Os Sobreviventes: passando a borracha.
Recentemente engoli meus escrúpulos, preconceitos, mágoas e implicâncias para assistir G.I. Joe Retaliation (2013), tentativa descarada de reformular a aventura dos personagens de brinquedo e desenho animado para o cinema. Há motivos para que todo mundo perceba que trata-se de um pedido de perdão a todo mundo que na década de 1980 até meados da década de 1990 se divertia com os bonecos criados pela Hasbro e comercializados no Brasil pela Estrela. Além de sucesso de vendas, o brinquedo gerou histórias em quadrinhos e um dos desenhos animados mais cultuados da TV. Era realmente frustrante assistir à primeira aventura dos heróis no cinema. Comparado ao filme lançado em 1987 (Comandos em Ação - O Filme) ou com qualquer um dos mais de cem episódios exibidos na televisão, o filme dirigido por Stephen Sommers deixava muito a desejar com seu tom infantilóide. O grupo de ataque treinado para deter o grupo terrorista Cobra aparecia com mais pendores para a comédia sem graça do que para os filmes de ação. Cenas de ação e efeitos especiais não conseguiram disfarçar a falta de assunto na aventura que procurava revelar a origem do conflito entre os Cobras e os Joes. A trama era protagonizada por dois amigos militares Duke (um inexpressivo Channing Tatum) e Wallace Weems (o comediante Marlon Wayans), mais conhecido como Ripcord, que transportam nanomites quando são atacados pela equipe Cobra. Depois do acontecimento, os dois são convidados a ingressar na equipe dos Joes. Além da trama sobre o traficante de armas Destro (Christopher Eccleston), que pretende implantar as nanomites em homens e transformá-los em armas de guerra, o roteiro cria pendengas entre os personagens para criar uma certa... tensão emocional. Uma dela é Duke ser o ex-marido da sedutora terrorista Baronesa (Siena Miller) e o mocinho Snake Eyes (Ray Park) ter contas a ajustar com o terrorista Storm Shadow (Byunh Hun Lee) desde a infância. Essas briguinhas movimentam as entrelinhas em cenas que fazem parecer que o maior trabalho dos Joes e destruir o que estiver por perto enquanto soltam piadinhas lamentáveis. Nem adianta colocar Dennis Quaid (General Hawk) e Brendan Fraser (Sargento Stone) fazendo cara de durões num roteiro frouxo. Com quase duas horas de duração, o filme já torna-se enfadonho em meia hora (nem a beldade Rachel Nichols - que vive a beldade ruiva Scarlet - consegue manter o ânimo da rapaziada). Apesar da bilheteria considerável (mais de 300 milhões, considerado pouco para os inchados 175 milhões de orçamento) o filme desagradou os fãs em todo mundo por alterar a personalidade dos mocinhos... pelo menos os vilões foram fiéis ao original, mas o gosto de fracasso afetou até a participação deles na sequência. Destro ficou de fora da aventura e a Baronesa nem aparece (sem falar que Joseph Gordon Lewitt queria distância de viver o Comandante Cobra novamente). Com a sequência prometida, restava reescrever o roteiro diversas vezes pelo medo de um fiasco eminente. Diante de tantos dilemas, a Paramount optou quase por um reboot da franquia. Apesar de Channing Tatum ter uma pequena participação, o ataque ao QG dos G.I.Joes que vitima quase todos os personagens no início do filme é a prova de que as coisas serão bem diferentes na sequência. Com início mais sombrio e roteiro menos engraçadinho, o filme agradou mais os fãs dos personagens clássicos, mesmo que a trama se pareça mais com uma paródia pobre de Missão: Impossível do que uma aventura dos Comandos em Ação. Para dar um upgrade no roteiro existe a sensação de conspiração do próprio governo americano (personificado por Johnatan Pryce) contra os Joes depois que eles foram contra um acordo internacional para a produção de ogivas nucleares. Diante do massacre sofrido pelo esquadrão, sobrou apenas Snake Eyes do filme anterior; Soma-se a ele Roadblock (Dwayne Johnson), Flint (DJ Cotrona) e Lady Jaye (Adrianne Palicki), além da novata Jinx (Elodie Yung) que o ajudará na captura de Storm Shadow e saber o que se esconde por trás do atentado ao QG. Dirigido por John M. Chu (mais conhecido pelos seus trabalhos documentais com o fedelho Justin Bieber), o filme tem cenas de ação à exaustão e uma certa dificuldade em desenvolver os personagens que tem em mãos. Tudo é muito rápido (assim como a alardeada participação de Bruce Willis como Joseph Gordon, homem que inspirou a criação do G.I.Joe ou apenas uma brincadeira com Joseph Gordon Lewitt e a trama de Looper/2012?), mas os fãs dos filmes de ação nem vão ligar para o aspecto de recorte e colagem de um monte de outros filmes que já viram. Apesar de melhor que o anterior, os G.I.Joes ainda precisam de um filme de respeito no currículo... talvez se chamassem um diretor de verdade as coisas fossem bem diferentes. No entanto, o orçamento menor (130 milhões) e uma arrecadação maior (372 milhões) demonstram que a franquia merece outra chance - e não duvido que o terceiro traga algumas ressurreições.
Os primeiros Joes do cinema: hora de dar tchau
G.I. Joe - A Origem de Cobra (G.I. Joe - The Rise of Cobra/EUA-2009) de Stephen Sommers com Channing Tatum, Marlon Wayans, Dennis Quaid, Rachel Nichols, Sienna Miller, Ray Park, Christopher Eccleston e Joseph Gordon Levitt. #
G.I. Joe - Retaliação (G.I. Joe - Retaliação / EUA-2013) de John M. Chu com Dwayne Johnson, Adrianne Palicki, Ray Park, Bruce Willis, Ray Stevenson, Luke Bracey e Jonathan Pryce. ☻☻
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