Keira e Ruffalo: musical sem frescuras.
Embora John Carney tenha dirigido sete filmes, sua carreira deverá ficar conhecida por sua habilidade de criar musicais isentos dos ranços do gênero. Com o sucesso de Apenas Uma Vez (2006), que levou para a casa o Oscar de melhor canção original, o diretor viveu uma espécie de conto de fadas, onde seu filme modesto (custou cerca de cento e oitenta mil euros) concorreu aos maiores prêmios do cinema. Cinco anos depois (após ter realizado outros dois longas sem grande repercussão), ele voltou aos holofotes com Mesmo se Nada Der Certo, uma comédia dramática, que, em sua essência, traz muitas semelhanças com Apenas Uma Vez. A começar pelo frescor com que conta sua história sobre música, com trilha sonora caprichada, personagens simpáticos e dilemas intimistas que são tratados com um respeito poucas vezes visto nos filmes voltados para o grande público. Keira Knightley vive Greta, uma compositora acostumada a escrever músicas para o namorado, Dave (o cantor Adam Levine, que mostra-se convincente no papel). Os dois vão tentar a sorte em Nova York, mas quando ela chega, Dave começa a... ter outras prioridades. Prestes a voltar para a Inglaterra, Greta conhece o produtor decadente Dan (Mark Ruffalo), que faz tempo que procura algum artista tão inspirador quanto ela. Carney fragmenta esse ponto de partida em três pontos, insere alguns flashbacks até sossegar e contar uma história interessante sobre músicos de verdade, que amam o ofício, curtem criar melodias e que conseguir transmitir emoções em sua arte. O filme conta o relacionamento desses personagens, somando alguns outros (como a filha de Dan, Violet, vivida por Hailee Steinfeld - que finalmente parece ter encontrado o caminho depois de ficar perdida com a indicação ao Oscar de coadjuvante por a versão Coen de Bravura Indômita/2010), sempre utilizando a música como um recurso narrativo eficiente. Das composições de Greta, a forma como selecionam os músicos para participar de seu álbum de estreia (gravado nas ruas de Nova York) o roteiro mistura vários personagens de diferentes idades que demonstram mais do que o interesse por música, mas a disposição de encontrar um caminho quando tudo parece um tanto fora do lugar. Da artista que parece mais insegura do que modesta, do talentoso veterano desacreditado, da adolescente que precisa encontrar sua identidade... todos os personagens ainda estão em busca de provar o que são em sua essência. Com esse material nas mãos, Carney cria alguns momentos antológicos (como a cena onde instrumentos imaginários acompanham Greta tocando, ou quando ela descobre que foi traída através de uma composição do namorado, ou até na cena em que Violet descobre um talento até então subestimado). Mesmo se Nada der Certo conta sua trama com bastante autenticidade e nos faz acreditar que aquela história poderia ter mesmo acontecido. No fim das contas, até o olhar do espectador muda sobre fazer música, quando ouvimos as diferentes versões que "Lost Stars" recebe durante o filme, vemos o quanto a indústria fonográfica pode destruir uma bela canção. Interessante é que Lost Stars foi indicada ao Oscar de canção original e tinha meu voto para render a John Carney mais uma estatueta da categoria em seu currículo.
Mesmo se Nada der Certo (Begin Again/EUA-2013) de John Carney com Keira Knightley, Mark Ruffalo, Adam Levine, Hailee Steinfeld, James Corden e Catherine Keener. ☻☻☻
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