Rivers: os dias difíceis de uma diva.
Em 2014 o mundo ficou mais triste com a morte de Joan Rivers. Embora estivesse em alta com seu programa de TV (o hilariamente maldoso Fashion Police) e com participações mais que especiais no cinema (a melhor delas em Homem de Ferro 3), Joan já teve o seu período de vacas magras. As diretoras Ricki Stern e Anne Sundberg escolheram justamente esse período para contar a história da atriz nesse documentário que fez sucesso em vários Festivais (incluindo Sundance, de onde saiu com o prêmio de melhor montagem, além de ter concorrido ao prêmio de melhor documentário). Os envolvidos mal sabiam que a atriz estava prestes a dar novo fôlego à carreira depois de participar do programa Celebrity Aptrentice capitaneado pelo milionário Donald Trump. Quando o filme começa, Joan não poupa esforços para manter seu estilo de vida luxuoso, aceitando propostas para shows em qualquer lugar, propagandas de qualquer coisa e capas de qualquer revista (enquanto prepara um espetáculo sobre a sua vida e se prepara para o retorno à TV - que parece nunca chegar). Rivers estava com 75 anos na época da filmagens e não tem pudores em aparecer diante da câmera sem maquiagem ou com os efeitos de aplicações de botox ou cirurgias plásticas (dizem que foram mais de 70!). Rivers não tem pudores de se despir da personagem que criou para si e relembra alguns momentos delicados de sua carreira e vida pessoal. Desde o início quando apareceu na TV ao lado de Johnny Carson no celebrado The Tonight Show em 1965, os americanos se depararam com aquela mulher de humor ácido, voz rouca e forte sotaque novaiorquino. Ainda que o filme aborde um período de maré baixa da artista, fica claro que sempre foi considerada uma rainha da comédia americana, ainda que seu humor peculiar possa ter lhe custado caro (especialmente pela perseguição sofrida pelos críticos que nunca a reconheceram como ela gostaria). Passagens como sua traumática carreira solo na Fox, o suicídio do marido e o relacionamento com a filha Melissa Rivers são abordados sem sentimentalismo, mostrando como Rivers é capaz de rir de si mesma (e não apenas de outras celebridades) e reinventar-se quantas vezes forem necessárias. Para os fãs os momentos onde cria (e arquiva) suas piadas são saborosos! No entanto, o filme de Stern e Sundberg ultrapassa os limites da vida de sua biografada quando amplia seu olhar para o ingrato mundo artístico, onde a velhice é considerada um demérito aos mais experientes, especialmente se for comediante! Piece of Work mostra o vigor de Joan e outros artistas que foram esquecidos pelo mainstream (o momento em que ela encontra a fotógrafa Flo Fox é de arrancar lágrimas da plateia) e a necessidade de reconhecimento. Com cenas de palco, de arquivo e entrevistas, Piece of Work é um retrato riquíssimo de uma mulher que desafiava as convenções conservadoras dos americanos na década de 1960 e que, com o passar do tempo, só tornou seu olhar mais arguto e sua língua feroz. Entre fãs, críticos, seguidores, familiares e entourage, Joan Rivers aparece como uma personagem imortalizadamente irresistível.
Joan Rivers - Piece of Work (EUA-2010) de Ricki Stern e Anne Sundberg com Joan Rivers, Jocelyn Pickett, Kathy Griffin, Melissa Rivers e Bill Sammeth. ☻☻☻☻
Nenhum comentário:
Postar um comentário