Landau e Plummer: lembrando o holocausto.
Atom Egoyan foi um dos diretores independentes mais celebrados dos anos 1990. Com o celebrado Exótica (1994), seguido pelas indicações ao Oscar de roteiro e direção por O Doce Amanhã (1997) e as críticas positivas recebidas por O Fio da Inocência (1999), o egípcio naturalizado canadense se tornou um diretor em que os cinéfilos sempre ficam atentos. Com a chegada do século XXI, o cinema de Egoyan tornou-se um tanto irregular. Ainda que os críticos fiquem atentos aos seus lançamentos - e os festivais sempre dediquem espaço aos seus projetos, sua carreira perdeu voltagem. Porém, seu recente Memórias Secretas ressalta que o diretor ainda tem muito a dizer. Embora tenha sido recebido com indiferença pela plateia do Festival de Veneza no ano passado, o roteiro do estreante Benjamin August toca num assunto que merece ser lembrado: a memória do holocausto. Pode parecer exagero, mas diante de tantos discursos de ódio presentes na internet e em palanques políticos, penso que a humanidade precisa ser lembrada das atrocidades que é capaz de cometer. Num mundo carente de conhecimento sobre direitos humanos (onde estes se chocam com pontos de vistas subjetivos, preconceitos e um bocado de ignorância), August e Egoyan repetem o tempo todo que, em breve, as pessoas que testemunharam os horrores da Segunda Guerra Mundial terão partido, mas suas lembranças precisam ser preservadas para que a humanidade não caia nas mesmas armadilhas do passado. Talvez o caminho pelos dois para contar esse alerta não seja o melhor, mas, ainda assim, merece atenção. Li algumas críticas ao filme por ele não ter embasamento em uma história real, mas pelo que eu saiba, trata-se de um filme de ficção e isso é o que menos importa. O filme conta a história de Zev Guttman (Christopher Plummer), um senhor senil que sofre os efeitos do tempo em sua memória. Morando em um asilo, ele se recupera da perda recente de sua esposa e conta com o amigo Max Rosenbaum (Martin Landau) para lembrar do que não consegue mais. Ambos são sobreviventes do campo de concentração de Auschwitz e, após anos trabalhando na procura de nazistas fugitivos da justiça, Max conta com Zev para encontrar o oficial nazista que exterminou as famílias de ambos - e que assumiu uma identidade falsa para se esconder. Zev foge do asilo e parte em busca do oficial com uma carta de Max no bolso (que servirá para ele lembrar do seu objetivo) e a história será construída a partir do encontro do protagonista com outros personagens e suas lembranças, até o desfecho "surpreendente". Os encontros de Zev são sempre reveladores (alguns assustadores) e demonstram como Egoyan está atento aos detalhes, mesmo diante de uma construção narrativa bastante tradicional. Seja na escalação dos atores, no cão que não para de latir ou na menina que lê a carta cheia de atrocidades com voz inocente, Egoyan ainda demonstra ter fôlego para reencontrar seu valor no cinema atual. Particularmente, a guinada final está longe de ser essencial para a história, mas pode ser vista como uma lembrança de que o mal está dentro de cada um de nós. Memórias Secretas merece ser visto não como uma história de vingança, mas por tudo que se esconde em suas entrelinhas.
Memórias Secretas (Remember/Canadá-Alemanha/2015) de Atom Egoyan com Christopher Plummer, Martin Landau, Henry Czerny, Bruno Ganz e Jürgen Prochnow. ☻☻☻
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