Stiller e seus parceiros de jornada: em busca da identidade perdida?
Hoje David O. Russel pode ser reconhecido como um diretor queridinho de Hollywood. Depois que seus filmes O Vencedor (2010), O Lado Bom da Vida (2012) e Trapaça (2013) caíram na graça do público, da crítica e do Oscar, os tempos em que seus filmes eram lançados com desconfiança parecem ter ficado para trás. Talvez o motivo da desconfiança estivesse em seu filme de estreia, uma comédia de humor negro sobre incesto (A Mão do Desejo/1994 que conta com atuações vigorosamente ambíguas de Jeremy Davies e Alberta Watson), isso sem contar com seu mal fadado filme com Jake Gyllenhaal (Nailed) que está concluído desde 2008 e que ainda não foi lançado (dizem que chegará às telas em 2015 graças à boa fase do diretor). Procurando Encrenca foi o segundo longa metragem do diretor e, visto hoje, podemos identificar algumas marcas bastante características do seu cinema. Estão lá o gosto por traumas e recalques de seus protagonistas, a visão caótica dos laços de família, o embaralhamento esperto da trajetória de personagens e o gosto por colocar vários atores em uma única cena. Mesmo sendo um filme de pequeno orçamento, o longa surpreendeu nas bilheterias americanas com sua mistura de busca de origens e road movie biruta. Ben Stiller ainda não era reconhecido como astro quando encarnou Mel Coplin, um sujeito comum que ainda saboreia o nascimento do primeiro filho ao lado da esposa Nancy (Patricia Arquette). Porém, depois de descobrir que é adotado, Mel encontra sérias dificuldades para escolher o nome do filho que já completa meses de vida. Sentindo a necessidade de descobrir suas verdadeiras origens (para desespero da mãe zelosa vivida com deliciosa desenvoltura por Mary Tyler Moore), Mel parte com a esposa e uma assistente social (Téa Leoni) em busca de seus pais biológicos. Obviamente que haverá várias trapalhadas nessa jornada, especialmente quando existe um flerte entre a assistente e Mel, além do encontro de Nancy com um ex-namorado (Josh Brolin no papel mais simpático de sua carreira) que agora é agente do FBI e parceiro (não apenas no trabalho) de um homem mais velho (Richard Jenkins). Desde o início Russell faz troça dos filmes sobre a busca pelas raízes em busca de soluções para seus problemas pessoais, afinal, quando Mel encontra seus pais biológicos (os impagáveis Alan Alda e Lily Tomlin) ele percebe que tem mais coisas em comum com as neuras de seus pais adotivos - e isso é mais positivo do que ele imagina. Russell aproveita ao máximo os personagens curiosos que tem em mãos, colocando-os em situações inusitadas e aumentando a tensão sexual entre eles de forma quase ingênua, forma que era comum nas comédias da década de 1980. Com a desenvoltura que conta sua história nervosa, Russell já indicava o caminho que sua cinematografia seguiria nos anos seguintes entre o mainstream e o estilo indie de contar histórias.
Procurando Encrenca (Flirting with Disaster/ EUA-1996) de David O. Russell com Ben Stiller, Patricia Arquette, Mary Tyler Moore, Josh Brolin, Téa Leoni, Lily Tomlin, George Segal, Alan Alda e Richard Jenkins. ☻☻☻
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