Jim: Carrey através do espelho.
Minha irmã caçula sempre não gosta de ver extras nos DVDs ou ver produções sobre bastidores de obras cinematográficas. Segundo ela, conhecer os bastidores faz com que a obra perca a magia. Sei que muitos pensam parecido, mas eu não resisto conhecer o processo criativo de artistas na construção de suas obras. No entanto, ao ver Jim & Andy entendi exatamente tudo o que minha irmã detesta nesta experiência reveladora. O documentário, em cartaz na Netflix, conta com imagens gravadas durante as filmagens de O Mundo de Andy, o famigerado filme de Milos Forman que retratou parte da vida do comediante Andy Kauffman. O filme foi um dos mais elogiados em 1999, concorreu ao Globo de Ouro de Melhor Filme de Comédia ou Musical e rendeu à Jim Carrey o prêmio de melhor Ator de comédia - mas foi totalmente esnobado no Oscar. Naquele tempo, Carrey estava no auge e tentava ser reconhecido como ator sério (já havia realizado O Show de Truman no ano anterior e tentou novamente com Cine Majestic/2001 e Brilho Eterno de Uma Mente Sem Lembranças/2004), mas suas atuações dramáticas sempre foram vistas com desconfiança. Hoje Jim deixou de ser aquele sujeito engraçado, vive fazendo esquisitices e faz papéis pequenos em todo tipo de filme. Em entrevistas seus comentários costumam ser ácidos e deprimentes... mas o que isso tem a ver com Jim & Andy? Muita coisa. Carrey estava tão interessado em viver Andy Kauffman nas telas que até aceitou fazer um teste para ganhar o papel, afinal, o renomado diretor Milos Forman não o queria na produção. Jim se dedicou muito, vendo vários vídeos sobre Kauffman e ficou mais interessado quando soube que o ator não deixava os personagens quando a câmera desligava. Conversando com conhecidos do biografado, Jim optou encarná-lo 24 horas por dia, sendo nos bastidores o mesmo que era quando estava filmando. O resultado envolveu todos os presentes nas gravações, confundiu o diretor Milos Forman, azucrinou membros da produção e atores que não entendiam muito bem o que estava acontecendo. Jim & Andy parece uma grande pegadinha quando retrata os bastidores do filme que era dedicado a um verdadeiro ícone da televisão americana - que insatisfeito com o rótulo de comediante, testava as emoções da plateia diante de situações inesperadas, muitas vezes com a ajuda do arrogante Tony Clifton. O que achei mais interessante durante o filme não foi a dedicação de Carrey ao papel fora das filmagens (afinal, existia uma outra câmera registrando tudo nos bastidores o que estimularia ainda mais a brincadeira do ator), mas como o filme nos faz entender ainda mais a personalidade de Jim. Conhecido por comédias de grande sucesso, o ator costumava fazer as pessoas rirem sempre que aparecia em público, mas depois de Andy Kauffman ele relata que viveu uma verdadeira crise de identidade, reavaliando a forma como se relacionava com o mundo e as pessoas ao seu redor. O filme conta parte da vida pessoal do ator e nos faz compreender a fase atual de sua vida e obra. Essa compreensão torna Jim & Andy mais interessante e um tanto assustador, já que mudou para sempre o seu ator que anda cada vez mais estanho.
Jim & Andy (Reino Unido/EUA-2017) de Chris Smith com Jim Carrey, Milos Forman, Courtney Love e Danny DeVito. ☻☻☻☻
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