Aslak (Adam Ekeli): em busca do desconhecido.
Sempre achei interessante ver filmes de países variados. É verdade que o cinema americano domina a maioria das exibições por aqui (e não estou falando só de cinema), sei que a grande maioria do público está acostumado com filmes Made in Hollywood, mas é sempre interessante ver como os outros países trabalham as narrativas, o uso de silêncios, do tom mais contemplativo, de uma narrativa sem pressa para construir climas e atmosferas. São estes motivos que fazem deste filme Norueguês uma boa pedida para os fãs de suspenses mais sutis. A história é contada a partir do ponto de vista de um garotinho da área rural da Noruega, lugar que está sofrendo com ataques às ovelhas da região. O menino e um amigo acreditam que aqueles ataques destruidores são feitos por um lobisomem que habita as redondezas. A ideia ganha forma na cabeça do garotinho, que passa a ouvir barulhos diferentes durante a noite que o faz crer que realmente existe um monstro andando por perto. Colabora ainda mais para isso a existência de uma floresta nas proximidades. Embora o filme tenha algumas cenas sobre o drama familiar do pequeno protagonista - e que pode ser um dos pontos para que o menino fantasie para fugir daquela realidade -, o filme ganha corpo no trabalho minucioso do diretor Jonas Maltzow em criar uma atmosfera que nos convida a embarcar na imaginação do protagonista. Sem sustos fáceis, ele cozinha o suspense até torná-lo sufocante quando Aslak (o expressivo Adam Ekeli) entra pela floresta. Neste ponto, o filme lembra um pouco o recente A Bruxa (2015) na forma como aquela natureza em si já representa algo ameaçador. A escuridão, os sons, as árvores que deixam tudo cada vez mais claustrofóbico só nos preparam para o susto do que o lourinho encontra por lá. Até que o filme revela uma guinada diferente da que esperamos. Enquanto não sabemos ao certo o que vai acontecer e não fazemos a mínima ideia do que de fato Aslak encontrou, o diretor segura nossa respiração sem piedade. O ruim é que depois deste momento de angústia (motivada pela nossa imaginação plenamente alimentada pela sugestão do diretor), o filme desce o tom para chegar ao seu desfecho inesperado. O final despretensioso revela a verdadeira intenção do filme: um encontro com o desconhecido que é tão assustador, mas que visto de perto, pode causar até nossa identificação, afinal, a forma como vemos o diferente revela mais de nós mesmos do que do diferente em si. Esqueça os sustos fáceis e os monstros, apenas embarque na atmosfera do filme.
O Vale das Sombras (Skyness dal / Noruega - 2017) de Jonas Matzow Gulbrandsen com Adam Ekeli, Kathrine Fagerland, John Olav Nielsen e Lennard Salamon. ☻☻☻
O Vale das Sombras (Skyness dal / Noruega - 2017) de Jonas Matzow Gulbrandsen com Adam Ekeli, Kathrine Fagerland, John Olav Nielsen e Lennard Salamon. ☻☻☻
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