Brooke e Marc: a solidão é um abismo.
Criada pelo casal de sexólogos americanos William Master e Virgínia Johnson na transição dos anos 1960 para os anos 1970, a "terapia sexual substituta" preconizava um tratamento exclusivamente sexual, onde o terapeuta profissional "treina" o paciente a ter momentos de intimidade na prática. Ainda que seja pouco utilizada nos dias de hoje, este tipo de terapia ainda existe e desperta curiosidade e estanhamento quando é abordada. Helen Hunt interpretou este tipo de profissional quando atuou em As Sessões (2012), onde sua personagem atendia um homem virgem de 38 anos que tinha o corpo paralisado do pescoço para baixo. O cuidado e a sensibilidade na abordagem valeu à atriz uma indicação ao Oscar de atriz coadjuvante em 2013. No ano seguinte, um filme independente resolveu retomar a questão de forma mais densa. She's Lost Control conta a história de Ronah (Brooke Bloom), que prepara sua dissertação de mestrado em psicologia comportamentalista enquanto trabalha como "terapeuta sexual substituta". Ronah trabalha em parceria com um terapeuta que lhe indica pacientes que encontram problemas para lidar com momentos de intimidade. O excelente roteiro (da também diretora Anja Marquardt) é um primor de economia ao lidar com o cotidiano da personagem, que tem seus próprios dilemas apresentados aos poucos. Atualmente acompanhando três pacientes em estágios diferentes é a situação de Johnny (Marc Menchaca) que mais lhe instiga, afinal, sempre que ela tenta maior proximidade com o rapaz, ele se afasta. Johnny demonstra ser o mais problemático desde a fuga de contato visual até a evitar o contato físico. Johnny parece ter construído uma fortaleza para que ninguém seja capaz de entrar em sua armadura emocional. Ou será que o personagem faz tudo isso para que não saia algo assustador de dentro dele? Assim, o filme explora vários lados do relacionamento deste paciente com a terapeuta, além da própria terapeuta com seu ofício. As ótimas atuações de Brooke e Marc revelam que a complexidade dos personagens está para além dos diálogos, já que Ronah demonstra ser tão solitária quanto seus pacientes e, mesmo com toda a objetividade e distanciamento do trabalho que realiza, nos perguntamos até que ponto aquele trabalho também não satisfaz suas necessidades afetivas. Pelo título (que parece saída de uma música do Joy Division) já dá para perceber que em alguns momentos, Ronah irá confundir um pouco o que há de sua vida pessoal com sua vida profissional. Por outro lado, Johnny em seu olhar "assustado e assustador" diz logo no primeiro encontro uma frase que pode passar desapercebida, mas que diz muito sobre o seu comportamento arredio - que sempre vive na tensão de não saber os limites entre o que é real ou parte da terapia que concordou em fazer. A tensão entre os dois torna o filme tão envolvente quanto assustador, principalmente por revelar o quanto a solidão é um abismo para os dois. Indicado aos prêmios de Melhor Roteiro e Filme de Estreia no Independent Spirit Awards, o filme foi exibido no Festival do Rio em 2014 e merece ser descoberto por tratar com maturidade um tema bastante delicado.
Ela Perdeu o Controle (She's Lost Control/EUA-2014) de Anja Marquardt com Brooke Bloom, Marc Menchaca, Dennis Boutsikaris, Laila Robins, Topias Segal, Robert Longstreet e Roxanne Day. ☻☻☻☻
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