sábado, 28 de dezembro de 2013

KLÁSSIQO: Cinzas no Paraíso

Richard e Brooke: o amor nos tempos de crise. 

O segundo longa metragem dirigido por Terrence Mallick foi lançado em 1978. Depois de todos os elogios recebidos pelo bucólico Terra de Ninguém (1973), que já trazia vários elementos de sua cinematografia, o diretor voltou ao batente com uma obra mais convencional. Cinzas no Paraíso é um dos seus filmes mais queridos, além de ser considerado por muitos a sua obra-prima. Embora eu entenda o título em português, prefiro o original em inglês (Dias de Paraíso) que retrata com maior fidelidade o que vemos durante a trama. Ambientado durante da Grande Depressão da economia americana, o filme conta a história de três personagens que se apresentam como irmãos para trabalhar nas fazendas do sul dos EUA. Porém, desde o início, a jovem narradora (irmã legítima do personagem de Richard Gere), deixa claro que Bill (Gere) e Abby (Brooke Adams) não são irmãos de verdade. O casal mantém um relacionamento amoroso em segredo perante os lugares em que vendem sua mão de obra, ainda que muitos camponeses percebam que ali exista um toque de incesto. O relacionamento entre os dois começa a receber novos rumos quando percebe-se o interesse do fazendeiro que os acolhe (Sam Shepard) por Abby, sendo que esta corresponde às intenções dele em troca de uma estabilidade que nunca experimentou. Além disso, Bill e Abby descobrem que o fazendeiro está com uma doença fatal e morrerá em pouco tempo. Para azar do casal, e sorte do fazendeiro, o amor parece curá-lo, no entanto, o ciúme de Bill torna-se inevitável. Terrence Mallick filma esse triângulo amoroso com cenas bastante românticas e com paisagens tão belamente filmadas pela fotografia de Néstor Almendros (que ganhou o Oscar) que deixa a impressão que o paraíso realmente existe - o problema é quando a humanidade começa a contaminá-la com seus sentimentos menos nobres. Aos poucos o romance ganha tom de tragédia, de forma que a belíssima cena da praga de gafanhotos serve de metáfora para as relações estabelecidas até ali. Quando a crise está instalada, Mallick cria momentos que parecem tirados de uma ópera e culmina numa perseguição que mostra que o paraíso ficou para trás na vida daqueles personagens. Cinzas no Paraíso é uma história de amor triste e melancólica, mas com cenas belíssimas e que deve agradar ainda mais as fãs de Richard Gere ainda novinho e antes de tornar-se símbolo sexual com O Gigolô Americano (1980). Se você não é grande fã do moço, vale conferir o filme nem que seja pela antológica cena da nuvem de gafanhotos (que na verdade eram amendoins jogados de helicópteros e editada ao contrário para criar a ilusão de voo). Além disso, reza a lenda de que a certa altura, Mallick cansou de seguir o roteiro (de sua própria autoria) e mandou que os autores improvisassem os diálogos e as marcações de cena. Depois de toda a repercussão dessa obra, Mallick tornou-se recluso e só lançou outro filme (Além da Linha Vermelha) vinte anos depois. Durante essas duas décadas, seu nome virou uma espécie de mito do cinema contemporâneo, digno de culto de muitos cinéfilos. 

Cinzas no Paraíso (Days of Heaven/EUA-1978) de Terrence Mallick com Richard Gere, Brooke Adams, Sam Shepard, Linda Manz e Stuart Margolin. ☻☻☻☻

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