Harris e seus amigos: estreia promissora.
Frank (Harris Dickinson) é um adolescente que vive no Brooklyn com a mãe, a irmã caçula e o pai preso à cama por tempo incerto. Frank costuma usar drogas e ir á praia com os amigos, ele também realiza pequenos furtos e, para passar o tempo, começou a frequentar um site gay de relacionamentos onde procura por homens mais velhos que se interessam por ele. A história de Frank poderia ser apenas mais um filme voltado para um público bem específico se não contasse com a direção incisiva da cineasta Eliza Hittman, que enxuga tudo que uma história destas pode ter de excesso e cria um filme tão sensível quanto doloroso de assistir. Outro destaque do filme é o jovem ator Harris Dickinson (que está indicado ao Independent Spirit de Melhor Ator e já está com outros três filmes para estrear em breve), o jovem dá conta de várias nuances complicadas de seu personagem. Não deixa de ser curioso que Frank sempre diga que ainda não sabe muito bem do que gosta, mas também parece manter o relacionamento com a namorada como uma espécie de obrigação para com a masculinidade padronizada que aprendeu. Basta ver que a aparência de Frank é bastante semelhante com a de seus colegas, o corpo esguio, a musculatura jovial, o cabelo curo, camiseta e bermuda larga. A linguagem corporal e oral de todos é bastante semelhante, como se a identidade de cada um se perdesse no grupo, mas é distante de seus companheiros que Frank revelas suas inseguranças, a sensação de que existe algo faltando e que sabe exatamente onde procurar, embora não saiba se quer realmente encontrar. A cada encontro com os colegas, a cada encontro com caras da internet ou discussões com a mãe (que parece estar no limite faz tempo), parece que o personagem se revela enquanto alguns pedaços ficam pelo caminho. É verdade que existem duas cenas discretamente ousadas no filme, alguma nudez masculina, mas o que causa realmente impacto são os pensamentos do protagonista que podem ser vistos através dos olhos de Harris/Frank, especialmente quando depois de um golpe dos amigos ele volta à cena do crime como se fosse para pedir desculpas, não apenas para a vítima, mas para si mesmo. Ratos de Praia é um filme sobre a descoberta da sexualidade junto à construção da identidade e tudo o mais que elas podem deixar no caminho.
Ratos de Praia (Beach Rats/EUA-2017) de Eliza Hittman com Harris Dickinson, Madeline Weinstein, Kate Hodge, Neal Huff e Harrison Sheehan. ☻☻☻
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