Julia e Lucas: luta contra as drogas.
É interessante perceber como Julia Roberts deixou de ser a namoradinha da América para interpretar papéis maternais sem maiores conflitos. Quando começou a se aventurar por esta seara ganhou até um Oscar de atriz (por Erin Brockovich/2000) e treze anos depois foi lembrada pela Adademia pelo papel da mãe amarga de Álbum de Família (2013) - só que desta vez na categoria de coadjuvante. Ela quase repetiu a dose com O Retorno de Ben, mas o fato de ninguém ter se empolgado muito com o filme prejudicou o longa nas premiações. Mas nem só de Julia Roberts vive o filme, Lucas Hedges também está ótimo em cena, embora seja jovem (22 anos), Lucas tem uma indicação ao Oscar de ator coadjuvante por Manchester à Beira-Mar (2016) e no ano passado procurou papéis mais desafiadores. Foi o jovem homossexual em sofrido tratamento em Boy Erased e aqui interpreta um rapaz que afundou no mundo das drogas. Responsável por ser o Ben do título, o ator consegue dar conta de várias nuances do protagonista. Convence como o jovem simpático de que é bastante fácil gostar nos momentos iniciais do filme, para aos poucos revelar o quão sombria foi sua descida ao inferno, descida que a mãe devotada, Holly (Roberts) descobrirá os detalhes mais sórdidos praticamente junto com o público. Lucas e Julia são responsáveis por tudo o que funciona no filme, os dois tem uma boa química em cena e estão bastante convincentes. Ela em seus exageros de mãe zelosa, ele no tom escorregadio de alguns diálogos e olhares sombrios. Graças aos dois que o filme engrena fácil em sua primeira hora, ao ponto de acharmos até injusta a forma como outros membros da família tratam o rapaz (especialmente o padrasto vivido por Courtney B. Vance). O roteiro cresce nos encontros reservados pela trama, um amigo que continua nas drogas, uma mãe que perdeu a filha para a heroína, um antigo conhecido da família, uma casa específica, uma rua... só pela desconfiança constante da mãe sobre o filho o filme já valeria a pena ao instigar o espectador a confiar ou não no moço. No entanto, lá pelo meio do caminho, o roteiro faz uma guinada que por vezes ganha momentos absurdos, quase risíveis (a cena da menina rastreando os celulares é de lascar). O tom de suspense ganha espaço após um roubo na casa da família, fato que colocará mãe e filho numa longa jornada noite adentro em que as verdades mais dolorosas virão à tona. A partir deste ponto, o filme se afasta das sutilezas de outrora e tenta fabrica uma tensão desengonçada, que combina pouco com o que vimos anteriormente. A sorte é que Julia Roberts e Lucas Hedges imprimem tanta dignidade em suas interpretações que o público fica apreensivo pelo que acontecerá naquela dinâmica de mãe e filho. Curiosamente o filme tem outro laço familiar em sua produção: Lucas é filho do diretor Peter Hedges, que foi indicado ao Oscar de roteiro pelo excelente Um Grande Garoto (2002) e depois dirigiu filmes comédias tristes como Do Jeito que Ela é/2003 e Eu, Meu Irmão e Nossa Namorada/2007.
O Retorno de Ben (Ben is Back/EUA-2018) de Peter Hedges com Lucas Hedges, Julia Roberts, Courtney B. Vance, Kathryn Newton e Michael Esper. ☻☻☻
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