Àlex e Florencia: a passagem do Anjo da Morte pela Argentina.
O médico alemão Josef Mengele tornou-se uma espécie de fantasma do nazismo, um fantasma que assombrou até alguns países da América Latina até 1979, quando faleceu na cidade paulista de Bertioga, no Brasil. Conhecido como "O Anjo da Morte", Mengele ficou conhecido pelas suas experiências em seres humanos em campos de concentração durante a Segunda Guerra Mundial. Célebre durante o Holocausto, Mengele fugiu da Alemanha seguindo por alguns países, encontrando abrigo na Argentina por vários anos com o uso de uma identidade falsa, no entanto, não são poucos os historiadores que afirmam que muitas autoridades sabiam do paradeiro do médico desde o início. O filme de argentina Lucía Puenzo (do celebrado XXY de 2007) revisita a temporada do médico em seu país a partir do seu encontro com uma família comum que o hospeda em sua pousada e serve de cobaia involuntária para pesquisas de Mengele. Ambientado nos arredores de Bariloche, a trama (adaptada do livro Wakolda escrito pela própria cineasta) ficcionaliza o período em que perderam o paradeiro de Mengele na América Latina durante os anos 1960, no entanto a trama serve para explorar um dos personagens mais sombrios da história de forma bastante interessante. Vivido pelo ator alemão Àlex Brendemuhl, Mengele é um homem calado, circunspecto, mas que consegue ganhar a confiança da família, tornando-se bastante próximo, especialmente da menina Lilith (Florencia Bado), que apesar de ter treze anos, possui aparência de nove. A menina ouve provocações na escola e comentários frequentes dos amigos da família sobre sua estatura e o médico tenta convencer os pais da menina a submetê-la a um tratamento hormonal. Embora o patriarca (Diego Peretti) seja desconfiado, a mãe de Lilith (Natalia Oreiro) confia tanto no médico que aceita seus trabalhos até no acompanhamento de sua gravidez de gêmeos. O roteiro enxuto consegue cumprir a difícil tarefa de criar um suspense doméstico com pequenos indícios do passado do estranho médico, um comentário aqui, um registro no caderno ali, a postura dos alunos da escola alemã e até mesmo o financiamento das bonecas criadas pelo pai da família se tornam fortes simbologias sobre o lado sombrio do personagem. O elenco tem bons momentos (mesmo tendo que falar a difícil língua alemã com naturalidade) e o destaque fica com Brendemuhl e Elena Roger (que vive uma fotógrafa fundamental para o desenrolar da trama). Bem conduzido e produzido o filme concorreu em 16 categorias no prêmio da Academia de Artes e Ciências Cinematográficas da Argentina (o Oscar de lá), levando dez para casa (incluindo filme, direção, ator/Àlex Brendemuhl, atriz coadjuvante/Elena Roger) e vale a pena conferir o resultado.
O Médico Alemão (Wakolda/Argentina-2013) de Lucía Puenzo com Àlex Brendemuhl, Florencia Bado, Natalia Oreiro, Diego Peretti e Elena Roger. ☻☻☻☻
Nenhum comentário:
Postar um comentário