Justin e Michael: como fazer uma morsa humana...
Sempre acho interessante quando um diretor quer se aventurar por um gênero diferente do que costuma trabalhar, no entanto, me preocupo quando a coisa começa a desandar por pura covardia. A Presa é um filme de terror dirigido por Kevin Smith, que ficou famoso em 1994 quando criou um dos filmes independentes mais bacanas de todos os tempos (O Balconista/1994), desde então ele não conseguiu repetir o belo resultado de seu filme de estreia, ainda que existam obras interessantes (Procura-se Amy/1997 e Dogma/1999), o cinema de Kevin Smith não impressiona ninguém faz tempo. Com A Presa a coisa parecia que seria diferente, já que começa muito bem em seu clima de terror crescente conforme descobrimos o que está para acontecer. A história acompanha um podcaster chamado Wallace Bryton (Justin Long), que trabalha ao lado de um amigo (vivido por um gordinho Haley Joel Osment, mais conhecido como o menino de O Sexto Sentido/1999) num programa dedicado a conhecer pessoas estranhas. Eis que em uma de suas aventuras, Bryton parte rumo ao Canadá e encontra o anúncio de um velho senhor chamado Howard Howe (Michael Parks) que oferece abrigo grátis para quem quiser. Aos poucos, Bryton conhece um pouco da história daquele senhor, que já enfrentou uma guerra, um naufrágio e até conheceu Ernest Hemingway! Enquanto bebê chá, Howe lhe conta mais detalhes de sua vida de aventuras e embora Bryton o considere inofensivo, um olhar aqui e uma frase ali demonstra ao espectador que os parafusos de Howard podem estar um tanto frouxos, principalmente quando atribui sua sobrevivência à uma morsa (animal que considera o ser mais nobre da face da terra). Não demora muito para que Howard se revele um lunático e, enquanto a namorada de Bryton (Genesis Rodriguez) acredita que ele a esta traindo com alguma garota por aí, o rapaz sofre algumas das situações mais estranhas que já se viram na tela de cinema. Howard irá transformá-lo numa morsa! Entre costuras e implantes a absurda transformação revela-se bastante perturbadora, não apenas para o personagem, mas para o espectador. Justamente quando o filme poderia chegar ao seu ápice com a investigação sobre o paradeiro de Bryton e as atrocidades de Howard (amparada pela fenomenal atuação de Michael Parks) com seu hóspede, Kevin Smith joga no lixo tudo o que construiu até ali introduzindo Johnny Depp na pele do detetive Guy Lapointe. A longa cena em que Lapointe conversa com o amigo e a namorada de Bryton tem o efeito de um sonífero quando a tensão deveria chegar justamente no auge da narrativa. Daí em diante a coisa piora até o desfecho onde Smith quer nos fazer acreditar que em poucos dias seu personagem passou a pensar feito uma morsa! Nem vou entrar no detalhe que a criatura é feita de uma fantasia de borracha difícil de digerir ou no questionável uso da canção Tusk (título do filme em inglês) de Fleetwood Mac! O resultado é um filme irregular entre o grotesco e o trash. Curioso é que tudo se baseou num anúncio real onde dois sujeitos ofereciam abrigo e mordomias a quem se vestisse e agisse feito uma morsa... o filme tem inúmeras outras referências para quem acompanha a carreira de podcaster de Kevin Smith, mas para os meros mortais não tem tanta graça.
A Presa (Tusk/EUA-2014) de Kevin Smith com Justin Long, Michael Parks, Haley Joel Osment, Genesis Rodriguez e Ralph Garman. ☻
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