Ainda que não tenha recebido o crédito merecido dentre as atrizes de sua geração, Bel Powley é uma artista que sempre chama minha atenção para uma produção. A jovem revelada aos vinte e três anos ao viver a protagonista do denso O Diário de Uma Adolescente/2015 (a grande estreia de Marielle Heller na direção, pelo qual Bel ganhou o Gotham Awards de melhor atriz). Powley tem ao seu favor olhos azuis enormes e expressivos que fazem a diferença quando nem sempre o roteiro lhe oferece o devido amparo. Pode se dizer que é isso que acontece neste filme de estreia do alemão Fritz Böhm (que também assina o roteiro ao lado de Florian Eder) que tem boas ideias, mas nem sempre sabe como desenvolvê-las da melhor forma. A trama começa promissora quando conhecemos uma criança chamada Anna que é criada isolada da civilização pelo pai (Brad Dourif). Educada para ser obediente e nunca sair de casa, ela teme o que o pai costuma chamar de "o selvagem", uma criatura feroz que vive lá fora e está sempre à espreita de suas vítimas. A menina cresce amedrontada ao lado do pai (tanto a fotografia, a interpretação de Brad e os cenários estão longe de fazer daquela casa um lugar acolhedor). A paranoia não apenas dá o tom desta parte da narrativa como também existe a sugestão de que algo de muito ruim poderá acontecer à menia. Eis que quando ela já é uma adolescente (vivida por Powley) sua vida tem uma guinada e ela passa a viver junto à sociedade com a ajuda de uma policial de bom coração chamada Ellen Cooper (Liv Tyler). Aos poucos, Ellen passa a fazer o papel da mãe que Anna nunca teve e a relação entre as duas funciona bem no decorrer da história. Este processo de transição é bem encenado quando Anna precisa aprender a conviver com outras pessoas e que lidar com adolescentes na escola é complicado. Embora ela tenha mais medo do tal selvagem do que de alguns colegas, aos poucos ela irá entender que existem outros perigos no mundo (inclusive seus próprios instintos). Salvo as devidas proporções, Selvagem lembra muito Carrie - A Estranha (1975) em suas metáforas sobre o medo do crescimento e a descoberta da sexualidade, mas troca o tempero ao beber em outra fonte clássica do terror. Entre crimes e segredos sobre a origem da própria Anna o filme peca pelo ritmo que engasga conforme precisa lidar com sua "grande surpresa" que lá pela metade já começa a se tornar um tanto previsível. A sorte é que Bel Powley mantem a trama envolvente com a mistura de terror com dores da adolescência e sua busca por identidade em meio às inseguranças, assim evita que se o longa se torne mais um filme de fórmula batida. Outro ponto interessante do filme é reencontrar o veterano Brad Dourif tantos anos depois de sua aclamação por Um Estranho no Ninho/1974 encarnando um doido completamente diferente em seus dilemas.
Selvagem (Wildling / EUA - 2018) de Fritz Böhm com Bel Powley, Liv Tyler, Brad Dourif, Collin Kelly-Sordelet, James Le Gros e Troy Ruptash. ☻☻☻
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