domingo, 4 de abril de 2021

PL►Y: Fuja

 
Sarah e Kiera: o amor materno como prisão. 

Sarah Paulson é uma atriz que sempre chama a minha atenção. A musa de Ryan Murphy tem uma versatilidade incomum que a permite dar conta de todo tipo de personagem, especialmente quanto este precisa de uma capacidade extra para ter alguma dignidade - mesmo quando aparenta não ter nenhuma. Em Fuja, que acaba de entrar em cartaz na Netflix, a atriz demonstra mais uma vez como esta habilidade faz toda a diferença em seu ofício. A atriz que recentemente apareceu no bizarro Ratched (2020), agora encarna uma mãe zelosa que teve sérias complicações no parto, ou pelo menos é isso que parece. Na pele de Diane, ela passou boa parte de sua vida numa casa afastada da cidade cuidando da filha, Chloe (a estreante e promissora Kiera Allen). O filme começa listando o que parece ser todos os problemas de saúde que Chloe precisou lidar até a sua adolescência. Habituada com a cadeira de rodas e a asma e outras coisas,  a garota estuda em casa e se dedica especialmente aos estudos de eletrônica. Ela sonha em ir para a faculdade, mas até agora não recebeu nenhuma resposta positiva. Somando o discurso de Diane no grupo de pais em que faz parte com as vezes em que faz questão de buscar as cartas antes da filha, temos a impressão que tanto zelo possui mais do que exagero. Embora Diane seja uma mãe acima de qualquer suspeita, Chloe começa a perceber que existe algo de estranho naquela relação e não demora muito para perceber que um segredo bem mais esquisito do que ela imaginava, algo até, criminoso. Dirigido por Aneesh Chaganty (de Buscando/2018), o diretor aqui demonstra mais uma vez como é capaz de fazer milagre com poucos atores em cena, uso de um cenário a maior parte do tempo (com destaque pela forma como utiliza o espaço da casa em que as personagens vive, alterando conforto e claustrofobia conforme a trama avança) e, principalmente, o poder da sugestão na mente do espectador. Investindo no terror e no suspense, Fuja tem aquelas reviravoltas típicas do gênero, mas que conseguem ser convincentes a maior parte do tempo graças à ótima dinâmica de suas atrizes principais. Ambas conseguem exalar fragilidade e força com bastante naturalidade nas guinadas do roteiro, o que deixa uma certa imprevisibilidade no ar, embora quem viu a série The Act (que estou devendo comentar por aqui) possa começar a desconfiar de alguma coisa. Fosse lançado no cinema, garanto que Fuja seria aquele filme que ficaria em cartaz por um bom tempo com bilheterias polpudas ao colocar Sarah Paulson entre as mães  superprotetoras mais doentias do cinema (acho que até a mãe da Carrie/1976 tremeria diante dela).

Fuja (Run / EUA-2020) de Aneesh Chaganty com Sarah Paulson, Kiera Allen, Pat Healy, Sara Sohn e BJ Harrison. ☻☻

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