Tassadit e Michael Pitt: encontro inusitado.
Lançado no início de março em poucas salas no Brasil, a comédia dramática Fique Comigo poderá conquistar o espectador que curte um tipo de humor mais melancólico em DVD. O filme do cineasta Samuel Benchetrit foi exibido numa mostra paralela do Festival de Cannes no ano passado e concorreu ao César (o Oscar francês) de melhor roteiro adaptado com uma ideia é bastante simples, mas que cativa pela simpatia como mistura suas tramas. A história se passa em um prédio no subúrbio parisiense onde conhecemos alguns moradores, um deles é Sterkowitz (Gustave Kervern) que recusa-se a colaborar na compra de um novo elevador para o prédio, pelo simples motivo de morar no primeiro andar - mal sabe ele que um golpe do destino fará com que se arrependa da decisão (ainda que a partir dela, conheça a enfermeira interpretada pela sempre interessante Valeria Bruni Tedeschi). Outra parte da história acompanha o jovem Charly (Jules Benchetrit, filho do diretor) que conhece a nova vizinha, a atriz Jeanne Meyer (a cultuada Isabelle Huppert), que ainda precisa encontrar um novo rumo para a carreira. A história mais inusitada aborda o encontro da senhora argelina chamada Hamida (Tassadit Mandi) que recebe a visita de um astronauta americano (Michael Pitt) que, literalmente, cai sobre o prédio e precisa permanecer secretamente no apartamento dela. São três histórias que funcionam de forma independente, mas que giram em torno de uma temática em comum: tipos solitários que encontram novos relacionamentos e procuram mantê-los. O resultado pode não ser surpreendente, mas gera bons momentos seja com o fotógrafo Sterkowitz superando seus desafios para conquistar a melancólica enfermeira, com Charly ajudando Jeanne a conseguir um papel no teatro ou a relação entre duas pessoas completamente diferentes que não compartilham nem a mesma língua. Durante o filme se escuta diálogos em francês, inglês e árabe, mas o que vemos não é uma Torre de Babel, pelo contrário, Benchetrit sustenta seu filme com um senso de humor bastante sutil e uma abordagem singela da construção dos laços entre os seres humanos. Outro aspecto interessante é como o interior dos apartamentos contrasta com o universo desgastado do mundo exterior (seja nas ruas ou nos corredores depredados), parece que para além da história dos personagens, o filme os utiliza para compor um microcosmo onde os espaços coletivos se encontram desgastados, enquanto o mundo privado, por mais que seja aconchegante, parece um tanto vazio, pronto para acolher outro indivíduo. É na relação entre o coletivo e o individual que o diretor abriga, nas entrelinhas de sua história, sua visão de mundo (que não deixa de ser curiosa num tempo onde as pessoas interagem cada vez mais virtualmente e esquecem o quão prazeroso pode ser estabelecer laços fisicamente). A cena final, embora bem realizada e até emocionante, pode desagradar quem não curte finais abertos, mas, ainda assim, Fique Comigo pode revelar-se uma grata surpresa aos cinéfilos mais atentos.
Fique Comigo (Asphalte/França-2015) de Samuel Benchetrit com Gustave Kervern, Isabelle Huppert, Jules Benchetrit, Tassadit Mandi, Michael Pitt e Valeria Bruni Tedeschi. ☻☻☻
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