quinta-feira, 30 de junho de 2016

N@ CAPA: "The Man Who Fell to Earth"

A capa de junho: homenagem a David Bowie.

Divis Bowie foi um artista que rompeu com a dicotomia entre masculino e feminino, flertando com a androginia e  desafiando paradigmas e estereótipos. Não por acaso foi o escolhido para ser a capa do blog no mês dos namorados onde o blog destacou a diversidade sexual e de gênero. Depois que David Bowie faleceu em 10 de janeiro desse ano, surgiram na rede várias homenagens a um dos artistas mais emblemáticos da música pop. Um dos mais singelos é a capa que mistura o clássico O Pequeno Príncipe de Antoine de Saint-Exupéry com o personagem encarnado por Bowie no álbum Aladdin Sane (1973). Curiosamente, o nome utilizado para a homenagem ao primeiro filme quem que Bowie demonstrou que poderia ser uma ator de respeito: Homem que Caiu na Terra (1976). No filme de Nicolas Roeg ele encarna um alienígena que é enviado à Terra para conseguir água para seu planeta de origem - mas acaba ganhando muito dinheiro com seu conhecimento tecnológico em uma rentável indústria terráquea. Esse foi o primeiro personagem emblemático do astro no cinema, já que os diretores costumavam chamá-lo para papéis icônicos (ele interpretou  um vampiro em Fome de Viver/1983, Poncio Pilatos em A Última Tentação de Cristo/1988, Andy Warhol em Basquiat/1996 e Nicola Tesla em O Grande Truque/2006 entre outros personagens marcantes) e até interpretou o bíblico Lázaro no curta Lazarus que se tornaria o seu vídeo de despedida. 

Ilustração de Jarrett J. Krosoczka

HIGH FI✌E: JUNHO

Cinco filmes assistidos em junho que merecem destaque::

A Grande Beleza (2013) de Paolo Sorrentino ☻☻☻☻☻


Gotas D´água em Pedras Escaldantes (2000) de François Ozon ☻☻☻☻


Mais Forte que Bombas (2015) de Joachim Trier ☻☻☻☻


Transamérica (2005) de Duncan Tucker ☻☻☻☻☻


Zootopia (2016) de Byron Howard, Rich Moore e Jared Bush ☻☻☻☻

PL►Y: Mundo Cão

Lázaro: história de cachorradas.

Marcos Jorge estreou nos filmes de ficção com um dos mais engenhosos longas da nova safra do cinema brasileiro, o aclamado Estômago (2007). Depois lançou outros filmes que chamaram menos atenção, mas que ainda demonstravam um diretor esforçado. Com o recente Mundo Cão, ele voltou a chamar atenção de público e crítica, mas dessa vez construiu um filme de vingança mais convencional. A primeira cena já deixa claro que Nenê (Lázaro Ramos) é um chefe do crime bastante cruel e que utiliza seus cães como arma de tortura para seus desafetos. Quando um grupo de funcionários do centro de zoonoses atende ao chamado de uma escola, para retirar um cachorro que ameaça alunos e funcionários, você já imagina o que pode acontecer. Ambientado num tempo em que não havia proibição ao sacrifício de animais sadios, o destino de Nenê irá cruzar com o de Santana (Babu Santana) de maneira desagradável, motivando um plano para se vingar do homem que capturou seu rotweiller. Os acontecimentos que se seguem mudam completamente a vida de Babu ao e de sua família, formada pela esposa (Adriana Esteves), a filha surda (Thainá Duarte) e o menino (Vini Carvalho). Se o público já percebe que existe uma desproporção entre o que aconteceu com o cão e o que Nenê faz com a família de seu desafeto, a coisa piora quando Santana e Nenê se encontram mais uma vez - gerando consequências ainda mais drásticas. Embora a narrativa seja envolvente em seu tom de suspense, o texto de Marcos Jorge e Lucas Silvestre não traz nada de realmente novo para a história de vingança e se sustenta principalmente nas atuações precisas de Babu e Lázaro. Talvez a tensão do filme fosse ampliada se não existisse alívios cômicos ao longo da história, deixando a trama mais angustiante e perturbadora. No fim das contas o filme ao menos serve para mostrar que a vingança pode ser muito envolvente ao se confundir com senso de justiça, mas a disputa para saber quem consegue ser mais cruel pode trazer surpresas nada agradáveis para ambos os lados. Existem filmes que conseguem trabalhar melhor simbologias com cachorros (especialmente questões sociais e relações de poder), se você se interessar pode procurar o Amores Brutos/2000 (filme de estreia de Alejandro González Iñárritu) e o impressionante White God/2014. 

Mundo Cão (Brasil/2016) de Marcos Jorge com Babu Santana, Lázaro Ramos, Adriana Esteves, Vini Carvalho e Thainá Duarte. ☻☻☻

BREVE: High-Rise

Hiddleston: vazio por dentro. 

Prestes a ser Lançado em DVD e Blu-Ray nos Estados Unido, o longa-metragem High-Rise continua sem data para estrear por aqui. O motivo é que o filme de Ben Wheatley (do arrepiante Kill List/2011 - que você precisa assistir) deve ter assustado os distribuidores com sua história adaptada do (sempre difícil) J.G. Ballard - um desses autores que sempre são considerados complicados de levar para a telona e, sempre quando são, geram obras controversas. Quem viu o que David Cronenberg fez em Crash: Estranhos Prazeres (1996) sabe que o autor é um prato cheio para quem curte provocar a plateia. High-Rise conta uma história futurista, ambientada em um prédio que funciona como uma verdadeira cidade vertical. O arranha-céu do título é para onde se muda o jovem executivo Laing (Tom Hiddleston), que nunca encontra tempo para desencaixotar todas as suas coisas no novo apartamento (numa clara alusão de que ele tem mais coisas do que precisa). Laing lembra um pouco o personagem de outro escritor cult, o Psicopata Americano de Bret Easton Ellis (só que sem a psicopatia) e existe algumas que ressaltam isso para além dos ternos caros. O personagem vive num prédio luxuoso, com vários andares - com piscina, supermercado, academia e tudo mais que os moradores precisam para ter que sair dali somente para trabalhar. Entre os moradores está uma mãe solteira (Sienna Miller) que começa a se envolver com Laing, um documentarista (Luke Evans) que não consegue lidar com o fracasso de sua carreira de ator, sua esposa (Elisabeth Moss) e a penca de filhos, além do próprio idealizador desse ambicioso projeto habitacional (Jeremy Irons) - que mora na cobertura alheio aos problemas, recebendo seus seus amigos milionários. Com o tempo não há mais como disfarçar que existe uma tensão entre os moradores, uma tensão que destrói a cortesia entre os vizinhos diante das quedas de luz, problemas com a coleta de lixo e o fornecimento de água  que ficam constantes. Se na primeira parte a grande preocupação era fazer festas, na segunda instala-se o caos (atenção para o hit S.O.S. do Abba em versão do Portishead). É justamente nessa parte que Wheatley escorrega. Ainda que continue demonstrando estilo na troca da sofisticação pela barbárie, a trama segue rumos um tanto aleatórios quando os personagens deixam as máscaras sociais de lado e regridem aos seus instintos mais primitivos... pena que o que seria uma guinada genial soa apenas repetitiva. No entanto, o filme impressiona por sua concepção cerebral de filme catástrofe embalado num futurismo retrô (bastante coerente com o lançamento do livro em 1975). Não por acaso o filme costuma ser abandonado em sua metade caótica, mas vale a pena embarcar nessa história incômoda até o fim e ver o retrato não de um prédio, mas do nosso próprio planeta e seus habitantes à beira da loucura.  

High-Rise (Inglaterra/2014) de Ben Wheatley com Tom Hiddleston, Sienna Miller, Jeremy Irons,  Luke Evans, Elisabeth Moss e Peter Ferdinando. ☻☻☻

quarta-feira, 29 de junho de 2016

MOMENTO ROB GORDON: O novo Bond, James Bond!

Com a despedida de Daniel Craig do famoso agente 007 as especulações sobre o novo ator a viver James Bond no cinema são cada vez mais frequentes. Destaco aqui meus cinco favoritos entre os cogitados para viver o personagem:

05 Damian Lewis 
Depois de um agente secreto loiro, o passo seguinte seria um ruivo? Pode ser! Pelo menos isso é o que parece quando começaram as especulações de que o inglês Damian Lewis- que ficou famoso como protagonista americano da série Homeland  - começou a ser cotado para o papel. O que pesa contra a escolha é a idade dele (45 anos). 

04 Gillian Anderson
Enquanto especulavam sobre seus atores favoritos para viver Bond, os fãs da agente Dana Scully de Arquivo X garantiram que uma mulher daria conta do recado de viver uma agente 007 - e muita gente gostou da ideia! Não é a primeira vez que mulheres são cogitadas para viver o agente (na década de 1990 a então musa Sharon Stone foi cogitada para viver Bond). Gillian não é a única no páreo: Anjelina Jolie, Viola Davis, Emily Blunt (a única inglesa das estrelas femininas cogitadas), Lupita N'Yongo e até Meryl Streep já foram apontadas como favoritas pelo público. 

03 Tom Hardy
Henry Cavill quase foi decretado James Bond, mas foi considerado jovem demais para o papel e acabou perdendo o posto para Daniel Craig em 2005. Agora com a agenda cheia por viver Superman em vários filmes, Cavill deve ceder espaço para outro ator britânico em ascensão: Tom Hardy. Tom foi indicado ao Oscar de coadjuvante esse ano por O Regresso e chama cada vez mais atenção de público e crítica. O maior problema de Hardy é que ele está cogitado para viver outro personagem milionário: o mutante Wolverine depois que Hugh Jackman abandonar o papel. 

02 Idris Elba 
Eu gostaria de ver o inglês Elba como o agente James Bond. Ótimo ator, ele já provou que dá conta de investigações no premiado seriado Luther - além de ter porte e elegância para vestir ternos variados (e ser convincente em cenas de ação). Com a saída de Daniel Craig, Elba foi o primeiro nome a ganhar força, mas o público mais conservador pode atrapalhar sua escalação (e por conta disso o mais provável é que seja escolhido...)

01 Tom Hiddleston 
Tom Hiddleston é o grande favorito  - e tem tudo ao seu favor! Além de ser querido pelo público feminino e masculino, ele é inglês e terá a agenda disponível quando abandonar o antológico Loki no próximo filme do super-herói Thor. Tom é tão favorito para viver 007 que as bolsas de apostas estão desconsiderando o seu nome (para evitar prejuízos financeiros). Recentemente Tom negou que esteja cotado para o papel... mas ninguém acreditou. 

007 - A ERA DANIEL CRAIG

Cassino Royale: química poderosa entre Eva e Craig. 

Parecia que o público mal tinha se acostumado com Pierce Brosnan na pele do agente 007 e a temporada do ator na série já chegava ao fim. Cogitavam os nomes de vários astros para o papel de James Bond, os mais conservadores decretavam Clive Owen como favorito, mas os produtores indicavam que queriam alguém mais jovem - e os nomes de Henry Cavill, Ewan McGregor e Gerard Butler apareciam nas especulações ao lado de Hugh Jackman (um tanto enfraquecido por sua fama como o mutante Wolverine). Quando noticiaram que o louro Daniel Craig era o escolhido a imprensa ficou pasma. Quem não conhecia o ator - que ganhava prestígio aos poucos com atuações sólidas em filmes modestos como Recomeçar (2003), Nem Tudo é o que Parece (2004) e Confidencial (2006) - estranhou por ele estar fora dos padrões de beleza da franquia. Com seu tipo sisudo germânico, Craig sabia exatamente que sua carreira mudaria ao embarcar na milionária franquia aos 38 anos. Quando Cassino Royale (2006) estreou, o diretor Martin Campbell (que já reformulou a série em 007 contra Goldeneye/1995) demonstrou que James Bond chegava a um novo ponto de partida. Mais sério e menos fantasioso, o filme podava os exageros do personagem ao longo de décadas de sucesso, sua vida sexual era menos explorada, assim como seus apetrechos mirabolantes surgiam mais discretos. Ficou clara a ideia de criar uma nova essência para o personagem. Daniel Craig investiu numa personalidade de Bond em início de carreira, ainda aprendendo a se tornar um agente secreto dentro de uma organização a serviço do governo britânico. Baseado no livro homônimo de Ian Fleming, o filme apresenta Bond evitando um ataque terrorista no aeroporto de Miami e se aproximando de Verper Lynd (Eva Green, que com seus olhos intensos criou a bond girl mais complexa de todos os tempos), Vesper é uma agente do Tesouro inglês que tem a missão de frustrar as ações do terrorista Le Chiffre (o bom Mads Mikkelsen) que pretende conseguir fundos para sua organização nas mesas do cassino do título. Campbell investe numa narrativa mais lenta, com poucas (e elaboradas) cenas de ação, mas investe forte na tensão entre Bond e Vesper - o que transforma o clímax do longa ainda mais intenso.  Com Daniel Craig provando que era o agente mais em forma da história da franquia (e Campbell explora ao máximo sua musculatura) numa atmosfera mais sóbria, o filme se tornou a maior bilheteria de 007.

Quantum of Solace: nome confuso, trama idem. 

Com a nova cronologia estabelecida ancorada num 007 mais vulnerável - especialmente após a decepção provocada por seu relacionamento com Vesper Lynd - o diretor Marc Forster foi uma escolha inusitada para dirigir o novo filme: Quantum of Solace (2008). O cineasta de filmes indicados ao Oscar (fez A Última Ceia/2001 que oscarizou Halle Berry e Em Busca da Terra do Nunca/2004 que indicou Johny Depp) demonstra alguns tropeços na condução do filme, a maior delas é optar por cenas de ação uma atrás da outra, sem que o espectador tenha compreendido de fato o que está acontecendo. A edição de cortes rápidos também não ajuda a notar que o filme parte exatamente de onde terminou o filme anterior: James Bond procurando o dinheiro roubado pela organização de Le Chiffre no filme anterior. Enquanto tenta exorcizar o fantasma de Vesper Lynd de sua vida, Bond não consegue confiar em ninguém ao seu redor e passa a se relacionar com o sexo oposto de forma apenas superficial.  Não por acaso ele se envolve com a agente Strawberry Fields (Gemma Aterton) enquanto se aproxima do escorregadio Dominic Greene (Mathieu Almaric) - sujeito que banca o filantropo quando na verdade possui interesses políticos nada lisonjeiros. No caminho de Bond ainda surge a amante de Dominic, a belíssima Camille Montes (Olga Kurylenko) que também tem uma história a passar a limpo dentro da trama. Camille é um belo ponto de reflexão sobre a fase emocional do agente 007, já que é muito mais agressiva que Vesper Lynd, dona de uma sexualidade notável, mas ainda assim, Bond não se envolve amorosamente com ela. A ideia funciona como um elo forte entre o casal que se une numa missão perigosa. Outra personalidade feminina forte que ganha destaque na trama é M (Judy Dench), com contornos maternais diante do seu agente favorito a personagem recebe mais elementos interessantes na trama. Quantum of Solace foi criticado por não ser tão interessante quanto o anterior, mas foi foi o segundo filme da história de James Bond em arrecadação mundial. O roteiro (escrito pelo mesmo trio Neal Purvis, Robert Wade e Paul Haggis) tem o mérito de deixar os filmes do agente mais amarradinha e criar a base para a intensidade alcançada em 007 - Operação Skyfall (2012) celebrado como o melhor filme da série.

Skyfall: o melhor Bond da história!

O inglês Sam Mendes foi agraciado com a unanimidade da crítica por Skyfall, considerado o melhor filme do personagem. Tudo funciona com perfeição, da cena de abertura (embalada pela canção de Adele ganhadora do Oscar), passando pelo vilão vivido por Javier Bardem (como um espelho distorcido do próprio Bond), a intensificação da personalidade de M (Judy Dench) à frente de uma agência num mundo de inimigos incertos e... o retorno às origens familiares de James Bond. Acostumado a filmes dramáticos, Mendes construiu um filme que ousa ser mais do que apenas um longa de ação - e a própria cena de abertura é uma desconstrução, já que o herói começa baleado por sua bondgirl da vez (Naomie Harris), que depois ainda colocará uma navalha no pescoço dele (quando o público espera que os dois tenham cenas de alcova). O premiado diretor de Beleza Americana (1999) retomou o personagem com 007 contra Spectre (2015) e sabia que tinha um grande desafio em mãos. Não sei quanto a vocês, mas quando ouvi a música de abertura na voz de Sam Smith (que inexplicavelmente ganhou o Oscar por ela) percebi que o filme estaria um nível abaixo do anterior. Spectre tem cenas de ação bem executadas enquanto amarra todos os filmes com Craig na pele do agente a uma mesma organização: Spectre. Enquanto busca informações sobre o misterioso grupo, Bond depara-se com um vilão que conhece há mais tempo do que imagina (vivido por Christoph Waltz). Waltz tem dois Oscars no currículo,  mas não consegue escapar da repetição ao encarnar o sádico ressentido Blofeld. No quesito bondgirl não há o que reclamar, Monica Belluci tem uma ponta charmosa e Léa Seydoux vive Madeleine - a chance de redenção de Bond perante sua vida amorosa (e o desejo de uma aposentadoria). Sem Paul Haggis no roteiro, Spectre parece o filme mais tradicional 007 da fase atual, embora traga Ralph Fiennes na pele de M, ofereça mais destaque à genialidade de Q (Ben Whishaw) e resgate Moneypenny (Naomie Harris), o grupo deixa o filme com cara de equipe de Missão Impossível. Embora Daniel Craig seja o sexto ator a viver o agente 007, seu jeito truculento (vestido com ternos impecáveis feitos sob medida) já deixou sua marca num dos personagens mais rentáveis do cinema. Atravessando uma década na pele do agente, dizem que o estúdio ofereceu cem milhões de dólares para Daniel Craig voltar à série, mas alegando que Bond é um misógino que não acrescenta nada em sua vida (além do ator já ter 48 anos e problemas no joelho), Craig se despediu de forma bastante digna do papel. 

007 - Cassino Royale (Casino Royale / Estados Unidos - Reino Unido - Alemanha / 2006) de Martin Campbell com Daniel Craig, Eva Green, Mads Mikkelsen, Judi Dench, Giancarlo Gianini e Jeffrey Wright. ☻☻

007 - Quantum of Solace (Quantum of Solace/ Estados Unidos - Reino Unido / 2008) de Marc Foster com Daniel Craig, Mathieu Almaric, Olga Kurylenko, Judi Dench, Giancarlo Gianini, Jeffrey Wright e Gemma Aterton. ☻☻

007 - Operação Skyfall (Skyfall / Estados Unidos - Reino Unido / 2012) de Sam Mendes com Daniel Craig, Javier Bardem, Judi Dench, Ben Whishaw, Ralph Fiennes, Naomie Harris e Albert Finney. ☻☻☻☻

007 Contra Spectre (Spectre / Estados Unidos - Reino Unido / 2015) de Sam Mendes com Daniel Craig, Christoph Waltz, Ralph Fiennes, Léa Seydoux, Naomie Harris, Ben Whishaw e Dave Bautista. ☻☻☻ 

terça-feira, 28 de junho de 2016

PL►Y: Pássaro Branco na Nevasca

Shiloh e Shailene: mistério em família nos anos 1980. 

Reconhecida pelo sucesso da adaptação de A Culpa é das Estrelas (2014) e da série Divergente (2014), Shailene Woodley já provou que além de boa atriz é capaz de garantir a bilheteria a todo tipo de filme. Indicada ao Globo de Ouro por encarnar a filha de George Clooney em Descendentes (2011), Shailene passou um bom tempo recebendo destaque em produções independentes como O Maravilhoso Agora (2013) e este Pássaro Branco na Nevasca dirigido por Gregg Araki. Baseado no livro de Laura Kasischke, o filme conta a história do crescimento de uma adolescente a partir do desaparecimento de sua própria mãe. Inicialmente ambientado no ano de 1988, Kat Connors  (Woodley) tenta entender o desaparecimento de sua mãe (vivida por Eva Green) num dia que parecia tão comum quanto tantos outros. Em conversas com os amigos (Gabourey Sidibe e Mark Indelicato) e a psicóloga (Angela Bassett), a jovem tenta entender o que poderia ter motivado o desaparecimento da matriarca, que, cada vez mais, disfarçava a insatisfação com a comodidade do casamento. O pai de Kat, Sr. Connors (Christopher Meloni) parecia se esforçar, mas nunca agradava a esposa, que percebia nele um reflexo do fracasso de sua própria vida. Com a tensão instalada entre o casal, Kat se envolve com um novo vizinho, Phil (Shiloh Fernandez) que desde o início parece um tanto deslocado na escola. Com o desaparecimento da mãe, o relacionamento de Kat com o rapaz também mostra-se cada vez mais distante, fazendo com que a protagonista pense em suas próprias prioridades para o futuro - especialmente quando aparece em cena um homem mais velho e mais interessante na vida da moça. Pontuado de observações de Kat sobre a seus pais, Pássaro Branco na Nevasca distancia-se do suspense policial e se aproxima do drama adolescente sobre a construção da identidade naquele período em que nos distanciamos dos cuidados familiares e buscamos nossas próprias referências. Os pais que antes eram próximos e perfeitos, se transformam em seres humanos, donos de virtudes e falhas como qualquer mortal - e são nessas falhas que a plateia e a protagonista buscam explicação para o inexplicável diante de uma verdade que talvez estivesse sempre presente, mas seria incômoda demais para ser aceita. Greg Araki se diverte bastante ao recriar o colorido e a sonoridade da década de 1980 (embora Kat prefira o som de bandas mais sombrias como Joy Division), assim como a transição um tanto desencantada para a década seguinte. Woodley acerta no tom de sua personagem, a transformando numa adolescente americana bastante coerente com a personalidade massacrada do pai e os exageros da mãe (acentuadas pelas boas atuações de Meloni e Eva Green), e chega a surpreender nas cenas mais sensuais da personagem. Quem conhece a carreira do diretor Gregg Araki já imagina como a história termina - mas o título já valeria a visita em sua alusão de camuflagem, ilusão e vulnerabilidade dos personagens que explora aqui. 

Pássaro Branco na Neve (White Bird in a Blizzard / França - EUA / 2014) de Greg Araki com Shailene Woodley, Eva Green, Christopher Meloni, Gabourey Sidibe e Shiloh Fernandez). ☻☻

quinta-feira, 23 de junho de 2016

Na Tela: Rock em Cabul

Murray e os afegãos: humor pela metade. 

Barry Levinson começou a carreira como ator no início da década de 1970 e na década seguinte tornou-se cineasta. Durante os anos 1980 dirigiu filmes de gêneros diversos, chamando a atenção de público e crítica, seu auge aconteceu em 1989 quando recebeu o Oscar de Melhor Diretor por Rain Man, que ainda levou o Oscar de melhor filme, ator (Dustin Hoffman) e roteiro original. Ao longo da carreira, Levinson acumulou seis indicações ao prêmio da Academia (a última delas em 1995 por Bugsy) e desde então... sua carreira perdeu parte do encanto. No entanto, isso não impede que de vez em quando os holofotes voltem sobre alguns de seus filmes. Embora esteja longe de sua melhor forma, Rock em Cabul trouxe Levinson de volta à mídia por colocar Bill Murray levando música pop ao Afeganistão. Murray interpreta (do jeito de sempre) o empresário Richie Lanz, um sujeito que relembra seus dias de glória no mundo da música (e o roteiro é cheio de piadinhas com o mundo pop) enquanto explora talentos desconhecidos. Enquanto nutre sua conta bancária ao iludir aspirantes à estrelas da música, ele carrega sua assistente Ronnie (Zooey Deschannel) em espeluncas para cantar sucessos de cantoras esquecidas como Meredith Brooks (daquele hit "Bitch" de 1997... não lembra? Nem precisa!). Eis que ele recebe a ideia brilhante de fazer shows para as tropas americanas no Afeganistão e lá vai ele com Ronnie contrariada para Cabul. Logo após a chegada na cidade, uma série de acontecimentos irão mudar seus planos e ele irá se meter em uma polêmica num programa de TV por desafiar aspectos da cultura local. Embora promova o encontro de Lanz com alguns personagens curiosos interpretados por gente famosa (destaque para a prostituta vivida por Kate Hudson e o mercenário interpretado por Bruce Willis) e outros nem tanto (como o simpático motorista ou a cantora encontrada dentro de uma caverna), o filme padece de um ritmo bastante irregular, especialmente em sua segunda parte onde ninguém sabe muito bem o que fazer. Embora o elenco se esforce, o filme perde sua graça aos poucos, seja pelas ações do protagonista ou pela imagem de um Afeganistão cheio de conflitos abordados com grande superficialidade. O resultado pode até parecer simpático, mas deixa um sabor de decepção quando pensamos em todas as possibilidades que o roteiro desperdiça. O roteiro de Mitch Glazer (que já escreveu para Murray no sucesso Os Fantasmas Contra-Atacam/1988 e no especial A Very Murray Christmas/2015 do Netflix) pode até ser repleto de boas intenções, mas erra ao criar uma história que por pouco não fica perdida pelo meio do caminho. Curiosidade: o filme carrega o nome original de uma famosa música do The Clash que também foi título de um filme israelense de Yariv Horowitz exibido no Festival de Berlim em 2013!

Rock em Cabul (Rock the Casbah / EUA-2015) de Barry Levinson com Bill Murray, Bruce Willis, Kate Hudson, Zooey Deschannel, Leem Lubany, Arian Moyaed, Scott Caan e Danny McBride. ☻☻

domingo, 19 de junho de 2016

COMBO: Anton Yelchin (in memorian)

Mortes de jovens talentos costumam me afetar ainda mais, principalmente se estamos falando de um ator que vimos crescer diante das câmeras. Anton Yelchin tinha tudo para ser um dos grande nomes da atual geração de Hollywood e este combo é dedicado a algumas de suas atuações memoráveis na história do cinema:

05 Star Trek (2009)
Na pele do piloto estelar Pavel Chekov, Anton recebeu o seu papel mais conhecido perante o público. Nascido em 2241, Pavel revelou-se uma criança prodígio na Rússia e conseguiu espaço entre a elite da tripulação da USS Enterprise. O filme só aparece em quinto lugar porque a participação de Anton nas tramas costuma ser pequena - ainda que receba destaque pelo seu tom voluntarioso e bem humorado ao lado do Capitão Kirk e Spock. Os fãs de Chekov e Anton poderão reencontrá-los em Star-Trek: Sem Fronteiras (estreia prevista para o dia 21 de julho aqui no Brasil), um dos cinco filmes em que o ator trabalhou recentemente.  

O controverso filme de Jodie Foster ficou famoso pela atuação de Mel Gibson (falando através do fantoche de um castor preso à sua mão), mas há de se reconhecer que o filme conta com um elenco de apoio de respeito! Além da participação da própria Jodie como a esposa de Gibson, ainda tem Anton Yelchin como o filho adolescente que encontra sérios problemas de relacionamento com o pai. Yelchin garante o interesse na trama paralela do roteiro e tem até um romance com Jennifer Lawrence! Embora não tenha encontrado sucesso, o filme merece atenção. 

Poucos atores teriam a coragem de embarcar na refilmagem de um clássico do terror dos anos 1980! Um número ainda menor teria dado conta de atuar e sair ileso das críticas que o filme recebeu! Se o remake de A Hora do Espanto de 1985 não cumpre tudo o que promete, a culpa está longe de ser do protagonista vivido por Anton Yelchin - que o interpreta com uma desenvoltura impressionante entre o assustado e o cômico! Afinal, não deve ser fácil viver o rapaz que descobre que seu novo vizinho é um vampiro - e anda fazendo um verdadeiro banquete com o sangue dos seus amigos!

Um dos filmes românticos mais interessantes e realistas dos últimos anos foi premiado em Sundance  com a história do estudante americano Jacob (Anton Yelchin) e a inglesa Anna (Felicity Jones) que se conhecem na Universidade de Los Angeles e se apaixonam, mas a realidade (ou melhor, o visto estudantil dela) irá separá-los e o tempo irá testar se o sentimento que um sente pelo outro é mais forte que a distância. O diretor Drake Doremus evita firulas e apresenta uma história de amor com pessoas de carne e osso, com destaque para a química irresistível entre  Anton e Felicity - sintonia que se mantem até quando estão separados. 

Um fofo talento mirim dividiu a cena com Anthony Hopkins de igual para igual nesse simpático drama de época inspirado numa das histórias mais emocionais de Stephen King. O filme trata das memórias de Bobby Garfield (Anton Yelchin, com onze anos) sobre o verão em que conviveu com o misterioso Sr. Ted (Hopkins), os dois se tormam amigos enquanto alguns elementos fantásticos começam a acontecer. O diretor australiano Scott Hicks realiza um irmão direto do antológico Conta Comigo (1986) e conta com uma memorável do prodígio Anton como um pequeno grande homem prestes a crescer. 

4EVER: Anton Yelchin

11 de março de 1989 ✫ 19 de junho de 2016

Ainda que tenha ficado conhecido como ator de filmes americanos, Anton Viktorovich Yelchin nasceu em Leningrado na finada União Soviética em 1989. Anton mudou-se com os pais para os EUA quando tinha apenas seis anos de idade. A carreira de ator começou cedo, aos dez anos ele atuou pela primeira vez na TV em uma participação na cultuada série Plantão Médico. No ano seguinte ele ganhou papel de destaque no drama Lembranças de Um Verão/2001  baseado na obra de Stephen King. Pelo papel o jovem ator concorreu a vários prêmios de ator revelação e, desde então, manteve uma carreira produtiva. Em seu currículo filmes independentes convivem com superproduções como a nova versão de Star Trek, em que vive o russo Chekov. Anton faleceu prematuramente aos 27 anos, num acidente de carro ocorrido dentro de sua própria casa em Los Angeles. 

sexta-feira, 17 de junho de 2016

Na Tela: Demon

Itay Tiran: atuação surpreendente. 

Piotr (o israelente Itay Tiran, em magnífica atuação) foi criado na Inglaterra e se prepara para o casamento com Zaneta (Agnieszka Zulewska), na Polônia. Os dois decidiram morar em uma casa de campo afastada da cidade - onde também irão realizar a festa de casamento. Embora os pais da noiva não entendam muito bem os motivos da filha ter optado por casar com um estrangeiro (que mal sabe falar polonês), eles toleram o noivo na medida do possível - mas nem sempre conseguem conter as inevitáveis piadinhas. Enquanto limpa o terreno para a festa, Piotr encontra uma ossada enterrada no quintal.  Visivelmente afetado pelo que encontra, ele começa a se comportar de forma inesperada. Além de sempre pensar e falar sobre a ossada, o noivo ficará profundamente perturbado, comprometendo a cerimonia de casamento, a festa que se seguirá e a própria vida. O cineasta Marcin Wrona cria então um filme incômodo que conjuga a festa incessante, regada à música e álcool e um personagem visivelmente assombrado - que tem visões, convulsões e fala uma língua estranha para os convidado enquanto a maioria dos convidados consideram que o noivo apenas bebeu mais do que devia. Os parentes da noiva temem um escândalo e recolhem o noivo gerando consequências ainda mais estranhas para a situação. Longe de ser um terror convencional, Demon é apresentado como uma alegoria sobre a forma como os poloneses lidam com os judeus mortos durante a Segunda Guerra - corpos escondidos pela história numa cova rasa e que a Polônia prefere manter esquecida. Não é por acaso que enquanto a família quer esconder o que acontece com o noivo, a noiva permanece apaixonada e obstinada em encontrar a ossada mencionada pelo noivo. O diretor polonês Marcin Wrona nasceu em 1973 na cidade de Tarnow, onde metade da população era judia antes da Segunda Guerra Mundial e ser exterminada em campos de concentração. Durante sua infância foi atormentado por um pai abusivo que ganhava a vida como exorcista e utilizou o cinema para enfrentar alguns de seus fantasmas. Considerado um cineasta promissor, seus filmes costumam misturar temas como identidade e paternidade, Demon é seu terceiro filme e entrou para o para o grupo de filmes malditos do cinema - afinal, o diretor foi encontrado morto ao suicidar-se após o lançamento do filme no Festival de Gdynia, na Polônia. Em entrevistas Wrona sempre deixou claro o quanto foi difícil criar um filme que flerta com o terror ao mesmo tempo que mexe em algumas feridas do passado da História de seu país. A imprensa polonesa considera que a morte de Marcin não aconteceu por nenhum motivo sobrenatural, mas por uma mistura excessiva de álcool, depressão, estresse e doses de decepção pelo filme passar por vários festivais sem receber prêmio algum. Seja como for, Demon impressiona ainda mais por revelar a alma atormentada de seu criador. 

Demon (Polônia/Israel - 2015) de Marcin Wrona com Itay Tiran, Agnieszka Zulewska e Andrzej Grabowski. ☻☻☻

quarta-feira, 15 de junho de 2016

FILMED+: Mais Forte que Bombas

Jesse e Devin: nada é o que parece ser. 

Para além de todos os predicados que o terceiro filme do dinamarquês Joachim Trier possa ter, trata-se do primeiro filme de uma promissora carreira internacional. Contando com atores conhecidos, Mais Forte que Bombas (o nome original: Louder Than Bombs é o mesmo título de uma coletânea lançada em 1987 da banda The Smiths, mas não consegui perceber elos de ligação) é o tipo de filme que você assiste e ecoa em sua cabeça por vários dias. A história parte de uma premissa simples: uma família que ainda tenta superar a morte da matriarca. Isabelle (a sempre econômica Isabelle Hupert) era uma renomada fotógrafa que esteve presente em vários locais conflito. Após ver e registrar o que a humanidade pode provocar de mais perigoso ela se aposentou e faleceu num acidente próximo de carro quando ia para a casa. O tempo passou, seu filho mais velho, Jonah (Jesse Eisenberg) casou e acaba de ter o primeiro filho e o filho mais novo, Conrad (o promissor Devin Druid) mostra-se cada vez mais introspectivo - comprometendo seu relacionamento com o pai (Gabriel Byrne). Se todos aparentam já saber lidar com a morte de Isabelle, a organiação de uma mostra sobre o trabalho da fotógrafa obriga a família a revirar lembranças e sentimentos. Deste ponto de partida, Trier apresenta seus personagens para aos poucos desconstruir qualquer impressão que possamos ter no primeiro instante que os conhecemos. Assim, se o pai é sempre atencioso, aos poucos percebemos o quanto ele pode ser sufocante junto ao filho caçula, que por sua vez pode parecer estanho no início, mas que aos poucos revela uma identidade bem mais interessante do que julgávamos. Por outro lado, se Jonah era quem parecia ter lidado melhor com a perda da mãe, aos poucos, suas mentiras evidenciam que alguns problemas precisam ser encarados em seu processo de amadurecimento. Não satisfeito em descascar seus personagens diante da câmera, o cineasta utiliza vários artifícios para mostrar ao espectador que tudo o que possuem diante de si é um conjunto de impressões que parece revelar uma coisa, quando na verdade, evidencia outra. Ele utiliza esse recurso várias vezes, apresentando determinada cena sobre a ótica de um personagem para depois reapresentar sob o olhar de outro, ora cria versões sobre o acidente para depois uma incômoda suspeita pairar sobre Jonah e o pai. Mais Forte que Bombas explora os laços familiares diante de uma tragédia familiar e compõe uma espécie de filme de fantasma que funciona pela criatividade narrativa de seu diretor em contrapor as visões que temos da realidade e dos outros. Indicado à Palma de Ouro em Cannes no ano passado, o filme teve que se contentar apenas com elogios - além de uma longa espera para estrear nos cinemas americanos... sorte que já estreou por aqui!  

Mais Forte que Bombas (Louder Than Bombs / Noruega, França, Dinamarca, EUA / 2015) de Joachim Trier com Jesse Eisenberg, Gabriel Byrne, Devin Druid, Isabelle Huppert, Amy Ryan, Ruby Jerins e David Strathairn. ☻☻

terça-feira, 14 de junho de 2016

PL►Y: O Diário de uma Adolescente

Kristen, Bel e Alexander: entre amores e horrores. 

Ganhador de vários prêmios no circuito de filmes independentes (incluindo o Gotham Awards de Melhor atriz para Bel Powley e o Independent Spirit de Melhor Filme de Estreia), Diário de uma Adolescente é um filme que começa simpático em sua evocação setentista psicodélica, mas pode se tornar bastante assustador se você não estiver ciente do que irá ver. Dirigido com firmeza pela estreante Marielle Heller, a partir da graphic novel de Phoebe Gloeckner, o filme conta a história da adolescente Minnie (Bel Powley) que vive na cidade de São Francisco na década de 1970 sob o mesmo teto que a mãe Charlotte (Kristen Wiig) e o padrasto Monroe (Alexander Skarsgard). Com os hormônios em ebulição, nada consegue disfarçar que o início da vida sexual de Minnie está prestes a começar - e para ser mais complicado, será com a ajuda do padrasto mesmo. Será o primeiro passo de Minnie para uma vida de aventuras sexuais, que terão momentos prazerosos e outros bastante assustadores que compõem uma espécie de montanha russa construída pela diretora e o elenco com sinceridade impressionante. Enquanto Minnie e Monroe se envolvem cada vez mais, cresce uma espécie de abismo entre mãe e filha que se torna ainda intenso conforme a verdade promete aparecer. Se Wiig constrói uma mãe sempre distante, Alexander cria um Monroe tão charmoso que você é até capaz de simpatizar com ele (ainda que ele seja extremamente perdido em sua trajetória amorosa), mas o destaque fica mesmo com a novata Bel Powley. Bel, com seus olhos enormes, preenche de vida os mais difíceis momentos de Minnie, sem autopiedade ou melodramas, sem dúvida uma atuação que não cede a moralismos. Com a atriz certa diante da câmera, Heller ousa contar um filme sobre as descobertas sexuais de uma garota como se fosse narrado por uma adolescente de verdade, utilizando um incômodo tom de brincadeira que se revela até nos momentos mais desconfortáveis para a plateia. Entre a curiosidade e a inconsequência, a busca por autoafirmação e o amor próprio, o período turbulento da sexualidade na adolescência é apresentado em seus amores e horrores de forma intensa, mas sem cair no exagero, algo que poucas vezes o cinema americano conseguiu fazer.

O Diário de Uma Adolescente (Diary of a Teenage Girl / EUA - 2015) de Marielle Heller com Bel Powley, Kristen Wiig, Alexander Skarsgard e Christopher Meloni. ☻☻☻

PL►Y: Voando Alto

Taron e Jackman: história de superação sem pieguices.

As Olimpíadas de inverno de 1988 de Calgary no Canadá devem ter entrado para a história como a mais popular de todas, afinal, chamou atenção pelo time jamaicano de bobsledder (que rendeu o filme Jamaica Abaixo de Zero em1993) e viu nascer um ícone dos esportes gélidos: Eddie The Eagle (traduzindo: Eddie A Águia). A popularidade Eddie tinha pouca relação com seus resultados no esporte e mais com sua incontestável simpatia e força de vontade para superar adversidades. Produzido por Matthew Vaughn o filme sobre o esportista é uma delícia de assistir! Embora não tenha chamado atenção em nossos cinemas o longa conta com muito bom humor a trajetória quase inacreditável de Eddie. Filho de um casal de operários, Eddie (vivido por Taron Egerton) sonhava desde pequeno em ser um atleta olímpico, mas a situação modesta de sua família nunca ajudou muito sua carreira no esporte. Ele era quase um adolescente quando resolveu que seu destino estava nas Olimpíadas de Inverno. Sem dinheiro para bancar os treinos, Eddie foi banido dos times que participou por considerarem que ele não tinha futuro no esporte. Foi quando ele descobriu o salto de ski - que há década não possuía um representante britânico na categoria. Contra a vontade de seus pais, Eddie parte para treinar na Alemanha, mas descobre que saltar é mais complicado do que parece. Entre acidentes e ossos quebrados, Eddie não desiste de conseguir um lugar no esporte e contagia a plateia com sua força de vontade. Taron Egerton foi visto anteriormente em Kingsman (2015) e realiza um trabalho excepcional ao buscar semelhanças com o Eddie real (e eu adoraria vê-lo indicado no Globo de Ouro de ator de comédia pelo papel), quando nos convencemos de que ele é capaz de carregar o filme nas costas... aparece Hugh Jackman como uma espécie de mentor capaz de ajudar o personagem a evoluir no esporte - e o filme fica ainda melhor. Para além da química entre a dupla, vale destacar o diretor Dexter Fletcher que (não inventa, mas) acerta no tom da história que escapa de toda a pieguice dos manuais para filmes de superação. O filme destaca Eddie por tudo que ele representou para quem o assistiu em Calgary: um sujeito comum que acreditava no espírito olímpico de que o importante era participar (que curiosamente é um pensamento bastante diferente do que se percebe no esnobe comitê que ignora Eddie). Simples em sua ideia de um atleta renegado, Voando Alto é uma grata surpresa!

Voando Alto (Eddie The Eagle /  Reino Unido - EUA - Alemanha / 2016) de Dexter Fletcher com  Taron Egerton, Hugh Jackman, Jim Broadbent, Keith Allen, Iris Berben e Christopher Walken. ☻☻☻☻

Na Tela: ZOOTOPIA

Judy e Nick: desmascarando preconceitos. 

Existe algo de assustadoramente atual na nova animação da Disney: Zootopia - e nem estou me referindo às qualidades técnicas da produção. Ambientado num mundo onde os animais se comportam feito humanos, os preconceitos estão presentes e basta um fato para que os conflitos comecem e despertem a selvageria da população. A história gira em torno da coelha Judy Hoops (voz de Ginnifer Goodwin) que desde criança deseja ser policial - motivo de estranhamento para a maioria dos amigos e familiares da mocinha, já que nunca se teve notícias de um coelho policial. Sempre considerada "fofa" por onde quer que vá, Judy terá que provar o seu valor, seja perante à família (que preferia que ela continuasse no ramo da agricultura) ou diante do treinamento pesado a que se submete para provar que merece um distintivo. Nem mesmo quando ela é designada, a contragosto, para ser guarda de trânsito ela desanima. Mas quando o caso do misterioso sumiço de mamíferos cruza o seu caminho, torna-se uma questão pessoal desvendar o caso. Apoiada pela vice-prefeita (voz de Jenny Slate) ela convence o delegado a assumir o caso, tendo o prazo de 48 horas para descobrir a localidade dos cidadãos desaparecidos. Para descobrir o que aconteceu ela contará com a ajuda de uma testemunha com longa carreira na malandragem, o raposo Nick Wilde (voz de Jason Bateman). Os dois formam uma dupla improvável, que tenta superar suas próprias impressões que possuem da espécie um do outro. Se Judy tem que provar ser mais do que um animal gracioso, aos poucos, Nick mostrará que também se incomoda com a fama de que raposas são desonestas. Zootopia tem humor suficiente para investir num certo suspense policial e quando se imagina que tudo está resolvido, o roteiro de Jared Bush e Phil Johnston aprofunda ainda mais que por debaixo da convivência pacífica entre os cidadãos de Zootopia existe ainda um bocado de selvageria. Brincando com o politicamente correto, o filme traça um retrato bastante da sociedade globalizada atual, onde basta um comentário para que se revele a intolerância e a incompreensão que estava escondida até entre os mais gentis. Dirigido com energia pelo trio Byron Howard, Rich Moore e Jared Bush, Zootopia diverte os pequenos e ainda faz os adultos pensarem no destemperamento que vivemos nos dias atuais - repleto de dedos acusadores e patrulhamentos quase sempre infundados. 

Zootopia (EUA/2016) de Byron Howard, Rich Moore e Jared Bush com vozes de Ginnifer Goodwin, Jason Bateman, Idris Elba, Jenny Slate, Bonnie Hunt, J.K. Simmons, Octavia Spencer e Alan Tudyk . ☻☻☻

segunda-feira, 13 de junho de 2016

Na Tela: X-Men - Apocalipse

Xavier e seus mutantes: contra o vilão mais chato de todos os tempos!

Acho que num futuro próximo X-Men: Apocalypse será visto como o filme menos querido da franquia mutante. Só a expectativa gerada já é um grande problema para o filme, afinal ele fecha o segundo ciclo de aventuras dos heróis no cinema. A primeira trilogia já havia tropeçado em sua terceira parte quando Bryan Singer havia deixado o posto de diretor. Sorte que depois Matthew Vaughn assumiu o posto e entregou o que a muitos consideram o melhor filme de Xavier e sua turma. X-Men: Primeira Classe (2011) fez sucesso ao inaugurar novos parâmetros para os mutantes na telona, rejuvenescendo os personagens e mesclando à História houve um novo gás para as aventuras. Apesar do sucesso, Vaughn cedeu espaço para Singer comandar Dias de Um Futuro Esquecido (2014), que para além de ser uma continuação teve a missão de passar a limpo todos os tropeços cometidos no universo mutante. A partir dali os fãs sabiam que tudo seria possível. Conforme eram anunciados os atores que viveriam os X-Men jovens o público ficava ainda mais ansioso com que estava por vir. Nem mesmo o criticado visual do vilão Apocalypse desanimou a galera. Porém, quando o filme estreou as opiniões se dividiram. A verdade é que não há nada de errado em investir em um novo vilão, sendo este o primeiro mutante surgido muitos anos antes de Cristo. Após adormecer por vários anos, Apocalypse (Oscar Isaac sob pesada maquiagem e figurino) acorda insatisfeito com os rumos que a humanidade tomou e precisa juntar quatro cúmplices para destruir o mundo como conhecemos. Assim, ele consegue a ajuda de Tempestade (Alexandra Shipp), Arcanjo (Ben Hardy), Psylocke (Olivia Munn) e Magneto (Michael Fassbender) - que após dez anos vivendo em anonimato tem mais uma tragédia a superar. Enquanto isso, a escola do Professor Xavier (James McAvoy) ajuda jovens mutantes a lidarem com seus poderes - com destaque para sua discípula Jean (Sophie Turner) e o recém chegado Scott (Tye Sheridan), ao time ainda irão se juntar Kurt (Kodi Smith McPhee), Peter (Evan Peters) além de Mística (Jennifer Lawrence) que passou a ser cultuada como heroína (quem diria) após salvar o presidente no final do filme anterior. Singer e os roteiristas tem o enorme desafio de conjugar mais de uma dezena de personagens durante o filme com algum equilíbrio (e criar a base para a próxima fase do X-Men na telona, já que McAvoy, J.Law e Fassbender já anunciaram que este foi o último a contar com eles). Se a plateia já tem carinho de sobra pelos mutantes, o filme decepciona por perder tempo demais com Apocalipse recrutando seus cavaleiros e discursando incansavelmente contra a humanidade (e as limitações impostas para a atuação de Oscar Isaac prejudicam muito a dinâmica do personagem que torna-se um chato de armadura), o filme ainda cansa por explicar personagens que já conhecemos muito bem e, além de tudo isso, depois de cinco filmes com heróis mutantes, dois longas de Wolverine e ainda o recente Deadpool, não fique surpreso se você achar que está tudo um pouco bagunçado na linha do tempo dos personagens depois que o Futuro Esquecido zerou tudo que existiu antes dele. Por conta disso,  X-Men Apocalipse não fecha as ideias de uma trilogia, mas apresenta-se como a primeira parte de uma nova saga mutante, uma espécie de introdução para o que parece ser mais interessante do que o resultado alcançado neste aqui. Ainda que não seja ruim, o resultado perde muito ao deixar de lado os dilemas políticos que fazem dos mutantes mais interessantes que a maioria dos heróis. Optando por ser menos sombrio e mais colorido (afinal o filme se passa nos anos 1980), ao menos Singer escolheu um ótimo elenco jovem que não decepciona para protagonizar os próximos filmes. 

X-Me: Apocalipse (X-Men: Apocalypse/EUA-2016) de Bryan Singer com James McAvoy, Michael Fassbender, Jennifer Lawrence,  Oscar Isaac, Rose Byrne, Sophie Turner, Tye Sheridan, Evan Peters, Kodi Smith McPhee, Alexandra Shipp, Olivia Munn e Nicholas Hoult. ☻☻

domingo, 12 de junho de 2016

CICLO DIVERSIDADE SXL: Azul é a Cor Mais Quente

Adèle e Léa: casal icônico. 

Para terminar o Ciclo Diversidade SXL, escolhi um dos filmes mais falados dos últimos anos: Azul é a Cor mais Quente.  O filme causou furor ao ser exibido em Cannes por conta de suas cenas de sexo (bastante explícitas) - baseado na HQ de Julie Maroh, o filme conquistou fãs fieis desde aquele dia, tanto que garantiu a Palma de Ouro não apenas para o filme, mas também para suas duas protagonistas, Léa Seydoux e Adèle Exarchopoulos (que estão bem a vontade diante da câmera). Indicado ao BAFTA e ao Globo de Ouro de filme estrangeiro, os mais espertos já sabiam que o filme estaria fora da lista do Oscar, já que é bastante despudorado para os padrões da Academia. No entanto, Azul é a Cor Mais Quente tem como maior diferencial a sinceridade em que conta a história da descoberta da identidade sexual de uma adolescente, Adèle (Adèle Exarchopoulos) que possui interesse por rapazes, mas que fica instigada ao cruzar na rua com uma garota de cabelos azuis. A partir dali, ela começa a perceber que possui interesse por mulherese, mas ainda precisa saber como lidar com isso. O filme não tem pressa para fazer Adèle se reencontrar com a garota de cabelos azuis, mas quando as duas estão juntas é evidente que existe um interesse por parte de Emma (Léa Seydoux), dali em diante o romance entre as duas se intensifica gradativamente  e possui repercussões entre o círculo de amigos da adolescente. Já Emma é mais experiente, aluna de Artes e com amigos mais descolados, sua jovem namorada é absorvida por esse universo sem maiores dificuldades - ainda que exista algumas gotas de desconforto. Abdellatif Kechiche conta uma história de amor que seria bastante comum se não fosse protagonizada por duas mulheres, apresenta a plateia um pouco de como era a vida de Adèle antes e depois de conhecer Emma, explora a passagem do tempo e alguns aspectos que uma delas esperava ter deixado para trás - e que ela nem saberá explicar, mas que atrapalha os rumos do romance. Embora seja longo (o filme possui três horas de projeção), ele se tornou cult pela naturalidade com que apresenta um relacionamento gay e, obviamente, pelas cenas tórridas (uma delas chega a durar sete minutos) que além de chamar a atenção do público ainda rendeu uma briga entre as atrizes e o diretor. As atrizes reclamaram que o diretor exagerava nas filmagens das cenas de sexo (uma determinada cena chegou a ser repetida ao longo de dez dias), elas argumentaram que foram exploradas e manipuladas por um diretor que queria satisfazer suas fantasias. Já o diretor disse que as duas são muito mimadas e que fez tudo em nome da arte. Seja como for, Azul é a Cor Mais Quente tornou-se uma referência na sétima arte sobre filmes de relacionamento entre duas mulheres e, se o trio fizer as pazes, deve render até uma sequência (já que ao final deixa claro que é só a primeira parte de duas)

Azul é a Cor Mais Quente (La Vie d'Adèle / França - Bélgica - Espanha/2013) de Abdellatif Kechiche com Léa Seydoux, Adèle Exarchopoulos, Salim Kechiouche e Samir Bella. ☻☻☻

Você também poderá gostar destes filmes citados aqui no blog:
🌈 "Amor por Direito" de Peter Sollett
🌈 "Carol" de Todd Haynes
🌈 "Hoje eu Quero Voltar Sozinho" de Daniel Ribeiro 

sábado, 11 de junho de 2016

CICLO DIVERSIDADE SXL / FILMED+: Transamérica

Felicity e Kevin: encarando o passado. 

Felicity Huffman entrou para a história do Oscar como uma das maiores injustiçadas ao perder o prêmio de melhor atriz para Reese Witherspoon (Johny & June/2005). O fato é que embora Reese estivesse convincente como a esposa de Johnny Cash, a atuação de Felicity era infinitamente mais interessante na pele da transexual Bree (que lhe rendeu o Globo de Ouro de melhor atriz dramática). Felicity faz um trabalho magnífico que transcende a caracterização da personagem, seu trabalho com a voz e com o corpo realmente convence de que estamos diante de um homem que almeja se tornar uma mulher. Sua maquiagem, seus gestos, seu caminhar, suas roupas, tudo transpira um desconforto diante do corpo que possui. Prestes a fazer a cirurgia para mudar de sexo, Bree recebe uma ligação dizendo que seu filho adolescente foi preso, mas ela não dá muita atenção - ao contrário da terapeuta que acompanha sua jornada, que recomenda que ela resolva o problema com o filho antes da cirurgia. A contragosto, Bree procura o rapaz, mas não tem coragem de revelar quem é relamente, fazendo com que Toby (Kevin Zegers em ótima atuação) acredite que é uma missionária capaz de colocá-lo novamente nos eixos. Toby foi fruto de uma experiência sexual de Bree com uma amiga, mas desde então as vidas seguiram rumos diferentes, deixando Toby sob os cuidados de um padrasto. A convivência entre Toby e Bree, assim como todo o filme, caminha num raro equilíbrio entre o dramático e o cômico e converge para que a verdade venha à tona na inevitável catarse que se anuncia. O diretor Duncan Tucker acerta em cheio ao não criar um drama familiar melodramático e lacrimoso, trata principalmente da protagonista se deparando com sua própria história antes que sua almejada transformação física se concretize. Durante o filme acontecem várias situações e encontros que revelam um pouco mais sobre Bree e seu filho, especialmente as semelhanças que existem entre os dois (ainda que nas fantasias de Toby ele nem imagine que seu pai seja um transexual). A prova de fogo virá com o reencontro de Bree com a família que não o reencontrava há tempos, em que a mãe (Fionnula Flanagan) é a que mais demonstra sua rejeição à situação do filho, gerando algumas situações que só uma mãe é capaz de tornar ainda mais ofensiva, condensando ainda mais a incompreensão diante da transexualidade. Se Bree começa frágil e insegura, ao final do filme ela está visivelmente mais forte e, ainda que as lágrimas sejam inevitáveis, elas surgem por conta de outros motivos. Felicity Huffman honra um papel difícil numa escalação que poderia ser polêmica, mas ela demonstra a alma feminina, de uma mulher que nasceu num corpo de homem, de forma inesquecível. 

Transamérica (EUA/2005) de Duncan Tucker com Felicity Huffman, Kevin Zeggers, Fionnula Flanagan, Burt Young, Carrie Preston e Graham Greene. ☻☻☻☻☻

Você também poderá gostar destes filmes citados aqui no blog:

🌈 "Albert Nobbs" de Rodrigo Garcia
🌈 "Café da Manhã em Plutão" de Neil Jordan
🌈 "Tangerine" de Sean Baker

sexta-feira, 10 de junho de 2016

Pódio: Ben Whishaw

Bronze: O Gênio.
Diante da repaginada que foi a era Daniel Craig na franquia James Bond, Ben Whishaw utilizou toda sua fleuma britânica para dar vida à versão mais jovem do brilhante Q, responsável por todos os apetrechos e assessoria tecnológica que o o agente 007 precisa. Além de criar um personagem com maior presença em cena, ele ainda transpira um senso de humor quase inexplicável com um simples gesto ou pausa respiratória. Com a postura criada pelo ator, Q nem precisava fazer nada, o personagem exala genialidade só de ficar parado na tela. 

Prata: O Poeta. 
Tipos românticos são uma raridade na carreira do ator. Acho que ele prefere ser uma das versões de Bob Dylan (Não Estou Lá/2008) ou viver o urso Paddington (2014), mas ele encarnou de forma memorável o poeta John Keats nos seus últimos três anos de vida - quando em meio a todos os problemas ele viveu um romance com a modista Fanny Browne (Abbie Cornish). A química entre o casal, somado ao romantismo trágico impresso pela diretora Jane Campion, fez do filme um dos filmes mais queridos do Festival de Cannes daquele ano. 

1º: O Sem Cheiro
1º  Perfume - A História de Um Assassino (2006)
Ninguém tinha ouvido falar do ator quando ele foi o protagonista desse impactante filme do alemão Tom Tykwer. Ben vive um sujeito que padece de uma maldição: não ter cheiro. Para sanar o problema ele traça o plano de criar um cheiro próprio para si através da essência de algumas moças. Na pele de Jean Baptiste, o ator mostrou que é capaz de criar as nuances mais inesperadas para qualquer tipo de personagem. Foi por conta de sua atuação neste filme que ele era o meu favorito para viver o jovem Magneto no filme solo do personagem (quando Michael Fassbender nem era cogitado pelo estúdio). 

CICLO DIVERSIDADE SXL: Lilting

Whishaw e Leung: refúgio na memória. 

Ben Whishaw é um dos meus jovens atores ingleses favoritos e, embora não seja muito conhecido do público brasileiro, já apareceu em vários filmes de sucesso e outros que se tornaram cults. O rapaz costuma diversificar bastante os papéis e, embora as grandes premiações ainda o ignorem, podem escrever que um dia ele ainda será indicado ao Oscar (e talvez até leve a estatueta para casa). Whishaw ainda é um dos poucos atores em ascensão que tiveram a coragem de sair do armário perante a mídia, sem medo de que isso prejudicasse sua carreira - ele até casou com o compositor Mark Bradshaw em 2013. Portanto, é fácil entender o interesse do ator em estrelar Lilting, filme inédito nos cinemas (talvez por carregar o título capenga Na Cadência do Amor graças aos nossos brilhantes distribuidores que não sabiam que o título original se referia à uma melodia) - mesmo com elogios da crítica e indicações ao BAFTA  de melhor estreia para o diretor, roteirista e produtor Hong  Khaou. Embora Whishaw mereça destaque, sua atuação não é o único motivo para prestar atenção à história, a veterana Pei Pei Cheng (atriz chinesa que filma desde a década de 1960) também tem momentos memoráveis na história de duas pessoas que buscam superar a ausência do grande amor de suas vidas. Junn (Cheng) é uma imigrante cambojana que vive atualmente numa instituição para idosos e ainda tenta superar a morte de Kai (Andrew Leung), seu único filho. Sem dominar o inglês sua vida é ainda mais solitária naquele local, motivo pelo qual conversa frequentemente com as memórias do filho falecido. Embora atencioso, Kai nunca conseguiu explicar para a mãe porque ela não poderia morar com ele. O motivo é que ele mora com Richard (Ben Whishaw), que é mais do que só o amigo que a mãe imagina. Kai e Richard formavam um casal e com a morte dele, Richard considera que possui uma dívida com aquela senhora, ao ponto de contratar uma tradutora não profissional (Naomie Christie) para indiretamente se aproximar dela. Hong Khaou cria um filme sensível, que mistura o tempo presente com o passado e flashbacks de maneira bastante eficiente, deixando claro que ausência de Kai une Richard e Junn. É envolvente a forma como embora ambos lidem com esse incômodo vazio de forma semelhante, os dois encontram dificuldades para aliviar a dor um do outro - não apenas por problemas de comunicação, mas porque Kai não conversou com a mãe sobre o fato de ser gay e Richard não sabe como agir diante do segredo. Embora essa confissão seja o fio condutor do filme, cresce a impressão que isso é o que menos importa. Ao explorar uma solidão causada por mentiras e pré-conceitos, o diretor narra os dramas de seus personagens com rara delicadeza (e alcança tanta eficiência que as cenas que funcionriam para o alívio cômico parecem estar sobrando). Quando o filme termina a sensação é que as memórias dos protagonistas podem preencher o vazio de um e outro - mas muitas outras poderiam ter surgido se o medo da rejeição não houvesse causado ausência já em vida. Lilting é uma pequena, mas cintilante, pérola sobre a ausência de quem foi amado.

Na Cadência do Amor (Lilting/Reino Unido-2014) Hong Khaou com Pei Pei Cheng, Ben Whishaw, Andrew Leung, Naomie Christie e Peter Bowles. ☻☻☻ 

Você também poderá gostar destes filmes citados aqui no blog:
🌈 "Direito de Amar" de Tom Ford
🌈 "O Amor é Estranho" de Ira Sachs
🌈 "Toda Forma de Amor" de Mike Mills