Woody e Matthew: exorcizando fantasmas pessoaisu.
Nem vou gastar o meu latim exaltando a qualidade sempre ressaltada das produções da HBO, o fato é que desde o dia 13 de janeiro a série protagonizada por Woody Harrelson e Matthew McConaughey está em cartaz simultaneamente no Brasil e nos Estados Unidos. Antes de falar da série em si, não resisto em apontar dois fatores que me chamaram atenção logo nos primeiros episódios. Um deles é que a série é escrita por Nic Pizzolatto, responsável pelo texto de dois episódios do seriado The Killing americano. É bom ressaltar que, tanto um seriado quanto o outro, aborda as investigações de uma dupla de agentes sobre um crime que espanta a comunidade local. As semelhanças entre as séries, aparentemente, param por aí. Um segundo fator (e esse me deixou um pouco mais intrigado) é como o primeiro episódio da série apresenta alguns elementos também presentes no controverso seriado Hannibal, que repaginou o personagem clássico de Anthony Hopkins com a cara de Mads Mikkelsen. As semelhanças aparecem no rastro deixado por crimes cruelmente elaborados, especialmente pela presença de chifres de um animal específico. O seriado apresenta os detetives Martin Hart (Woody) e Rust Cohle (Matthew) como uma dupla de opostos que se aproxima e se repele constantemente. Ambientado em dois tempos, já que os durante a narrativa os dois aparecem dezessete anos mais velhos quando o caso é reaberto, no passado Hart sustenta o casamento (com a personagem de Michelle Monaghan) num lar confortável junto às duas filhas, enquanto Rust é o esquisito da dupla. Rust é capaz de passar noites sem dormir, não possui amigos, namorada ou vínculos sociais. De poucas palavras e um passado de camadas obscuras, o personagem é quem parece mais se aproximar da verdade sobre um assassino que vitima mulheres seguindo um padrão bizarro. Sua proximidade das respostas que buscam, parece ter relação com os fantasmas pessoais que reaparecem conforme a investigação avança. Até a metade da primeira temporada (estão programados oito episódios), a série caprichou na trilha sonora country que só ressalta a danação que permeia a história (destaque para a música de abertura do The Hansome Family). Com elementos religiosos/ritualísticos, o diretor Cary Fukunaga capricha no suspense, mas nem sempre acerta quando explora a vida particular de Hart cruzando com as esquisitices de Cohle na sugestão de um possível triângulo amoroso. O melhor da série é comprovar mais uma vez que a química entre sua dupla de atores permanece intacta (os dois foram irmãos em EdTV de ) ao lidar com personagens tão difíceis. Não por acaso o destaque fica para Matthew McConaughey, que já se reestabeleceu como ator de respeito. Indicado ao Oscar de melhor ator desse ano por Clube de Compras Dallas, a série True Detective se beneficiou da aparência doentia do ator para o longa e construiu um Rust Cohle ainda mais instigante. Quem conhece a carreira e McConaughey pode até lembrar (como eu) que as latas de cerveja que bebe sem parar tem o mesmo nome do filme que o revelou para os grandes estúdios ("Lone Star", lançado em 1996 - que foi até indicado ao Oscar de roteiro original e que pouca gente assistiu). Preenchendo aos poucos as lacunas de sua trama, sempre deixando um final misterioso para engatar no capítulo seguinte, o formato enxuto do seriado promete mais algumas temporadas sem atrapalhar a agenda dos atores de Hollywood. Resta apenas o programa mostrar que tem uma identidade mais forte do que a de uma colagem de outros seriados policiais.
True Detective de Cary Fukunaga, com Matthew McConaughey, Woody Harrelson, Michael Potts e Michelle Monaghan. ☻☻☻☻
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