Em um episódio da sexta temporada da série Black Mirror, uma mulher tem sua vida virada de cabeça para baixo quando percebe que um programa de televisão a tem como personagem principal. A ideia (genial) serve para desdobramentos que envolvem questões que vão para além das questões entre o público e a privacidade, enveredando por discussões sobre inteligência artificial que se assemelham bastante às preocupações que provocaram a greve dos atores em Hollywood em 2023 (o mesmo ano em que foi ao ar o tal episódio). Um ano depois chegou aos cinemas brasileiros a comédia dramática A Vilã das Nove de Teodoro Poppovic, que tem um ponto de partida muito parecido com o visto na cultuada série da Netflix. No entanto, ao que parece, a ideia do filme brasileiro surgiu primeiro, mas com a morosidade para conseguir financiar o longa ele chegou às luz do público somente agora. O filme conta a história de Roberta (Karine Teles), uma professora de canto que se separou recentemente e vive com a filha, Nara (Laura Almeida) em um pacato apartamento. Nas cenas iniciais já vemos sugestões de que a vida tranquila da personagem pode esconder um segredo, já que o ex-marido, Cassio (Negro Leo) indaga sobre o passado da personagem e no início ela é confundida com uma tal de Eugênia enquanto passeia com a filha (gerando uma reação mais aguerrida do que se espera). O motivo para tanto mistério pode estar em uma novela de sucesso ancorada em seus segredos do passado. Motivada a saber o que está por trás disso, ela acaba se envolvendo com a atriz principal (Camila Márdila) e reencontrando pessoas importantes que deixou para trás. O ponto de partida do roteiro é interessantíssimo e segue por caminhos totalmente diferentes do tal episódio da série... se por um lado a trama segue um caminho mais novelesco, por outro, o filme perde a chance de fazer suspense sobre o que está acontecendo em torno de Roberta, afinal já deixa explicado desde o início o que pode estar havendo quando a personagem de Alice Wegman surge em cena. O fato do filme também curtir uma repetição "diferente" de cenas (momentos do passado de Roberta e depois a cena da novela que os reproduz, a discussão do início do filme e o linchamento da atriz da novela) também deixa o filme um tantinho previsível pelos caminhos que percorre. Achei interessante o filme estabelecer uma atração entre Roberta e a atriz que a interpreta na novela, mas o desenvolvimento da relação entre as duas é abandonado no meio do caminho como muitas outras possibilidades do roteiro que aos poucos perde o frescor e a esperteza. A sorte é que Karine Teles é uma ótima atriz e segura a complexidade de sua personagem com grande desenvoltura do início ao fim. A Vilã das Nove pareça mais novela do que cinema. Vale pela curiosidade.
A Vilã das Nove (Brasil/2024) de Teodoro Poppovic com Karine Teles, Alice Wegman, Camila Márdila, Laura Pessoa, Antônio Pitanga, Negro Leo, Rodrigo García, Murilo Sampaio e Otto Junior. ☻☻
Nenhum comentário:
Postar um comentário