Diane e Woody: o início de uma grande parceria.
No Globo de Ouro desse ano, Woody Allen recebeu o prêmio Cecil B. DeMille pelos seus serviços prestados ao cinema. Parece que ninguém estranhou muito quando Diane Keaton foi buscar o prêmio pelo amigo. É público e notório que Diane foi sua maior musa cinematográfica. A atriz que o ajudou a perceber os personagens de uma forma mais complexa, sobretudo os femininos. Afinal, nenhuma das outras atrizes que trabalharam várias vezes com o diretor conseguiram inspirar uma ode tão sincera quanto Annie Hall (nome original de Noivo Neurótico, Noiva Nervosa/1977). Provavelmente se Diane não atravessasse seu caminho, o diretor não faria seu desvio da comédia para obras mais sérias. Os dois contracenaram juntos pela primeira vez em Sonhos de Um Sedutor (1972), filme de Herbert Ross baseado numa peça de Allen, mas não demorou muito para que Allen chamasse Diane para ser dirigida por ele. Em O Dorminhoco, o casal inaugura uma parceria que daria muitos frutos (na verdade foram sete). O Dorminhoco é o quinto longa dirigido por Allen e o humor físico ainda é bastante marcante. Aqui também existe um flerte com o cinema mudo de Buster Keaton, sobretudo nos minutos iniciais quando o personagem adormecido por duzentos anos desperta num futuro distante. Miles Monroe (Allen) foi congelado a pedido da irmã em 1973 por conta de complicações em uma cirurgia. Assim, serviu de cobaia para uma experiência científica inovadora cujo o maior efeito colateral é o personagem ficar totalmente deslocado em um tempo que não é o seu. No ano de 2173, Woody Allen apresenta um futuro onde a tecnologia chegou a um ponto em que passa a beirar o ridículo com seus cães robôs e câmaras osgármicas - que parecem existir somente para que o homem contemple seu poder tecnológico de criação (e que acaba o afastando de um mundo mais orgânico). Visto hoje os efeitos especiais do filme parecem bastante toscos para dar vida aos carros voadores, alimentos gigantes e aparelhos modernos confusos de manusear, no entanto, não deixa de ser interessante que há quase quarenta anos atrás, Woody já percebia que a tecnologia seguiria por um caminho que beira o excêntrico. Além do universo que está ao seu redor, o filme tem uma historinha bem simples que pode ser interpretada como a rejeição desse mundo ao que é antigo, enxergando-o como obsoleto, ainda que seja extremamente válida a reflexão que ele pode proporcionar. Trata-se de um mundo governado por um tal Grande Líder (que lembra bastante o Big Brother do livro 1984 de George Orwell) que mantém a segurança desse universo reprogramando cérebros ao menor sinal de subversão. No entanto, esse líder não tem pendores para ser de esquerda ou direita, seu objetivo e manter-se no poder (um sinal claro de que o entremo ideológico de um lado ou do outro pende para o mesma visão autocrática de governo). No meio das trapalhadas, Miles conhece Luna (Diane Keaton) que se envolve com movimentos de resistência e que serve como uma espécie de guia neste futuro que beira o pastelão. Os intelectuais podem ter várias reflexões a partir das situações do filme (até do bolo gigante, acredite), mas acho que o filme funciona por ser despretensioso e divertido. O Dorminhoco é uma brincadeira sobre o futuro feita com aquelas tiradas que somente Allen poderia conceber, especialmente quando aponta para fetichização da ciência e tecnologia.
O Dorminhoco (Sleeper/EUA-1973) de Woody Allen com Woody Allen, Diane Keaton e John Beck ☻☻☻
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