Nicole: quando o passado volta.
Uma policial experiente se depara com um caso de assassinato que remete diretamente a uma investigação do início de sua carreira. A investigação, que alterou os rumos de sua vida pessoal e profissional, mostra-se a chave para a resolução deste novo caso, no entanto, resgatar aspectos do passado pode ser mais perigoso do que ela imagina. O ponto de partida do novo filme da diretora Karyn Kusama pode até não ser um primor de originalidade, mas a cineasta consegue manter um clima de tensão crescente ancorada por um elenco interessante, capitaneado por uma Nicole Kidman quase irreconhecível. Kusama (que estreou com Girlfight/2000 para logo ser absorvida pelos grandes estúdios com Aeon Flux/2005 e Garota Infernal/2009) demonstra aqui grande habilidade para inserir camadas em sua narrativa, ao contar sua história, ela sabe exatamente como utilizar flashbacks para que possamos conhecer ainda mais os acontecimentos que deixaram a protagonista do jeito que a conhecemos. Desde a primeira cena, a detetive Erin Bell (Kidman) parece destruída. Seu andar é arrastado, sua voz é sem energia, seu olhar é cansado, mas em nenhum momento deixamos de perceber que debaixo daquela aparência em frangalhos existe astúcia suficiente para desvendar o caso que tem em mãos. O problema é que conforme ela mergulha nos efeitos do passado no presente, ela lidará com algumas verdades que preferia deixar escondidas. Afinal, toda a vida de Erin parece ter sido sugada por uma espiral de acontecimentos que lhe fugiu totalmente ao controle. Do relacionamento com o ex-marido passivo (Scoot MCNairy), das explosões com a filha adolescente rebelde (Jasde Pettyjohn) vemos que tudo é afetado pelas figuras do passado que Erin reencontra pelo caminho. Entre amigos, traficantes, assaltantes, informantes o tom conjuga drama, suspense e boas cenas de ação, sem perder o tom seco da narrativa sem floreios. Vale ressaltar que a fotografia não está ali para embelezar nada e a edição é áspera de propósito. Todo este estilo combina com uma Nicole Kidman desconstruída impressiona ainda mais no contraste da personagem entre passado e presente. O trabalho rendeu para atriz vários elogios e algumas indicações a prêmios (incluindo ao Globo de Ouro de atriz dramática) e pode se dizer que sua atuação é a espinha dorsal da trama. No fim das contas, O Peso do Passado pode não ser tão original quanto ambicionava, mas é conduzido com firmeza pela diretora, que compõe aqui seu trabalho mais ambicioso e autoral. Aquele tipo de filme que te deixa curioso para o próximo passo de um cineasta.
O Peso do Passado (Destroyer / EUA – 2018) de Karyn Kusama com Nicole Kidman, Sebastian Stan, Toby Kebbell, Tatiana Maslany, Scoot McNairy, Jade Pettyjohn e Toby Huss. ☻☻☻☻
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