Lou: aprendendo a ser você mesmo.
Existem filmes que eu persigo feito um louco, mas demoro muito tempo para assistir por motivos variados. Um deles foi Impulsividade, o primeiro longa metragem dirigido por Mike Mills (o mesmo diretor que rendeu o Oscar de coadjuvante para Christopher Plummer em Toda Forma de Amor/2011). Lançado em 2005, lembro que alguns críticos não viram nada demais na história de autodescoberta de um adolescente de 17 anos que ainda não superou a mania de chupar o polegar - especialmente porque esse papel rendeu ao jovem Lou Taylor Pucci (na época com vinte anos) o Urso de Prata de Melhor Ator no Festival de Berlim. Porém, acredito que a passagem do tempo só valorizou ainda mais o filme e, com o aumento no uso de ritalina no tratamento de crianças e jovens consideradas hiperativas ou com déficit de atenção, o filme parece fazer ainda mais sentido hoje em dia. Ou seja, de certa forma, a história (adaptada do livro de Walter Kirn), rendeu um longa à frente de seu tempo. Pucci vive Justin Cobb, um adolescente que convive com pais que preferem ser chamados pelo nome ao invés de pai e mãe. Tudo porque Mike (vivido por Vincent D'Onofrio) sente-se velho quando chamado de pai e também não gosta quando escuta Audrey (interpretada por Tilda Swinton) ser chamada de mãe por considerar que ela fica parecendo velha demais para ele. Justin também tem um irmão caçula, Joel (Chase Offerle) que se contenta (ainda) com o universo ao seu redor. Para essa família comum, Mills constrói um lar de silêncios e distâncias, onde os filhos aprendem com os pais a sufocarem suas frustrações na criação de uma imagem que almeja ser de "sucesso". Isso fica evidente quando Justin é considerado pouco esforçado e desinteressado por não querer competir com os seus colegas nas aulas de retórica. Mike parece ver em Justin somente o seu hábito de chupar o dedo, o que o incomoda bastante. Ele, assim como a esposa, não percebe que aquilo revela que aquilo é sinal de algo sobre o filho adolescente cheio de dúvidas e angústias, mas sem um responsável capaz de ensiná-lo a lidar com seus sentimentos. Quem tenta fazer o rapaz pensar na vida é seu dentista (Keanu Reeves), que chama sua atenção por não querer consertar os dentes dele novamente. Justin começa tratado com hipnose e depois com ritalina. Seu comportamento muda, mas os diálogos continuam longe da realidade do lar de Justin, mas ele disfarça isso tornando-se uma celebridade no grupo de debates da escola - pelo menos até ele ficar preocupado com o fato da ritalina ter apenas três moléculas que a diferencia da cocaína e... a personalidade do rapaz muda novamente. Impulsividade é um filme que trata de um dos maiores dilemas da adolescência: a construção de sua própria identidade, mesclando isso à mania moderna de medicalizar a forma como lidamos com nossos sentimentos mais obscuros. Existe aquele momento desconfortável em que o sentimento de solidão nos faz voltar para nós mesmos e temos que decidir os caminhos que vamos seguir. Em alguns momentos, até os adultos do filme apresentam essa dificuldade, onde até um artista cultuado de TV aparece com sua cota de problemas em lidar com a realidade. É dessa tarefa árdua que se alimenta o filme que é conduzido com aquele tom intimista e pessoal que Mills domina tão bem. Nesse aspecto, o filme fica ainda mais interessante com a presença de Lou Taylor Pucci, que constrói seu personagem com aquele delicioso frescor adolescente de quem ainda considera cedo demais para se render a uma derrota.
Impulsividade (Thumbsucker/EUA-2005) de Mike Mills com Lou Taylor Pucci, Tilda Swinton, Vincent D'Onofrio, Keanu Reeves, Benjamin Bratt e Kelli Garner. ☻☻☻☻
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