Os alunos: momento de transição.
O inglês Nicholas Hytner é um renomado diretor de teatro na Inglaterra. Muitas de suas montagens já foram filmadas e exibidas em salas de cinema via satélite ao redor do mundo (pelo projeto National Theatre Live). No entanto, mesmo quando trabalha para o cinema, Hytner tende a adaptar peças de teatro com as quais está familiarizado. Dos seis filmes que dirigiu, quatro são adaptações de peças teatrais, sendo três delas escritas pelo dramaturgo Alan Bennett. Juntos eles fizeram recentemente a adaptação de A Senhora da Van/2015 depois que Hytner ficou nove anos sem lançar um longa metragem. O trabalho anterior da dupla foi Fazendo História, elogiada adaptação indicada a dois prêmios BAFTA mas que encontrou dificuldade para ser exibida em outros países - o motivo para isso, talvez seja sua alma extremamente britânica (algo recorrente na obra de Bennett). O filme acompanha um grupo de estudantes que almejam seu espaço em renomadas Universidades do Reino Unido. Prestes a terminar o correspondente ao nosso Ensino Médio, eles se dedicam a aulas especiais para obter o melhor resultado possível, não apenas nos exames de seleção, mas também para as entrevistas a que irão se submeter. A narrativa concentra-se especialmente na convivência desses alunos com, a experiente Srª Lintott (Frances de La Tour), o novato Irwin (Stephen Campbell Moore) e o peculiar Hector (Richard Griffiths) que ministra a controversa aula de Conhecimentos Gerais - momento no qual tenta ensinar um pouco de cultura geral para os moços. A aula de Hector é uma verdadeira miscelânea par os rapazes, mistura de aula de teatro com literatura, musicais, compositores clássicos e cinema antigo. O método de Hector não agrada muito o conservador diretor da instituição, mas a garotada se diverte (ao ponto de não se importarem muito com os excessos e assédio do simpático professor gorducho). Aos poucos conhecemos alguns dilemas dos alunos diante do que o futuro lhes reserva, mas o texto dá mais destaque a Dakin (Dominic Cooper, em seu primeiro papel de destaque, muito antes de ficar conhecido como o pai de Tony Stark) que atrai colegas e professores com seu jeito descolado, o que o torna cada vez mais próximo do novo professor, Irwin - que pretende fazer seus alunos pensarem no mundo de uma forma diferente. O texto do filme é irrepreensível. Os diálogos são inteligentes e bem lapidados, não caem na vulgaridade ou na polêmica barata, investindo na dimensão humana dos personagens que ainda estão em crescimento. Não existem grandes surpresas na narrativa, mas isso está longe de ser um problema. O que mais incomoda na produção é que ela carrega um ranço teatral que pode incomodar a maioria do público, especialmente em sua cena final onde sabemos que fim levou cada personagem de forma quase surreal (sem falar que o assédio de Hector a Dakin sofre críticas por não se desenvolver como deveria no decorrer da história). Concentrado na saída da adolescência e os rumos para a vida adulta, o filme apresenta a identidade de seus personagens sem pressa e deve causar identificação em um público bastante específico. Um programa curioso e voltado para quem curte o humor típico dos filmes britânicos.
Fazendo História (The History Boys/Reino Unido-2006) de Nicholas Hytner com Dominic Cooper, Stephen Campbell Moore, Richard Grifiths, Frances de La Tour e James Corden. ☻☻☻
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