Allen e Mariel: risos e corações partido.
Recentemente houve outro escândalo sobre Woody Allen e uma filha. Depois de toda confusão na década de 1990 quando Mia Farrow descobriu que Allen mantinha um caso com a filha adotiva Soon Yi, as coisas pioraram quando Dylan (hoje casada e com 28 anos e atendendo pelo nome Malone) escreveu uma carta num blog do New York Times contando como foi molestada pelo diretor, além disso, convocava às pessoas a não assistirem mais os filmes do diretor. As discussões sobre associar artista e obra tomaram conta da mídia e, enquanto Allen se defendia das acusações, recebeu o apoio da ex-babá de Dylan que diz ser impossível o fato denunciado, já que ela estava sempre presente e atenta à Dylan nas visitas de Allen à casa de Mia Farrow (os dois não moravam juntos durante o "casamento" nunca oficializado). Allen também recebeu o apoio do filho adotivo com Mia, Moses. Sempre discreto e avesso à mídia, Moses disse que desde o ocorrido com Soon Yi, Mia tenta implantar memórias de que Allen os molestava quando pequenos. Diante do ocorrido, Dylan e Mia cortaram relações com o moço e o chamaram de traidor. Diante de tanto rebuliço, entendo que muitos comecem a ter preconceito com a obra do diretor (algumas celebridades até o fizeram publicamente após os comentários de Dylan), no entanto, tenho alguma dificuldade em categorizar seus filmes como dignos de censura, mesmo em se tratando de Manhattan, clássico do diretor que mostra seu personagem tendo um relacionamento com uma adolescente de 17 anos. Apesar disso, o filme é facilmente considerado um dos mais queridos do diretor. Desde que foi exibido em festivais, o público o abraçou com muito carinho, especialmente pela forma deslumbrante como apresenta Manhattan lindamente fotografada em preto e branco. Além disso, era o filme o qual todo mundo esperava depois que Allen ganhou o Oscar com Noivo Neurótico, Noiva Nervosa (1977) - ah vai, Interiores (1978) é quase uma digressão. Leve, bem humorado e despretensioso em seu olhar sobre as idas e vindas do amor, Allen encarna Isaac, um homem de 42 anos que ainda tenta lidar com o fato da esposa, Jill (Meryl Streep) tê-lo trocado por outra mulher. Além de ter que encontrar tempo para dar atenção ao filho, ele ainda mantém um relacionamento com uma adolescente que ainda cursa o ensino médio chamada Tracy (uma irresistível Mariel Hemingway) e que pretende estudar arte em Londres. Apesar de todo o carinho de Tracy por ele, parece que Isaac tenta manter uma distância segura de um relacionamento sério, sempre apontando a diferença de idade como algo que depõe contra o namoro. Para completar, Isaac tem um amigo (Michael Murphy) que tem uma amante, Mary (Diane Keaton), que gosta de levantar polêmicas e proclamar que veio da Filadélfia. O roteiro indicado ao Oscar embaralha seus personagens e mostra como, aos poucos, Isaac e Mary demonstram ter mais afinidades do que esperavam, mas será que isso é capaz de mantê-los juntos? Allen cria um dos seus filmes mais gostosos de assistir, com diálogos afiados (seja sobre relacionamentos, cinema ou filosofia), sendo realmente tocante a forma como desenha seus personagens e a forma como se conectam numa locação que nunca foi tão belamente filmada. Assistindo ao filme e a fala final de Tracy ("você precisa acreditar mais nas pessoas"), penso que descartar obras como essa por conta da vida particular de Allen beira o pecado. No entanto, o filme é um dos menos apreciados pelo diretor. Já ouvi Allen dizendo que se pudesse teria filmado tudo novamente, que o filme se tornará muito diferente do que tinha em mente. O mais curioso é que apesar do par central (Allen e Diane) ter a mesma química de sempre, a então novata Mariel Hemingway rouba a cena num misto de inocência e anúncio da bela mulher que sua personagem se tornará.
Manhattan (EUA/1979) de Woody Allen com Woody Allen, Diane Keaton, Mariel Hemingway, Michael Murphy e Meryl Streep. ☻☻☻☻
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