sexta-feira, 31 de julho de 2015

N@ CAPA: Audrey Hepburn by Erika Iris Simmons


A capa do blog no mês de julho foi uma obra de Erika Iris Simmons, uma artista plástica americana que se tornou famosa por transformar objetos usados em obras de arte. A ilustração de Audrey Hepburn no clássico Bonequinha de Luxo (1961) é apenas uma das obras da coleção "Ghost in the Machine", onde Erika buscou inspiração no filósofo Gilbert Ryle para criar suas obras. Famoso por descrever como seu espírito vive no corpo, Ryle fez com que Erika visse o ser humano como cassetes e rolos de filmes antigos, ou seja, ideias e pensamentos presos à uma embalagem estranha. Sem tintas ou pigmentos, ela utiliza esse material numa reciclagem artística impressionante. Desmontando bobines e cassetes, reorganizando fitas e filmes e usando apenas alguns cortes, ela criou retratos notáveis de ícones do cinema e da música.  Para conhecer mais a obra da artista você pode visitar sua página na internet

Audrey Hepburn


Marilyn Monroe

Debbie Harry

The Beatles

Madonna

Jimy Hendrix

Bob Dylan

PL►Y: O Amante da Rainha

Mads, Alicia e Mikkel: há algo de iluminista na Dinamarca...

É muito difícil encontrar um romance de época que consegue contar História sem parecer uma aula chata e documental de algo que já aconteceu. Por conta desse mérito, o dinamarquês O Amante da Rainha foi um dos filmes mais elogiados de 2012, colhendo indicações ao Oscar e ao Globo de Ouro de Filme estrangeiro. O filme de Nikolaj Arcel (diretor de Os Homens que Não Amavam as Mulheres na versão original de 2009) é um grande acerto. Não apenas pela belíssima reconstituição de época, mas pela maneira sólida como conduz a dinâmica entre seus três personagens importantes para a História da Dinamarca. Alicia Vikander (que em breve estará no aguardado Ex-Machina de Alex Garland) vive Caroline Mathilde, a jovem inglesa que se casa com o Rei da Dinamarca, Christian VII (Mikkel Boe FØlsgaard) no ano de 1767. Animada com seu interesse pelas artes, a admiradora dos pensadores iluministas logo fica desiludida quando descobre a imaturidade do rei, que é desagradável, grosseiro, agressivo e até violento. A presunção do nobre, somada ao constante consumo de álcool e relações com prostitutas, distanciam cada vez mais qualquer interesse de Caroline por ele. Após o nascimento do primeiro filho, o abismo entre ambos cresce ainda mais, já que ela não possui mais a obrigação de gerar herdeiros para o trono. As coisas irão mudar quando o médico alemão Johann Friedrich Struensee (Mads Mikkelsen) passa a ser o médico particular do rei. Struensse também produzia publicações propagando os ideais iluministas e percebe em Caroline uma aliada para mudar a realidade do povo dinamarquês. Sob influência do médico, Christian VII consegue transformações importantes para o país, o que passa a desagradar muitos nobres (que rendiam mais despesas do que crescimento para o país) que passam a especular sobre até que ponto Struensse pode influenciar no governo da Dinamarca - some isso às suspeitas do adúltero caso entre ele e a rainha e você pode imaginar os problemas que vão aparecer. Sem ser panfletário, Arcel cria um romance envolvente, sem perder de vista o contexto político da época e a luta de interesses que estavam em jogo num período fundamental para o pensamento sócio, político e filosófico da humanidade. Além da qualidade com que trata o período histórico retratado, o filme conta com atuações precisas de seus atores (Mikkel foi considerado o melhor ator do Festival de Berlim em 2012) defendendo um roteiro muito bem construído (também premiado em Berlim) que rende vários momentos de emoções variadas na narrativa (ao ponto de alguns pontos parecerem mais cômicos do que deveriam).  O Amante da Rainha entretêm e faz pensar numa temática pouco explorada no cinema, tonando-se um forte candidato à clássico do cinema. 

O Amante da Rainha (En Kongelig affaere/Dinamarca-Suécia-República Tcheca/2012) de Nikolaj Arcel com Alicia Vikander, Mads Mikkelsen, Mikkel Boe FØlsgaard e David Dencik. ☻☻☻☻

PL►Y: Maze Runner - Correr ou Morrer

Dylan (o quarto da esquerda para direita): herói teen. 

Virou uma febre nos estúdios buscar séries (ou sagas) literárias para adolescentes para transformar em filmes. A porta aberta por Harry Potter (2001) gerou outras adaptações voltadas para o mesmo público. Franquias iniciadas com Crepúsculo (2008), Percy Jackson (2010), Jogos Vorazes (2012) e Divergente (2014) valem ouro entre as plateias juvenis. É verdade que no ramo as meninas levam vantagem no protagonismo (e eu nem mencionei os fiascos Dezesseis Luas/2013 e Os Instrumentos Mortais/2013), portanto, não deixa de ser interessante o sucesso de Maze Runner e sua estrutura majoritariamente voltada para os garotos, com momentos para exercitar a testosterona e os atritos. O filme marcou a estreia de Wes Ball na direção depois de realizar trabalhos de efeitos especiais e direção de arte em vários filmes. Diante do apelo visual percebe-se o motivo da escolha de Wes. Maze Runner não tem o apelo de mitologias ou elementos sobrenaturais para garantir o interesse da plateia, está mais para os modelos de sociedade distópica de Jogos Vorazes e Insurgente (e não deixa de ser interessante como esses dois mundos servem para a construção das aventuras voltadas para os adolescentes, mas isso é assunto para outro momento). Em Maze Runner: Correr ou Morrer, vamos descobrindo a história junto com os personagens numa aventura cheia de suspense. O protagonista da trama é Thomas (Dylan O'Bryen), um rapaz que acorda sem memória trancado em um elevador. O transporte o leva até uma clareira onde conhece um grupo de garotos isolados que vivem isolados às voltas com um misterioso labirinto que abriga criaturas monstruosas que permanecem distantes quando as portas do labirinto se fecham à noite. Entre os meninos existe Gally (Will Poulter e suas sobrancelhas inconcebíveis), o líder do grupo e primeiro a chegar clareira. Gally se considera a pessoa mais indicada a manter a ordem com a ajuda do mais sensato Mewt (Thomas Bordie-Sangster), enquanto um grupo de escolhidos é responsável por mapear o labirinto e encontrar uma possível saída daquela realidade. Com regras rígidas o grupo começa mudar a rotina quando Thomas resolve mudar algumas estratégias de sobrevivência. A partir desse ponto coisas diferentes começam a acontecer colocando em risco o grupo e deixando Gally cada vez mais receoso de manter Thomas no grupo - e tudo piora quando o rapaz recupera a memória. Como em outras aventuras destinadas à faixa etária, o mocinho é mais uma vez aquele sujeito que pensa diferente e aos poucos torna-se um líder por ganhar a confiança do grupo com suas ousadias. Até aí o filme não tem novidade alguma. O frescor da franquia é o tom de mistério que domina a história até o final onde é revelado os maiores segredos daquela realidade sombria. O resultado colheu críticas positivas e agradou as plateias mundiais, ao ponto de render três prêmios no MTV Movie Awards (espécie de termômetro do gênero), sendo todos envolvendo o protagonista Dylan O'Bryen (revelação do ano, melhor luta e melhor herói)  o que só ressalta como os meninos faziam falta nesse filão hollywoodiano. O próximo filme da série (Maze Runner: Prova de Fogo) será lançado no dia 17 de setembro no Brasil. 

Maze Runner: Correr ou Morrer (Maze Runner/EUA-2014) de Wes Ball com Dylan O'Bryen, Will Poulter, Thomas Bordie-Sangster e Patricia Clarkson. ☻☻☻

quinta-feira, 30 de julho de 2015

CATÁLOGO: Impulsividade

Lou: aprendendo a ser você mesmo. 

Existem filmes que eu persigo feito um louco, mas demoro muito tempo para assistir por motivos variados. Um deles foi Impulsividade, o primeiro longa metragem dirigido por Mike Mills (o mesmo diretor que rendeu o Oscar de coadjuvante para Christopher Plummer em Toda Forma de Amor/2011). Lançado em 2005, lembro que alguns críticos não viram nada demais na história de autodescoberta de um adolescente de 17 anos que ainda não superou a mania de chupar o polegar - especialmente porque esse papel rendeu ao jovem Lou Taylor Pucci (na época com vinte anos) o Urso de Prata de Melhor Ator no Festival de Berlim. Porém, acredito que a passagem do tempo só valorizou ainda mais o filme e, com o aumento no uso de ritalina no tratamento de crianças e jovens consideradas hiperativas ou com déficit de atenção, o filme parece fazer ainda mais sentido hoje em dia. Ou seja, de certa forma, a história (adaptada do livro de Walter Kirn), rendeu um longa à frente de seu tempo. Pucci vive Justin Cobb, um adolescente que convive com pais que preferem ser chamados pelo nome ao invés de pai e mãe. Tudo porque Mike (vivido por Vincent D'Onofrio) sente-se velho quando chamado de pai e também não gosta quando escuta Audrey (interpretada por Tilda Swinton) ser chamada de mãe por considerar que ela fica parecendo velha demais para ele. Justin também tem um irmão caçula, Joel (Chase Offerle) que se contenta (ainda) com o universo ao seu redor. Para essa família comum, Mills constrói um lar de silêncios e distâncias, onde os filhos aprendem com os pais a sufocarem suas frustrações na criação de uma imagem que almeja ser de  "sucesso". Isso fica evidente quando Justin é considerado pouco esforçado e desinteressado por não querer competir com os seus colegas nas aulas de retórica. Mike parece ver em Justin somente o seu hábito de chupar o dedo, o que o incomoda bastante. Ele, assim como a esposa, não percebe que aquilo revela que aquilo é sinal de algo sobre o filho adolescente cheio de dúvidas e angústias, mas sem um responsável capaz de ensiná-lo a lidar com seus sentimentos. Quem tenta fazer o rapaz pensar na vida é seu dentista (Keanu Reeves), que chama sua atenção por não querer consertar os dentes dele novamente. Justin começa tratado com hipnose e depois com ritalina. Seu comportamento muda, mas os diálogos continuam longe da realidade do lar de Justin, mas ele disfarça isso tornando-se uma celebridade no grupo de debates da escola - pelo menos até ele ficar preocupado com o fato da ritalina ter apenas três moléculas que a diferencia da cocaína e... a personalidade do rapaz muda novamente. Impulsividade é um filme que trata de um dos maiores dilemas da adolescência: a construção de sua própria identidade, mesclando isso à mania moderna de medicalizar a forma como lidamos com nossos sentimentos mais obscuros. Existe aquele momento desconfortável em que o sentimento de solidão nos faz voltar para nós mesmos e temos que decidir os caminhos que vamos seguir. Em alguns momentos, até os adultos do filme apresentam essa dificuldade, onde até um artista cultuado de TV aparece com sua cota de problemas em lidar com a realidade. É dessa tarefa árdua que se alimenta o filme que é conduzido com aquele tom intimista e pessoal que Mills domina tão bem. Nesse aspecto, o filme fica ainda mais interessante com a presença de Lou Taylor Pucci, que constrói seu personagem com aquele delicioso frescor adolescente de quem ainda considera cedo demais para se render a uma derrota.  

Impulsividade (Thumbsucker/EUA-2005) de Mike Mills com Lou Taylor Pucci, Tilda Swinton, Vincent D'Onofrio, Keanu Reeves, Benjamin Bratt e Kelli Garner. ☻☻☻☻ 

quarta-feira, 29 de julho de 2015

§8^) Fac Simile: Paul Rudd

Paul Stephen Rudd completou 46 anos em 06 de abril desse ano e parece ter embarcado no maior sucesso de sua carreira com Homem-Formiga. Sua primeira experiência no cinema foi no pouco lembrado Questão de Ética (1992), numa época longínqua em que seu nome artístico ainda era Kenny Chin. Três anos depois fez par com Alicia Silverstone em As Patricinhas de Beverly Hills (1995) e no ano seguinte foi rival de Leonardo DiCaprio no coração de Claire Danes em Romeu+Julieta (1996)... mas pouca gente lembra dele nessa época. Depois de sua participação como Mike Hanningam (o noivo de Phoebe) na série Friends de 2002 até 2004, Hollywood passou a vê-lo como comediante.  Nas coletivas de lançamento de Homem-Formiga, nosso repórter imaginário conseguiu fazer cinco perguntas para o ator nessa entrevista que nunca existiu:

§8^) Homem-Formiga marca uma nova fase em sua carreira o de "Heróis de filmes de Ação"?

Paul: Não sei, mas os filmes da Marvel irão me garantir mais adrenalina do que costumo ter na maioria dos filmes que faço. Mas tenho me dedicado a uma pegada mais dramática nos últimos anos, meu novo filme (The Revised Fundamentals of Caregiving baseado no livro de Jonathan Evison) é um drama. Eu também curti fazer o professor de As Vantagens de Ser Invisível/2012 e o protagonista de  Prince Avalanche/2013, o próprio Homem-Formiga tem esse lado mais dramático e humano. Acho que aos poucos estão vendo que sou um ator e não apenas um cara que faz rir... se bem que todo mundo ri quando se fala Homem-Formiga, mas eu sei que com meu currículo ser Superman ou Wolverine não ia rolar!

§8^) Qual a coisa mais idiota que já fez numa comédia?

Paul: Aquele final de Virgem de 40 anos (2005) cantando "Age of Aquarius", teve gente que achou que eu estava chapado. Quando vi aquilo na tela foi pior do que comer com aquele bigodão de O Âncora (2004) ou fingir que eu era dez anos mais jovem em Nunca é Tarde Para Amar/2007 (onde eu parecia um idiota ao lado de Michelle Pfeiffer). Tínhamos outras opções musicais para terminar o filme, uma delas era "Like a Virgin". Eu tinha até uma versão com black power cantando "Sex Machine" do James Brown, mas teve gente que achou ofensivo.

§8^) Foi fácil atuar com as Formigas?

Paul: No início fiquei assustado, mas depois fiquei amigo de todas elas. As formigas são muito talentosas e gostam de improvisar! São tão ativas que você nem percebe o quanto gostam de açúcar! Infelizmente não temos grande variedade de filmes com elas. São muito discriminadas...

§8^) Qual a pior coisa de se preparar para ser um super-herói?

Paul: Parar de comer tudo o que eu gosto e ter que malhar feito um louco... para depois descobrir que poderiam ter feito aquele abdome tanquinho com efeitos de computação gráfica!!!

§8^) Onde você estava com a cabeça para começar a carreira com um nome feito Kenny Chin?

Paul: Não faço a mínima ideia, meu amigo... mas se me der alguns minutos eu posso inventar alguma história envolvendo ninjas e samurais assassinos com os personagens de South Park numa realidade paralela...

NaTela: Homem-Formiga

Rudd: um herói meio bandido. 

Para início de conversa eu gostei muito de Homem-Formiga, o considerei um acerto maior do que a sequência de Vingadores. Parte disso deve ficar por conta de todas as exclamações que cercaram a produção do herói que era um ilustre desconhecido para quem não conhece mais do que o primeiro time de heróis Marvel. Quem não ouviu alguém dizer "Home-Formiga?! Nunca ouvi falar!" quando começaram as especulações sobre o filme. Por outro lado, quem conhecia o herói estranhou quando o ator Paul Rudd - descoberto pela comédia escrachada do século XXI depois que não decolou como jovem galã apresentado em Patricinhas de Beverly Hills/1995. Eu fui mais além quando soube que o diretor do longa seria Peyton Reed (diretor de comédias como o retrô Abaixo o Amor/2003 e o sucesso Separados pelo Casamento/2006), ou seja, as expectativas para o filme chegaram ao ponto de parecer um pastelão. Sorte que o resultado não é nada disso. Ainda que tenha bastante humor, o filme não tem aquelas piadinhas forçadas que tiraram muito do gás da continuação de Vingadores. No longa de Reed, o humor nasce naturalmente das situações, mas não atrapalham o desenvolvimento da história, ao contrário, a complementa. Vale ressaltar que o filme também se beneficia dos momentos dramáticos de seus mocinhos, especialmente de Scott Lang (Paul Rudd), um ladrão que é libertado depois de passar anos na cadeia. Fora das grades, a vida de Lang se tornou um desastre, perdeu a guarda da filha para a ex-esposa (Judy Greer) que acabou casando com um policial (Bobby Cannavalle). Com dificuldades para ganhar a vida, ele acaba roubando a casa do Dr. Hank Pym (Michael Douglas), sem saber que vestirá o traje do lendário Homem-Formiga. Mas para se transformar no herói que encolhe e se comunica com formigas (isso mesmo, por ondas eletromagnéticas) ele passará pelo treinamento promovido por Pym e a filha deste, Hope Van Dyne (Evangeline Lilly, que eu adoraria que fosse a Mulher-Maravilha, mas... me contento em vê-la como Vespa) que se considera a melhor pessoa para vestir o traje do Homem-Formiga. Pyn e Hope precisam da ajuda de Lang para impedir que Darren Cross (o sempre competente Corey Stoll) produza um traje ainda mais arrojado (e perigoso) que do Homem-Formiga, o Jaqueta Amarela que poderá cair em mãos erradas visto a ganância de Cross. O roteiro do filme traz uma avalanche de referências aos filmes da Marvel lançados até aqui, de Howard Stark envelhecido (pai do Tony vivido pelo Mad Men John Slattery), passando pela Agente Carter (Hayley Atwell) e chegando à elaborada briga do Formiga contra Falcão (Anthony Mackie) o filme não perde o ritmo da diversão que convida o espectador a embarcar na aventura sem ter a inteligência insultada. Obviamente que tudo é absurdo, mas é visível o trabalho que tiveram para justificar cada efeito ou ideia. Visualmente Homem-Formiga bebe na fonte de filmes de ficção científica da década de 1980 (como Querida Encolhi as Crianças/1989 e Viagem Insólita/1987) e a aproveita cada efeito para que o espectador tenha a mesma sensação do personagem quando encolhe (ao pondo de até a experiência de tornar-se subatômico parece plausível visualmente). Tanto cuidado com a produção (incluindo um diretor que se preocupa com o tom tragicômico do personagem e a escolha de um ator carismático na medida certa como Rudd) se explica por ter início aqui a fase dois da Marvel na telona, introduzindo os fatos do aguardado  Capitão América: Guerra Civil /2016 (fique na sala até terminar os créditos, o filme tem duas cenas finais importantes para as próximas aventuras do estúdio)  e se estenderá até Vingadores 3: Guerra Infinita. Ou seja, Homem-Formiga tem o tamanho ideal para a continuar o legado Marvel no cinema.  

Homem-Formiga (Ant-Man/EUA-2015) de Peyton Reed com Paul Rudd, Evangeline Lilly, Michael Douglas, Corey Stoll, Bobby Cannavale, Judy Greer e Michael Peña. ☻☻☻

domingo, 26 de julho de 2015

BREVE: Corações Famintos

Adam e Alba: casamento de diferenças. 

Desde que assisti o excelente A Solidão dos Números Primos (2010) que aguardo o novo filme do cineasta italiano Saverio Costanzo. Em 2014 ele competiu no Festival de Veneza por Hungry Hearts e celebrou quando viu seus atores Adam Driver e Alba Rohrwacher sendo considerados os melhores intérpretes do Festival. No entanto, o filme ainda encontra problemas de distribuição e nem mesmo as boas críticas recebidas no Festival do Rio no ano passado contribuíram para ser lançado no circuito comercial brasileiro. Acredito que estão esperando ver o resultado da campanha realizada para o filme ser lembrado no Oscar do ano que vem - pelo menos o lobby em torno de Adam Driver está forte. O pior dessa história é que Corações Famintos é um ótimo filme que poucos brasileiros terão oportunidade de assistir na telona, já que periga até sair direto em DVD (assim como aconteceu com A Solidão...). Baseado no livro de Marco Franzoso, o diretor cria mais uma vez um drama que parece um suspense (e isso costuma frustrar os espectadores) a partir do relacionamento de um jovem casal. O americano Jude (Adam Driver) e a italiana Mina (Alba Rohrwacher) se conhecem da forma mais constrangedora possível ao ficarem presos num banheiro (depois que ele tem problemas estomacais por comer um certo tipo de peixe). Percebe-se ali o quanto Jude é espontâneo e Mina é contida. Nas próximas cenas eles serão namorados. Ela descobrirá que está grávida. Eles se casam. A ideia de que algo está errado com o casório precoce parece representada por um sonho que persegue Mina (onde um caçador mata um cervo após a festa de casamento e desaparece na escuridão). Eis que na gravidez, Mina começa a apresentar uma postura estranha, onde os excessos de proteção beiram a obsessão e podem prejudicar sua vida e a do bebê. Mais do que vegana, Mina começa a apresentar outras restrições e distúrbios que comprometem o desenvolvimento do seu filho e preocupa cada vez mais Jude - que não sabe o que fazer com o comportamento da esposa, apenas sabe que seu filho está a beira do raquitismo. Então começam os desentendimentos entre o casal numa atmosfera psicológica tensa onde, mais uma vez, Costanzo imprime uma atmosfera realista que flerta com ângulos surreais na vida dos seus personagens. Dos pesadelos, passando pela claustrofobia do apartamento (do qual a mãe proíbe que o filho saia até que o considere "pronto" para isso - e ele já tem sete meses de vida) ao uso de cenas distorcidas, Corações Famintos usa como referência o clima impresso por Polanski em O Bebê de Rosemary, conseguindo gerar grande angústia. Há de se elogiar como o diretor consegue construir um panorama complexo sobre o casamento a partir de uma história aparentemente simples. Das omissões, dos acordos, das violências e abusos que seguem de um lado e de outro, o filme é repleto de detalhes (que torna tudo mais interessante, como os animais empalhados ou a forma como Mina definha diante da câmera) num texto incomum. Além dos elogios merecidos à Driver e Alba (que aqui alcançou a impressionante marca de quatro prêmios de atuação no Festival de Veneza) há de se elogiar ainda a atuação da veterana Roberta Maxwell que tem poucas cenas para dar conta de um personagem complicado, mas fundamental para o desfecho da história que resvala num olhar doentio sobre a maternidade. Pode se dizer que Corações Famintos abraça o caos no relacionamento de seus protagonistas e o oferece ao espectador de forma assustadora. 

Corações Famintos (Hungry Hearts/Itália-2014) de Saverio Costanzo com Adam Driver, Alba Rohrwacher, Roberta Maxwell, Al Roffe e Jason Selvig. ☻☻☻☻

sábado, 25 de julho de 2015

FILMED+: Cabaret

Liza na pele de Sally: a vida é um cabaret.

Sempre acho que Bob Fosse ainda é menos lembrado do que deveria, o motivo pode ser o fato de ter ganho o Oscar de direção no mesmo ano em que  Francis Ford Coppola concorria por O Poderoso Chefão (Coppola levou o Oscar de roteiro adaptado e levaria para casa a estatueta de diretor somente em 1975, pela continuação da saga). No ano em que o filme de Coppola garantiu as estatuetas de Melhor Filme, Roteiro Adaptado e Ator (para Marlon Brando), Fosse viu seu Cabaret levar oito prêmios. Pelo episódio, acredito que existe um certo ranço com a obra de Fosse no cinema. Famoso por sua carreira como dançarino e coreógrafo brilhante, Bob colecionou vários prêmios Tony no teatro e carregou sua ousadia para o cinema em 1969 (com Sweet Charity estrelado por Shirley MacLaine) e a aprofundou com Cabaret - que é considerado por muitos o único grande musical da década de 1970 (talvez o único que chegue perto é All That Jazz/1979, também de Fosse). O motivo para isso é a forma como mescla seus números musicais inesquecíveis com a história, especialmente no desenho dos personagens que personificam alguns tipos que circulavam pela Berlin da década de 1930. Isso mesmo, o Cabaret de Fosse ganha vida tendo como pano de fundo a ascensão nazista na Alemanha. Portanto, torna-se ainda mais fascinante ver o que o diretor faz a partir do musical de John Kander e Fred Ebb baseado na peça de John Van druten (I'm a Camera) que era inspirado no livro Adeus a Berlim de Christopher Isherwood. Tantas referências são mescladas com perfeição entre as cenas de palco e as externas (que retratam o início das mudanças que alterariam para sempre a história mundial), nesse processo, as canções funcionam como a costura da narrativa. Assim, enquanto vemos a cantora Sally Bowles (Liza Minnelli no papel de sua vida) e Brian (Michael York) ajustando o romance em meio às dificuldades financeiras - e o assédio do milionário Maximilian (Helmut Griem), desfrutamos de canções devidamente apresentadas pelo sinistro Mestre de Cerimonias (vivido por Joel Grey, Oscar de ator coadjuvante) que ora disfarçam as angústias da Alemanha, ora as extrapola sobre o palco decadente do Kit Kat Klub (que reflete bastante a situação econômica do país que abraçaria Hitler e suas ideias), melhor exemplo disso é a arrepiante "If you could see her" que retrata o início da perseguição dos judeus no país. O cineasta filma os dilemas amorosos de seus personagens (que pode até chocar os mais puristas) e os números sobre o palco com o mesmo realismo, alcançando um resultado que ainda hoje impressiona - principalmente se ficarmos atento às mudanças que acontecem na plateia durante a passagem do tempo no filme (culminando no final onde o palco está mais bem iluminado e a plateia repleta de suásticas que aparecem distorcidas num espelho). Entre cinismos e alegorias, Fosse consegue um raro equilíbrio ao abordar o início do nazismo dentro de um musical, provocando alguns incômodos e angústias (especialmente no último número de Sally que parece esperançosa antes dos tambores incessantes) que não deixam de revelar a postura das pessoas comuns que fortaleceram a escalada de Hitler ao poder. O mais curioso é que sempre que vejo os filmes de Bob Fosse, penso em como a grande maioria dos musicais do século XXI me são insossos e desinteressantes, afinal, o que dizer de um gênero que vive dos filmes de Rob Marshall atualmente? O que falta em ousadia e alma no diretor de Nine (2009) tem de sobra, há mais de quarenta anos na obra de Fosse. Bob faz falta. 

Cabaret (EUA-1972) de Bob Fosse com Liza Minnelli, Michael York, Helmut Griem e Joel Grey. ☻☻☻☻☻

sexta-feira, 24 de julho de 2015

PL►Y: O Médico Alemão

Àlex e Florencia: a passagem do Anjo da Morte pela Argentina. 

O médico alemão Josef Mengele tornou-se uma espécie de fantasma do nazismo, um fantasma que assombrou até alguns países da América Latina até 1979, quando faleceu na cidade paulista de Bertioga, no Brasil. Conhecido como "O Anjo da Morte", Mengele ficou conhecido pelas suas experiências em seres humanos em campos de concentração durante a Segunda Guerra Mundial. Célebre durante o Holocausto, Mengele fugiu da Alemanha seguindo por alguns países, encontrando abrigo na Argentina por vários anos com o uso de uma identidade falsa, no entanto, não são poucos os historiadores que afirmam que muitas autoridades sabiam do paradeiro do médico desde o início. O filme de argentina Lucía Puenzo (do celebrado XXY de 2007) revisita a temporada do médico em seu país a partir do seu encontro com uma família comum que o hospeda em sua pousada e serve de cobaia involuntária para pesquisas de Mengele. Ambientado nos arredores de Bariloche, a trama (adaptada do livro Wakolda escrito pela própria cineasta) ficcionaliza o período em que perderam o paradeiro de Mengele  na América Latina durante os anos 1960, no entanto a trama serve para explorar um dos personagens mais sombrios da história de forma bastante interessante. Vivido pelo ator alemão Àlex Brendemuhl, Mengele é um homem calado, circunspecto, mas que consegue ganhar a confiança da família, tornando-se bastante próximo, especialmente da menina Lilith (Florencia Bado), que apesar de ter treze anos, possui aparência de nove. A menina ouve provocações na escola e comentários frequentes dos amigos da família sobre sua estatura e o médico tenta convencer os pais da menina a submetê-la a um tratamento hormonal. Embora o patriarca (Diego Peretti) seja desconfiado, a mãe de Lilith (Natalia Oreiro) confia tanto no médico que aceita seus trabalhos até no acompanhamento de sua gravidez de gêmeos. O roteiro enxuto consegue cumprir a difícil tarefa de criar um suspense doméstico com pequenos indícios do passado do estranho médico, um comentário aqui, um registro no caderno ali, a postura dos alunos da escola alemã e até mesmo o financiamento das bonecas criadas pelo pai da família se tornam fortes simbologias sobre o lado sombrio do personagem. O elenco tem bons momentos (mesmo tendo que falar a difícil língua alemã com naturalidade) e o destaque fica com Brendemuhl  e Elena Roger (que vive uma fotógrafa fundamental para o desenrolar da trama). Bem conduzido e produzido o filme concorreu em 16 categorias no prêmio da Academia de Artes e Ciências Cinematográficas da Argentina (o Oscar de lá), levando dez para casa (incluindo filme, direção, ator/Àlex Brendemuhl, atriz coadjuvante/Elena Roger) e vale a pena conferir o resultado. 

O Médico Alemão (Wakolda/Argentina-2013) de Lucía Puenzo com Àlex Brendemuhl, Florencia Bado, Natalia Oreiro, Diego Peretti e Elena Roger. ☻☻☻☻

quarta-feira, 22 de julho de 2015

PL►Y: Amaldiçoado

Daniel: virando o chifrudo da cidade. 

Alçado ao posto de diretor de horror moderninho com o cult Alta Tensão (2003), o francês Alexandre Aja tinha grandes expectativas com o lançamento de Horns no ano de 2013. A trama sobre o rapaz acusado de matar a namorada e que, misteriosamente, vê chifres crescendo em sua testa era tão cheia de possibilidades que atraiu a atenção do jovem astro Daniel Radcliffe (sempre disposto a conseguir um papel diferente do eterno Harry Potter) e, por consequência, conseguiu escalar bons atores para os papéis coadjuvantes.... pena que o resultado beira o desastre (tanto que o filme teve problemas de distribuição depois de fracassar na bilheterias de vários países). O maior problema é que a história é confusa demais, cheia de reviravoltas bruscas, seja nos rumos da trama, dos gêneros que abraça e até na identidade dos personagens. Entre altos e baixos acompanhamos por duas horas a trajetória de Ig (Radcliffe), acusado de matar a sua amada Merrin (Juno Temple). Ainda que Ig afirme ser inocente, nem os seus pais acreditam nele, o que só o deixa mais tenso com a rejeição que a população local passa a ter dele. Eis que um belo dia Ig acorda com chifres crescendo em sua cabeça, mas eles não são chifres comuns: fazem com que as pessoas digam o que se passa de pior em suas cabeças. O recurso poderia injetar um pouco de humor na história, mas o resultado é bem sem graça, com um bando de personagens que aparecem na história só para falar alguma atrocidade e depois desaparece da história. Ig passa quase uma hora nessa palhaçada, até que o protagonista perceba que pode usar esse "poder" para descobrir quem é o verdadeiro vilão da história. Nisso, entra na história uma garçonete que sonha em ser uma celebridade (Heather Graham, que incorpora o espírito trash que o filme tenta disfarçar), um advogado amigo do protagonista que acredita em sua inocência (Max Minghella)  e o irmão de Ig (Joe Anderson), mas não espere uma história bem amarrada. Quando você acha que entendeu como funciona a história, o filme muda do humor negro para um horror de guinadas forçadas que aponta um assassino em cada cena conforme Ig torna-se cada vez mais descontrolado (ou seria diabólico?). Nessa parte, os diálogos que já não eram bons ficam piores e alguns risos involuntários podem aparecer. Depois de torturar alguns personagens a verdade surge e o filme inventa um final que se estende mais do que deveria, deixando tudo cada vez mais arrastado. Amaldiçoado mostra como um autor pode tornar uma boa ideia num filme que é puro exercício de paciência para o espectador mais otimista. Ainda que queira parecer romântico, poético e moderninho, o filme deve conseguir alguns fãs somente nos admiradores de filmes classe Z. 

Amaldiçoado (Horns/EUA-Canadá/2013) de Alexandre Aja com Daniel Radcliffe, Juno Temple, Max Minghella, Joe Anderson, Heather Graham, David Morse e Katheleen Quinlan.

terça-feira, 21 de julho de 2015

Na Tela: Correr e Pular

Will e Maxine: fazendo o que o título manda. 

Eu não imaginava que o filme Correr e Pular fosse ficar tanto tempo em cartaz no Brasil. Depois de ser exibido no Festival Internacional de Cinema de São Paulo em outubro, o filme entrou em cartaz no dia 18 de dezembro de 2014 em algumas cidades do país e encontra-se ainda em cartaz na cidade do Rio de Janeiro (ainda que em uma única sala). Minha surpresa não é por questionar as qualidades do filme, mas por ser uma obra onde as situações falam mais alto do que os diálogos, que na grande maioria das cenas são até dispensáveis. O sucesso do filme pode ser atribuído pela forma sensível como a diretora Steph Green conta uma história difícil, afinal, gira em torno de uma família irlandesa que sofre fortes mudanças depois que o patriarca sofre um AVC. Quando o filme começa, Conor (Edward MacLiam) acaba de retornar para a casa após despertar do coma. Sua esposa (Maxine Peake) está disposta a ajudar em tudo o que for possível para que a rotina da casa volte ao normal, ou pelo menos, encontre um ponto cômodo dentro da nova realidade da família perante as sequelas do esposo. Conor ganhava a vida como marceneiro e seu retorno para casa inclui reatar os laços com os filhos, a pequena Noni (Ciara Gallagher) e o filho adolescente Lenny (Brendan Morris). Junto com o patriarca, chega à casa o médico americano Ted Fielding (Will Forte), responsável por estudar o caso, registrando o  cotidiano do paciente com uso de uma câmera e relatórios, além de acompanhar seu desenvolvimento com alguns exercícios prescritos. Correr e Pular se desenvolve de forma bastante simples, com cenas que parecem soltas,  que só denota o flerte com o tom documental (não apenas por conta das filmagens de Ted, mas porque a própria diretora Steph Green é uma documentarista  de mão cheia - foi até indicada ao Oscar pelo curta New Boy em 2008). O tom realista retrata a dificuldade cotidiana dos familiares ao lidar com a presença de um Conor diferente que demonstra alguns avanços, não apenas em sua conduta física como sócio-afetiva ao longo da história. Ainda que o roteiro invista no interesse de Vanetia por Ted (mais por conta da confusão dos sentimentos que ela atravessa do que por tesão propriamente dito), esse é apenas um indício do que o filme tem de mais interessante: o olhar de um pesquisador sobre o universo pesquisado. Ted é basicamente apresentado como um cientista e, como tal, evita envolver-se com o ambiente de sua pesquisa, o que é praticamente impossível. Ele mesmo explica para Vanetia que seu relatório é apenas científico (e explica utilizando as palavras mais frias possíveis sobre o estado de Conor), mas a neutralidade mostra-se impossível. Seja através da interação com os problemas de Lenny ou as brincadeiras de Noni, Ted está envolvido até o pescoço com a família que interage, ainda que evite ao máximo se envolver. O então comediante Will Forte, que fez o filme no mesmo ano que o aclamado Nebraska, demonstra mais uma vez que dá conta de um personagem dramático sem esforço, seu olhar triste é tão abrasivo quanto o de sua parceira de cena, Maxine Peake. Diante da proposta do filme, a interação entre os atores mostra-se o mais importante no desenvolvimento da história. Embora eu considere que alguns aspectos merecessem ser mais aprofundados (como os dilemas de Lenny e a própria atração de Vanetia por Ted), Correr e Pular consegue ser um bom filme por sua sinceridade e carinho no retrato dos personagens que buscam novos papéis numa família diferente da que estavam acostumados.

Correr e Pular (Run and Jump/Irlanda-Alemanha/2013) de Steph Green com Will Forte, Maxine Peake, Edward MacLiam, Ruth McCabe e Brendan Morris. ☻☻☻ 

segunda-feira, 20 de julho de 2015

CATÁLOGO: O Verão de Sam

Quatro amigos: intolerância no verão de 1977.

O ano de 1999 foi um ano memorável para o cinema americano, foram tantos títulos respeitáveis (Beleza Americana, Magnólia, Clube da Luta, Quero Ser John Malkovich...) que alguns acabaram não recebendo o destaque que deveriam. O Verão de Sam é um desses, trata-se de um retrato exuberante do diretor Spike Lee sobre o verão em que um serial-killer ameaçava os bairros de Nova Iorque. É verdade que alguns podem estranhar o fato do diretor centrar sua trama mais num grupo de amigos do que na construção de uma narrativa investigativa sobre o assassino. Porém, existem as cenas de assassinatos, pequenas doses do cotidiano do lunático (especialmente com seus nervos explodindo com um cão que insiste em latir a noite inteira) e até um investigador (vivido por Anthony LaPaglia) que tenta encontrá-lo, mas Lee prefere voltar a câmera para o casal Vinny (John Leguizamo) e Dionna (Mira Sorvino) e seus amigos, especialmente o punk Richie (Adrien Brody) e a namoradeira Ruby (Jennifer Esposito) que engatam um romance.  Vinny e Dionna não casados, mas ele permanece infiel por considerar que algumas peripécias sexuais não podem ser feitas com a esposa por puro respeito. No verão de 1977, ele a trai mais uma vez e escapa por pouco de se tornar vítima do assassino conhecido com O Filho de Sam. A partir daí, Vinny considera que trata-se de um sinal divino de que Deus está ciente de suas traições. A coisa piora quando seu pânico alimenta os boatos de que ele teria visto quem é o assassino - o que só aumenta o medo dele ser a próxima vítima. Enquanto Dionna tenta salvar o casamento do abismo, um grupo de amigos de Vinny começam a suspeitar de todos que consideram estranhos no bairro, especialmente Richie. Num tempo onde todos apreciavam o visual das discotecas e desejavam dançar no Studio 54, Richie usa cabelos espetados, roupas rasgadas e deseja tocar no CBGB, o templo da música punk na década de 1970! A figura de Richie causa estranhamento até em seus parentes, que exigem que ele vá morar na garagem - e quando descobrem que o rapaz ganha a vida fazendo shows em um inferninho gay das redondezas a coisa promete piorar. Spike Lee utiliza cores fortes para construir esse retrato autoral da década de 1970, recria a euforia festiva da época, temperada com o horror de um período onde um blackout poderia gerar um dos maiores saques da história dos EUA. Costurado com trechos jornalísticos da época (e outros dramatizados), valorizando a reconstituição de época e a trilha sonora, O Verão de Sam é um filme vibrante que mescla humor, romance, drama e suspense numa trama que poderia ser apenas mais um thriller policial, mas revela-se uma boa crônica urbana, valorizada ainda mais pelo seu devotado elenco. Mira encontra aqui seu melhor (e último) bom momento depois do Oscar de coadjuvante por Poderosa Afrodite (1995) e Adrien teve a chance de finalmente chamar atenção num papel complicado que depende muito de sua habilidade diante da câmera. Com tudo isso, O Verão de Sam parece valorizar-se ainda mais com a passagem do tempo.

O Verão de Sam (Summer of Sam/EUA-1999) de Spike Lee com John Leguizamo, Adrien Brody, Mira Sorvino, Anthony LaPaglia, Jennifer Esposito e Spike Lee. ☻☻☻☻

PL►Y: Godzilla

Aaron: o verdadeiro protagonista de Godzilla.

Faz tempo que Hollywood tenta fazer do monstro Godzilla um sucesso do cinema americano. O monstro ícone do cinema japonês já protagonizou 28 filmes da Toho Film Company em sua terra natal, enfrentando monstros variados, alienígenas e até King Kong (em 1962)! O Rei dos Monstros ainda virou personagem de duas séries de desenho animado (em 1977 e 1998), além de personagem de história em quadrinhos da Marvel em 1977 e 1979! Em Hollywood a carreira do personagem é mais restrita, em 1998 foi levado para a cidade de Nova Iorque pelo diretor Roland Emmerich produzido pela TriStar Pictures e o resultado dividiu o opiniões com o roteiro fraco e elenco irregular... decepcionando nas bilheterias as intenções de uma franquia naufragaram. Ano passado foi a vez da Warner ressuscitar Godzilla com um elenco de respeito que ajudou em sua arrecadação mundial de bilheteria. A trama tem um cuidado minucioso de contar a origem do monstro, fundindo ao drama da família Brody. Sandra Brody (Juliette Binoche) e Joe Brody (Bryan Cranston) trabalham numa usina nuclear no Japão e um acidente irá mudar suas vidas para sempre, especialmente do pequeno Ford, que crescido se tornará (Aaron Taylor-Johnson) membro do esquadrão anti-bombas americano e que tem problemas em lidar com a obsessão do pai com o acidente ocorrido mais de uma década atrás. Joe ainda persegue os motivos do acidente e percebe que há alguns mistérios que não querem que sejam descobertos. A vida de Ford seguiu, ele casou (com Elizabeth Olsen) e tem um filho adorável, mas o pai irá tragá-lo para uma descoberta inusitada: monstros que se alimentam de radioatividade desde antes da origem da humanidade e que estão prestes a despertar. Esses monstros são os alvos dos cientistas Vivienne Graham (Sally Hawkins) e Ishiro Serizawa (Ken Watanabe) que percebem ser inevitável evitar que o monstro ancestral Gojira desperte e preserve o equilíbrio numa Terra que pode ser povoada por monstros novamente.  O pequeno texto acima reflete o clima do filme: uma estrutura rebuscada entre cientistas, militares e civis que terão que lidar com grandes problemas e, como deu para perceber, o Godzilla aparece pouco, sendo visto de relance durante o maior parte da sessão e tendo destaque somente na batalha final. Acho que o filme do diretor Gareth Edwards (que ficou famoso com o cultuado indie pós-apocalíptico Monsters/2010) é um filme de Godzilla que não quer ser filme de Godzilla, preferindo se concentrar nos dramas humanos de quem presencia o aparecimento do monstro, o problema é que o drama dos personagens não são originais, parecendo seguir o típico manual de filme catástrofe (o passado que retorna, a família que se separa e se reencontra...) empolgando menos do que deveria numa estrutura narrativa manjada. Quem curte efeitos especiais e sonoros poem até curtir a cenas com os monstros gigantes, mas fica evidente a dificuldade do roteirista encontrar assunto para encher linguiça entre essas cenas - que se forem somadas duraria uns trinta minutos. Será que a sequência agendada para 2018 irá melhorar a fórmula gasta?

Godzilla (EUA-2014) de Gareth Edwards com Aaron Taylor-Johnson, Bryan Cranston, Elizabeth Olsen, Ken Watanabe, Sally Hawkins e Juliette Binoche. 

quarta-feira, 15 de julho de 2015

NªTela: True Detective - Segunda Temporada

Os detetives e a vítima: as armadilhas da segunda temporada. 

Ouvi vários críticos comentando que a segunda temporada de True Detective melhora depois do terceiro episódio, por isso demorei para escrever minhas inquietações sobre os novos capítulos de uma das séries mais cultuadas de 2014. Como seu criador, Nic Pizzolatto já havia mencionado, nessa nova fase da série na HBO mudou os personagens e o cenário (agora a trama se passa em Los Angeles), por isso, esperei que meu estranhamento passasse por conta da guinada que prometiam. Pois True Detective terá seu quinto episódio exibido no próximo domingo na HBO e, se levarmos em consideração que cada temporada tem apenas oito episódios, a trama já deveria ter mostrado a que veio faz tempo. Depois de colocar Matthew McConaghey e Woody Harrelson desbravando o lado mais sombrio de suas personalidades em meio a uma soturna visão do universo sulista americano, Pizzolatto preferiu aumentar o número de personagens e desenvolver uma história sobre o submundo de Hollywood com sexo, drogas e perversões variadas, ou seja, nada que já não tenha sido explorado em programas e filmes variados. Sem novidades, fica difícil escrever sobre os personagens dessa temporada, a todo instante escuto elogios às atuações de Rachel McAdams (a detetive durona Ani Bezzerides), Colin Farrell (o vacilante detetive Ray Velcoro) e Taylor Kitsch (o oficial Paul Woodrugh), mas apesar do esforço do trio, ainda não sei muito bem o que eles estão fazendo. Sei que Ani tem uma família problemática, que Ray tem envolvimento com o misterioso Frank Semyon (Vince Vaughn) além de problemas com a ex-mulher, sei que Paul quer esconder seu passado no Afeganistão (sobretudo seu envolvimento com um colega de combate), mas até o momento todos eles estão muito distantes da profundidade apresentado pelos detetives Rust e Marty da primeira temporada. Todos os personagens parecem distantes, vagando pelo roteiro em busca de um sentido em torno da morte de um empreendedor encontrado com olhos derretidos por ácido e sem genital. É esse crime que une os três detetives que não conseguiram (ainda) ter liga na narrativa, além disso, envolve Semyon.  sobre o personagem, muita gente está surpresa com a atuação de Vince Vaughn, como se ele servisse apenas a encarnar idiotas em comédias (o que não procede, basta ver seus filmes na década de 1990), ou seja, nem a performance do ator me surpreende. Até agora houve duas cenas marcantes na temporada, quando aparece o atirador com cabeça de pássaro na casa de Velcoro e a longa cena do tiroteio que fecha o quarto episódio (e que poupa só o trio protagonista), mas nada que revele muita coisa, tudo fica no ar, na penumbra... em suma, o que vi até agora parece mais maçante e inútil do que interessante, mas fico sempre na expectativa que durante o episódio algo revelador apareça e deixe tudo fazendo sentido, só espero que isso não ocorra somente no último episódio. Afinal, levando em consideração o final abstrato da temporada anterior, essa está longe de ser a intenção de Pizzolatto. Chego então à conclusão que talvez meu apreço pela primeira temporada tenha mais relação com a forma como o criador manipulava nossos medos diante de uma história cheia de caminhos e possibilidades destinadas à danação, enquanto a segunda temporada, caiu na armadilha de ir para lugares mais comuns e gastos em dezenas de tramas policiais já realizadas. 

True Detective - 2ª Temporada (EUA/2015) criada por Nic Pizzolatto com Rachel McAdams, Colin Farrell, Vince Vaughn, Taylor Kitsch e Kelly Reilly.

.Doc: Atari - Game Over

E.T.: escavando o passado da gigante dos games. 

Atari: Game Over é quase um manifesto sobre a empresa gigante de videogames das décadas de 1970 e início dos 1980. Produzido com dinheiro da Microsoft, o filme conta a ascensão e queda da empresa a partir de uma espécie de lenda urbana: o enterro das cópias de seu maior fracasso de vendas (o game baseado no filme ET de Steven Spielberg) num aterro sanitário numa cidade do Novo México. Narrado e conduzido pelo roteirista Zak Penn  - um nerd de carteirinha que já escreveu X-Men 2 (2006) e Os Vingadores (2012) - o filme parte do mito que cerca o fracassado jogo da empresa, que é conhecido até hoje como o pior game já criado, presente no topo de dez entre dez listas sobre jogos mal sucedidos, chegando ao ponto de ser considerado a causa da falência da empresa. Perseguindo a ideia de que a Atari teria ficado com tanta raiva que enterrou os cartuchos no lixão, Penn e sua equipe constrói um painel interessante que resgata a história da empresa. Dos criadores dos jogos com sua rotina de trabalho inusitada para os meros mortais, passando pela ideologia que transformou os televisores num instrumento interativo para toda a família. Os jogos da Atari viraram febre e chamaram atenção dos grandes estúdios (a Warner chegou a comprar a empresa com interesse aos seus lucros fabulosos) e, por consequência, jogos sobre filmes começaram a  aparecer. Além de entrevistas com os fundadores da empresa, especialistas e criadores dos jogos, o filme consegue reviver uma época onde a tecnologia mais simples que a de hoje, não significava jogos menos elaborados. Paralelo a história da empresa, conhecemos o criador do famigerado jogo E.T., Howard Scott Warshaw, um dos maiores gênios criadores da empresa, mas que foi marcado pelo fracasso do jogo e teve que mudar totalmente o rumo da sua carreira. O filme passa a limpo essa história, mostrando que a empresa tinha problemas para além das vendas abaixo das expectativas de um jogo específico, além disso, mostra o processo complicado que cercou a criação do jogo e a histeria coletiva que gerou ao ser comparado com um dos maiores sucessos do cinema. Atari - Game Over  é feito na medida para os nostálgicos e, por isso mesmo, capta os momentos exatos de fazer referências à cultura pop do período em que a empresa existia - o que só torna o programa muito mais interessante e emocionante, sobretudo no momento que o aterro é explorado em busca da verdadeira história debaixo de algumas toneladas de entulho. O documentário, que funciona como uma viagem no tempo, está disponível no Netflix. 

Atari - Game Over (EUA-2014) de Zak Penn com Zak Penn, Paul Sanchez, Howard Scott Warshaw, George R.R. Martin e Steven Spielberg. ☻☻☻ 

terça-feira, 14 de julho de 2015

PL►Y: A Presa

Justin e Michael: como fazer uma morsa humana...

Sempre acho interessante quando um diretor quer se aventurar por um gênero diferente do que costuma trabalhar, no entanto, me preocupo quando a coisa começa a desandar por pura covardia. A Presa é um filme de terror dirigido por Kevin Smith, que ficou famoso em 1994 quando criou um dos filmes independentes mais bacanas de todos os tempos (O Balconista/1994), desde então ele não conseguiu repetir o belo resultado de seu filme de estreia, ainda que existam obras interessantes (Procura-se Amy/1997 e Dogma/1999), o cinema de Kevin Smith não impressiona ninguém faz tempo. Com A Presa a coisa parecia que seria diferente, já que começa muito bem em seu clima de terror crescente conforme descobrimos o que está para acontecer. A história acompanha um podcaster chamado Wallace Bryton (Justin Long), que trabalha ao lado de um amigo (vivido por um gordinho Haley Joel Osment, mais conhecido como o menino de O Sexto Sentido/1999) num programa dedicado a conhecer pessoas estranhas. Eis que em uma de suas aventuras, Bryton parte rumo ao Canadá e encontra o anúncio de um velho senhor chamado Howard Howe (Michael Parks) que oferece abrigo grátis para quem quiser. Aos poucos, Bryton conhece um pouco da história daquele senhor, que já enfrentou uma guerra, um naufrágio e até conheceu Ernest Hemingway! Enquanto bebê chá, Howe lhe conta mais detalhes de sua vida de aventuras e embora Bryton o considere inofensivo, um olhar aqui e uma frase ali demonstra ao espectador que os parafusos de Howard podem estar um tanto frouxos, principalmente quando atribui sua sobrevivência à uma morsa (animal que considera o ser mais nobre da face da terra). Não demora muito para que Howard se revele um lunático e, enquanto a namorada de Bryton (Genesis Rodriguez) acredita que ele a esta traindo com alguma garota por aí, o rapaz sofre algumas das situações mais estranhas que já se viram na tela de cinema. Howard irá transformá-lo numa morsa! Entre costuras e implantes a absurda transformação revela-se bastante perturbadora, não apenas para o personagem, mas para o espectador. Justamente quando o filme poderia chegar ao seu ápice  com a investigação sobre o paradeiro de Bryton e as atrocidades de Howard (amparada pela fenomenal atuação de Michael Parks) com seu hóspede, Kevin Smith joga no lixo tudo o que construiu até ali introduzindo Johnny Depp na pele do detetive Guy Lapointe. A longa cena em que Lapointe conversa com o amigo e a namorada de Bryton tem o efeito de um sonífero quando a tensão deveria chegar justamente no auge da narrativa. Daí em diante a coisa piora até o desfecho onde Smith quer nos fazer acreditar que em poucos dias seu personagem passou a pensar  feito uma morsa! Nem vou entrar no detalhe que a criatura é feita de uma fantasia de borracha difícil de digerir ou no questionável uso da canção Tusk (título do filme em inglês) de Fleetwood Mac! O resultado é um filme irregular entre o grotesco e o trash. Curioso é  que tudo se baseou num anúncio real onde dois sujeitos ofereciam abrigo e mordomias a quem se vestisse e agisse feito uma morsa... o filme tem inúmeras outras referências para quem acompanha a carreira de podcaster de Kevin Smith, mas para os meros mortais não tem tanta graça. 

A Presa (Tusk/EUA-2014) de Kevin Smith com Justin Long, Michael Parks, Haley Joel Osment, Genesis Rodriguez e Ralph Garman.

PL►Y: Um Milhão de Maneiras de Pegar na Pistola

Amanda, Neil, Seth e Charlize: A dura vida no velho oeste. 

Não parece, mas a cara de menino de Seth MacFarlane esconde um artista de quarenta e um anos. Sua carreira no showbiz teve início em 1995 em trabalhos para televisão - ele chegou a escrever episódios de desenhos de sucesso como A Vaca e o Frango, Johnny Bravo e O Laboratório de Dexter antes de tornar-se criador do cultuado Family Guy em 1999 e envolver-se com seus derivados de sucesso (The Cleveland Show e American Dad!), ou seja, sua carreira já era bastante bem sucedida antes de se aventurar no cinema com Ted (2012). A história do ursinho de pelúcia grosseiro e desbocado tornou-se um sucesso mundial e rendeu o convite para MacFarlane apresentar a cerimonia do Oscar no ano seguinte. Com os holofotes voltados para ele, o moço conseguiu nomes importantes para participar do seu filme seguinte. Porém, quando Um Milhão de Maneiras de Pegar na Pistola estreou, houve um certo gosto de decepção. Realmente não sei o que as pessoas esperavam, já que reclamaram do roteiro pobre e dos momentos mais chulos do filme - como se Ted fosse um primor de humor sofisticado e coesão textual. O filme só revela o quanto MacFarlane pode ser limitado na construção de uma história com mais de uma hora de duração, no entanto, bom material ele tinha, já que poderia aprofundar as ironias com os clichês mais manjados do velho oeste. O filme funciona quando o criador de ovelhas Albert (MacFarlane) tece comentários sobre como o velho oeste é um lugar perigoso de se viver (devido aos pistoleiros, duelos, doenças e tudo de ruim que já vimos em centenas de filmes do gênero), ele também acerta quando faz piadas com os bigodudos presentes no filme (a debochada música sobre as vantagens de ter um bigode no velho oeste também gera risadas), mas o longa erra sempre que erra a mão nas baixarias. As piadas sexuais são de muito mal gosto (e nem incluo nessa lista as cenas com pênis de carneiros) e não acrescentam em nada ao andamento da trama. MacFarlane até que convence como o homem abandonado pela namorada (Amanda Seyfried) que encontra uma mulher mais interessante (Charlize Theron) que o ensina a parar de ter pena de si, mas pelos comentários e piadinhas, Albert sempre esteve bem longe de ser o coitadinho que o roteiro quer vender. Um Milhão de Maneiras de Pegar na Pistola promete muitas risadas, mas entrega poucas em seu deboche com um dos gêneros mais característicos do cinema americano. Se continuasse no caminho da paródia o filme teria sido um grande acerto, mas a tentação MacFarlaniana de cair na baixaria atrapalha. O moço já deveria ter percebido que não precisa delas para fazer rir.

Um Milhão de Maneiras de Pegar na Pistola (A Million Ways To Die in The West) de Seth MacFarlane com Seth MacFarlane, Charlize Theron, Amanda Seyfried, Liam Neeson, Giovanni Ribisi, Neil Patrick Harris e Sarah Silverman. ☻☻

segunda-feira, 13 de julho de 2015

Pódio: Halle Berry

Bronze: a bondgirl
3 007 - Um Novo Dia Para Morrer (2002)
Depois de ganhar alguns dos prêmios mais importantes do cinema, Berry tornou-se a primeira bondgirl oscarizada da história!  O filme de Lee Tamahori é cheio de referências à franquia e Berry não se fez de rogada ao recriar a cena antológica de Ursula Andress de biquini. Na pele da agente Jinx, Berry é tão sexy quanto esperta -  mais até do que o próprio James Bond! Na época prometeram até um filme solo da personagem que acabou não vingando, já que a franquia 007 mudou de cara novamente (ficando com a cara de Daniel Craig!). Mas acho que ninguém se importaria de rever Jinx numa aventura só dela. 

Prata: A Diva
2 Dorothy Dandridge: O Brilho de Uma Estrela (1999)
Nessa produção para a TV, Halle encarna a primeira atriz afro-americana a ser indicada ao Oscar de melhor atriz (por Carmen Jones em 1954). O filme acompanha o sucesso e o preconceito que se tornaram uma constante na carreira da atriz. A direção de Martha Coolidge mostra-se um grande acerto ao evitar o melodrama e se concentrar na personagem que é encarnada com grande humanidade por Berry. Comovente e reveladora, o filme lembrou a vida e obra desse ícone de Hollywood e ainda colocou Halle Berry na mira das grandes premiações televisivas (Berry ganhou um Globo de Ouro pelo papel). 

Ouro: a viúva desesperada. 
1 A Última Ceia (2001)
Berry fez história ao se tornar a primeira atriz negra a ganhar um Oscar. Na época houve críticas ao fato da Academia premiar Halle e Denzel Washington no mesmo ano,  mas eu prefiro mais a encarnação áspera da sofrida Leticia no filme de Marc Foster do que Denzel bancando o policial corrupto em Dia de Treinamento. O roteiro pesado sobre racismo, morte e desespero caiu como uma luva para que a atriz explorasse notas que até então não havia apresentado em seus trabalhos no cinema. O Prêmio do Sindicato e o Prêmio de atriz no Festival de Berlim, só comprovam o quilate de sua densa interpretação numa personagem em inferno astral. 

PL►Y: Frankie & Alice


Berry: múltiplas personalidades.

A bela Halle Berry fez história em Hollywood ao se tornar a primeira atriz negra a ganhar o Oscar de melhor atriz. Sua atuação no drama A Última Ceia (2001) dirigido por Marc Foster também lhe rendeu o prêmio dos Sindicato dos Atores (SAG) e o de Melhor Atriz no Festival de Berlim. De lá para cá a carreira da atriz vive de muitos tropeços e poucos acertos. Um bom exemplo do rumo de sua carreira segue é esse drama que lhe rendeu uma indicação ao Globo de Ouro de melhor atriz dramática (depois de uma suada campanha de marketing que ambicionava o Oscar). O filme não é para tanto. A história da mulher que sofre de personalidades múltiplas tinha tudo para tornar o filme interessante nas mãos da atriz, pena que Geoffrey Sax não faz a mínima ideia do que fazer com um roteiro que já tem a sua cota de irregularidades. Berry vê em sua personagem um prato cheio para exercitar a versatilidade, mas o roteiro não ajuda. Na pele da go-go-girl Frankie, ela é a mulher desinibida que arrasa os corações masculinos, mas repentinamente sua postura muda, torna-se agressiva e violenta. Esquizofrenia? Bipolaridade? Nada disso, são nesses momentos que Frankie se torna Alice, uma mulher branca e preconceituosa. Entre as duas está uma personalidade infantil, que dá pistas para o psiquiatra que estuda o caso da personagem (Stellan Skarsgaard) sobre a confusão que está a mente de Frankie. Geoffrey Sax se perde no meio dos dramas e personalidades variadas de sua protagonista, errando no ritmo do princípio ao fim. Berry e Stellan são esforçados como sempre, mas o roteiro amarra a situação ao ponto do espectador não se identificar com a protagonista, não gerando interesse em saber o que acontece com a personagem. A trilha sonora em excesso também atrapalha na hora de criar o clima apropriado nas cenas mais dramáticas, tornando os momentos mais promissores em apenas melodramáticos. No fim das contas, Frankie e Alice tem boas intenções, mas faz todas elas naufragarem perante uma direção sofrível que não colabora com as ambições de Berry, que produziu o filme para ver se as pessoas voltam a reconhecê-la como atriz de respeito. De fato, era o projeto certo, mas caiu nas mãos erradas.

Frankie & Alice (Canadá/2010) de Geoffrey Sax com Halle Berry, Stellan Skarsgaard, Chandra Wilson e Matt Frewer.  

sexta-feira, 10 de julho de 2015

4EVER: Omar Sharif

10/04/1932 - 10/07/2015
Nascido no Egito, Omar Sharif tornou-se mundialmente conhecido depois que já somava mais de vinte filmes em sua terra natal. Escolhido para atuar em Lawrence da Arábia (1962), seu primeiro filme em língua inglesa, foi lembrado na categoria de melhor ator coadjuvante no Oscar. Três anos depois, foi o mesmo diretor David Lean que o escolheu para viver o protagonista do clássico Doutor Jivago (1965). Ao seu currículo de sucessos ainda somaria Funny Girl (1968) em que fazia par com Barbra Streisand e O Último Refúgio (1971). Desde sua estreia no cinema em 1954 o ator participou de mais de uma centena de filmes, sua última atuação presente nos cinemas brasileiros foi em Um Castelo na Itália (2013) onde interpretou a si mesmo. Sharif sofria de Alzheimer e morreu aos 83 anos na cidade do Cairo, vítima de um ataque cardíaco. 

quarta-feira, 8 de julho de 2015

PL►Y: Lucy

Scarlett: quando a Viúva Negra se torna Fênix Negra...

Quando estava em cartaz nos cinemas, eu fiquei surpreso com o sucesso de Lucy, o último filme de Luc Besson. Fazia tempo que Besson não fazia um filme de sucesso (desde O Quinto Elemento/1997) e sua fama como diretor ia de mal a pior depois que nem com a ajuda dos escolados Robert DeNiro e Michelle Pfeiffer, conseguiu fazer A Família (2013) chamar a atenção. Considerado o cineasta mais hollywoodiano do cinema francês, seu cinema estava cada vez mais distante dos anos em que a tríada Subway (1985), Imensidão Azul (1988) e Nikita (1990) o colocaram sob os holofotes da crítica e do público por sua estética moderninha que aparece maid do que nunca em Lucy. Lucy (vivida por Scarlett Johansson) é uma jovem americana que se mete numa grande encrenca em Taiwan, quando o namorado a obriga a entregar uma maleta de conteúdo desconhecido para um grupo de homens muito suspeitos. Algemada à maleta, Lucy irá descobrir que trata-se de um novo tipo de droga e, recusando-se a participar do plano de traficar a substância, ela acabará sofrendo uma cirurgia que a fará  tendo que transportar a droga dentro do próprio corpo. Um incidente, no entanto, fará com que a embalagem seja violada e a substância seja despejada em seu organismo. O efeito da droga no entanto, não provoca uma overdose, mas amplia sua atividade cerebral cada vez mais, fazendo com que ela possa alcançar cem por cento da capacidade cerebral em breve. Se o cérebro só atua normalmente com dez por cento de sua capacidade, com essa atividade ampliada, Lucy passa a controlar tudo em seu corpo (inclusive a dor), sua percepção sensorial torna-se maior e ela começa a ter poderes para movimentar o que esteja por perto, controlar aparelhos eletrônicos e suas possibilidades aparecem ilimitadas. No entanto, aos poucos ela descobrirá que seu corpo agora depende da droga e ela terá que encontrar as outras pessoas que servem de transporte para os traficantes. Com a ajuda de um policial (o egípcio Amr Waked) e um cientista especialista no assunto (Morgan Freeman), ela terá que enfrentar os traficantes que estão dispostos a tudo para recuperar a substância. Lucy nada mais é do que a versão exagerada do modesto Sem Limites (2011), onde Bradley Cooper também começa a desenvolver todo o potencial de seu cérebro com uso de uma droga em experimento. A diferença é que Sem Limites mantem o pé no chão, enquanto Lucy mergulha nos delírios do desconhecimento do que o ser humano poderia fazer se explorasse todo o potencial do seu cérebro. Besson mescla sua história com analogias animalescas, contagem progressiva (pautada no cérebro da personagem) e muitos efeitos especiais para dar conta de um fiapo de história que toma rumos estapafúrdios conforme Lucy torna-se cada vez mais poderosa. O resultado parece uma variante da Fênix Negra dos X-Men batida no liquidificador com toda a histeria cênica que o cinema de Besson adora e, que de vez em quando, sua plateia também. 

Lucy (França/2014) de Luc Besson com Scarlett Johansson, Morgan Freeman, Amr Waked, Min-Sik Choi e Analeigh Tipton. 

KLÁSSIQO: O Rei da Comédia

DeNiro: entre Liza Minelli e Jerry Lewis de papelão.

O Rei da Comédia deve ser o filme mais injustamente subestimado de Martin Scorsese, pelo menos se levarmos em consideração a acolhida no período em que foi lançado. Lançado depois do cultuado Touro Indomável/1980 (ganhador de dois Oscars e com outras seis indicações), O Rei da Comédia foi completamente ignorado pela Academia, despertando mais simpatia do BAFTA que lhe concedeu o prêmio de melhor roteiro. É verdade que o clima do filme está mais para o senso de humor britânico do que para o americano, mas com o passar do tempo, o público e a crítica começaram a perceber os méritos dessa comédia de humor negro sobre um comediante que sonha ficar famoso ao participar de um programa de TV. Robert DeNiro dá vida a Rupert Pupkin, aspirante a comediante, completamente desconhecido e que passa a se considerar amigo de uma celebridade televisiva, Jerry Langford (Jerry Lewis dando conta de um raro papel sério). Rupert e Jerry se conhecem em meio aos fãs ensandecidos que esperam o ídolo, religiosamente, à frente do estúdio em que o programa de Langford é gravado. Depois de ajudá-lo com uma fã inconveniente, Rupert começa a imaginar que Jerry virou seu amigo e que o ajudará a fazer sua carreira decolar. Não é bem assim. Como o nome já revela (Rupert parece Robert escrito errado e Pupkin é quase a grafia de abóbora em inglês, ou seja, revelam que existe algo de errado com o moço) e as cenas delirantes colaboram, existe um tom tão cômico quanto esquizofrênico no protagonista. Rupert causa estranheza por vários motivos, especialmente por sua persistência em encontrar com o ídolo ou quando não demora para que Rupert tenha a ideia de cometer um crime - com a ajuda de uma fã desvairada de Langford (vivida pela sempre esquisita Sandra Bernhard) - para tornar-se famoso. Para além da escrita ácida, Scorsese já demonstrava aqui que seu senso de humor está longe do facilmente digerido (como apresentou com ainda maior ênfase no recente O Lobo de Wall Street/2013) e cria várias provocações aos olhos do espectador (principalmente quando evita ao máximo revelar se, apesar de tudo, Rupert consegue ser realmente engraçado), mesmo quando revela isso, a imagem de DeNiro criando um sujeito sorridente, mas tão imprevisível quanto seus personagens mais violentos, torna-se bem marcante. Curioso mesmo é que na década de 1980, Scorsese já realizava um filme bastante atual sobre o que há de doentio no culto às celebridades e à fama a qualquer preço, sem perder de vista o que isso tem de relação com a solidão de seus personagens.  

O Rei da Comédia (The King of Comedy/EUA-1982) de Martin Scorsese, com Robert DeNiro, Jerry Lewis, Sandra Bernhard e Diahnne Abbott.
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