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Patricia e Bill: labirinto sombrio entre imagens e identidades. |
Em homenagem à carreira do David Lynch a Mubi disponibilizou em seu catálogo vários filmes do diretor que devem ficar em cartaz até o final desta semana, quem curte o trabalho do cineasta que nos deixou no no início de 2025 vai adorar reencontrar o universo de um dos diretores mais estilosos do cinema e, quem não tem muita familiaridade com sua linguagem, terá a chance de se deparar com a atmosfera única de filmes que sempre valem a pena ser revisitados. Quando Lynch lançou A Estrada Perdida ele estava em baixa por conta do fracasso comercial de seu filme anterior (Os Últimos Dias de Laura Palmer/1992, que ainda bebia no sucesso da cultuada série Twin Peaks). Fazia tempo que Lynch não trabalhava uma trama original para o cinema e uma nova geração de espectadores não sabiam exatamente do que o diretor era capaz. Esperto, Lynch embalou o filme com uma trilha sonora que chamou ainda mais atenção para o lançamento da obra. Aos cuidados do (hoje oscarizado) Trent Reznor, a trilha mostra-se fundamental para estabelecer a atmosfera do filme desde a abertura ao som de David Bowie e seguindo por Nine Inch Nails, Rammstein e Marilyn Manson. A sonoridade entre o eletrônico e o hardcore cai como uma luva para a história de Fred Madison (Bill Pullman), um saxofonista de jazz que vive uma vida confortável ao lado da esposa, Renée (Patricia Arquette). Só que os dois começam a receber gravações externas da casa onde vivem e, logo depois, cenas internas da casa (incluindo até os dois dormindo). Fred começa a ter contato com um homem estranho que mais complica do que explica o que está havendo, a situação só piora quando um crime acontece e Fred é condenado à morte. Atormentado pelos acontecimentos, com uma enxaqueca constante, uma situação inusitada ocorre quando, em sua cela, o músico se transforma no jovem mecânico Pete Dayton (Balthazar Getty) - o coitado não faz a mínima ideia de como foi parar ali. A situação chama atenção da polícia, mas não existe uma explicação, resta liberar o rapaz e observa-lo por alguns dias. Se Pete retoma sua vida depois do ocorrido, a situação se enrola ainda mais quando ele se envolve com a misteriosa Alice (uma loura Patricia Arquette), a amante do poderoso Dick Laurent (Robert Loggia). Ao longo do filme, Lynch embaralha a vida e as identidades de seus personagens com um subtexto que permite muitas analogias sobre a relação entre imagem e identidade, com subtextos que podem dar um nó na cabeça do espectador. Qual a explicação para tudo aquilo? Por que as mulheres são tão parecidas? O que houve com Frank? Lynch capricha mais uma vez na atmosfera onírica de sua obra e envolve o espectador em um pesadelo por mais de duas horas sem perder o tom. A obra dividiu a crítica na época, que a considerou com mais forma do que conteúdo, no entanto, com o passar do tempo, mostrou-se um dos filmes mais cultuados do diretor, responsável por uma nova geração de fãs que no meio de suspenses protocolares de Hollywood se deparou com um verdadeiro enigma que desafia o tempo e as interpretações subjetivas da plateia.
A Estrada Perdida (Lost Highway / EUA - França / 1997) de David Lynch com Bill Pullman, Patricia Arquette, Balthazar Getty, Robert Loggia, Richard Pryor, Robert Blake, Henry Rollins, Natasha Gregson e Gary Busey. ☻☻☻☻
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