Minhas mães e meu pai: um olhar simpático sobre uma família moderna.
Num ano de comédias fracotas era mais do que previsível que Minhas Mães e Meu Pai de Lisa Cholodenko se tornasse a mais falada do ano. Tanto que desde que apareceu no festival de Cannes já mostrava fôlego de figurar em várias categorias nas premiações. Acabou que levou o Globo de Ouro de Comédia/Musical e o de melhor atriz de comédia/musical para Annete Benning, que ainda foi lembrada na categoria de Melhor Atriz do Oscar. Obviamente que não se trata de uma comédia rasgada, mas de um filme de humor sutil e que utiliza o humor para nos desarmar de qualquer resquício de preconceito, afinal, se existe uma mensagem no filme é de que as famílias são todas iguais, não interessa se são homos ou heteros. A médica Nic (Benning) e a paisagista Jules (Julianne Moore) são lésbicas e felizes, casadas há décadas e com dois filhos frutos de inseminação artificial. Joni (a sonolenta Mia Wasikowska) está em suas últimas semanas em casa antes de ir para a faculdade e Laser (o bom Josh Hutcherson) nutre cada vez mais a curiosidade de descobrir quem é o doador responsável por sua concepção. Assim, o casal de irmãos acaba se deparando com um dono de restaurante e plantador de alimentos orgânicos (Mark Rufallo, indicado ao Oscar de coadjuvante) e que para além de doador, alimenta seu lado paternal ao conhecer seus filhos biológicos. O roteiro de Cholodenko explora o impacto dessa figura nova num lar já estruturado, aparentemente feliz e de papéis bem demarcados, sendo assim, o filme abrange o interesse dos filhos, o interesse do pai, o ciúme de Nic, a atração inevitável do pai por Jules... Cholodenko explora levemente as nuances das relações que se desenham, aborda a crise instaurada na relação de um casal maduro, os problemas com a adolescência dos filhos e a sensação de que estes se distanciam cada vez mais de suas matricarcas - coisas que podem acontecer em todas as famílias. A direção evita clichês (apesar de associarmos claramente a postura dominadora de Nic como masculina e a liberal de Jules como feminina, embora essas características estejam presentes em ambos os sexos) e opta por uma condução naturalista das atuações - que funciona melhor quando as relações entre os personagens se tornam mais complexos. Deve brotar daí a sinceridade que todos os atores empregam nas atuações, memso diante das situações curiosas propostas pelo roteiro (o filme pornô masculino, a conversa sobre a sexualidade de Laser, a conversa sobre "tal mãe tal filho", o fato de Nic não apoiar a carreira da esposa...). Annete conseguiu sua quarta indicação ao Oscar por uma atuação sutil em que escancara a humanidade de sua personagem entre qualidades e defeitos, Julianne Moore segue pelo mesmo caminho, mas de forma mais expansiva. As duas já mostraram suas competências em vários filmes e aqui alcançam mais um punhado de bons momentos. O mesmo se pode dizer de Rufallo que tem a tarefa espinhosa de ser o macho que ameaça um lar já estruturado. Talvez, simbolicamente, ele represente o homem heterossexual deste século que não sabe muito bem como deve ser ou agir (o cara não cuida nem do próprio jardim!) quando aparenta ser tão desnecessário para o sexo oposto, assim como Laser. A diferença é que enquanto um está nas incertezas da adolescência, o outro já passou dos 40 e permanece com a mesma inconstância em suas relações. Esse nó nas relações também aparece nas adolescentes femininas do filme, que refletem a sexualização de tudo ou de nada. Quem disse que realcionamentos e sexo era uma coisa simples? Indicado ao Oscar de filme, roteiro original, atriz (Benning) e ator coadjuvante (Rufallo) o filme ilustra bem (em sua alma independente) como as ideias valem mais do que efeitos especiais.
Minhas Mães e Meu Pai (The Kids are Allright/EUA-2010) de Olga Cholodenko com Annete Benning, Julainne Moore, Mark Rufallo, Mia Wasikowska e Josh Hutcherson. ☻☻☻☻