quarta-feira, 10 de dezembro de 2014

DVD: Miss Violência

A família: crueldades na medida para chocar plateias. 

Há quem perceba em Miss Violência uma analogia com a atual crise econômica da Grécia, numa associação de que a crise financeira desencadeie uma crise moral logo em seguida. O diretor Alexandros Avranas prefere não associar seu filme ao contexto político-econômico de seu país, apreciando mais que seu seja visto como o drama de uma família disfuncional (embora, conforme sua trama avance, Miss Violência pareça mais um filme de horror). Exigindo nervos de aço da plateia, Avranas conta a história de um lar assombrado pelo suicídio de uma menina de onze anos no dia de seu aniversário. Durante a distração de sua família, ela quase sorri para a câmera antes de se atirar do apartamento em que vive. A partir do trágico episódio, o filme acompanha o cotidiano daquela casa, revelando aos poucos os motivos que poderiam gerar o suicídio da menina. De início não fica muito claro os laços entre os personagens, somente depois descobrimos que o clã é formado por um casal de idosos, uma filha adolescente e outra adulta que possui um casal de crianças cujo pai nunca é apresentado. A filha adulta é a mãe da menina suicida e terá que explicar para o serviço social o que poderia ter motivado aquela situação. Não cabe explicar muito mais do que isso, uma vez que estragaria as surpresas desagradáveis que o filme reserva ao espectador. Para além da agressividade dos personagens com os mais jovens, cenas de humilhação, constrangimento e punição são constantes no cotidiano daquela família aparentemente comum, mas que o roteiro reserva ainda outras situações capazes de revirar o estômago da plateia. Lentamente, Avranas esconde e revela aspectos doentios daquele grupo, mas conforme a narrativa avança, perde pontos por tornar algumas situações explícitas demais com a única intenção de chocar a plateia que já entendeu do que o filme trata. Se o longa perde em sutilezas em sua reta final, ganha o asco do espectador conforme avança para o desfecho  quase inevitável de uma dinâmica familiar marcada pela crueldade. Conforme revela seus segredos, a frieza de Miss  Violência desperta no espectador a sensação incômoda do próprio mal que pretende deflagrar com seus personagens que observam a violência passivamente. Vencedor dos prêmios de melhor diretor e melhor ator no festival de Veneza, penso no filme como uma espécie de irmão do indicado ao Oscar de filme estrangeiro Dente Canino (2010), outro longa grego desagradável que reproduz a atmosfera cinematográfica do austríaco Michael Haneke.  Ambos parecem dizer que a realidade do país está destroçando as famílias ou então que Haneke é o cineasta favorito por aquelas bandas que inventaram a comédia e a tragédia em sua essência. 

Miss Violência (Miss Violence/Grécia-2013) de Alexandros Avranas com Themis Panou, Reni Pittaki e Eleni Roussinou. ☻☻

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