sábado, 23 de novembro de 2024

PL►Y: Guerra Civil

Kirsten e Wagner: guerra pelo motivo que você escolher.

O quarto filme do diretor Alex Garland se tornou o primeiro grande lançamento cinematográfico de 2024 e logo começaram especulações sobre sua presença na próxima edição do Oscar. Com a proximidade da temporada de ouro nos Estados Unidos ficou perceptível que o filme anda esquecido entre as especulações da premiação. No Brasil o filme teve um apelo ainda maior com a presença do Capitão Nascimento Wagner Moura em um papel de destaque. Recentemente chegado ao catálogo do Max, finalmente consegui assistir e... A produção conta a história de Lee (Kirsten Dunst), uma jornalista que, em meio à transmissão pela TV do discurso do presidente dos Estados Unidos (Nick Offerman), ela resolve ir para a capital do país encontrar-se com ele. O presidente está em seu terceiro mandato e existe uma guerra civil que atravessa toda a nação, nela as forças armadas e os cidadãos aparentemente comuns andam com armas e atiram para todo o canto. Quem topa ajudar na empreitada de Lee é Joel (Wagner Moura) que sonha realizar uma entrevista com o chefe de Estado (e que talvez seja a última). Quem embarca também nesta viagem é o veterano Sammy (Stephen McKinley Henderson) e a novata Jessie (Cailee Spaeny), que deseja se tornar fotógrafa de guerra (e ainda assim se surpreende com o que vê). A ideia deles atravessaram mais de mil quilômetros ate Washington D.C. serve como pretexto para que Garland apresente um país marcado por conflitos, onde a barbárie contrasta com a postura de algumas pessoas que preferem continuar suas rotinas como se nada estivesse acontecendo. A viagem do quarteto confere a maior atmosfera de road movie, ressaltado ainda mais pelo contraste entre a endurecida Lee e a jovem Jessie. Kirsten Dunst está ótima em cena e confere a dureza necessária à uma personagem que já viu de tudo na carnificina que a humanidade é capaz de promover, não por acaso a presença de Jessie a incomoda tanto (Freud explica) no que pode ser visto como uma preocupação extra no trajeto, mas também numa certa obrigação de que a garota embarque em um caminho sem volta (e do qual ela sabe exatamente os efeitos ao longo do tempo). O arco de Lee é o melhor da trama, já que os outros personagens não recebem muito desenvolvimento ao longo da história, sendo mais reativos perante o que acontece diante dos seus olhos. Sendo assim, contam mais com as boas atuações do elenco do que com a profundidade com que aparecem no texto. Garland (que antes de ser diretor era um escritor consagrado na Inglaterra) sabe como fazer com que a coisa funcione sem precisar falar muito sobre aquelas pessoas, prova disso é a presença do personagem de Jesse Plemons que em poucos minutos já entrega a performance mais assustadora do filme (e que sintetiza todas as ideias que movem a trama). Falando em ideias, temos o ponto fraco do filme. Afinal, o que gerou o conflito que vemos ali? Que lados são esses que estão brigando? Garland não explica essas questões ao longo da sessão, alguns podem considerar que é por puro estilo, mas acho que ele preferiu ficar em cima do muro para não ter que lidar com polêmicas sobre o filme (conhecendo os EUA seria fácil imaginar que é um conflito entre republicanos e democratas mas isso nunca é mencionado). Acho que este ponto faz uma falta danada para o alicerce do filme. Entendo que o foco do cineasta é fazer uma ode aos jornalistas e os riscos que correm em busca de noticias e imparcialidade... mas que raios está por trás do que eles estão noticiando? Em determinado momento, Lee diz que eles não devem se envolver e tomar partido, devem apenas noticiar e deixar as pessoas tomarem suas decisões, do jeito que aparece no filme a decisão geral é tentar ficar vivo diante da loucura instaurada. Embora Garland demonstre aqui um pendor para cenas elaboradas de ação, que não vimos antes em sua cinebiografia, sinto que faltou um tantinho de coragem para elaborar melhor o núcleo do conflito presente no filme. Outro ponto que me incomodou no filme foi a trilha sonora insistente (e que parece estar ali para fazer cenas pesadas serem menos duras de assistir), sorte que vendo em casa pude baixar o volume e ver apenas as imagens criadas por ele. Guerra Civil tem uma cuidadosa construção de imagens (o que é bastante coerente já que suas protagonistas são fotógrafas) e isso quase me faz esquecer que falta algo no seu texto. Guerras não fazem sentido algum e a do filme representa bem isso.

Guerra Civil (Civil War/EUA - Reino Unido - Finlândia /2024) de Alex Garland com Kirsten Dunst, Wagner Moura, Cailee Spaeny, Stephen Mckinley Henderson, Jesse Plemons, Nick Offerman, Nelson Lee e Justin James Boykin. ☻☻

Nenhum comentário:

Postar um comentário