Maika (em destaque): encosto sexualmente transmissível.
David Robert Mitchell surpreendeu quando foi indicado ao prêmio de melhor direção no Independent Spirit Awards desse ano por conta de seu trabalho no filme de terror A Corrente do Mal. Assisti ao filme recentemente e fiquei impressionado com o cuidado com que ele cria cada cena. Do posicionamento dos atores, passando pelos movimentos de câmera à utilização lenta do zoom e enquadramentos que sempre nos deixam a incômoda sensação de que estamos espionando os personagens. O mais curioso é que este é apenas o segundo longa metragem de David, o primeiro foi O Mito Americano da Festa do Pijama (2010), dramédia adolescente que já demonstrava algumas inquietações do diretor sobre dilemas juvenis. Um dos grandes trunfos de A Corrente do Mal é que ele não perde tempo explicando demais, deixando que o desconhecido se torne mais assustador na mente da plateia. Afinal, nunca fica muito claro o que persegue a jovem Jay (Maika Monroe), a única coisa que ela (e nós) sabemos é que após fazer sexo com o namorado pela primeira vez, ela recebeu uma espécie de maldição: ser perseguida por uma personificação maligna até ser assassinada. A única chance de se livrar da maldição é passando adiante para o seu novo parceiro sexual (mas se a personificação maligna matar esse novo parceiro, o mal voltará a persegui-la, e se matá-la, perseguirá quem passou a maldição para ela e assim sucessivamente). É um ponto de partida bastante simples, mas que Mitchell executa com grande dedicação. Da angústia de ter um perseguidor que sempre caminha em sua direção (e não importa o quão longe você esteja, ele sempre encontrará você), o diretor extrai de sua protagonista uma atuação vigorosa - até quando enfrenta seus próprios dilemas morais para se livrar do mal que se abateu sobre ela. Com movimentos de câmera espertos, paisagens com casas abandonadas e uma direção de arte anacrônica, A Corrente do Mal ainda encontra tempo para homenagear clássicos do terror adolescente da década de 1970 e 1980. É verdade que o filme presta a várias analogias sobre doenças sexualmente transmissíveis e o horror que infligem à prática do sexo, ampliando seu grande trunfo que é gerar um constante clima de paranoia entre os personagens e a plateia. É verdade que no trabalho com os atores Mitchell alcança bons resultados somente com Maika e Keir Gilchrist (que nutre uma paixão platônica pela protagonista), mas sua narrativa obedece à um estilo autoral que esse detalhe torna-se até perdoável. A Corrente do Mal é mais uma prova de que os filmes de terror estão salvos enquanto perceberem que sua maior graça não está no sangue derramado, mas no uso poderoso da sugestão na construção de uma narrativa assustadora.
A Corrente do Mal (It Follows/EUA-2014) de David Robert Mitchell com Maika Monroe, Keir Gilchrist, Lili Sepe e Jake Weary ☻☻☻
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