Mads, Alicia e Mikkel: há algo de iluminista na Dinamarca...
É muito difícil encontrar um romance de época que consegue contar História sem parecer uma aula chata e documental de algo que já aconteceu. Por conta desse mérito, o dinamarquês O Amante da Rainha foi um dos filmes mais elogiados de 2012, colhendo indicações ao Oscar e ao Globo de Ouro de Filme estrangeiro. O filme de Nikolaj Arcel (diretor de Os Homens que Não Amavam as Mulheres na versão original de 2009) é um grande acerto. Não apenas pela belíssima reconstituição de época, mas pela maneira sólida como conduz a dinâmica entre seus três personagens importantes para a História da Dinamarca. Alicia Vikander (que em breve estará no aguardado Ex-Machina de Alex Garland) vive Caroline Mathilde, a jovem inglesa que se casa com o Rei da Dinamarca, Christian VII (Mikkel Boe FØlsgaard) no ano de 1767. Animada com seu interesse pelas artes, a admiradora dos pensadores iluministas logo fica desiludida quando descobre a imaturidade do rei, que é desagradável, grosseiro, agressivo e até violento. A presunção do nobre, somada ao constante consumo de álcool e relações com prostitutas, distanciam cada vez mais qualquer interesse de Caroline por ele. Após o nascimento do primeiro filho, o abismo entre ambos cresce ainda mais, já que ela não possui mais a obrigação de gerar herdeiros para o trono. As coisas irão mudar quando o médico alemão Johann Friedrich Struensee (Mads Mikkelsen) passa a ser o médico particular do rei. Struensse também produzia publicações propagando os ideais iluministas e percebe em Caroline uma aliada para mudar a realidade do povo dinamarquês. Sob influência do médico, Christian VII consegue transformações importantes para o país, o que passa a desagradar muitos nobres (que rendiam mais despesas do que crescimento para o país) que passam a especular sobre até que ponto Struensse pode influenciar no governo da Dinamarca - some isso às suspeitas do adúltero caso entre ele e a rainha e você pode imaginar os problemas que vão aparecer. Sem ser panfletário, Arcel cria um romance envolvente, sem perder de vista o contexto político da época e a luta de interesses que estavam em jogo num período fundamental para o pensamento sócio, político e filosófico da humanidade. Além da qualidade com que trata o período histórico retratado, o filme conta com atuações precisas de seus atores (Mikkel foi considerado o melhor ator do Festival de Berlim em 2012) defendendo um roteiro muito bem construído (também premiado em Berlim) que rende vários momentos de emoções variadas na narrativa (ao ponto de alguns pontos parecerem mais cômicos do que deveriam). O Amante da Rainha entretêm e faz pensar numa temática pouco explorada no cinema, tonando-se um forte candidato à clássico do cinema.
O Amante da Rainha (En Kongelig affaere/Dinamarca-Suécia-República Tcheca/2012) de Nikolaj Arcel com Alicia Vikander, Mads Mikkelsen, Mikkel Boe FØlsgaard e David Dencik. ☻☻☻☻
Nenhum comentário:
Postar um comentário