Jaeden e Jacob: grandes talentos em um filme irregular.
O diretor Colin Trevorrow ganhou fama no cinema independente com o elogiado Sem Segurança Nenhuma (2012), um filme sobre viagem no tempo que misturava ficção científica, comédia e drama. O filme de pequeno orçamento chamou tanta atenção que ele foi convidado para repaginar a franquia Jurassic Park com Jurassic World: O Mundo dos Dinossauros (2015). Com dois sucessos seguidos era de se esperar grande expectativa em torno de seu filme seguinte, O Livro de Henry. Logo que o filme estreou foi massacrado pela crítica pela narrativa em que o diretor volta a misturar diversos gêneros sem a mesma desenvoltura de antes. O Livro de Henry começa como uma comédia infanto-juvenil sobre dois irmãos, o gênio Henry (Jaeden Lieberher) e o caçula Peter (Jacob Tremblay) que são criados pela mãe solteira viciada em games, Susan (Naomi Watts). O início do filme se dedica a contar um pouco do cotidiano animado dos três personagens, tendo a amiga Sheila (Sarah Silverman) por perto e a vizinha Christina (Maddie Ziegler) como interesse amoroso de Henry. Entre o cotidiano na escola e aventuras inventadas pelos dois irmãos, Henry começa a desconfiar que Christina sofre abusos do padastro (Dean Norris), mas não consegue que providência alguma seja tomada. Quando você pensa que o filme será um manifesto contra a apatia regada pela frase "não é da nossa conta" que Henry escuta várias vezes, o pequeno apresenta um problema de saúde que muda o tom do filme drasticamente. O problema de O Livro de Henry é que falta sutileza na mudança dos atos preparados pelo roteiro, o que lhe confere uma atmosfera descaradamente manipuladora sobre o "legado" do menino. No segundo ato tudo é feito para comover e o filme se arrasta por longos minutos nesta intenção de apelo melodramático. Subitamente o filme muda novamente e se transforma num suspense onde existe um plano mirabolante a ser posto pela mãe dos meninos, que pode se tornar uma justiceira do dia para a noite - e o filme envereda uma discussão polêmica sobre o "cidadão de bem fazer justiça com as próprias mãos" sem muito aprofundamento. A impressão é que Trevorrow tinha tantas ideias na cabeça que perdeu o foco na hora de desenvolver todas elas em menos de duas horas de projeção. Neste pique, desperdiça o talento de Sarah Silverman (que some da história sem mais nem menos) e não sabe muito bem o que fazer com Lee Pace, que interpreta o médico que parece que vai e fica no meio do caminho com a personagem de Naomi Watts. Nesta mistureba, Colin Trevorrow conseguiu escalar bons atores para defender um roteiro pouco lapidado, mas ainda assim, conquistou alguns fãs que não se incomodaram com a narrativa irregular de uma trama cheia de boas intenções.
O Livro de Henry (The Book of Henry/EUA-2017) de Colin Trevorrow com Jaden Lieberher, Naomi Watts, Jacob Tremblay, Sarah Silverman, Lee Pace e Dean Norris. ☻☻
Boa análise. O filme tinha um excesso de ideias que não foram bem desenvolvidas.
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