domingo, 18 de novembro de 2012

CATÁLOGO: Amélia

Borges, Muniz e Amado: confronto de divas. 

Sou fã de carteirinha da cineasta brasileira Ana Carolina - e assim como todos os outros sempre reclamo que ela quase não filma. Filmando desde a década de 1970, a diretora tem apenas seis filmes no currículo - e se Sonho de Valsa (1987) pode ser considerado sua obra-prima ela demorou treze anos para lançar sua obra seguinte: Amélia. O cinema de Ana é considerado por alguns como "provocador e mal comportado", assim como ela mesma - dito isso não é difícil constatar que ninguém mais teria o topete de fazer um filme sobre três caipiras da gema interiorana de Minas Gerais (de Cambuquira para ser mais exato) que no início do século XX se meteram numa grande confusão com a diva Sarah Bernhardt. Sarah já se despedia do auge quando fez apresentações no Brasil em 1905, mas sempre deixou claro que detestava o país tupíniquim - e tudo piorou muito com o acidente mal explicado em que caiu do palco e quebrou a perna que anos depois teve que amputar. Depois do episódio, a estrela até evitava falar sobre o Brasil em suas entrevistas e são nas lacunas dessa temporada que Ana Carolina cria sua história inquieta. Beátrice Angenin está ótima como a Sarah imaginária de Carolina, conseguindo explorar todas as nuances de sua fragilidade pessoal e profissional - especialmente após a morte de sua fiel camareira Amélia (Marília Pêra) e a chegada de suas duas irmãs caipirérrimas, Francisca (Miriam Muniz, impagável), Osvalda (Camila Amado), e a agregada Maria Luisa (Alice Borges). As três viviam nos cafundós de Cumbuquira e veem a volta de Amélia ao Brasil como uma ameaça (especialmente depois que uma famigerada carta demonstra o interesse dela por sua parte na fazenda). Afim de resolver essa partilha, as três partem para o Rio de Janeiro, mas acabam encontrando um gigantesco contraste com a trupe francesa de Sarah Bernhardt e os novos rumos que o destino deu à Amélia. A diretora carrega nos contrastes em momentos hilariantes (como o piquenique de leitão onde Francisca berra um genial "para de ensinar!" à diva ou o primeiro encontro com Betty Goffman afrancesada) e o resultado beira o ataque de nervos, seja pela impossibilidade de comunicação ou uma conciliação que parece cada vez mais distante. O texto é ágil e em vários momentos beira o surreal (como o duelo de esgrima entre lições de francês), por isso mesmo, Amélia pode render várias leituras, seja no contraste entre a cultura francesa e a dos trópicos ou o fato de nenhuma das mulheres em cena lembrarem ao clássico samba de Ataulfo Alves e Mário Lago que dá título ao filme. Como cereja do bolo está a declamação de I-Juca Pirama de Gonçalves Dias. Entre risos e aflições, Ana Carolina realizou mais um acerto. 

Amélia (Brasil-2000) de Ana Carolina com Miriam Muniz, Beátrice Angenin, Marília Pêra, Camila Amado, Alice Borges, Betty Goffman e Pedro Paulo Rangel. ☻☻☻☻

DVD: A Fonte das Mulheres

Leila: mulheres em greve!

Uma vez li uma resenha sobre A Fonte das Mulheres dizendo que era sobre a "eterna guerra dos sexos". Não sei muito bem a compreensão que cada um faz da guerra dos sexos, mas com certeza o rótulo provém de uma leitura bastante limitada sobre o filme de Radu Mihaileanu, já que seus personagens ao invés de ficarem discutindo quem é o mais esperto, abordam questões bem mais complicadas como religião, tradição, rompimento de paradigmas, casamento, fidelidade, virgindade e uma penca de outros temas que raramente conseguem aparecer na tela com abordagem tão agradavelmente relevante. Indicado à Palma de Ouro em Cannes2011, o filme aborda um impasse entre maridos e esposas que vivem numa comunidade muçulmana ao norte da África. Sempre que necessário as mulheres precisam atravessar o deserto e subir uma montanha para pegar água e abastecer a casa durante o período de seca que já passa de uma década. O caminho é complicado, os tombos constantes devido ao trajeto pedregoso já renderam vários acidentes com mulheres grávidas que acabam sofrendo a morte dos bebês ainda no útero e uma precoce esterilidade. Quando essa tragédia familiar acontece com Leila (Leila Bekhti) as coisas parecem seguir por outro caminho. Vinda de outro vilarejo e esposa de um professor (Saleh Bakri), Leila se rebela contra aquela situação da comunidade e sugere às mulheres que busquem uma forma para que seus esposos abandonem a inércia e busquem água na fonte, não demora muito para que a ideia de uma greve de sexo apareça! A mulher nem imaginava a confusão que sua proposta iria causar. Os maridos, sustentados pelo discurso que precisam sempre proteger a casa e a família, passam o tempo conversando e bebendo chá enquanto as mulheres fazem o trabalho mais árduo. Esta rotina ainda é embasada numa leitura distorcida do Corão, onde as mulheres são vistas como seres subjugados às vontades de seus maridos - que se tornam verdadeiros objetos de seus esposos. Não demora para a greve despertar a violência dos maridos contra as esposas, além de causar um verdadeiro embate entre todos da vila, fazendo com que Leila sofra represálias  assim como seu esposo (afinal, pessoas escarecidas que questionam a ordem estabelecida são sempre ameaça!) e artimanhas sejam usadas constantemente para fortalecer o protesto. Penso que também seria empobrecedor perceber o filme como um manifesto feminista, já que é uma história que beira a fábula (existe até uma citação às história das 1001 noites, onde Sherazade usa várias artimanhas para evitar as núpcias) consegue ser bastante esperta ao explorar várias questões que sempre estiveram presentes naquela comunidade - só que encobertas por gerações foram naturalizadas e ficaram quase imperceptíveis, mas com a greve rendem discussões governamentais e religiosas. A inspiração para o filme foi uma reportagem sobre mulheres da Turquia que fizeram a tal greve para que os maridos resolvessem o problema do abastecimento de água da cidade - fato que o roteiro mistura com a peça Lisístrata (escrita em 411 a.C. por Aristófanes). O romeno Radu Mihaileanu amplia tanto as subtramas do vilarejo (além dos casais em conflito, uma personagem tem problemas com o relacionamento com o filho, a chegada de um repórter provoca ciúmes entre os homens, a troca de bilhetes entre um casal de jovens...)  que por vezes pode cansar o espectador, afinal, nem precisava tanto. A Fonte das Mulheres consegue tratar com leveza temas complicados graças à sua mistura de comédia com drama familiar e um inusitado tempero musical (perdi a conta de quantas músicas a mulherada cantou durante o filme), o que contribui ainda mais para o olhar diferenciado que lança sobre as muçulmanas que ficam distante dos estereótipos que conhecemos. A Fonte das Mulheres é um filme que surpreende pelo seu engajamento multifacetado.

A Fonte das Mulheres (La Source des femmes/França-2011) de Radu Mihaileanu com Leila Bekhti, Hafsia Herzi, Saleh Bakri e Hiam Abbas. ☻☻☻☻

sexta-feira, 16 de novembro de 2012

CATÁLOGO: Mistérios da Carne

Gordon e seus amigos: sexualidade transviada. 

Abordar um tema como pedofilia em um longa metragem não é coisa fácil, basta lembrar que até Pedro Almodóvar patinou em gelo fino quando resolveu abordar o tema em Má Educação (2003). Gregg Araki resolveu abordar esse tema em Mysterious Skin e recebeu prêmios em festivais independentes pela coragem de seu filme. Cinematográficamente o filme não é grande coisa. Araki filma de forma seca, tradicional e sem invencionices visuais. Parece que acredita tanto em suas histórias que não se preocupa em capturar o espectador pelo trato que dá às imagens. Aqui ele ainda tinha que buscar uma solução para não afugentar todo o público quando mostrasse as situações desagradáveis em que seus protagonistas se metem quando ainda são crianças. Quando o filme começa Brian e Neil tem oito anos de idade e sofrem abusos de um treinador de beisebol. Crescidos, cada um seguiu um caminho diferente, Neil (Joseph Gordon-Levitt) se tornou um garoto de programa da vizinhança, que aceita clientes sem muito critério e se diverte contando suas desventuras eróticas para os amigos Wendy (Michelle Trachtenberg) e Eric (Jeffrey Licon). Enquanto os amigos percebem que a postura de Neil sobre sua vida sexual e a forma com que lida com o próprio corpo está longe de ser a ideal, a mãe dele  (Elizabeth Shue) finge não perceber o submundo em que o filho se meteu. Enquanto isso, Brian (Brady Corbet) acredita que foi abduzido por alienígenas quando era pequeno. Mantendo uma vida assexuada, Brian procura pessoas que acreditam ter passado pela mesma experiência que ele - embora seus pais estranhem um pouco essa história. Araki mistura a crueza da vida de Neil com as fantasias de Brian e parece provocar o espectador perante essas duas formas de enfrentar o mesmo problema. Quando Brian resolve tentar descobrir o que de fato aconteceu consigo mesmo, parte em busca de Neil, mas este já foi parar nas ruas de Nova York. É quando Neil cai na vida na Big Apple que o filme se torna mais sombrio numa jornada ao fundo do poço - onde a violência e o fantasma da AIDS começa a aparecer para um adolescente que vivia num mundinho próprio onde sua autodestuição já estava pré-determinada. Embora parta de uma premissa interessante, o roteiro está longe de ser bem escrito. Tudo é contado a partir de situações que são quase aleatórias na vida dos personagens, mas,  estranhamente tudo parece esquemático e simétrico demais para ter o realismo que o diretor quer alcançar até chegar no final que poderia ser emocionante se não soubessemos desde o início o que une os dois jovens. Com relação ao elenco, tirando Joseph Gordon-Levitt, ninguém mostra-se especialmente bem - falta-lhes intensidade para valorizar a história. Ainda que não seja um filme memorável, há de se elogiar a coragem de Araki abordar um tema tão desagradável. No entanto, não sei se a primeira parte do filme precisava se alongar por tanto tempo sugerindo o que todo mundo já sabe o que acontecerá com os meninos. Pelo menos o filme aborda de forma séria um tema que merece sempre incomodar. 

Mistérios da Carne (Mysterious Skin/EUA-2004) de Gregg Araki com Joseph Gordon-Levitt, Brady Corbet, Elizabeth Shue, Michelle Trachtenberg e Jeffrey Licon. ☻☻

DVD: KABOOM

Dekker e Juno: hormônios e nada mais. 

Kaboom despertou minha curiosidade depois que ouvi alguns elogios e fiquei sabendo que recebeu até um prêmio especial no Festival de Cannes. A direção é assinada por Gregg Araki (que eu já conhecia de outro filme superestimado, Mistérios da Carne/2004) e acabei aceitando o desafio de assistí-lo. O engraçado é que tive a impressão de que a carreira de Araki dá voltas em torno dos mesmos temas. O diretor está na ativa desde 1987 e já recebeu até alguns prêmios por seus trabalhos (a maioria pelo filme de 2004), mas não sei se ele pensa que filmar mal é estilo ou ele é ruim mesmo. Kaboom é uma mistura de temas em subtramas que caminham para o caos absoluto em seus momentos finais. Anuncia-se como uma comédia de ficção científica, mas não consegue achar o tom da narrativa em momento algum, amontoa personagens que veem o sexo como uma forma de passar o tempo e nada mais. Ambientado numa universidade o protagonista é Smith (Thomas Dekker que ficou conhecido ao encarnar John Connor adolescente na série inspirada no filme Exterminador do Futuro), um rapaz gay que tem como melhor amiga uma lésbica pedante chamada Stella (Haley Bennet). O moço nutre uma atração secreta por Thor (Chris Zylka) seu colega de quarto surfista, mas isso não impede que tenha um rolo com a maluquete London (Juno Temple) enquanto a amiga Stella se envolve com Lorelei (Roxane Mesguida) -  garota que acredita ser uma bruxa. Em meio a esses relacionamentos o filme cria alguns mistérios, a maioria deles em torno dos sonhos de Smith que aos poucos começam a ter relação com a vida real e o desaparecimento de uma estudante ruiva (Nicole Laliberte) no campus. Quando homens estranhos usando máscaras de animais começam a aparecer o filme parece que irá enveredar por um suspense eficiente, mas não é isso que acontece. Araki parece mais preocupado em abordar os flertes de Smith com um fortão que conhece na praia (Jason Olive), com o tímido Oliver (Brennan Mejia) e o amigo desmiolado de Thor, Rex (Andy Fischer-Price). Nada contra o interesse do diretor pelos hormônios dos personagens, mas não existe muita graça nos encontros e muito menos algum sentimento na relação que se estabelece entre eles. O resultado é um incômodo artificialismo. Quando tudo mostra-se mais solto e mal amarrado surge a ideia maluca de uma seita que tenta explicar todos os acontecimentos de forma apressada e preguiçosa. Mais confuso do que a trama é a ambientação da história: lançado em 2010, o filme tem uma estética de início da década de 1990! Ou seja, parece vinte anos mais velho do que realmente é - isso sem falar que não parece um filme, mas uma série de TV de vinte anos atrás. Dos recortes às transições de uma cena para outra, tudo parece ultrapassado - incluindo os figurinos multicoloridos que transpiram a ressaca pós década de 1980. No roteiro escrito pelo próprio diretor, nota-se uma enorme dificuldade em manter uma linha narrativa. Sendo assim, não apenas fica difícil para o expectador se envolver com os personagens como não existe uma tensão crescente com o apocalipse anunciado desde o início da sessão. Araki repete aqui alguns de seus cacoetes, como misturar homossexualidade com elementos de ficção científica (abduções inclusive) e resgatar louras esquecidas em Hollywood em papéis maternais pouco relevantes (aqui ele faz isso com Kelly Lynch). Com sua estética trash, o filme beneficia-se de não levar-se a sério, mas termina parecendo inútil demais para ficar na memória.

Kaboom (EUA-2004) de Gregg Araki com Thomas Dekker, Juno Temple, Chris Zylka, Kelly Lynch e Haley Bennet.

quinta-feira, 15 de novembro de 2012

DVD: Jeff e as armações do Destino

Segel e Helms: irmãos problemáticos.

Sei que muita gente torce o nariz para Jason Segel, mas também conheço outras que nutrem uma espécie de fetiche por ele - seja pelo seu estilo gigante abobado (ele tem 1,93m) ou o despudor com que apareceu nu em algumas comédias. Neste aqui, pelo menos, ele aparece vestido o filme inteiro! Jeff e as armações do Destino é sua investida num campo mais dramático e se ele conta com Ed Helms (de Se Beber Não Case/2009) para ajudar nas piadas, ele tem a gabaritada Susan Sarandon no papel de mãe. Segel é Jeff, um sujeito que já passou dos trinta anos, mas que mora no porão da casa de sua mãe fumando maconha numa vida que empacada. No entanto, Jeff acredita na força do destino, sinais e de que nada é por acaso. Tanto que depois de ficar estático por um longo período na casa de sua mãe, ele recebe uma ligação por engano de uma pessoa procurando por um tal Kevin, basta isso para que Jeff considere que em algum lugar existe um Kevin que merece ser encontrado. Em seu trajeto encontrará o irmão Pat (Helm, num tipo superficial patético que chega a incomodar). Difícil dizer quem qual deles esqueceu de crescer. Pat atravessa uma crise no casamento -  que parece ter alcançado o ápice quando gasta as economias destinadas à compra da casa própria na compra um porsche, o que desagrada muito a esposa. Enquanto Jeff busca um sentido para a tal ligação que recebeu, ele acaba ajudando o irmão a perceber os motivos do casamento ir mal das pernas. Paralelo à isso, vemos a mãe da dupla às voltas com um admirador secreto no trabalho. Se Helms parece o mesmo paspalho de sempre, Segel consegue injetar uma ingenuidade que cai muito bem a Jeff, transformando-o em um grandalhão que só de olhar percebemos ter um bom coração. Apesar de meio biruta, ele é capaz de realizar pequenos e grandes gestos para ajudar quem atravessa seu caminho (mesmo que em alguns momentos coloque em risco a sua própria vida). Parece que os irmãos Jay e Mark Duplass (Cyrus/2010) continuam investindo em dramédias eficientes e que, ironicamente, giram em torno de maturidade e relacionamento maternal. Embora o estilo de narrativa adotado por eles possa soar cansativo, no fim das contas eles conseguem surpreender ao abraçar as fantasias de seu protagonista. O desfecho compensa qualquer tropeço ao não desenvolver todas as possibilidades da trama - e não se surpreenda se Segel investir cada vez mais em papéis dramáticos. 

Jeff e as Armações do Destino (Jeff who lives at home/2011) de Jay & Mark Duplass com Jason Segel, Ed Helms, Susan Sarandon, Judy Greer e Raw Dawn Chong. ☻☻☻

DVD: Loucamente Apaixonados

Yelchin e Felicity: amor tentando sobreviver à distância. 

Me apaixonei por Felicity Jones quando vi aquela última bobagem de Julie Taymor, a versão de A Tempestade (2010) de Shakespeare - que só não foi um desastre por conta da performance de alguns atores. Eu não lembrava de ter visto nenhum filme com Felicity (ela lembra um pouco a Mel Lisboa), mas quando a vi interpretando de igual para igual com Helen Mirren ela ganhou meu coração! Pelo visto não foi só o meu, já que ela tem sete filmes para entrar em cartaz até o ano que vem (um deles é a comédia Histeria que acaba de chegar ao Brasil). Sem dúvida, sua carreira ganhou um grande impulso quando se tornou protagonista deste Like Crazy (que no Brasil ganhou esse título que não cai muito bem à trama) - que lhe valeu o prêmio de melhor atriz dramática em Sundance, o National Board of Review e Hollywood Awards de atriz revelação. Além disso, foi até uma das pré-candidatas a uma vaga no Oscar, mas não vingou. Trata-se de uma produção independente muito bem cuidada, um drama romântico sem firulas, mas que sabe exatamente o que fazer para causar identificação no público. Se você gosta do chororô gratuito das obras de Nicholas Sparks é melhor ficar longe deste aqui... mas se você já sentiu o desgaste de um relacionamento ao ponto de que tudo o que resta é a lembrança da intensidade de outrora, a identificação será inevitável. A inglesinha Anna (Felicity) e o americano Jacob (Anton Yelchin) se conhecem na Universidade de Los Angeles, percebem que tem muita coisa em comum e se apaixonam. Pena que o romance engata justamente quando o visto de estudante de Anna está prestes a expirar. Diante do dilema de voltar para a Inglaterra ou aproveitar o verão ao lado do amado, Anna decide violar o período do visto. O problema é quando ela volta para a Inglaterra para visitar os pais e é barrada no aeroporto ao chegar nos EUA. A violação do visto se torna um grande problema na vida do casal. Anna e Jacob vão tentar contornar a distância estabelecida a contragosto seguindo suas vidas (ele começa a deslanchar a carreira em design de móveis e ela começa a progredir ao trabalhar numa revista feminina inglesa), mas sempre com a lembrança do que aquele romance poderia ter sido. O diretor Drake Doremus conduz o romance de ambos sem atropelos, mas conseguindo transmitir claramente cada estágio que o relacionamento do casal atravessa. O período em que fingem não se incomodar com a distância, o ciúme que ganha cada vez mais espaço, as mudanças que as personalidades sofrem com o passar do tempo e a incômoda sensação de que um não pertence à vida do outro quando se encontram. Entre os encontros e desencontros do casal são agregados ao roteiro dois personagens importantes para o desfecho da trama, a doce Samantha (Jennifer Lawrence, ótima como sempre) e o vizinho Simon (Charlie Bewley) que apontam novos caminhos na vida do casal, mas que hesitam em percorrer. Não sei se posso contar mais do que isso e estragar a viagem pelas sensações que os personagens provocam na plateia, portanto é melhor eu parar por aqui. Resta dizer que o filme tem momentos de partir o coração, além de boas atuações amparadas por um roteiro de opções curiosas (não existe cenas de sexo entre Anna e Jacob, o momento em que a pulseira quebra, a cadeira...), a produção ainda se beneficia de uma excelente trilha sonora muito bem utilizada para ampliar o que vemos na tela. Ou seja, o filme alcança um resultado surpreendente para o custo de 250 mil dólares. Com sua melancolia romântica, o filme me lembrou Namorados para Sempre (2010) que assim como este se tornou um exemplo cult do gênero. Eu continuo apaixonado por Felicity Jones...

Loucamente Apaixonados (Like Crazy/EUA-2011) de Drake Doremus com Felicity Jones, Anton Yelchin, Jennifer Lawrence, Charlie Bewley, Alex Kingston e Oliver Muirhead.☻☻☻

terça-feira, 13 de novembro de 2012

APOSTAS PARA O OSCAR 2013 - CAPÍTULO IV

Silver Lining Playbook
David O. Russel gosta de personagens complicados, mesmo quando realizou um filme de luta o resultado foi O Vencedor (2010) que oscarizou Christian Bale como um viciado em crack. Agora é a vez de Bradley Cooper, Jennifer Lawrence e Robert DeNiro encarnarem personagens problemáticos no elogiado Silver Lining Playbook, uma comédia romântica familiar onde encarnam respectivamente um cara bipolar, uma jovem complicada e um pai obsessivo compulsivo. O roteiro afiado aborda temas complicados com bastante bom humor e uma química irresistível entre o casal protagonista. No elenco ainda está Jacki Weaver como a mãe de Cooper. Pelo menos os Globos de Ouro estão garantidos...

Hitchcock
Se restou algum vestígio da nostalgia do Oscar deste ano, a performance de Anthony Hopkins na pele do diretor Albert Hitchcock deve figurar entre os indicados do ano que vem. Ambientado no período em que resolveu filmar Psicose, o roteiro aborda a repercussão da ideia do diretor fazer um filme mais violento que o seu habitual (basta ver o destaque que o trailer dá para a antológica cena do chuveiro) . Quem conferiu o trailer deve ter visto que o filme investe pesado na reconstituição de época e caracterização dos atores - que inclui ainda Helen Mirren na pele da senhora Hitchcock e Scarlett Johansson como Janet Leigh (além de Toni Collette, Dani Huston e Jessica Biel), a direção é do estreante em ficção Sacha Gervasi.

Promise Land
Outro ator que pode ter mais uma indicação ao Oscar no currículo é Matt Damon pelo papel de um representante de uma empresa petrolífera que vai para uma cidade rural com o objetivo de aproveitar a crise econômica no convencimento dos moradores a cederem seus terrenos para perfuração. No entanto, alguns moradores oferecem resistência - liderados por um professor veterano (Hal Holbrook). O roteiro foi escrito por John Krasinski (que também está no elenco) e Damon que desistiu de dirigi-lo e chamou o amigo Gus Van Sant (que valorizou o seu texto de Gênio Indomável/1997). O filme só estreia no final de dezembro, mas todo mundo sabe que a Academia adora Van Sant num filme mais limpinho...

Killing Them Softly
Será que Brad Pitt ganha mais uma indicação ao Oscar no ano que vem? Nos últimos anos o astro tem se esforçado em produções sérias e ambiciosas e se depender dos elogios que essa produção recebeu no Festival de Cannes, ele tem boas chances! No filme considerado o mais violento do Festival, Pitt encarna mais um matador profissional. Dirigido pelo amigo Andrew Dominik (O Assassinato de Jesse James pelo Covarde Robert Ford/2007), Pitt é Jack Cogan, matador contratado para investigar um assalto ocorrido em um cassino clandestino protegido pela máfia. Criado como uma fantasia onde a máfia se tornou uma grande corporação que negocia com a sociedade norte-americana, o filme pode chocar a ala conservadora da Academia. 

The Impossible
Chega de falar de barbados, vamos falar de loiras! Naomi Watts está cotada para uma vaga no páreo de melhor atriz por sua atuação neste drama familiar com toques de cinema catástrofe. Baseado numa história real, o filme aborda a luta de uma família para se encontrar depois do estado de calamidade em que se tornou a Tailândia pós-Tsunami. Assim como Naomi, Ewan McGregor (que interpreta seu esposo no filme) também tem chances de ser finalmente indicado a alguma coisa. A direção é do espanhol Juan Antonio Bayona (O Orfanato/2007) e a julgar pelas lágrimas que o trailer provoca, o filme pode surpreender. 

DVD: O Guarda

Gleeson e seu informante: beirando o surreal. 

De vez em quando uma comédia inglesa independente conquista a crítica internacional e garante alguma projeção pelo mundo. Ano passado a escolhida foi O Guarda do diretor estrante John Michael McDonagh (que também assina o roteiro). O filme consegue ser engraçado em vários momentos, mas está longe de ser a maravilha que todo mundo dizia ser. A graça está em ver a atuação do rechonchudo Brendan Gleeson na pele de um policial politicamente incorreto numa história onde a trama importa menos do que os personagens curiosos (e talvez por isso foi indicado ao BAFTA de roteiro original). O Sargento Gerry Boyle (Gleeson, indicado ao Globo de Ouro de ator de comédia pelo papel) trabalha numa pequena cidade irlandesa sem grandes emoções, quando recebe um novo parceiro(Rory Kennan). Neste dia eles se deparam com um caso de assassinato onde se lê  5¹/² escrito com sangue na parede -  e suspeitam que seja obra de um serial killer (mas as piadinhas envolvendo Fellini e Se7en dispersam qualquer suspense). Nesse mesmo dia eles são convidados por um agente do FBI (Don Cheadle) a participar de uma investigação contra traficantes internacionais, mas Boyle quase coloca tudo a perder ao dizer que imaginava que somente negros eram traficantes [sic]. Para complicar o jovem parceiro de Boyle desaparece e ele tenta ajudar a esposa (Katarina Cas) a encontrá-lo. Dizendo assim parece uma brincadeira com os filmes noir ao embaralhar crimes e suspeitos de uma forma quase aleatória, mas o centro de tudo é mesmo o personagem de Gleeson que nem parece ofensivo pelo jeito bronco bonachão com que diz as maiores sandices para o resto do elenco. É hilariante quando ele diz que não pode ajudar o agente do FBI por que é dia de folga ou quando se encontra com um informante precoce que está sempre passeando com o cachorro. Além de brincar com a personalidade irlandesa, o filme tem o mérito de manter o seu humor que beira o surreal  por toda a sessão (incluindo um fotógrafo amador que sempre aparece nas cenas dos crimes antes mesmo da polícia) e tenta deixar uma interrogação na cabeça do expectador em sua cena final. O fato é que por debaixo das piadinhas grosseiras, o filme é inofensivamente divertido com aquele humor tipicamente britânico, oops, quero dizer, irlandês! Vale ressaltar que John Michael McDonaugh é irmão de Martin McDonaugh (diretor do aclamado Na Mira do Chefe/2008) e compartilha com ele o mesmo senso de humor que lhes rendeu um Oscar pelo curta-metragem Six Shooter/2004

O Guarda (The Guard/Irlanda-2011) de John Michael McDonaugh com Brendan Gleeson, Don Cheadle, Mark Strong, Katarina Cas, Laurence Kinlan e Rory Kennan. ☻☻☻

DVD: O Espetacular Homem Aranha

Parker e Gwen: química na vida real. 
 Eu admito que fui um dos que ficaram desconfiados quando os estúdios resolveram dar um reboot na franquia do herói aracnídeo. Será que era realmente necessário modificar todo o trabalho que Sam Raimi desenvolveu nos três filmes anteriores com Tobey Maguire? Está certo que o terceiro filme dava sinais de que algo estava saindo dos trilhos, mas nada que um quarto filme devidamente organizado não ajeitaria. Vendo O Espetacular Homem Aranha com direção de Marc Webb (500 Dias com Ela) eu finalmente entendi o que tinham em mente. É um filme cujo o roteiro lança uma penca de possibilidades para que a franquia fique com assunto para várias sequências - sem precisar apelar para gracinhas (Peter Parker emo?) ou remendos de última hora (retomar o assassino de titio Parker sem aviso prévio). Como as referências do filme anterior ainda estão muito recentes em nossa memória, os roteiristas resolveram explorar assuntos que eram apenas uma vírgula nos outros. Assim, entra em cena os pais de Peter Parker, o dia em que o rapaz vai morar com os tios (Sally Field e Martin Sheen), sua relação com seu primeiro grande amor (Gwen Stacy vivida com a dedicação habitual de Emma Stone), a relação dos personagens com a Oscorp e outros segredos... muitos segredos. O que considerei mais bacana no filme foi a atuação de Andrew Garfield como Homem Aranha. Eu estranhei que colocaram um jovem ator inglês para viver um americano, mas ele se saiu muito bem. Pra começar, ele é menos nerd e muito mais descolado que a versão de Tobey Maguire, ao mesmo tempo,  me parece menos passivo do que a concepção anterior de Parker (que era muito simpático, mas menos articulado). Webb ainda injeta uma atmosfera mais sombria, até a fotografia é menos luminosa que a de Raimi. A maioria das cenas de ação acontecem à  noite e Garfield parece ampliar os dramas que cercam o personagem (afinal, no filme não aparece o que houve com seus pais depois que deixam o menino na casa dos tios,  existem apenas sugestões de que algo de ruim aconteceu - e tem relação com a Oscorp). Papai Parker trabalhava em parceria com o cientista Curt Connors (Rhys Iphans) que procura desenvolver um medicamento capaz de fazer o homem reconstruir partes do corpo que apresentam problemas. São as experiências realizadas pela empresa que dão a Parker os seus poderes (ainda que involuntariamente) e que darão vida ao seu primeiro grande inimigo, o monstrengo Lagarto. Webb surpreende pela forma como conduz as cenas de ação (algumas com bastante humor, especialmente quando o Aranha procura o assassino de seu tio) e os conflitos do herói com o sogrão policial (Dennis Leary) que não gosta muito de ver sua filha enamorada por um garoto aparentemente problemático. O filme ainda teve a sorte de perceber a boa química que existia entre Garfield e Emma Stone antes deles mesmos notarem e engatarem um dos namoros mais celebrados de Hollywood. A dupla consegue fazer a diferença no filme, sem deixar que em momento algum esqueçamos as intenções dos pergonagens durante as cenas mais mirabolantes. É claro que O Espetacular Homem Aranha tornou-se um sucesso e irá gerar continuações (com a promessa de um Norman Osborne/Duende Verde mais complexo em breve), mas só os deuses do cinema sabem o risco que o filme corria em apostar em reciclar uma franquia que já estava funcionando bem. Colocando a carreira cinematográfica do herói em novos trilhos, o filme consegue entreter a plateia com uma  fluência ainda mais rica que os filmes de Sam Raimi. 

Garfield: novas nuances para o herói aracnídeo. 

O Espetacular Homem Aranha (The Amazing Spider Man/EUA-2012) de Marc Webb com Andrew Garfield, Emma Stone, Rhys Ifans, Sally Field, Martin Sheen, Dennis Leary e Campbell Scott. ☻☻☻☻

sexta-feira, 9 de novembro de 2012

DVD: Coco Chanel & Igor Stravinsky

Madds e Anna: músicas demais e personagens de menos. 

De vez em quando um diretor resolve fazer um filme quase experimental, o resultado geralmente é mais estranho do que propriamente interessante. A coisa fica ainda mais complicada quando esse "experimento" envolve dois personagens reais na cinebiografia de um polêmico romance. Coco Chanel & Igor Stravinsky é quase uma sequência involuntária de outro filme sobre a famosa estilista francesa. Se Coco Antes de Chanel (2009) conseguiu alguma projeção com os romances de Coco (personificada por Audrey Tautou), o mesmo não se pode dizer deste filme. Talvez seja proposital que a história deste aqui comece exatamente onde termina o outro - com a morte do amante de Chanel conhecido como Boy. Neste filme, Coco (a belíssima Anna Mouglays) já se tornava conhecida e gozava de alguma influência na alta sociedade francesa. Em 1913 ela se vestia como uma (elegante) viúva enmquanto assiste a um desastroso balé com música de Igor Stravinsky (Madds Mikelsen), que considera os movimentos dos dançarinos uma ridicularização de sua intensidade musical  (o irônico é que torna-se muito engraçado, mesmo). A plateia fica descontente, Stavisnky  tem vontade de matar quem preparou aquele espetáculo e Coco sente-se atraída pela energia rítmica do compositor russo. Incompreendido por todos, Stravinsky sente-se desolado e Coco resolve apoia-lo numa espécie de retiro em sua mansão - para onde ele vai carregando a esposa e os filhos. Como o título já anuncia, o filme está fadado ao romance - e nas entrelinhas podemos observar o processo de elaboração da fragância Chanel 5 e o processo de criação de Stravinsky. Mas tudo fica pelo meio do caminho. Explorar a relação de duas personalidades tão vigorosas em seus ofícios poderia render um filme interessante, mas não é isso que vemos. O diretor Jan Kounen opta por deixar as personalidades de ambos meio de lado e explorar a relação de ambos através de poucos diálogos e muita música. A ideia até funciona de início, mas vai cansando o espectador conforme se arrasta as duas horas de duração do filme. O bom dinamarquês Madds Mikelsen faz o que pode e consegue criar um tipo interessante para o artista introspectivo - entre a culpa do adultério e o desejo por Coco ele consegue dar alguma vida aos conflitos sugeridos no roteiro. Já Anna Mouglais é um colírio, mas compreende a personagem mais como uma manequim do que como uma personagem. Parece que todo o seu esforço foi para fazer poses para a câmera enquanto destrata os personagens ao seu redor. Diálogos como o momento em que Stravinky diz à amante "você não é uma artista, é apenas uma comerciante" mostram que o filme poderia ter investido mais na tempestuosa relação de ambos diante de um romance tórrido numa casa em que a esposa dele e os filhos estavam no quarto ao lado. Apesar das belas imagens, a trama corre frouxa até o final melancólico. No fim, o filme cumpre menos do que promete. Com figurinos bem cuidados, bela fotografia, trilha sonora caprichada, ousadas cenas de sexo e um bom ator em cena, Jan Kounen desperdiçou a chance de fazer sua obra-prima ao tropeçar na própria pretensão. Só me pergunto, qual o problema de fazer um filme sobre moda tendo Coco Chanel no centro da trama? Parece que existe um pudor inexplicável de abordar a personagem pelo campo que a tornou famosa para desperdiçar tempo com intrigas amorosas. 

Coco Chanel & Igor Stravinsky (França/Japão/Suíça-2009) de Jan Kounen com Madds Mikelsen, Anna Mouglais, Elena Morozova e Anatole Taubman.

quarta-feira, 7 de novembro de 2012

DVD: E aí, Comeu?

Os três amigos: admirável bobagem.

Eu sou um dos que não foi ao cinema ver E aí, Comeu? Como eu poderia dar crédito a um filme que se entitula dessa forma? Enquanto o filme ultrapassava a marca de um milhão de espectadores (o que tem acontecido bastante com as comédias brasileiras de tom mais escrachado) eu ouvia as críticas positivas e negativas (onde eu percebia um surpreendente equilíbrio). Eis que com a chegada do filme nas locadoras eu me deparei com ele e, num acesso de curiosidade mórbida aceitei o desafio auto-imposto de ouvir as baixarias de Bruno Mazzeo & Cia. O mais curioso é que eu não sei se minhas expectativas eram tão baixas ou se as pessoas realmente não gostaram do filme que toparam assistir, o fato é que o filme me fez rir em alguns momentos (me fez sentir constrangido em outros, mas abordo isso depois). Além disso, é bem filmado! Não é todo dia que vemos um filme produzido pela Globo Filmes com atores globais e que não parece programa da Globo. O cineasta Felipe Joffily tem uma preocupação com os enquadramentos e planos que mostram que estamos de fato  diante de uma obra de cinema, além disso investe em cenas delirantes que são menos comuns do que deveria nesse tipo de comédia (ainda que seu cinema ainda seja mais pretensioso do que inovador). Quanto à baixaria, o que poderiamos esperar de um filme protagonizado por três amigos que conversam sobre sexo numa mesa de bar? Apesar do palavrãometro atingir o ápice logo no início, aos poucos o filme encontra sua trama e para de posar de bad movie, explorando alguns aspectos que são vastamente conhecidos do sexo masculino e feminino - chegando a investir em algumas fibras emotivas do trio protagonista. Acho que o maior erro de Joffily é não confiar na história que pretende tocar e mascará-la nos minutos iniciais com alguns dos diálogos mais bobos do cinema. Depois o filme investe em piadinhas que fazem referências variadas à famigerada guerra dos sexos - elas vão desde momentos gastos como o marido que vai comprar sapatos com a esposa e, enquanto ela pede uma opinião sobre os pares, ele se distrai com o futebol até momentos mais elaborados como a discussão sobre ter sexo com uma mulher inteligente (e o efeito delas lerem Freud). Existem piadas sexuais que funcionam mais do que o esperado (como a impagável cena com Ana Paula 'Tarja Preta' e sua transa com medo se ser multada) e outras piadas que parecem estar ali só para preencher o tempo (como os comentários sobre as mulheres totalmente depiladas). Talvez a necessidade de fazer rir tenha feito o roteiro investir em piadas que nem sempre funcionam (aquela descrição sobre sexo oral soa totalmente cretina e desnecessária) para disfarçar os conflitos amorosos dos personagens. Fernando (Mazzeo) é o homem recém divorciado e que flerta com a vizinha de dezessete anos (a magrela Laura Neiva), Honório (Marcos Palmeira) é o homem casado em crise com a esposa (Dira Paes) e com três filhas para criar. Ele prefere encher a cara com os amigos do que sair com a esposa ou até conversar com ela sobre suas suspeitas sobre os passeios noturnos dela. Nessa crise, a atração de Afonsinho (Emílio Orcciolo Netto) por mulheres casadas (ou prostitutas) o deixa ainda mais preocupado com o comportamento da esposa. Para costurar a história está Seu Jorge fazendo o papel de um garçom que parece... o Seu Jorge (?!). Na verdade, o filme é sobre três personagens aprendendo a lidar com seus sentimentos, claro que isso não é dito com essas palavras, mas está no texto o tempo inteiro, desde o momento em que expõem suas máscaras machistas até o momento em que percebem que não vão deixar de ser machos se desejar apenas uma mulher. Ainda que seus relacionamentos sejam desenhados a partir de clichês manjadíssimos (um gosta da ninfeta, o outro quer tirar uma prostituta do ofício e o outro morre de medo de ter um par de chifres), E aí, Comeu? Tenta disfarçar que é uma comédia romântica como todas as outras, mas não consegue. O mais interessante é que sendo voltado para o sexo masculino, o filme apresenta noventa porcento das personagens femininas sendo mais espertas que os homens - enquanto nos filmes do gênero, voltados para a mulherada, elas são sempre mostradas como umas patetas. 

E aí, Comeu? (Brasil/2012) de Fellipe Joffily com Bruno Mazzeo, Marcos Palmeira, Emílio Orcciolo Netto, Dira Paes, Laura Neiva, Taina Müller e Juliana Schalch. ☻☻

sábado, 3 de novembro de 2012

DVD: Contracorrente

Miguel e Santiago:  misturando  Dona Flor  e Brokeback Mountain. 

É uma pena que muitos filmes de nossos vizinhos latino americanos não cheguem aos cinemas daqui, eu por exemplo, nunca havia escutado falar deste Contracorrente do diretor Javier Fuentes-León que ganhou o prêmio do Júri popular em Sundance e o prêmio do Público no Festival de Miami. Esse apelo perante o público é devido à forma como León surpreende o espectador quando ele pensa que estamos diante de uma espécie de Brokeback Mountain (2006) latino, já que Miguel (Cristian Mercado) é o líder de um grupo de pescadores, respeitado e com a esposa grávida (Tatiana Astengo), trata-se de um homem comum admirado pela comunidade, tanto que é o escolhido para oferecer ao mar o corpo de um amigo falecido numa tradição local. As pessoas nem imaginam que Miguel tem um caso com um pintor que se refugia no litoral, Santiago (Manolo Cardona - que chegou a fazer uma participação na novela "Depois Daquele Beijo" aqui no Brasil) aparenta ter um estilo mais sofisticado do que seus vizinhos e o fato de viver isolado do outro lado da praia desperta comentários sobre sua sexualidade. O filme não diz há quanto tempo Santiago e Miguel mantém esse relacionamento secreto, mas não demora muito para que o pescador tenha que tomar uma decisão - e as brigas com o parceiro (já que Miguel nega a própria sexualidade dúbia) torna ainda mais fácil a decisão de ficar com a esposa e o herdeiro que está prestes a nascer. É neste momento que o roteiro dá uma guinada claramente inspirada na trama de Dona Flor e Seus Dois Maridos, já que Santiago morre ao ser levado pela correnteza do mar. No entanto, devido às circunstâncias, torna-se um fantasma local que somente pode ser visto e ouvido por Miguel. Ambos percebem que enquanto seu corpo não for encontrado e devidamente sepultado, ele estará preso na ilha e, enquanto Miguel não encontrar o corpo, os dois continuam juntos, sem que os outros possam assistir e recriminar o relacionamento "proibido". O filme proporciona várias leituras, mas a principal delas é o conforto de Miguel em ter o amante sempre por perto sem ter que expor para às pessoas sua bissexualidade - tanto que ele não considera nenhum absurdo manter um relacionamento com um fantasma. Será que esse conforto não seria apenas uma invenção de sua cabeça? Será que Santiago deixou a ilha e Miguel criou uma espécie de amigo imaginário para si? Essas perguntas são até sugeridas pelo andamento da trama, mas não demora para o espectador perceber do que se trata. As coisas poderiam até continuar escondidas se uma obra do pintor não despertasse comentários na comunidade local e Miguel tivesse que dar um rumo em sua vida secreta. É notável a capacidade de Javier Fuentes-León fugir dos grandes clichês do gênero numa eficiência invejável nos conflitos dos personagens principais e de quem os cerca. Aspectos como escolher dois atores capazes de distanciar Miguel e Santiago dos trejeitos e estereótipos foi um dos seus grandes acertos, além disso ele capricha nos detalhes (como a vela lilás que é presente de Santiago ou a presença das novelas brasileiras - com direitos a elogios para Lauro Corona). Desenvolvido em atos bem articulados, o filme é um grande acerto, ao ponto de até acreditarmos que os preconceitos poderiam ser superados quando percebessem que o que havia era apenas uma história de amor. 

Contracorrente (Contracorriente / Peru-Colômbia-França-Alemanha /2009) de Javier Fuentes-León com Cristian Mercado, Manolo Cardona, Tatiana Astengo e José Chacaltana. ☻☻☻☻ 

sexta-feira, 2 de novembro de 2012

Combo: Filmes Família

Ao final do século XX  os filmes com foco nas famílias passaram por uma recauchutada que seguiru até o início do século XXI. A família no cinema se tornou mais mordaz, cínica e com toques de humor negro - o que serviu para revigorar um gênero que estava gasto e com excesso de açúcar. Por isso lembrei de cinco filmes que representarão para sempre essa repaginada:

5 Heróis Imaginários (2004) O menos aclamado do gênero não merece menos atenção por conta disso. Existem muitos méritos no filme do cineasta Dan Harris, a começar pelas atuações de Jeff Daniels, Sigourney Weaver e Emile Hirsch. Retratar a vida de uma família depois da morte de um filho não é novidade, mas não lembro de nenhuma obra ter uma abordagem com tantos toques de ousadia como esse aqui. Enquanto a filha (Michelle Williams) sai de casa para cursar a faculdade, o caçula (Hirsch) precisa enfrentar os seus conflitos com a figura do irmão falecido - nadador que preparava-se para ir para a olímpiada. Enquanto Daniels interpreta mais um intelectual barbudo pedante, Weaver é a mãe que gosta de dar uma relaxada fumando maconha. Tempere os assuntos citados com  outros segredos e a  falta de comunicação familiar que você terá uma ideia do que verá. 

4 Felicidade (1997) Depois de Bem Vindo à Casa de Bonecas (1995) o cineasta Todd Solondz quis radicalizar ainda mais o seu humor cruel com este Felicidade em que acompanha a história da família Jordan e suas três irmãs que precisam lidar com um pai hipertenso (Ben Gazarra) que faz tudo que o médico manda não fazer (um suicida mesmo).  Helen (Lara Flynn Boyle) é a típica escritora esnobe bem sucedida que tem como admirador um tímido esquisito (Phillip Seymour Hoffman), Trish (Cynthia Stevenson) nem imagina que seu esposo (Dylan Baker) é um pedófilo e Joy (a ótima Jane Adams) está às voltas com um imigrante russo interesseiro (Jared Harris). Solondz atira para todos os lados (sobra até para o tamagotchi do filho de Trish) e, não satisfeito, retomou alguns dos personagens em O Amor Durante a Guerra que teve o roteiro premiado no Festival de Veneza em 2010.  

3 Festa de Família (1998) Até a Dinamarca resolveu colaborar nessa revolução nos filmes família. O primeiro longa realizado dentro dos preceitos do movimento Dogma95 (ou seja, sem luz artificial, trilha sonora somente ambiental e filmado com câmera digital), Tomas Vinterberg realizou seu filme de maior repercussão e polêmica. Apesar do formato, o filme deixou claro que os seguidores do manifesto dogma estavam longe de ser amadores ao fazer cinema. Ambientado num hotel fazenda durante o aniversário de 60 anos do patriarca, a confusão começa quando o filho mais velho faz um brinde e declara ter sido abusado pelo pai durante a infância. A partir daí uma série de conflitos emergem enquanto a festa atravessa a noite. Ganhador do prêmio do Júri em Cannes, Independente Spirit (de filme estrangeiro) e indicado ao Globo de Ouro, é uma daquelas obras que provoca barulho sempre que é visto. 

2 Tempestade de Gelo (1997) Em sua segunda empreitada em Hollywood, o taiwanês Ang Lee mergulhou na ebulição causada pela revolução sexual dos anos 1970 no âmbito familiar. Baseado na obra de Rick Moody, o filme acompanha dois casais (Kevin Kline & Joan Allen / Sigourney Weaver & Jamey Sheridan) e seus respectivos filhos (Christina Ricci & Tobey Maguire / Elijah Wood e Adam Hann-Byrd) num período em que a liberdade sexual começava a ser tão atraente quanto assustadora. Enquanto adultérios e iniciações sexuais ganham mais atenção do que o escândalo Watergate nas casas do subúrbio americano, uma tempestade de gelo se aproxima e promete fazer mais estrago do que a famosa festa da chave (onde uma mulher casada sorteia a chave do marido de outra para passar a noite). As atuações excepcionais e o roteiro premiado em Cannes valem cada minuto da sessão. 

1 Beleza Americana (1999) Ainda acho que a estreia na telona rendeu o melhor filme de Sam Mendes. Ganhador de cinco Oscars (filme, diretor, ator, roteiro original e fotografia), Beleza Americana é de uma exuberância narrativa impressionante. Olhando para além da superfície dos valores consumistas da sociedade americana, o filme acompanha os conflitos de Lester Burnhan (Kevin Spacey) e sua esposa, Carolyn (Annette Bening) que enfrentam uma crise de valores no casamento, Colabora ainda para o estado da família a relação da filha rebelde (Thora Birch) com o filho esquisito (Wes Bentley) do vizinho nazista (Chris Cooper). Virando os personagens do avesso, o filme tornou-se um dos favoritos do Oscar em todos os tempos com sua história que mistura adultério, drogas, virgindade, homossexualismo e um crime que serve apenas para dizer que amanhã pode ser tarde demais para dizer que aquela pessoa é tão especial.

KLÁSSIQO: Gente Como a Gente

Hutton: Oscar aos 20 anos.
Assisti ao oscarizado Gente como a Gente de Robert Redford pela primeira vez nesta semana. Lançado em 1980 o filme é lembrado por dois motivos: o primeiro (mais público e notório) foi derrotar Touro Indomável de Scorsese nas disputas de melhor filme e direção (que foi para Robert Redford) no Oscar. O segundo motivo foi dar o prêmio de coadjuvante para o então novato Timothy Hutton que nunca mais alcançou a intensidade de seu trabalho neste drama familiar - o que o tornou um dos exemplos da maldição do Oscar. Visto hoje o filme pode causar grande estranhamento pelo tom quase arrastado com que a câmera invade o cotidiano da família Jarrett, que tenta juntar os cacos após a morte prematura do primogênito. O pai, Calvin (Donald Sutherland), a mãe, Beth (Mary Tyler Moore) e o filho mais jovem, Conrad (Hutton) são apresentados como uma família comum com seus problemas cotidianos durante quase uma hora de filme. É um risco Redford optar por começar o filme com essa apresentação cautelosa dos personagens, diálogos que não parecem importantes, gestos sutis, olhares e sorrisos tímidos. Nessa parte, a tragédia aparece apenas nos pesadelos de Conrad, pensamos que talvez por ser adolescente ele ainda não conseguiu filtrar a perda do irmão. Mas aos poucos conhecemos um pouco mais a história do rapaz que ficou internado numa clínica psiquiátrica após tentar o suicídio - ao que parece, uma situação que  afetou para sempre seu relacionamento com os pais. Embora tente preencher o tempo praticando natação com os colegas da escola e flertando com uma bela colega (Elizabeth McGovern, uma espécie de Ana Paula Arósio da década de 1980), os pais consideram que é melhor Conrad frequentar um psiquiatra, já que temem que ele tente suicídio novamente. O interessante é que conforme segue o tratamento com o doutor Berger (Judd Hirsch), Conrad instiga seus pais a mexer em feridas que julgavam estar cicatrizadas apenas porque não olhavam mais para ela. Nesse momento, Calvin e Beth percebem como o relacionamento de ambos está fragilizado após a tragédia. Embora o roteiro se concentre mais nos dramas do filho, é notável como Sutherland e Moore intensificam cada cena de seus personagens conforme seus conflitos interiores aumentam. Enquanto Donald Sutherland apresenta uma de suas atuações mais emocionais, Mary Tyler Moore embriaga sua personagem de uma tensão absurda, como se seu corpo houvesse parado de sentir o mundo ao redor - inclusive afeto pelo filho sobrevivente. Seu único gosto parece ser as constantes fugas viagens  que planeja, mesmo que infelizmente tenha que voltar para a casa e se deparar com o que gostaria de esquecer. Seria um mecanismo de defesa? Seria por culpar Conrad  pelo acidente que vitimou o irmão? O roteiro deixa a cargo do espectador a resposta. Robert Redford realiza um filme bastante tradicional que caminha lentamente para um tom cada vez mais claustrofóbico. Em sua estreia na direção, Redford descasca seus personagens de forma crua diante da câmera e nos transmite a sensação de ver a dissolução de uma família de forma tão realista que até esquecemos se tratar de uma obra de ficção. Embora o público impaciente de hoje possa considerar seu ritmo insuportável, vale conferir este filme nem que seja pela atuação pulsante de Timothy Hutton  - que após ser ator mirim na TV, tornou-se aos vinte anos o ator mais jovem a ganhar um o Oscar de ator coadjuvante. 

Moore e Sutherland: descascando as mágoas familiares. 

Gente Como a Gente (Ordinary People/EUA-1980) de Robert Redford com Donald Sutherland, Mary Tyler Moore, Timothy Hutton, Judd Hirsch, Elizabeth McGovern e Basil Hoffman. ☻☻☻

CATÁLOGO: A Família Addams

A Família Addams: a mais cool de todos os tempos.

Lembrei dos filmes da Família Addams por quatro motivos nesta semana: ter me decepcionado com Sombras da Noite de Tim Burton, os debates sobre Halloween no Brasil, dia de finados e ter assistido a um pedaço de Gomez & Cia numa dessas bem vindas reprises da TV por assinatura. Levei um susto quando me toquei que a já clássica primeira aventura do diretor Barry Sonnenfeld pelo universo criado por Charles Adams  já tem mais de duas décadas de lançamento nas telonas (ai meu Chronos!). Pra começar, os filmes de Sonnenfeld teve uma das melhores escolhas de elenco da década de 1990, Raul Julia na pele do galante Gomez está perfeito, assim como Anjelica Huston na pele (pálida) de uma sensual Mortícia Adams (acho que só ela e Michelle Pfeiffer - como Mulher Gato - se tornaram a cara de personagens já consagrados anteriormente), além disso o elenco contava com uma pequena Christina Ricci tornando Vandinha/Wednesday uma das crianças mais cool do cinema e Christopher Lloyd como o sinistramente adorável Fester. Ah, claro, não poderia me esquecer da famigerada mão decepada que tornou-se um dos 'mascotes' mais adorados com o lançamento do filme. Os fãs mais fervorosos da série reclamaram que a história ficou bem mais leve do que a apresentada na série de TV, mas ainda assim o roteiro tem bons momentos de besteirol temperado com muito humor negro. A trama acompanha os Addams às voltas com um golpe de seu advogado desonesto (Dan Hedaya). Ele e a esposa (Elizabeth Wilson) estão em crise financeira e preparam um golpe para roubar o tesouro dos Addams. Faz tempo que Gomez procura seu irmão desaparecido e o advogado percebe que o filho, Gordon (Lloyd), é muito parecido com o desaparecido Fester e pede para que finja ser o membro da família Addams. A farsa armada consegue causar um abalo na família, colocando em risco a integridade financeira e a união entre eles, no entanto, Gordon sente-se tão bem na companhia daquela bizarra família que já considera um verdadeiro membro. Sucesso de bilheteria e indicado ao Oscar de figurino, todo mundo percebe que o estúdio pegou leve na versão para a telona para conquistar a empatia do grupo - mas as tiradas de Wandinha ao lado de seu mano Pugsley (Jimmy Workmen), momentos como Gomez visivelmente excitado com Mortícia numa câmara de tortura e a brincadeira de desenterrar o morto no Halloween ainda provocam risadas, além da participação do sempre curioso primo Itt (que parece mais um gêmeo do Capitão Caverna). O final do filme deixava uma vaga ideia para a continuação, como o público aceitou bem a família ?(fazendo o filme render três vezes o orçamento original só nos EUA) a produção do segundo foi encomendada. Assistindo à Família Adams 2 percebe-se que houve um maior cuidado com a produção, fotografia, direção de arte (indicada ao Oscar) e efeitos especiais, assim como o roteiro. A impressão é que se todo o primeiro filme girava em torno dos conflitos de Gomez e Fester, desta vez, todo mundo tem uma subtrama própria. A chegada do bebê Pubert (meigo, rosado e bigodudo) fortalece ainda mais o laço matrimonial entre Mortícia e Gomez, porém, enche Fester de descontentamento, já que começa a pensar em ter sua própria família. A pretendente é a babá de Pubert, Debbie (Joan Cusack, se divertindo até mais do que devia com o papel de mulher sexy e perigosa). Só que Vandinha e Pugsley são mais espertos do que a babá e percebem que ela é uma charlatã doida para dar o golpe do baú. Nessa confusão, Debbie convence Mortícia e Gomez a mandar os dois para um acampamento de verão - onde acontece algumas das cenas mais engraçadas do filme. O texto é visivelmente mais demonstra a pretensão do filme superar o primeiro, mas se a crítica aprovou o público torceu o nariz. Talvez por investir mais no estranhamento da família, o público não conferiu ao longa uma bilheteria satisfatória para as expectativas do estúdio (nos EUA rendeu menos de 50 milhões). O final meio apressado também não ajuda muito, mas as desventuras no acampamento compensam os tropeços. O espaço garantido para Vandinha na trama é apenas um reflexo do enorme apelo perante o público que a brilhante Christina obteve, pena que Hollywood não dá o devido valor à moça depois que ela cresceu. Com o falecimento de Raul Júlia (em 1994) a franquia acabou órfã quando começavam as especulações sobre um terceiro filme - mas, não se assuste se em breve, Hollywood recauchutar a franquia (embora, dificilmente consega juntar um elenco tão inspirado novamente). 

A Família Addams (The Addams Family/EUA-1991) de Barry Sonnenfeld com Anjelica Huston, Raul Julia, Christina Ricci, Christopher Lloyd e Dan Hedaya. ☻☻☻

A Família Addams 2 (Addams Family Values/EUA-1993) de Barry Sonnenfeld com Anjelica Huston, Raul Julia, Christina Ricci, Christopher Lloyd e Joan Cusack. ☻☻☻