Magimel e Isabelle: amor é sadomasoquismo.
O austríaco Michael Haneke tem uma verdadeira legião de fãs. É inegável que sua obra tem qualidades capazes de tornar belo as desventuras de seus personagens desagradáveis em jornadas repletas de violência física e psicológica. No entanto, esses mesmos fãs devem concordar que existe uma rigidez tão forte no cinema de Haneke que torna seus filmes bastante semelhantes entre si, o que não chega a ser um defeito, mas que torna seus longas um tanto familiares para quem conhece o seu cinema. Quem conhece a obra de Haneke, sabia desde o início como o oscarizado Amor (2012) acabaria. Dia desses revi A Professora de Piano, que retrata magistralmente bem a rigidez no estilo do cineasta. Com uma atuação inesquecível de Isabelle Hupert na pele da pianista Erika Kohut, o filme pegou de surpresa quem esperava uma história de amor marcada pela delicadeza das melodias que sua personagem tece ao instrumento. Erika é uma pianista de prestígio, que ensina piano para alunos que devem demonstrar total dedicação. Sabe aquela velha história da precisão técnica que todo professor de piano exige? Pois é, Érika eleva isso à enésima potência, ao ponto de elevar a dor de uma aluna aos seus piores pesadelos apenas por considerar que a garota ainda não tem a emoção necessária para a música. Talvez esse gosto sádico por destratar seus aprendizes seja porque Erika tem problemas sérios para lidar, principalmente motivados pela educação castradora que recebeu da mãe (a veterana Annie Girardot) - que ainda controla as roupas, os horários e a carreira da filha, ao ponto de dividirem a mesma cama. Apesar do ambiente sufocante em que vive, Erika tem uma regrada rotina de fugas, não pela música, mas pelas visitas à enferninhos, sex shops e peep shows para satisfazer o que sua casca de perfeição não pode revelar. No entanto, esse pseudo equilíbrio de Erika é abalado quando ela encontra o jovem Walter Klemmer (Benoît Magimel) num sarau e o mesmo revela um desejo por ela que está além da música. Klemmer passa a cortejar Erika, que corresponde suas investidas com desprezo, até o dia em que ela revela que nessa relação ela deverá citar as regras. Quando a professora revela ao admirador suas fantasias mais secretas o efeito é devastador para ambos. Huppert e Magimel apresentam uma química perfeita na tela, não errando nem quando os papéis da relação se invertem num relacionamento que começa a ter traços doentios e, por isso mesmo, foram eleitos os melhores atores na competição do Festival de Cannes na edição de 2001. Haneke ainda decora essa triste história com um visual cru que não poupa o espectador da tristeza de sua personagem em perceber que não sabe lidar com o amor. No entanto, bastava lidar com seus personagens quando o equilíbrio de um universo tão rígido entra em colapso, mas a necessidade de chocar desvia muitas vezes o foco do espectador. Assim, mesmo a cena onde Walter realiza as fantasias de Érika de forma inesperada, o impacto torna-se menor pelos detalhes "ousados" encontrados pelo caminho. Ainda assim, A Professora de Piano estabelece uma dinâmica única entre seus personagens, especialmente nutrida por Isabelle Huppert destruindo o coração da personagem diante da câmera.
A Professora de Piano (La Pianiste/França - Austria - Alemanha/2001) de Michael Haneke com Isabelle Hupert, Benoît Magimel, Annie Girardot, Susanne Lothar e Udo Samel. ☻☻☻☻
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