Vlad, Ana e Laura: esqueça a pipoca.
Existem filmes os quais eu imagino a pessoa indo assistir, comprando um saco de pipoca e... não fazendo a mínima ideia do que fazer com aquilo. Um destes casos é o romeno 4 meses, 3 semanas e 2 dias, que completou dez anos do seu lançamento no Festival de Cannes - de onde saiu com a Palma de Ouro de Melhor Filme (além do prêmio da Federação Internacional de Críticos e o prêmio Educacional do Festival), no entanto, é preciso estar num estado bastante equilibrado para assistir ao filme que é um desafio até para os mais experientes em dramas densos europeus. No Brasil a coisa complica mais ainda, já que o filme gira em torno de um tema polêmico: o aborto. Por isso mesmo, torna-se louvável a postura do diretor Cristian Mongiu que não toma partido de campanhas pró ou anti aborto, apenas conta sua história desagradável e deixa que o público tire suas próprias conclusões. O longa é filmado de forma quase documental, mesmo quando começa e a câmera parece ainda procurar a história que quer contar, rodeada por universitárias que no ano de 1987 dividem um alojamento na Romênia. Somos apresentados a muitas jovens, mas a câmera parece mais interessada em Otilia (Anamaria Marinca), que divide o quarto com Gabi (Laura Vasiliu) e que poderiam estar em apenas mais um dia comum de suas vidas. Otilia vai comprar produtos de beleza com uma colega, conversa sobre dois gatinhos que apareceram no prédio, encontra com o namorado (Alexandru Potocean) - que a convida para o jantar de aniversário de sua mãe - e... Otilia vai se encontrar com o soturno Domnu (Vlad Vianov). Não fica muito claro o que os dois planejam, apenas que Gabi também está envolvida. Domnu faz abortos clandestinos e sua história com as duas amigas já começa complicada, já que algumas de suas exigências não foram atendidas, depois piora, já que algumas mentiras de Gabi deixam as duas em maus lençóis (literalmente). A cena em que os três personagens se encontram no quarto de hotel para realização do aborto está entre as mais frias que já apareceram numa telona, colabora muito para isso a atuação de Vlad Vianov que cria diálogos de pura tensão junto com as suas parceiras de cena. Ali, em poucos minutos, o espectador entra em contato com todos os horrores envolvidos naquele procedimento, todas as consequências que podem sofrer (prisão para os três, a morte do feto e de Gabi por uma hemorragia desenfreada), além de outras marcas psicológicas que aparecem pelo caminho. Aparecem desconfianças, suspeitas, desconforto e a relação de Otilia com o namorado e a amiga dificilmente será a mesma depois do pesadelo que atravessam. Não satisfeito, o filme tem ainda aquela jornada pela noite escura para se livrar do que promete ficar na mente do espectador por um bom tempo e, não duvido, que a última cena, com aquele nó na garganta, tenha acontecido com muita gente que deixou o pacote de pipoca intacto ao sair do cinema. 4 meses, 3 semanas e 2 dias é um filme realmente desagradável de assistir e, por isso mesmo, com toda sua aspereza crua, torna-se bastante necessário.
4 meses, 3 semanas e 2 dias (4 luni, 3 saptamâni si 2 zile/Romênia-Bélgica/2007) de Vlad Vianov com Anamaria Marinca, Laura Vasiliu, Vlad Vianov e Alexandru Potocean. ☻☻☻☻
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