sábado, 30 de novembro de 2024

KLÁSSIQO: A Ternura dos Lobos

Kurt e sua presa: arrepiante história real.
 
É estranho você descobrir que o clássico O Vampiro de Dusseldorf (1931) de Fritz Lang é baseado em uma história real. Se na obra de Lang o infanticida não consegue ser capturado pela polícia e é capturado e julgado por um tribunal de criminosos, o horror provocado pela história real não fica muito atrás. A história em questão é a de Fritz Haarman, um sujeito que se passava facilmente por um homem comum, mas que escondia uma mente profundamente doentia. Ele vivia sozinho em um apartamento em um prédio decadente na Alemanha que ainda amargava os efeitos da primeira guerra mundial. Sua conhecida atração por outros homens (especialmente os mais jovens) renderam um acordo com a polícia local para que ficasse atento aos imigrantes ilegais que apareciam nas redondezas. Enquanto vigiava a região, permanecia livre. Só que a polícia não desconfiava que este sujeito tinha outros interesses, algo que despertava suspeitas entre os vizinhos com os sons que ouviam de seu apartamento. Vale lembrar que em tempos de crise, Haarman sempre conseguia pedaços de carne para comercializar na região e acredita-se que eram de suas vítimas, geralmente crianças e adolescentes que fugiam de casa e eram acolhidos por ele, sem suspeitarem que suas intenções eram aterrorizantes. A lista de atrocidades cometidas por Fritz Haarman entre 1918 e 1924 é vasta, mas o número exato de suas dezenas de vítimas permanece desconhecido. Produzido por Rainer Werner Fassbinder (que faz uma participação como ator no filme), a direção ficou por conta de Ulli Lommel que investe em uma narrativa lenta, tão solene quanto mórbida,  que só aumenta a tensão em torno dos crimes de um serial killer. A narrativa é meticulosa e desenvolve de forma convincente a forma como um homem aparentemente inofensivo conseguia conquistar a simpatia das pessoas, especialmente das vítimas em situação de vulnerabilidade e que, uma vez desaparecidas, não chamariam a atenção de ninguém. O ator Kurt Raab, que colaborou em mais de trinta projetos com Fassbinder, acerta o tom de um personagem complicado. Ele consegue oscilar com maestria entre as particularidades do personagem que dão título ao filme, consegue simular uma ternura que servia de disfarce para suas intenções criminosamente predatórias. A cenografia e a fotografia ajudam na construção de uma atmosfera certeira para provocar alguns arrepios na plateia até os dias atuais. Selecionado para o Festival de Berlim no ano de seu lançamento, o filme foi rodeado de polêmicas e dividiu opiniões, no entanto, chamou atenção pela atmosfera carregada de sua narrativa.  Não por acaso, o diretor Ulli Lommel migrou para Hollywood e fez alguns clássicos do terror como The Boogeyman (1980) e Devonsville Terror (1983).
 
A Ternura dos Lobos (Die Zärtlichkeit der Wölfe / Alemanha Ocidental - 1973) de Ulli Lommel com Kurt Raab, Jeff Roden, Margit Karstensen, Ingrid Caven, Wolfgang Schenck, Brigitte Mira e Rainer Werner Fassbinder. ☻☻☻☻

Nenhum comentário:

Postar um comentário