sábado, 15 de março de 2025

PL►Y: O Reformatório Nickel

Ethan e Brandon: amizade em meio as atrocidades.

 Ninguém adapta um livro premiado com o Pullitzer sem ter grandes ambições. Depois de ser indicado ao Oscar de melhor documentário por seu trabalho em Hale County This Morning, This Evening (2018), o cineasta Ramell Ross escolheu premiado O Reformatório Nickel de Colson Whitehead para ser seu primeiro longa-metragem com atores. Whitehead recebeu o segundo prêmio Pullitzer de ficção de sua carreira com este livro (o primeiro foi por A Estrada Subterrânea/2016 que virou uma ótima minissérie no Prime Video) e provoca arrepios ao se basear em uma história real devastadora. O filme conta a história de dois adolescentes que se conhecem na instituição do título. Elwood (Ethan Herisse) era um jovem promissor que estava prestes a cursar faculdade quando acontece a infelicidade de pegar carona com a pessoa errada e é enviado ao reformatório. Lá ele conhece Turner (Brandon Wilson), que já conhece bastante a rotina daquele lugar e servirá não apenas de companhia ao novato, mas também de guia de sobrevivência por ali. Não demora para o espectador perceber a diferença no tratamento que era dado aos jovens brancos e aos jovens negros (e um jovem mexicano não se encaixa nem em um grupo nem no outro, vivendo numa espécie de limbo no trato recebido pelos funcionários). Ambientado no período de luta pelos direitos civis, a imagem de Martin Luther King surge como uma esperança para os protagonistas que precisam lidar com injustiças, discriminações e agressões físicas. No entanto, Ramell Ross opta por um caminho diferente da violência nua e crua ou estilizada, optando por cenas sugestivas para tornar a narrativa mais suportável. Falando em narrativa, o grande diferencial do filme é a opção do diretor por uma câmera em primeira pessoa, o que serve  para o espectador conhecer aquela história pelos olhos dos protagonistas. De início a ideia funciona, mas depois causa estranhamento pela sensação de estarmos diante de cenas soltas, até o ponto em que o filme consegue ajustar sua narrativa de forma mais imersiva. Existem momentos comoventes, outros arrepiantes e mas a sensação de indignação ao longo de toda a narrativa é a que mais se faz presente. Por conta da forma de conduzir a narrativa de forma diferentona, o diretor Ramell Ross chegou a ser comparado com Terrence Mallick (de A Árvore da Vida/2011). Porém, apesar de toda a verve do diretor, considero que o grande destaque o filme é o poder da dupla Ethan Herisse e Brandon Wilson, dois jovens atores que estão ótimos em cena e logo conquistam a plateia com seus personagens. Apesar de toda a trapalhada da Amazon com o lançamento do filme, ele foi lembrado em duas categorias importantes do Oscar (melhor filme e melhor roteiro adaptado), o que comprova a força da história apesar de toda a lambança feita pela distribuidora (basta lembrar que aqui no Brasil ele foi lançado na véspera do Oscar no catálogo do Prime Video). A trama é inspirada na história da Escola para Meninos Arthur G. Dozier, na Flórida. A instituição ficou famosa por ser o maior reformatório dos Estados Unidos e funcionou de 1900 até 2011, só que após o seu fechamento foi encontrado um cemitério clandestino em seu terreno e as atrocidades cometidas por ali vieram à tona. Uma história assustadora que merece ser dita e nunca esquecida. 

O Reformatório Nickel (Nickel Boys / EUA  - 2025) de Ramell Ross com Ethan Herisse, Brandon Wilson, Aunjanue Ellis-Taylor, Ethan Cole Sharp, Sam Malone, Najah Bradley e Hamish Linklater. ☻☻

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