conheceram e como aos poucos superaram as diferenças e desconfianças um pelo outro - e o fato de Tobias ter sobrevivido a um divórcio também colabora muito para que tenha alguma resistência a se envolver com uma mulher tão descolada como Almut. Pode se dizer que o maior mérito do filme se deve à dupla protagonista que defende seus personagens mais uma vez como se fossem pessoas reais, de carne e osso que poderiam ter estudado com você ou morar na casa em frente. Esta característica que cria o envolvimento com a narrativa que por vezes transforma as idas e vindas temporais como uma verdadeira armadilha para a fluência e a compreensão do que se vê na tela (neste caso fica legal na primeira ou segunda vez, mas depois cansa, já que todo mundo já imagina como tudo irá terminar). O final também é bonitinho, mas ressalta como é difícil chegar ao inevitável sem ser pesado demais para a plateia que quer ver o casal apaixonado triunfar no final.
Todo Tempo que Temos (We Live in Time / Reino Unido - França / 2024) de John Crowley com Florence Pugh, Andrew Garfield, Grace Delaney, Lee Braithwaite, Adam James e Douglas Hodge. ☻☻☻
domingo, 17 de agosto de 2025
4EVER: Terence Stamp
Terence Henry Stamp nasceu em Londres sendo o primogênito de uma família de cinco irmãos. Antes de tornar-se ator, Terence trabalhou em várias agências de publicidade assistente de um golfista profissional. A decisão de tornar-se ator veio após sua rejeição no serviço nacional devido a um problema nos pés. Stamp estreou no cinema ao lado de Lawrence Olivier em Term of Trial (1962) e no mesmo ano por seu trabalho em Billy Budd lhe rendeu uma indicação ao Oscar de melhor ator. Três anos depois foi eleito o melhor ator do Festival de Cannes por seu trabalho no clássico O Colecionador (1995). Ele também participou de sucessos como Longe Deste Insensato Mundo (1965), Teorema (1968) de viveu o vilão Zod em Superman II (1980). Famoso por seu estilo de atuação de expressões quase congeladas, o ator surpreendeu ao aparecer como uma das drag queens de Priscilla, A Rainha do Deserto (1994), em que demonstrou que era capaz de fazer humor mantendo seu estilo inconfundível. O filme australiano fez tanto sucesso que uma sequência se encontrava em pré-produção. Ao longo da carreira o ator apareceu em quase noventa produções, tendo como último trabalho o suspense Noite Passada em Soho (2021). A causa da morte não foi divulgada.
domingo, 10 de agosto de 2025
PL►Y: O Crítico
Atrevo dizer que Sir Ian McKellen é um dos melhores atores vivos. Aos oitenta e seis anos ele coleciona vários prêmios por seus trabalhos no teatro, no cinema e na televisão. O Oscar perdeu a chance de premia-lo duas vezes, a primeira foi quando preferiu puxar o saco do Roberto Benini (A Vida é Bela/1997) ao invés de reconhecer que a melhor atuação na categoria de melhor ator era de um artista assumidamente homossexual vivendo um diretor de cinema homossexual em Deuses e Monstros (1997). Depois, a Academia perdeu a chance novamente quando McKellen viveu Gandalf por O Senhor dos Anéis: A Sociedade do Anel (2001) e concorreu como ator coadjuvante (perdeu para Chris Cooper em Adaptação/2001, mas está perdoado). Ian realiza poucos longas-metragens ultimamente e, por isso mesmo, sempre que encontro um filme estrelado por ele, costumo assistir para aproveitar a honra de assistir uma verdadeira lenda. Pena que ao ver este O Crítico a impressão de que o material não era bom o suficiente para o seu talento só crescia. O elenco é repleto de artistas renomados, mas o texto de Patrick Marber (dos afiados Closer/2004 e Notas de um Escândalo/2006, quem diria...) e Anthony Quinn se perde totalmente da metade em diante. Ambientado na Londres dos anos 1930, o filme acompanha um crítico de teatro chamado Jimmy Erskine (McKellen) que é famoso por conta de suas resenhas maldosas sobre as estreias da cena cultural local. O jornal para qual ele trabalha está passando por algumas mudanças e seus colegas estão preocupados com os novos rumos. À frente das mudanças estão David Brooke (Jeremy Strong) e o genro, Stephen Wyley (Ben Barnes), que é casado com a gélida Cora (Romola Garai). Ambos são admiradores da atriz Nina Land (Gemma Aterton), o atual alvo favorito da caneta cortante de Jimmy. Nina sempre sonhou em ser uma grande atriz do teatro e ser reconhecida por Jimmy, mas este plano fica cada vez mais longe da realidade que ela vivencia estreia após estreia. Eis que um dia, ela recebe resenhas positivas e nem imagina que o renomado jornalista irá lhe pedir algo em troca. Daí em diante o filme começa a se enrolar cada vez mais e se torna desgovernado nas consequências que começam a aparecer. O que era promissor vira uma maçaroca novelesca que beira o absurdo, nem mesmo a boa reconstituição de época e os bons atores são capazes de dar jeito. A direção de Anand Tucker começa a desalinhar e o resultado se torna mais aborrecido do que interessante. Um verdadeiro desperdício de um ótimo elenco, que ainda conta com Leslie Manville como a mãe de Nina e o meio-brasileiro Alfred Enoch no papel de secretário amante de Jimmy. Existe um comentário ali e aqui sobre homofobia e racismo ao longo da narrativa, mas nada que disfarce o quanto o filme não sabe para onde ir em sua segunda metade. Em cartaz no Prime Video, valeria pelo elenco e só.
O Crítico (The Critic / Reino Unido - 2023) de Anand Tucker com Ian McKellen, Gemma Aterton, Mark Strong, Ben Barnes, Romola Garai, Alfred Enoch e Leslie Manville. ☻☻
NªTv: Dept Q.
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| Salim, Goode e Leah: investigações em meio a traumas do passado. |
Pódio: Vanessa Kirby
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| Bronze: A Mulher Invisível |
3º Quarteto Fantástico: Primeiros Passos (2025) Acho muito legal quando uma grande atriz, pouco conhecida pelo público, consegue aparecer em uma super-produção (sem trocadilhos) e chama a atenção da audiência. A britânica Vanessa Kirby atua no cinema, no teatro e na televisão desde 2010 e no papel de Sue Storm ouvi até gente dizendo que se ela fosse indicada ao Oscar pelo papel, seria algo justo. Dificilmente o reconhecimento da Academia chegará, mas comprova que a atriz de 37 anos domina seu ofício com maestria e merece todos os elogios por dar corpo e alma à esta nova versão da heroína da Marvel.
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| Prata: a Princesa Eterna |
2º The Crown (2016-2017) Embora tenha feito vários trabalhos antes de interpretar a Princesa Margareth na cultuada série da Netflix, nada se compara ao destaque que a personagem lhe deu até então. Vanessa vive com uma elegância ímpar uma das personalidades mais curiosas da realeza britânica e não seria exagero dizer que os dramas da personagem em alguns momentos soaram maiores do que a da própria Rainha Elizabeth vivida apor Claire Foy. Afinal, pensa bem: no contexto da série, Margareth sempre desejou ser rainha, embora soubesse que isso nunca aconteceria. Sem o título e sempre na sombra a irmã ela teve que pagar um preço alto por fazer parte da realeza (deixar o grande amor de sua vida). O talento de Kirby foi fundamental para que ela desse conta de alguns dos melhores episódios - o que lhe valeu indicações ao Emmy e ao Gold Derby, carimbando seu passaporte de vez para filmes importantes em Hollywood.
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| Ouro: a mãe enlutada |
Na Tela: Quarteto Fantástico - Primeiros Passos
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| O Quarteto: heróis tamanho família. |
Quarteto Fantástico: Primeiros Passos demonstra que a Marvel realmente parou para pensar na vida e tentar ajustar a grande confusão que seu universo se tornou. Se Thunderbolts (2014) já demonstrava que a coisa ainda tinha jeito, este reboot no grupo de heróis mais clássico da editora demonstra, mais uma vez, a boa vontade de colocar tudo nos trilhos. A impressão geral é que depois de complicar demais o que deveria ser apenas produções para divertir, o estúdio resolveu criar uma história mais simples e redondinha, capaz de se resolver por conta própria - o que já está de bom tamanho. Os heróis do filme vivem na Terra 828 e já são conhecidos e consagrados por serem os defensores daquele planeta. Assim como o recente Superman (2025), o filme não gasta tempo mostrando a origem dos personagens (para isso usa uma reportagem que já dá conta de explicar aos iniciantes, desta forma já sabemos de cara quem são o Reed Richards/Sr. Fantástico (Pedro Pascal), Sue Storm/Mulher Invisível (Vanessa Kirby), Tocha-Humana (Joseph Quinn) e Coisa (Ebon Moss-Bacharach), assim como fica fácil notar que eles foram uma família após o incidente que lhes deram super-poderes. Falando em família, ela está prestes a crescer, já que Sue está grávida. Por um bom tempo, ela e Reed ficaram temerosos da forma como o herdeiro poderia ser concebido devido aos efeitos que a radiação provocaram em seus corpos, mas ao que parece está tudo na mais perfeita ordem com o bebê. Pelo menos até surgir a Surfista Prateada (Julia Garner) com o anúncio da chegada do devorador de mundos Galactus (Ralph Ineson) e que a Terra será poupada somente se o casal de heróis entregar o bebê para o vilão. Como disse anteriormente, a história é mais simples, mas os dilemas dos personagens não deixa de ser complexos. Afinal, você entregaria seu filho para salvar o planeta? Esta ideia insere um grande peso à história já que, pelo fato de serem heróis, eles devem sacrificar tudo para salvar vidas? Por serem pessoas públicas, a opinião pública se torna responsável por decidir o que eles devem fazer? Some isso à dinâmica da relação entre Reed e Sue e o filme consegue construir um drama que sustenta o filme. Muito disso se deve ao trabalho de Pedro Pascal que, ao encarnar o homem mais inteligente do mundo, torna sua personalidade cerebral em algo que o torna sempre pensativo e reflexivo. Por outro lado, a interpretação de Vanessa Kirby, impregnada pela maternidade se torna um contraponto para seu parceiro de cena. Kirby está colhendo muitos elogios por sua performance (e acho que o seu trabalho premiado em Pieces of a Woman/2020 tem muita relação com sua escolha para o papel). Bela, elegante e talentosa, a atriz se torna a alma do filme. Com menos tempo em cena, Quinn e Ebon ficam como alívio cômico para a sessão. Vale destacar ainda a direção eficiente de Matt Shakman (responsável por Wanda Vision) e a excelente ambientação retro-futurista. Embora muita gente dirá que o filme tem pouca ação, considero que o filme consegue se organizar de forma bastante eficiente até chegar ao desfecho emocional. Com uma cena pós-crédito bastante instigante (e outra até nostálgica), Quarteto Fantástico soa como um passo importante para o aguardado Vingadores: Doomsday previsto para dezembro de 2026. Se antes disso o Homem-Aranha: Um Novo Dia (2026) seguir a mesma linha, parece que a Marvel tem jeito.
Quarteto Fantástico: Primeiros Passos (Fantastic Four: First Steps / EUA - 2025) de Matt Shakman com Vanessa Kirby, Pedro Pascal, Ebon Moss-Bacharach, Julia Garner, Ralph Ineson, Natasha Lyonne, Paul Walter-Hauser e Sarah Niles. ☻☻☻☻
Combo: Ao meu Pai
Meu pai faleceu no ano de 2023 e desde então o Dia dos Pais não fazsentido. Se antes, todos os dias ele estava presente, agora, todos os dias eu lembro dele ainda mais. Durante muito tempo nosso relacionamento foi um tanto complicado, mas depois que me formei e passei a morar longe, passamos a aproveitar com um pouco mais de afeto a presença um do outro. Acho que nunca escrevi por aqui que devo muito ao meu pai o meu interesse por cinema. Foi ele que me levou diante de uma telona pela primeira vez e várias outras vezes até minha adolescência - e ele perceber que meu gosto estava ficando um tanto quanto (nas palavras dele mesmo) estranho. Este combo é para lembrar cinco filmes que vi ao lado do meu pai e que fizeram parte da minha gênese como cinéfilo:
domingo, 3 de agosto de 2025
PL►Y: O Ano de 1985
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| Cory: fantasmas dos anos 1980. |
Ao final de 1985, Adrian Lester (Cory Michael Smith) resolve passar as festas de fim de ano ao lado da família que não visita há algum tempo. Obviamente que o retorno ao lugar que o viu crescer o fará reencontrar questões que fizeram parte de sua história e construção como indivíduo. Estão no mesmo lugar a religiosidade da família, a rigidez do pai (Michael Chiklis), a submissão da mãe (Virginia Madsen), a versão adulta do garoto que o perseguia na escola (Ryan Piers Williams), a amiga de infância (Jamie Chung) que não conversa com ele faz tempo... se tem alguma coisa que mudou naquele cenário é o irmão caçula, Andrew (Aidan Langford), que está prestes a entrar na adolescência e desenvolver seu próprio gosto pessoal - ainda que isso inclua gostar de ouvir Madonna para o horror de seu pai conservador. Apesar de toda educação e desenvoltura, Adrian está visivelmente desconfortável e nos momentos em que que está afastado da família, demonstra que tem algumas questões que ainda não consegue conversar com eles. Não é por acaso que o filme é ambientado em 1985, também não é ao acaso que toda hora alguém menciona um amigo chamado Leo que vive em Nova York, o fato é que O ano de 1985 é mais um filme que aborda as dificuldades em lidar com o surgimento da AIDS. Só que do macrouniverso que vimos em outras produções, este aqui parte para o microuniverso e a dificuldade de ser você, mesmo diante das pessoas que mais deveriam te amar num mundo cheio de preconceitos. Dirigido pelo malaio Yen Tan, O ano de 1985 é uma espécie de versão mais contida de É Apenas o Fim do Mundo, peça de Jean-Luc Lagarce que se tornou filme pelas mãos de Xavier Dolan em 2016, dois anos antes do lançamento desta produção independente pouco conhecida, mas que figurou em várias listas de melhores filmes daquele ano. Muito se deve ao tom discreto da narrativa bastante sugestiva impressa pelo diretor, que ficou ainda mais mais valorizada com a fotografia em preto e branco que ao remete mais ainda à ideia de luto em um mundo em que as cores foram banidas. No entanto, o maior mérito da produção é Cory Michael Smith, um excelente ator que ficou conhecido pelo seu trabalho como o Charada da série Gotham, mas que já entregou performances memoráveis em sua carreira (sempre lembro dele como o aluno depressivo de Olive Kitteridge/2014 e recentemente ele encarnou Chevy Chase em Saturday Night/2024). O moço é um destes atores que impressionam sem precisar fazer muito e que mereciam mais atenção do público e da crítica. Sem a sensibilidade impressa por ele no personagem, o filme perderia vários degraus da intensidade que evoca. Vale destacar também o trabalho de Virginia Madsen no papel da mãe que é mais esperta do que pensam (aquela cena de despedida no carro é uma das coisas mais lindas e singelas que já vi). Disponível no Filmicca, o filme merece ser descoberto.
O Ano de 1985 (1985 / EUA - 2018) de Yen Tan com Cory Michael Smith, Virginia Madsen, Michael Chiklis, Jamie Chung, Aidan Langford e Michael Darby. ☻☻☻☻
NªTV: Morrendo por Sexo
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| Rob e Michelle: morrendo de desejo. |
Quem acompanha o blog deve ter percebido que estou um pouco afastado de séries de TV. Confesso que comecei a ver várias novas temporadas e não consegui avançar muito para comentar por aqui. No entanto, recentemente finalmente consegui ver algumas que me prenderam atenção (e devo comenta-las ao longo do mês de agosto). Uma delas foi Morrendo por Sexo do FX, que por aqui fica no streaming da Disney+ (o que não deixa de ser interessante perante o título em português). Não sei se já comentei por aqui, mas faz poucos anos que meu pai faleceu por conta de um tumor no cérebro e desde então - e após ficar dois meses com ele no hospital, tenho dificuldades de acompanhar narrativas sobre doenças, quimioterapia, radioterapia, estágio quatro... mas depois de assistir um trailer com Michelle Williams fazendo algumas coisas que não lembro de tê-la visto fazer antes, fiquei bastante curioso. A atriz que já conta com cinco indicações ao Oscar e nenhuma vitória tem encontrado na televisão um espaço mais do que promissor para o seu talento. Em Fosse/Verdon (2019) ela foi premiadíssima ao viver a Senhora Bob Fosse com todo o rigor que merecia e, ao que tudo indica, sua performance por Morrendo por Sexo deve ir pelo mesmo caminho, afinal, o papel de Molly Kochan a permite transitar entre o cômico e o trágico com uma desenvoltura que poucas vezes tive a oportunidade de ver uma atriz realizar. Bom que logo no primeiro episódio o programa espanta qualquer semelhança com The Big C (2010-2013) com Laura Linney e, melhor ainda, a produção se encerra no oitavo episódio sem deixar chances para que novas temporadas coloquem em risco tudo o que foi construído ao longo da temporada. No primeiro episódio, Molly está um tanto cansada de ver seu marido (Jay Duplass) ter se tornado seu cuidador. A mulher está com a libido lá em cima e o marido só consegue olhar para ela como se fosse alguém doente prestes a morrer. A postura dele faz com que Molly já estivesse prestes a ser enterrada viva. Não demora muito para que ela perceba que se quiser aproveitar o tempo de vida que lhe resta, precisa se distanciar dele. Ela então mergulha em uma jornada bastante pessoal em busca de desejos que nunca foram explorados. No entanto, desbravar o mundo de sua sexualidade também esbarra em lidar com assuntos delicados de sua infância que nunca foram devidamente cicatrizados. Coloque aí um pouco da relação complicada com a mãe (Sissy Spacek), a parceria de longa data com a melhor amiga Nikki (Jenny Slate) e o uso de um aplicativo cheio de machos doidos por fetiches e Morrendo por Sexo consegue conciliar um tema tão delicado quanto o câncer com sensualidade, profundidade e muito bom humor. Destaque a parte são os parceiros sexuais que Molly encontra pelo caminho, especialmente o vizinho vivido por Rob Delaney que está perfeito como o objeto de desejo mais inesperado que ela poderia encontrar. Morrendo por Sexo se equilibra sobre o fio da navalha e muito se deve ao trabalho profundamente comprometido de Michelle em dar vida à uma mulher que se recusa a morrer antes da hora. Entre risos e lágrimas (além de imagens penianas) a minissérie caiu nas graças do Emmy que a indicou em nove categorias no páreo das minisséries, entre elas: melhor minissérie, atriz (Michelle), atriz coadjuvante (Slate), ator coadjuvante (Delaney), direção, roteiro e casting.
Morrendo por sexo (Dying for Sex / EUA - 2025) de Elizabeth Meriwether e Kim Rosenstock com Michelle Williams, Jenny Slate, Rob Delaney, Jay Duplass, Sissy Spacek, Kelvin Yu, David Rasche, Esco Jouley, Margaret Cho e Zack Robidas, ☻☻☻☻






















